Geraldo Magella de Menezes Neto & Victor Lima Corrêa

“POVO SEM HONRA, COVARDES, BRUTAIS E CRUÉIS”: REPRESENTAÇÕES DOS JAPONESES NO JORNAL PARAENSE ‘FOLHA VESPERTINA’ (1942-1945)
Geraldo Magella de Menezes Neto
Victor Lima Corrêa

“Povo sem honra: Os japoneses, além de covardes, de brutais e de cruéis, ignoram todos os sentimentos de honra.” (FOLHA VESPERTINA, 1 fev. 1944, p. 1).
Na manchete acima, o jornal paraense Folha Vespertina publicava uma notícia no ano de 1944 de que o então secretário de Estado norte-americano Cordell Hull acusava o Japão de violar todos os tratados internacionais sobre prisioneiros, no contexto da Segunda Guerra Mundial. Hull denunciava as crueldades e torturas as quais eram submetidos os prisioneiros americanos e filipinos, que estavam sob o domínio dos japoneses. Notícias como essa, muitas de correspondentes internacionais, eram amplamente divulgadas pelos jornais brasileiros na época da Segunda Guerra. O que nos chama a atenção é o destaque negativo dado aos japoneses nas manchetes, sobretudo a partir de janeiro de 1942, quando o Brasil rompe relações diplomáticas com os países do Eixo após o ataque japonês à base norte-americana de Pearl Harbor. Nesse sentido, o objetivo deste texto é analisar as representações dos japoneses no jornal paraense Folha Vespertina, entre os anos de 1942 e 1945.

O jornal Folha Vespertina e o contexto do Estado Novo
O jornal Folha Vespertina, de Belém do Pará, foi fundado pelo diretor Paulo Maranhão. Seu primeiro número foi publicado em 1º de fevereiro de 1941, sendo o segundo jornal do grupo Folha, cujo principal era o Folha do Norte. O jornal era diário, e circulava no horário das 11 horas ou das 16 horas, criado talvez em função do volume de notícias que chegavam sobre os acontecimentos da Segunda Guerra, sendo necessário um jornal que atualizasse as notícias pelo turno vespertino. O slogan adotado pelo jornal era: “vespertino, quotidiano e independente”. (BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ, 1985, p. 271).

A Folha Vespertina surgiu no contexto do regime do Estado Novo (1937-1945) de Getúlio Vargas. Um dos órgãos do regime era o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Criado em dezembro de 1939, sob a direção de Lourival Fontes, o DIP viria materializar toda a prática propagandista do governo, abarcando os setores de divulgação, radiodifusão, teatro, cinema, cinema, turismo e imprensa. Em relação à imprensa, esta era subordinada ao poder público conforme dispositivo da Constituição de 1937. Francisco Campos, autor da Constituição, defendia a função pública da imprensa, argumentando que o controle do Estado é que irá garantir a comunicação direta entre o governo e o conjunto da sociedade. (VELLOSO, 2015, p. 158)

Assim, o regime impôs a censura à imprensa, que deveria, segundo Maria Celina D’Araujo, “ter a função pública de apoiar o governo e auxiliar no projeto nacional”; quem assim não agisse “poderia ser punido inclusive com a desapropriação de seus bens.” (ARAUJO, 2000, p. 38). Tania Regina de Luca aponta que tentava-se “tanto cercear a divulgação daquilo que não fosse de interesse do poder”, quanto ”enfatizar as realizações do regime e sua adequação à realidade nacional, sem se descurar da promoção pessoal e política do chefe do governo.” (LUCA, 2013, p. 172).

Nesse contexto, a Folha Vespertina era mais um dos jornais que sofriam a censura do regime varguista, e, num período como a Segunda Guerra, deveria publicar notícias de acordo com as políticas adotadas pelo governo. Dessa forma, a partir de 1942 o discurso nacionalista passa a ser mais forte, com o Brasil sendo divulgado como um país que lutava pela liberdade junto aos países do grupo dos Aliados (EUA, Inglaterra, URSS) contra o Eixo (Alemanha, Itália e Japão), representados como países totalitários que queriam subjugar todas as nações.

Segundo Tania Regina de Luca, o pesquisador dos jornais precisa “dar conta das motivações que levaram à decisão de dar publicidade a alguma coisa”, “atentar para o destaque conferido ao acontecimento” e verificar se o “assunto retorna à baila ou foi abandonado logo no dia seguinte”. (LUCA, 2005, p. 140). Relacionarmos as notícias sobre os japoneses na Folha Vespertina com a política do Estado Novo nos ajuda a entender as representações negativas dos japoneses amplamente difundidas pelo jornal paraense.

Representações dos japoneses na Folha Vespertina
Para analisar as representações dos japoneses na Folha Vespertina, nos baseamos teoricamente nas ideias do campo da história cultural, de Roger Chartier. Para Chartier, a história cultural tem por principal objeto “identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler”. (CHARTIER, 1990, p. 16-17). Um conceito importante na proposta de Chartier é o de “representação”, que se refere às “representações do mundo social”, que seriam as “classificações, divisões e delimitações que organizam a apreensão do mundo social como categorias fundamentais de percepção e de apreciação do real.” Chartier aponta ainda que as percepções do social produzem “estratégias e práticas” que tendem a “impor uma autoridade à custa de outros”, a “legitimar um projeto reformador” ou a “justificar, para os próprios indivíduos, as suas escolhas e condutas”. (CHARTIER, 1990, p. 17).

Entendemos que a construção negativa da imagem dos países do Eixo, inimigos do Brasil, era um meio do jornal, seguindo a política do Estado Novo, de estimular o nacionalismo, promovendo a união interna contra um inimigo comum. E quais as formas de representar especificamente o japonês?

Em primeiro lugar, o recurso mais utilizado é o de evidenciar as diferenças do japonês em relação ao ocidental na questão da raça, o japonês é classificado como sendo da “raça amarela”. Conforme Lilia Schwarcz, o termo raça é introduzido na literatura mais especializada em inícios do século XIX, por Georges Cuvier, “inaugurando a ideia da existência de heranças físicas permanentes entre os vários grupos humanos.” (SCHWARCZ, 1993, p. 63). Um dos teóricos raciais do século XIX é Ernest Renan (1823-1892), que apontava a existência de três grandes raças: branca, negra e amarela. Para Renan, os grupos negros, amarelos e miscigenados “seriam povos inferiores não por serem incivilizados, mas por serem incivilizáveis, não perfectíveis e não suscetíveis ao progresso.” (RENAN apud SCHWARCZ, 1993, p. 82).

No contexto da Segunda Guerra, o japonês é representado como “raça amarela”, e por conta disso, uma série de preconceitos são associados a eles. Várias notícias e artigos publicados na Folha Vespertina reforçam características que seriam inatas à “raça amarela”. Um exemplo disso é o texto “O japonês é inimigo da raça branca”, de Ciro Egberto Cabral, de janeiro de 1942. O autor aponta que “o japonês é perigoso porque odeia a raça branca. Ele nunca pode admitir que os brancos tenham o domínio do mundo.” (CABRAL, 19 jan. 1942, p. 1). Por supostamente odiar a raça branca, o japonês possui alguns comportamentos dissimulados para derrotar o ocidental. O ato de se curvar, de demonstrar cavalheirismo, na verdade esconde o “punhal e a traição”. Utilizando como exemplo o ataque japonês à base norte-americana de Pearl Harbor em dezembro de 1941, Cabral afirma que “ninguém pode ter confiança num amarelo. Ele é falso, é demoníaco.” (CABRAL, 19 jan. 1942, p. 1). Para resumir, o “amarelo” é visto como um traidor, como alguém em quem não se pode confiar. Não por acaso, muitos foram considerados como “quinta-colunistas”, espiões que mandavam informações para os submarinos do Eixo sobre a saída dos navios mercantes brasileiros. Após os afundamentos de vários navios, os japoneses que viviam em Belém foram alvos de agressões da população. (MENEZES NETO, 2013).

A partir daí, o termo “amarelo” vai ser constantemente utilizado pela Folha Vespertina nas mais variadas notícias relacionadas aos japoneses: “A situação dos amarelos é desesperadora” (FOLHA VESPERTINA, 4 jan. 1943, p. 4); “o exército japonês de Papua, na Nova Guiné, foi destruído pelos aliados, que demonstraram qualidades militares superiores às dos amarelos”; (FOLHA VESPERTINA, 18 jan. 1943, p. 4); “Os objetivos do Mikado: os amarelos pretendem obter o apoio dos Birmanos e Filipinos.” (FOLHA VESPERTINA, 8 fev. 1943, p. 4); “calcula-se entre cem e duzentos mil homens o efetivo das forças amarelas concentradas em Luzon.” (FOLHA VESPERTINA, 10 jan. 1945, p. 1).

Cabe ressaltar que a representação negativa do japonês pela questão racial aparece na imprensa paraense já na década de 1920 quando do início da imigração japonesa para a Amazônia. Nesse contexto, segundo Tatsuo Ishizu, o movimento contrário a imigração japonesa ficou conhecido como “amarellophobos”. Augusto Meira, em artigo de 1924 no jornal Folha do Norte, dizia que a Amazônia precisava importar valores antropológicos de raças superiores e similares à nossa”, e que a união com os japoneses poderia causar “perversão e degeneração étnicas”; já o padre Dubois, em artigo do mesmo ano, dizia que povo japonês é perigoso, “degenerando a raça e propagando infinidade de doenças exóticas como o tracoma que cega a gente”. (ISHIZU, 2011, p. 42).

No contexto da Segunda Guerra, a representação negativa do japonês como uma raça que traz prejuízos ao ocidental e à população brasileira é recorrente em vários jornais brasileiros. Segundo Rosangela Kimura, em São Paulo atribuía-se comumente aos japoneses a culpa de todas as privações que a guerra impunha aos brasileiros, até mesmo o racionamento de alimentos. De acordo com alguns jornais, os japoneses eram “vampiros do solo”, praticantes de uma “agricultura predatória”, sendo eles os principais responsáveis pela escassez de gêneros de primeira necessidade de que sofria a população. (KIMURA, 2007, p. 27).

Em uma outra forma de representação negativa, a Folha Vespertina trata de desumanizar os nipônicos. Sendo considerado de uma raça inferior, o japonês tinha atitudes consideradas bárbaras, não humanas. Em janeiro de 1942, o jornal paraense trazia a manchete: “Cruelmente desumanos os nipônicos”, referindo-se à acusação das autoridades chinesas de que os japoneses teriam lançado “germens de peste bubônica em Chang Têh, província de Hunan ocidental.” (FOLHA VESPERTINA, 15 jan. 1942, p. 1).

As representações das atitudes desumanas vinham principalmente nas notícias que abordavam o tratamento dos japoneses em relação aos prisioneiros de guerra:

“Bárbaros e covardes! Os japoneses submetem a desumanos suplícios os prisioneiros Aliados. Mais de cinco mil e duzentos soldados norte-americanos e um número mais elevado de filipinos pereceram de fome ou em consequência de atrozes torturas nos campos de concentração japoneses das Filipinas.” (FOLHA VESPERTINA, 28 jan. 1944, p. 1).

A manchete acima, da agência de notícias em Washington, foi produzida a partir de depoimentos do comandante Mc Coy, do tenente coronel Melnit e do aviador Dyess, que dariam conta de “uma série inominável de barbaridades cometidas pelos japoneses nos campos de concentração das ilhas Filipinas.” (FOLHA VESPERTINA, 28 jan. 1944, p. 1). Os relatos, segundo o jornal, apontavam que soldados norte-americanos que pesavam mais de cem quilos “ficaram convertidos em esqueletos ambulantes, ou pereceram de inanição devido à falta de alimentos”. Uns que reclamaram água ou comida foram fuzilados; outro soldado que ficou dois dias exposto ao sol foi decapitado por um soldado japonês; feridos e enfermos são obrigados “a fazer serviços pesados ou a marchar até caírem mortos.” (FOLHA VESPERTINA, 28 jan. 1944, p. 1). Outro que denunciava as práticas dos japoneses, segundo a Folha Vespertina, era Anthony Eden, ministro do Exterior da Inglaterra:

“O chanceler britânico, referiu-se, também, a inúmeras atrocidades contra os prisioneiros, muitos dos quais, depois de barbaramente torturados, foram assassinados a tiros de revolver ou a golpes de baioneta.” (FOLHA VESPERTINA, 28 jan. 1944, p. 1). 

O que se percebe nessa notícia é que o jornal Folha Vespertina procura se utilizar dos chamados discursos de autoridade, de pessoas ligadas ao grupo dos Aliados que tiveram contato ou que souberam de informações acerca das práticas dos japoneses em relação aos prisioneiros de guerra, para reforçar ainda mais as concepções negativas dos nipônicos. O uso de adjetivos como “bárbaros”, “covardes”, “cruéis”, eram formas de se destacar que os da “raça amarela” não tinham nenhum conceito de humanidade, adotando comportamentos desumanos, diferenciando-se cada vez mais da “raça branca” e ocidental. Assim, a necessidade de derrotar os japoneses era cada vez mais urgente, para acabar com esses atos de “atrocidade”.

Por ser visto como alguém que não possui atos de humanidade, o japonês é também visto como alguém que não respeita os acordos negociados entre as nações, como destaca a seguinte manchete: “Para o Japão não há convenções nem tratados: Tudo é ‘farrapo de papel’”. (FOLHA VESPERTINA, 13 jan. 1944, p. 1). Aqui o jornal fazia referência à acusação do Departamento de Estado americano de que o Japão recusou facilitar a troca de cidadãos americanos por japoneses, violando a convenção de Genebra de 1929.

O japonês também é apresentado pelo jornal paraense como um imperialista, cuja intenção é o domínio mundial, como no artigo de Ciro Cabral:

“Ele nunca pode admitir que os brancos tenham o domínio do mundo. Esse domínio não é contemplação divina. É trabalho, seriedade, honestidade, dedicação e inteligência. Ao passo que os nipônicos querem adquirir progresso industrial com produtos frágeis e sem duração, querem predomínio através de sistemas pouco lisonjeiros e querem superar os brancos empregando processos ridículos. O catecismo japonês proíbe ser amigo do branco. A obrigação de todo japonês é trabalhar para o futuro domínio mundial do Japão.” (CABRAL, 19 jan. 1942, p. 1).

Interessante notar que neste artigo o autor rebaixa a capacidade industrial do Japão, cuja produção de “produtos frágeis e sem duração” não se compara com a do branco ocidental, que trabalha e é honesto. O que o artigo deixa transparecer é a ideia de que o japonês quer conquistar o mundo por meios sujos, por trapaça, ao contrário do ocidental.

Já em 1944, a Folha Vespertina utiliza uma fala do embaixador britânico Lord Halifax para reforçar a ideia do imperialismo e do totalitarismo dos japoneses, que ao lado dos alemães: “defendem a completa subordinação do indivíduo ao Estado e a escravização da verdade a supostas afirmações de ideologias políticas”. (FOLHA VESPERTINA, 13 jan. 1944, p. 1). O japonês aparece como sendo uma antítese do branco ocidental, alguém desprovido de todos os escrúpulos para atingir o seu objetivo de dominação mundial.

Considerações finais
As representações negativas dos japoneses também se deram em outros meios de comunicação, como na literatura de cordel. (MENEZES NETO, 2008). No folheto O Brasil rompeu com eles, de 1943, por exemplo, o poeta paraense Zé Vicente escreve:

“Japonês foi traiçoeiro
contra a America do Norte,
mas na sua falsidade
o Japão não teve sorte.
Agora, é vivo, ele vai
sentir o frio da morte.

Japonês andou fingindo
que era um anjo de candura,
mas de repente mostrou
quanto tem a cara dura,
agredindo de emboscada
pensando que era bravura.” (VICENTE, 1943, pp. 5-6).

Os versos de Zé Vicente expressam a representação do japonês como um traidor, um falso. Esses termos eram os mesmos utilizados no Folha Vespertina, que pode ter sido a fonte na qual o poeta leu as notícias sobre a guerra para escrever sobre o tema em formato de versos de cordel. O jornal, assim, era um meio de divulgação que influenciava outros veículos, propagando dentre outras coisas, uma imagem negativa do japonês entre os anos de 1942, quando do rompimento das relações diplomáticas do Brasil com os países do Eixo, e 1945, com o final da Segunda Guerra Mundial.

Retomando as ideias de Chartier acerca da representação, a abordagem negativa dos japoneses na Folha Vespertina tinha objetivos bem claros: era uma estratégia para desviar o foco da oposição ao regime do Estado Novo, ignorando as contradições de um governo ditatorial que dizia lutar ao lado dos Aliados pela liberdade, procurando um inimigo facilmente identificável, no caso os japoneses, para unir a população em prol do governo no esforço de guerra; legitimar as práticas adotadas pela ditadura do Estado Novo como sendo a única forma de derrotar um inimigo capaz de todas as “barbaridades” e “atrocidades” possíveis. Dessa forma, o Estado Novo justificava a sua existência, cabendo à população apoiá-lo. Caso isso não acontecesse, o Brasil poderia ser dominado pelos japoneses, que conforme as representações dos jornais, tinham ambição de domínio mundial e tinham práticas consideradas desumanas e cruéis para com os seus prisioneiros. Assim, analisar as representações dos japoneses na Folha Vespertina é identificarmos as percepções de mundo que se pretendiam inculcar na população em relação aos inimigos num contexto de conflito mundial, no qual as ideias raciais são retomadas para justificar o comportamento “bárbaro” e “cruel” dos japoneses.

Referências
Geraldo Magella de Menezes Neto é Professor da graduação e da pós-graduação em História da Faculdade Integrada Brasil Amazônia (FIBRA), e do ensino fundamental da Secretaria Municipal de Educação de Belém (SEMEC). Doutorando em História Social da Amazônia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). E-mail: geraldoneto53@hotmail.com
Victor Lima Corrêa é Graduando em Licenciatura em História da Faculdade Integrada Brasil Amazônia (FIBRA). E-mail: victorlcorrea.01@gmail.com

Fontes
Acervo Vicente Salles do Museu da Universidade Federal do Pará (UFPA)
Folheto de cordel:
VICENTE, Zé. O Brasil rompeu com eles. 2. ed. Belém: Guajarina, 20 jun. 1943.
Fundação Cultural do Pará – CENTUR. Biblioteca Pública Arthur Vianna
Jornais:
CABRAL, Ciro Egberto. O japonês é inimigo da raça branca. Folha Vespertina, 19 jan. 1942, p. 1.
Cruelmente desumanos os nipônicos. Folha Vespertina. 15 jan. 1942, p. 1.
A situação dos amarelos é desesperadora. Folha Vespertina. 4 jan. 1943, p. 4.
O exército japonês de Papua foi destruído. Folha Vespertina. 18 jan. 1943, p. 4.
Os objetivos do Mikado. Folha Vespertina. 8 fev. 1943, p. 4.
Os alemães e os japoneses defendem a completa subordinação do individuo ao Estado e a escravização da verdade a supostas afirmações de ideologias politicas, declara Lord Halifax. Folha Vespertina. 13 jan. 1944, p. 1.
Para o Japão não há convenções nem tratados, tudo é “farrapo de papel”. Folha Vespertina. 13 jan. 1944, p. 1.
Bárbaros e Covardes: os japoneses submetem a desumanos suplícios os prisioneiros aliados. Folha Vespertina. 28 jan. 1944, p. 1.
Povo sem Honra: os japoneses, além de covardes, de brutais e de cruéis, ignoram todos os sentimentos de Honra. Folha Vespertina. 1 fev. 1944, p. 1.
Os nipônicos vão jogar a ultima cartada pelo domínio das Filipinas. Folha Vespertina. 10 jan. 1945, p. 1.

Bibliografia
ARAUJO, M. C. S. D’. O Estado Novo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2000
BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARÁ. Jornais Paraoaras: catálogo. Belém: Secretaria de Estado de Cultura, Desportos e Turismo, 1985.
CHARTIER, R. A história cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand, 1990.
ISHIZU, T. Amazônia, terra da esperança: a imigração japonesa 1924-1935. In: HOMMA, A. K. O. et al. (orgs.) Imigração japonesa na Amazônia: contribuição na agricultura e vínculo com o desenvolvimento regional. Manaus: Edua, 2011.
KIMURA, Rosangela. Perigo amarelo. Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 2, n. 20, 2007, p. 26-27.
LUCA, T. R. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, C. B. (org.). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005.
LUCA, T. R. A grande imprensa na primeira metade do século XX. In: MARTINS, A. L. & LUCA, T. R. (orgs.). História da imprensa no Brasil. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2013.
MENEZES NETO, G. M. A Segunda Guerra Mundial nos folhetos de cordel do Pará. 82 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História) - Universidade Federal do Pará - UFPA, Belém, 2008. Disponível em:
http://www.academia.edu/5677966/MENEZES_NETO_Geraldo_Magella_de._A_Segunda_Guerra_Mundial_nos_folhetos_de_cordel_do_Par%C3%A1._82_f._Trabalho_de_Conclus%C3%A3o_de_Curso_Gradua%C3%A7%C3%A3o_em_Hist%C3%B3ria_-_Universidade_Federal_do_Par%C3%A1_-_UFPA_Bel%C3%A9m_2008
MENEZES NETO, G. M. A “ressurreição da alma cabana”: as passeatas de protesto contra o Eixo na Belém da Segunda Guerra. Em Tempo de Histórias. Publicação do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília (PPGHIS/UnB). N. 23, Brasília, ago. – dez. 2013, p. 22-41. Disponível em: http://periodicos.unb.br/index.php/emtempos/article/viewFile/9966/7290
SCHWARCZ, L. M. O Espetáculo das Raças: cientistas, instituições e questões raciais no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
VELLOSO, M. P. Os intelectuais e a política cultural do Estado Novo. In: FERREIRA, J & DELGADO, L. A. N. (orgs.) O Brasil republicano, v. 2 – O tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.

29 comentários:

  1. Boa tarde! Sabemos que tais notícias tiveram interesses políticos por trás de sua vinculação realizando uma clara construção racialista e racista sobre o cidadão japonês. A minha pergunta diz respeito ao tratamento dispensado a população nipônica que residia no Brasil, haja vista sermos um país que teve uma grande imigração japonesa. Como esse meio de comunicação tratava o tema? Ou não tratava?
    Att. Cleber Mattos

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    1. Prezados Cleber Mattos e Carlos Augusto Bastos, muito obrigado pela pergunta.
      Como suas questões são semelhantes, a resposta será a mesma para as duas.

      No caso do Pará, os imigrantes japoneses que residiam no Estado passam a ser alvos de denúncias por parte dos jornais e da população, de que eles poderiam ser espiões que estavam agindo em solo paraense informando aos submarinos do Eixo por meio de rádios clandestinas o horários de saída dos navios mercantes dos portos de Belém. O nome dado a esses supostos espiões é de “quinta-coluna”.

      Algumas denúncias eram até de certa forma curiosas, por exemplo, se alguém flagrasse os japoneses conversando em seu idioma, estes já eram alvos de desconfiança; certa vez os jornais noticiaram que um japonês na cidade de Santa Izabel-PA estava embriagado comemorando as vitórias japonesas na guerra; os jornais também noticiavam a troca de nomes que remetessem ao Japão, uma sorveteria que tinha o nome de “Japonesa” teve o seu nome trocado para “Sorveteria Brasileira”. Podemos dizer que a maioria das denúncias contra os japoneses era infundada, causada até mesmo por rixas entras vizinhos ou por pessoas que queriam prejudicar os comércios dos japoneses. Dessa forma, certamente eles deviam viver nesse período em estado de tensão, porque qualquer fato negativo poderia colocá-los na prisão, como traidores da pátria que os acolheu.

      Durante a guerra, o Estado Novo se apropriou de vários bens dos japoneses para o pagamento de uma espécie de ressarcimento pelos danos provocados pelos afundamentos dos navios mercantes. Além disso, vários japoneses foram enviados para o “campo de concentração” de Tomé-Açu-PA, no qual eles eram isolados para evitar a suposta ação dos “quinta-coluna” durante a guerra. Os jornais paraenses chegavam a cobrar mais o governo, dizendo que os japoneses estavam numa “colônia de férias”, sendo necessário um tratamento mais enérgico, até como forma de vingança aos marujos mortos nos afundamentos. Para saber mais sobre os “campos de concentração” no Brasil, que apesar desse nome não devem ser comparados aos campos de concentração nazistas, recomendamos que leia o trabalho de Priscila Ferreira Perazzo, “Prisioneiros da guerra: os "Súditos do eixo" nos campos de concentração brasileiros (1942-1945)”.

      Enfim, assim como os japoneses que estavam diretamente envolvidos na guerra eram retratados negativamente, os japoneses que residiam no Pará também passaram a ser alvos de desconfiança dos brasileiros.

      Para outras questões estamos à disposição. Cordialmente,

      Os autores.

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  2. Geraldo e Victor, parabéns pelo ótimo texto.

    Tenho uma inquietação que extrapola os limites do texto de vocês.

    Segundo os cientificistas do século XIX, o "amarelo" poderia ser tão ou mais inferior/degenerado que os africanos, afrodescendentes ou mestiços, daí a justificativa, com contornos políticos, encontrada para a construção da imagem do japonês no período, como foi explicado por vocês.
    Ao trabalhar com as fontes, vocês encontraram dados acerca da representação dos chineses no mesmo período? Pergunto, pois se sabe que de 1937 a 1945 Japão e China estavam em meio à Segunda Guerra Sino-Japonesa e a minha dúvida maior foi: o que contribuiu mais para a construção da imagem negativa de japoneses e chineses, as questões racistas ou político-ideológicas?

    Abraços

    Heraldo Márcio Galvão Júnior

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    1. Prezado Heraldo Márcio Galvão Júnior, muito obrigado pela pergunta.

      No período da Segunda Guerra, o qual pesquisamos, não encontramos semelhanças nas representações dos japoneses e chineses. As teorias raciais representavam negativamente todos os orientais, só que, como você falou, na Segunda Guerra a questão político-ideológica exercia grande influência, sendo então mais conveniente representar apenas o inimigo, no caso, os japoneses, como “amarelos” e desumanos. Uma pesquisa com um período mais recuado, nos anos 1920 e 1930 poderia nos esclarecer mais se os chineses também chegaram a ser representados da mesma forma que os japoneses.

      Cordialmente,

      Os autores.

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  3. Boa noite,
    Em certa passagem do texto vocês apontam para as representações negativas sobre a imigração japonesa para a Amazônia desde a década de 1920. Minha pergunta é sobre as representações sobre os residentes japoneses no Pará, e outros estados brasileiros, no jornal pesquisado durante o contexto da II Guerra. A ênfase do texto recai nas notícias sobre o desenrolar da guerra no Pacífico, mas quais leituras são feitas nesse periódico sobre a comunidade japonesa na região? Há uma visão igualmente negativa sobre os mesmos, ou o tema é silenciado? Se for silenciado, como entender essa diferença de abordagem?
    Muito obrigado.

    Carlos Augusto Bastos

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    1. Prezados Cleber Mattos e Carlos Augusto Bastos, muito obrigado pela pergunta.
      Como suas questões são semelhantes, a resposta será a mesma para as duas.

      No caso do Pará, os imigrantes japoneses que residiam no Estado passam a ser alvos de denúncias por parte dos jornais e da população, de que eles poderiam ser espiões que estavam agindo em solo paraense informando aos submarinos do Eixo por meio de rádios clandestinas o horários de saída dos navios mercantes dos portos de Belém. O nome dado a esses supostos espiões é de “quinta-coluna”.

      Algumas denúncias eram até de certa forma curiosas, por exemplo, se alguém flagrasse os japoneses conversando em seu idioma, estes já eram alvos de desconfiança; certa vez os jornais noticiaram que um japonês na cidade de Santa Izabel-PA estava embriagado comemorando as vitórias japonesas na guerra; os jornais também noticiavam a troca de nomes que remetessem ao Japão, uma sorveteria que tinha o nome de “Japonesa” teve o seu nome trocado para “Sorveteria Brasileira”. Podemos dizer que a maioria das denúncias contra os japoneses era infundada, causada até mesmo por rixas entras vizinhos ou por pessoas que queriam prejudicar os comércios dos japoneses. Dessa forma, certamente eles deviam viver nesse período em estado de tensão, porque qualquer fato negativo poderia colocá-los na prisão, como traidores da pátria que os acolheu.

      Durante a guerra, o Estado Novo se apropriou de vários bens dos japoneses para o pagamento de uma espécie de ressarcimento pelos danos provocados pelos afundamentos dos navios mercantes. Além disso, vários japoneses foram enviados para o “campo de concentração” de Tomé-Açu-PA, no qual eles eram isolados para evitar a suposta ação dos “quinta-coluna” durante a guerra. Os jornais paraenses chegavam a cobrar mais o governo, dizendo que os japoneses estavam numa “colônia de férias”, sendo necessário um tratamento mais enérgico, até como forma de vingança aos marujos mortos nos afundamentos. Para saber mais sobre os “campos de concentração” no Brasil, que apesar desse nome não devem ser comparados aos campos de concentração nazistas, recomendamos que leia o trabalho de Priscila Ferreira Perazzo, “Prisioneiros da guerra: os "Súditos do eixo" nos campos de concentração brasileiros (1942-1945)”.

      Enfim, assim como os japoneses que estavam diretamente envolvidos na guerra eram retratados negativamente, os japoneses que residiam no Pará também passaram a ser alvos de desconfiança dos brasileiros.

      Para outras questões estamos à disposição. Cordialmente,

      Os autores.

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    2. Grato pela resposta! Imaginei que deveria haver um certo clima de "reciprocidade", por assim dizer, devido a propaganda pejorativa realizada quanto aos japoneses. Ótimo texto!
      Att. Cleber Mattos.

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  4. Parabéns pelo excelente texto.
    Percebemos, analisando o contexto histórico citado, as influências da eugenia, em uma citação sobre precisar de raças "semelhantes ou melhores que as nossas".
    A propaganda militar mostrada não difere muito de outras situações onde o racismo foi utilizado para fomentar o ódio contra determinado povo (judeus, por exemplo).

    Naton Joly Botogoske

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    1. Prezado Naton Joly Botogoske obrigado pela pergunta.

      ENTENDEMOS QUE AO CONTRARIO DAS PROPAGANDAS NAZIFACISTAS (ALEMÃ E ITALIANA) QUE VISAVAM PREGAR A SUPERIORIDADE DA RAÇA (PRINCIPALMENTE) ARIANA EM DETRIMENTO DAS RAÇAS INFERIORES, OU SEJA, O RESTO DO MUNDO, A PROPAGANDA VEICULADA PELO ESTADO NOVO, POR MEIO DE DIP NÃO VISAVA A FOMENTAÇÃO DO ODIO E SIM CHAMAVA A ATENÇÃO DO POVO (NO CASO DA FOLHA VESPERTINA) PARAENSE PARA COM ESSE POSSIVEL INIMIGO INSTALADO EM NOSSA SOCIEDADE A ÉPOCA.
      ERA UMA FORMA DE DEIXAR ATENTA A POPULAÇÃO LOCAL, SEMPRE VIGIANDO, E ALERTANDO AS AUTORIDADES SOBRE UMA POSSIVEL CONSPIRAÇÃO OU AMEAÇA AO REGIME VIGENTE, NO CASO O ESTADO NOVO, JÁ A PROPAGNADA DIRETAMENTE NORTE AMERICANA, ONDE SE REFERE AOS JAPONESES COMO AMARELOS, NIPÕES, CRUEIS E COVARDES, SERVE TANTO PARA BUSCAR UM MAIOR EMPENHO DE SEUS SOLDADOS NO FRONT DE BATALHA, COMO PARA MOBILIZAR O POVO A APOIAR O GOVERNO, BEM COMO OS SOLDADOS QUE LUTAM NO FRONT, DESTE MODO MOBILIZANDO O POVO QUE NESTE TEMPO PASSAVA POR DIFICULDADES DEVIDO A GUERRA, EM PROL DE UM BEM MAIOR: A VITORIA NA GUERRA. E NÃO O EXTERMINIO DA RAÇA “AMARELA” OU A PERSEGUIÇÃO E ANIQUILAÇÃO DOS MESMOS, COMO PREGAVAM OS NAZISTAS CONTRA OS JUDEUS.


      OS AUTORES

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  5. Olá!

    O campo do jornalismo é muito controverso, é difícil achar um veículo de comunicação que tenha uma linha editorial imparcial. Hipoteticamente, se o Japão entrasse em guerra novamente, provavelmente, veríamos no Brasil manchetes de jornais parecidas com essas da "FOLHA VESPERTINA".

    Tal qual o termo "mulato", que é tão rechaçado na contemporaneidade e levando em consideração o artigo, o uso do termo "amarelo" seria inapropriado?

    Etevaldo Alves de Siqueira Junior

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    1. Prezado Etevaldo Junior, obrigado pela pergunta.

      Por ser um adjetivo que caracteriza um preconceito racial, por pressupor que faz referência à uma raça diferente e inferior à raça branca, entendemos que o termo "amarelo" é sim inadequado em relação aos japoneses.

      Cordialmente,

      os autores.

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  6. Boa tarde Geraldo e Victor, parabéns pelo texto...

    Gostaria de saber de que forma ocorreu a migração dos japoneses para Amazônia, e por qual motivo eles eram considerados de uma raça inferior, e se sabem me informar quais eram essas atitudes consideradas bárbaras e não humanas, e de que forma eles reagiram a todo esse preconceito.
    Desde já agradeço...

    Valéria Cristina Turmina

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    1. Prezada Valéria Cristina Turmina, muito obrigado pela pergunta.

      A migração japonesa para a Amazônia ocorreu no início do século XX, no Pará a primeira leva de imigrantes veio em 1929. O objetivo da imigração segundo o governo paraense era para ocupar territórios e estimular a produção agrícola no interior do estado.

      A imigração japonesa foi alvo de críticas de vários grupos, que eram estimulados pelas teorias raciais. O japonês era visto como um ser degenerado, que iria trazer graves malefícios para o brasileiro porque iria atrapalhar o branqueamento da população. O fato dos imigrantes procurarem conservar as suas tradições, continuando a falar no idioma japonês e se casando entre eles, além de terem como objetivo não se tornarem brasileiros, mas a volta ao Japão após enriquecerem no Brasil, fazia com que houvesse uma desconfiança em relação a eles, o que se aflorou, como procuramos demonstrar no texto, no período da Segunda Guerra Mundial.

      Para outras questões estamos à disposição. Cordialmente,

      Os autores.

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  7. Prezados,
    Os nipônicos também foram alvo de preconceitos, represálias e violência no Amazonas. Próximo à cidade de Parintins (Baixo rio Amazonas), inclusive, no contexto da Segunda Guerra Mundial, foi desativada a colônia na qual desenvolviam projetos agrícolas e educativos: a Vila Amazônia. Através de pesquisas históricas realizadas sobre a presença dos japoneses na referida cidade, fontes orais apresentam indícios de episódios relacionados até mesmo a queima de suas casas. O motivo: estarem contra os Aliados. Nessa medida, na memória social de gerações mais antigas ainda paira a representação que os colegas problematizaram no artigo. Minha pergunta, que possivelmente se estende para além dos limites do texto urdido pelos colegas, gira em torno das formas de resistência dos japoneses na cidade de Belém. Por outras palavras, no processo da investigação histórica foi possível encontrar, noutro plano, indícios de mobilização (social, ideológica, política – mesmo que subsumida) dos nipônicos inscritos nessa bolha opressora: o Estado Novo?
    Ass. Arcângelo da Silva Ferreira.

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    1. Prezado Arcângelo da Silva Ferreira, muito obrigado pela pergunta.

      Trabalhando apenas com os jornais da época fica difícil encontramos pistas dessa resistência dos japoneses à vigilância sofrida no Pará durante a guerra. Os jornais expressam a visão do Estado Novo, com narrativas que pouquíssimas vezes dão voz aos nipônicos. Uma alternativa para isso seria os depoimentos dos japoneses que viveram naquela época. Contudo, em contatos que tivemos com alguns japoneses e seus descendentes em Belém, notamos que falar da perseguição sofrida durante a Segunda Guerra ainda é um “tabu”, por tratar-se de memórias sensíveis, que não trazem boas lembranças, grande parte dos imigrantes ainda tem certo receio em falar desse tema e das eventuais resistências. Como diz Michael Pollak, nas memórias deles há um esquecimento, um silêncio sobre esse período, preferindo-se ressaltar a viagem para o Brasil, as dificuldades dos primeiros tempos e depois o sucesso comercial, a exemplo da agricultura.

      Um livro interessante sobre essa resistência é “Corações sujos”, de Fernando Morais, que escreve sobre japoneses que viviam no Brasil, sobretudo em São Paulo, que não aceitavam a versão de que o Japão tinha perdido a guerra. Um grupo intitulado Shindo Renmei chegou a assassinar vários imigrantes que aceitaram a derrota do Japão.

      Para outras questões estamos à disposição. Cordialmente,

      Os autores.

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  8. Ótimo texto! Parabéns aos dois autores!

    Gostaria de saber como ficou a situação dos japoneses que residiam no Brasil no pós-guerra. Continuaram a serem perseguidos ou já não representavam mais um perigo ao país?

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    1. Prezado Yuri Soares, muito obrigado pela pergunta.

      No pós-guerra não havia mais esse contexto de perseguição oficial aos japoneses, embora possamos supor que o preconceito em relação a eles ainda ocorreu. As piadas, por exemplo, ainda hoje muitas vezes ridicularizam os orientais. Contudo, no pós-guerra, muitas famílias conseguiram progredir economicamente por meio da atividade comercial e na agricultura.

      Cordialmente,

      Os autores.

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  9. Olá,

    Primeiro parabenizo-os pelo excelente texto, e por expor uma parte da História da Imprensa no Brasil que era até então, desconhecida para mim. A minha pergunta é direcionada ao discurso estabelecido nos jornais. Como foi dito no inicio do ensaio, o Folha Vespertina estava sob vigilância do DIP, assim as notícias e manchetes veiculadas no jornal deveriam mostrar-se favoráveis ao governo varguista. Antes de o governo declarar-se aliado as forças americanas, britânicas e russas, o discurso em torno dos japoneses nos jornais paraenses era o mesmo, como um “povo sem honra, covardes, brutais e cruéis”, ou sua mudança somente se sucedeu com a nova postura do governo de Vargas?

    Pedro Antonio de Brito Neto

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    1. Prezado Pedro Antonio de Brito Neto, muito obrigado pela pergunta.

      O discurso carregado de adjetivos negativos em relação aos japoneses foi disseminado realmente de forma mais forte após o ataque à Base norte-americana de Pearl Harbor, em 07 de dezembro de 1941. A entrada dos Estados Unidos na guerra leva à uma posição de solidariedade do Brasil e das nações latino-americanas, repudiando as ações do Eixo, e levando o Brasil, e os jornais, a escolher de vez o lado dos Aliados na guerra. Isso vai se expressar no jornal, que cada vez mais reproduz também os discursos dos correspondentes norte-americanos, adotando a questão racial como um meio de diferenciar os ocidentais dos japoneses. O rompimento das relações diplomáticas do Brasil com o Eixo em janeiro de 1942 confirma isso e de certa forma “libera” os jornais para atacar os japoneses, representando-os da pior forma possível.

      Cordialmente,

      Os autores.

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  10. Olá!
    Texto muito interessante, gostaria de saber se na mesma época (embora eu ache que fosse praticamente impossível) existiu algum material em circulação que fosse contra esse discurso de ódio disseminado pelos veículos de comunicação como a "Folha Vespertina"?
    E por quanto tempo esse preconceito em torno dos japoneses durou no Brasil?
    Desde já agradeço.
    Elenice Alves

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    1. Olá Elenice Alves, obrigado pela pergunta.


      Entendemos que por se tratar de um período de repressão a todo e qualquer meio de comunicação que fez/ou fazia oposição ao regime Estado Novista, estes eram duramente repreendidos com censura, prisão ou mesmo a expropriação do jornal que passava a ser comandada pelo próprio Estado.
      Este período (1942-1945) foi marcado pelo intenso controle das mídias de comunicação (jornais, rádio e revistas) que eram censurados segundo as diretrizes de um órgão do governo que cuidava da imagem do então líder da nação Getúlio Vargas e da comunicação do Estado Novo, este era o Departamento de Imprensa e Propaganda, comumente conhecido como DIP, portanto não eram tolerados materiais ou meios de comunicação que não passavam pela censura do DIP, se o existiram, foram pouco divulgados, e viviam na clandestinidade.
      Em se tratando de discurso de ódio, isto não era levado em conta, pois os países estavam em guerra, sendo assim estes (tanto os países do eixo quanto os aliados) se utilizam de um discurso maniqueísta para tornar o outro inimigo, que atenta contra a vida daqueles que fazem o certo, que lutam pela liberdade que fazem o bem, mesmo que para isso necessitem aniquilar seus inimigos para defender a liberdade.
      Esta imagem do japonês como cruel, covarde, selvagem foi criada como forma a criar uma atmosfera que mobilizasse a população contra possíveis espiões, de um todo não visava a aniquilação da população japonesa que residiam no Brasil a época, mas sim um cuidado e um controle para com esse possível inimigo interno. Sendo assim após a guerra e a rendição incondicional do Japão Imperial, temos o término desta imagem negativa do japonês veiculado nos jornais pós 1945.


      Os autores

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  11. Boa tarde!
    Existia em Belém do Pará algum outro jornal, periódico ou qualquer outra mídia existente na época que confrontasse e/ ou criticasse o discurso americano contra os países do eixo em especial o japão?
    LANNA DE ABREU ROSSY

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  12. Olá! Lanna obrigado pela pergunta.
    Ate o presente momento em nossa pesquisa, não encontramos jornais que questionavam ou criticavam o discurso do Estado Novo (1937-1945) pois o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) censurava, punia e expropriava qualquer mídia que fosse contra a ideologia oficial do Estado Varguista.
    Como exemplo de controle “absoluto” do Estado Novo, temos o fechamento de vários jornais com nomes estrangeiros na época, sendo alguns desses exemplos: “A estrela”, “gazeta hispana”, “Popolod Itália”, “Az Zilkkra” e “Nambel Shimpon”. Todas as matérias de jornais, revistas e rádio eram cuidadosamente analisadas por um agente do DIP ou do Departamento do Estadual de Imprensa e Propaganda (DEIP) uma esfera regional do DIP. Aqueles que de alguma forma não se enquadravam as diretrizes do DIP eram censurados em seu conteúdo ou recusados.
    Não descartamos aqui a hipótese de haver jornais que contestavam o posicionamento americano e/ou do Estado Novo, porem se estes existiram foram mantidos na clandestinidade.

    Atenciosamente.
    Geraldo Magella de Menezes Neto e Victor Lima Corrêa.

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  13. Boa Noite. Obrigada pela resposta anterior. Gostaria de fazer outra.
    Porque os japoneses eram vistos como "amarelos" e se nesse tempo de guerra eles sofreram agrecoes física de moradores de Belém do Pará, se sim, quais?
    Lanna de Abreu Rossy

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    1. Prezada Lanna,

      os japoneses foram alvos de agressão especialmente após os afundamentos dos navios mercantes brasileiros pelos submarinos do Eixo, como uma espécie de vingança aos brasileiros mortos. Para um estudo mais aprofundado do tema, ver o artigo A “ressurreição da alma cabana”: as passeatas de protesto contra o Eixo na Belém da Segunda Guerra, a referência completa está na bibliografia deste trabalho.

      Atenciosamente.
      Geraldo Magella de Menezes Neto e Victor Lima Corrêa.

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  14. Boa noite!

    Claro que o foco desse estou foi a situação dos japoneses no Pará.
    Mas muito possivelmente os japoneses também sofreram esse tipo de preconceitos no restante do País.
    Não só os japoneses, como também os Alemães e os Italianos sofreram os mesmos reveses.

    Não seria o caso de se aumentar o campo de pesquisa para o que ocorreu no Brasil todo?

    PAULO ROBERTO PICKLER

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  15. Prezado Paulo, obrigado pela pergunta.

    Um estudo mais completo seria com certeza interessante. Contudo, é um trabalho que demanda tempo e recursos também para podermos pesquisar em outros arquivos pelo Brasil. E para quem está no Norte ainda é mais difícil esse deslocamento, já que os custos são sempre mais altos. Mas quem sabe, num futuro em que o nosso país esteja melhor e com uma maior valorização da pesquisa histórica, possamos fazer este trabalho.

    Atenciosamente.
    Geraldo Magella de Menezes Neto e Victor Lima Corrêa.

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  16. Boa noite Geraldo e Victor,
    Gostaria de saber o por que do jornal escolher falar especialmente dos japoneses... Sei que parte da resposta está relacionada a questão de uma maior quantidade de imigrantes japoneses na região do que de alemães e italianos..
    Daniel Borges da Fonseca

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  17. Boa noite!
    Acredita que os estereótipos nocivos formados sobre os japoneses no Brasil, no período pré-guerra, tenha contribuição de conflitos político-econômicos entre o Japão e países apoiados pelo governo brasileiro na época?

    Parabéns pelo texto.
    Guilherme Pereira de Jesus

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