Nelson Rocha Neto

PIRATAS JUDEUS NA ANTIGUIDADE
Nelson Rocha Neto

O termo Hebreu tem origens obscuras em Éber ou Heber, designação para uma região da Síria e da Palestina, como também um povo. Em seu sentido primitivo foi proposta a etimologia Ibri, "aquele que vem do outro lado" (dos rios Eufrates ou Jordão). O historiador Isaías Golgher, apropriou-se deste pensamento para ilustrar o ato de "atravessar ou transpor", dando-lhes igualmente o sentido de "emigrante”, “apátrida" ou "escravo", evidenciando a linhagem de Abraão como semelhante à Habiru. Os Habirus ou Hapirus constam em variada documentação como distintos agrupamentos, semitas ou não. No entanto, as sociedades acadianas, ugaríticas e egípcias designavam “estrangeiros” os grupos sociais considerados intoleráveis e impossibilitados de estabelecerem-se como povo. [Guérios, 1987, p. 14].

Ao longo da Antiguidade Oriental, o convívio com os povos dominantes proporcionou aos viandantes hebreus transitarem dentre os muitos grupos: escravizados, comerciantes, tropas soldadescas, saqueadores, etc., até estabelecerem o laço de unidade grupal, formulando novas concepções de mundo. Assim, a proximidade com os fenícios “escumadores dos mares”, progrediu em meio à diplomacia. Os primeiros reis israelitas abasteciam-se de matéria-prima e negociavam a mão de obra na construção de embarcações com o povo que ultrapassou as “Colunas de Hércules”. Porquanto, desde a Antiguidade, as três vocações interdependentes coexistiram no mesmo indivíduo: marinheiro-pirata-mercador.

Contudo o rei Davi, filho de Jessé, edificou o sentimento unitário entre os judeus, embora houvesse divergências entre as tribos desde os tempos do rei Saul. Unificou o reino de Judá, cineus, iemareus e demais povos não hebreus. Após a conquista de Jerusalém, a manutenção do Estado tornou-se instável: os mercenários exigiam pagamento e os recursos para as obras escasseavam. Assim, o desenlace foi perpetuar uma política expansionista, subjugando e despojando os inimigos. Cabe ressaltar a débil territorialidade do reino de Davi, se comparado aos impérios egípcios, babilônicos ou hititas. Porém, atingiu o ápice da região em séculos. [Pinsky, 2001].

Somente por volta da Dinastia Hasmoneana (140-37 a.e.c.), os judeus puderam desfrutar de um porto marítimo. Desejosos em estender os domínios de Israel, iniciaram o processo de conversão obrigatória aos povoados subjugados. Simão Macabeu, sumo sacerdote e general, após conquistar o porto de Jope, desempenhou um importante papel na implementação da vocação marítima [Cohén, 2010]:

“[...] este puerto, el principal de los Asmoneos, sirvió efectivamente de asilo a las fortificaciones piratas. En cierto modo la misma piratería puede juzgarse un hecho "oriental" por sus orígenes y vínculos portuarios, pero sobre todo por la explicación política de sus diversas funciones: em cuanto tal, la piratería se ajustaba a la doctrina política esencialmente "oriental" de Alejandro Janeo”. [Paul, 1986, p. 187].

Logo, um dos seus filhos, João Hircano tomou o porto de Asdode, “antigua ciudad filistea situada a cuatro kilómetros del litoral meridional [...] fue capital de la región y fortaleza hasta los Asmoneos”. [Paul, 1982, p. 194]. Em seguida, o primeiro rei da dinastia, Alexandre Janeu, anexou os portos de Gaza e da Torre de Strato (ou Cesarea). [Cohén, 2010]. Desta forma, recrutaram uma tropa de marinheiros para préstimo real:

“[...] los piratas se reclutaban sobre todo en Cilicia, donde estaban sus bases de adiestramiento (“cilicio” era sinônimo de “pirata”). Pues bien, entre los mercenarios de Alejandro Janeo abundaban los naturales de Cilicia”. [Paul, 1986, p. 187].

O historiador Flávio Josefo, judeu helenizado, pormenorizou em sua obra, Antiguidades dos Judeus, as escaramuças dos piratas judeus contra os romanos e a transição para uma vida marinheiresca como uma subdivisão da sociedade:

“[...] um grande número de judeus, tanto dos que se haviam revoltado contra os romanos, como dos que haviam fugido para as cidades de que se haviam apoderado, reconstruíram Jope, que Céstio havia destruído e, não podendo encontrar com o que viver em terra, por causa da devastação dos campos, construíram um grande número de pequenos navios, puseram-se ao mar e percorrendo as costas da Fenícia, da Síria e mesmo do Egito, perturbaram com sua pirataria, todo o comércio daqueles mares”. [Josefo, 2004, cap. 29].

Destarte, Josefo menciona a acusação de Hircano II, direcionada ao seu irmão Aristóbulo II envolvido em atos de pirataria. Os filhos do rei Alexandre Janeu disputavam um litígio sobre a forma de governo que adotariam. Para Pompeu: “[...] equivalía a identificar su actividad con la de los reyes antirromanos, Tigrano y Mitrídates que mantenían estrechos lazos con los piratas”. [Paul, 1986, p. 186]. Por conseguinte, formou-se na cidade de Damasco uma assembleia mediada por Pompeu, onde se reuniram os embaixadores de toda a Síria, do Egito e da Judéia:

“[...] Hircano queixava-se de que, sendo o mais velho, Aristóbulo queria privá-lo do que lhe pertencia por direito de nascimento e obrigá-lo a se contentar com uma pequena parte, usurpando todo o resto; que ele fazia incursões pelas terras contra os povos vizinhos e praticava a pirataria nos mares; que não se precisava de outra prova de seu mau caráter, de sua violência e de seu partidarismo senão o fato de haver levado o povo a se revoltar [...]”. [Josefo, 2004, cap. 5].

Não obstante, outra evidência da pirataria judaica do período Macabeu, século I a.e.c., encontra-se gravada na câmara funerária de Jasão, em Jerusalém. Dentre as lamentações grafadas em grego e aramaico, há uma menção sobre a travessia de Jasão para a costa do Egito. Também, um mural em carvão vegetal evoca a imagem de dois navios de guerra perseguindo uma embarcação. Estudiosos especulam que Jasão, filho de Pinhas, possa ter sido um comandante saduceu, marinheiro, comerciante ou pirata. [Schmidt, 1998].

Outro episódio de pirataria está na descrição de Josefo sobre Anileu (Anilaios) e Asineu (Asinaios), irmãos órfãos judeus oriundos de Neerda, na província da Babilônia. Margeada pelo rio Eufrates e fortificada, a cidade servia como entreposto de todo o erário que destinava a Jerusalém, pois não estava à mercê dos inimigos. Neerda contava com a proteção da cidade de Nisibe, ambas anexadas ao Império Parta (ou Arsácida). [Sommer, 2009].

As façanhas dos mandriões relatadas pelo cronista, contam que após serem espancados pelo seu senhor ao chegarem repetidamente atrasados para o trabalho, Anileu e Asineu, voltam-se para o banditismo, refugiam-se nos pântanos do Eufrates e lideram um grande número de judeus renegados, fundando um principado de piratas:

“Construíram depois um forte, de onde mandavam pedir aos habitantes dos países vizinhos uma contribuição, tanto em gado como quanto em outras coisas necessárias para a sua subsistência, com a promessa de defendê-los contra os que os quisessem atacar, se os atendessem, e com ameaça de matar os seus rebanhos, caso não o fizessem”. [Josefo, 2004, cap. 12].

Ao ser noticiado sobre o despotismo dos irmãos e seus partidários, o rei parta Artabano II, destacou soldados para que os eliminassem em um sábado. Não obtendo sucesso em seu intento, Artabano II estabeleceu uma aliança com os piratas judeus para manter os sátrapas sob vigilância, preservado de ladrões e outras “calamidades”, confiando-lhes o controle do território babilônico que já ocupavam. Assim, formaram um Estado semi-autônomo ao longo de quinze anos. 

A ruína da “colônia pirata” iniciou com o casamento de Anileu com a viúva de um general parta, o qual matou em batalha. Os costumes pagãos da esposa de Anileu encontraram a desaprovação entre o bando e semeou dissensões. Asineu acabou envenenado pela cunhada por causa de suas declarações a respeito dos seus hábitos. Logo, Anileu acumulou toda autoridade e liderança das tropas, entrando em confronto com Mitrídates:

“[...] que era uma das principais autoridades entre os partos e genro do rei Artabano. Saqueou o seu território, tomando um grande número de despojos, tanto em dinheiro quanto em escravos, animais e outras coisas de valor. Mitrídates, que então não estava afastado dali, ao ser informado de que Anileu tomara as suas vilas sem motivo, ficou enfurecido com aquela injúria e reuniu o maior número possível de soldados [...]”. [Josefo, 2004, cap. 12].

Após submeter Mitrídates à humilhação como “montar nu sobre um burro, o que entre os partos é a maior das ignomínias” [Josefo, 2004, cap. 12], Anileu poupou a vida daquele que considerava um dos maiores generais e receava uma vingança desproporcional por parte do rei aos judeus da Babilônia, onde estava homiziado:

“[...] investiam contra alguns castelos e devastavam toda a região ao redor. Os babilônios, vendo-se tratados daquela maneira, solicitaram aos judeus de Neerda que lhes entregassem Anileu. Estes, porém, responderam que isso não estava em seu poder, e os babilônios insistiram em que pelo menos tratassem com ele algumas condições de paz. Os judeus o prometeram e enviaram imediatamente a ele alguns deputados, acompanhados por representantes dos babilônios. Estes, após observar o lugar para onde Anileu se retirava, mataram-no durante a noite, bem como aos que estavam com ele. Nisso não correram risco algum, porque aqueles homens estavam todos embriagados”. [Josefo, 2004, cap. 12].

Portanto, a multiplicidade das práticas e leis exacerbou contínuas divergências nas relações entre babilônios e judeus. Após o assassinato de Anileu e a desarticulação do seu bando, o receio dos seus adversários findou. Artabano nomeou os irmãos piratas como generais com o intuito de frear uma conspiração sátrapa e aristocrática. Oferecendo apoio a comunidade judaica na Babilônia, Artabano preservou o seu poder e jogou vários grupos rivais uns contra os outros. O casamento de Anileu com a viúva de um oficial parto constituiu uma tentativa de se lançar à política dinástica. Finalmente, a apostasia de Anileu, instigada por sua esposa, e suas ações posteriores, indica que os irmãos fomentavam o judaísmo hostilmente em seu território. [Sommer, 2009].

Finalmente, os homens do mar ao longo da história distinguiram-se pela insatisfação social, instabilidade entre as relações de poder, insubmissão as leis e a servidão. Embora não estivessem apartados inteiramente da sociedade, a infração de transporem-se da terra para a água constituiu no domínio do antimundo, um lugar malfadado pela imaginação dos povos. O limiar dessa transição pela água representa a dualidade da visão da vida pirática:

“O limiar é ao mesmo tempo o limite, a baliza, a fronteira que distinguem e opõem dois mundos – e o lugar paradoxal onde esses dois mundos se comunicam, onde se pode efetuar a passagem do mundo profano para o mundo sagrado. [...] É também no limiar que certas culturas paleoorientais (Babilônia, Egito, Israel) situavam o julgamento. O limiar, a porta, mostra de uma maneira imediata e concreta a solução de continuidade do espaço [...]”.  [Eliade, 1992, p. 19].

Entretanto, numa sociedade pirata, as relações sociais se reproduziam na embarcação, sua revolta interpretada descompassadamente no tempo marítimo, na violência, na divisão de trabalho, despontando um mundo flutuante, representação dos devaneios coletivos em terra firme: hierarquia, subserviência e escravidão. Não fixar-se num território veiculava a ideia de transgressão e insurgência, tanto para a comunidade como para o indivíduo. O dilaceramento das relações entre as sociedades possibilitou aos piratas transformarem o madeirame das embarcações num mundo edênico no qual se optou socializar por vias turvas. Dividindo um enorme contingente, condensavam as incoerências da vida em sociedade. Além das violências contra as populações costeiras, os saques as embarcações, proliferações de moléstias, deserções e pagamentos por serviços prestados, grosso modo, a pirataria revelou uma faceta da condição humana sob a indiferença das regras de condutas sociais ou sagradas. Os conveses transformaram-se em espaços de socialização para variadas etnias relegadas às margens sociais. Sem demora ligaram os continentes, desbravando as relações humanas a partir do momento em que os primeiros piratas, “que vieram do outro lado”, removeram a rocha que obstruía a “boca de Tehom”.

Referências
Nelson Rocha Neto é graduado em História e especialista em História Cultural pela Universidade Tuiuti do Paraná.
E-mail: nelsonrochaneto@gmail.com 

COHÉN, José Chocrón. Historias de piratas, corsarios y bucaneros. Maguén-Escudo. Revista trimestral de la Asociación israelita de Venezuela y el centro de estudios sefardíes de Caracas. n. 156, jul./sep. 2010. p. 32-38.
ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. São Paulo: CPAD, 2004.
GUÉRIOS, R. F. Mansur. As línguas semíticas. Revista Letras. Curitiba: UFPR, v. 36, 1987. p. 3-23.
PAUL, Andre. El mundo judío en tiempos de Jesús. Historia política. Madrid: Ediciones Cristandad, 1982.
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. São Paulo: Contexto, 2001.
SCHMIDT, Francis. O pensamento do templo de Jerusalém a Qumran. Identidade e laço social no judaísmo antigo. São Paulo: Edições Loyola, 1998.
SOMMER, Michael. In the twilight. Hatra between Rome and Iran. In: DIRVEN, Lucinda. Hatra: politics, culture and religion between Parthia and Rome. University of Amsterdam, 2009. p. 33-42.

18 comentários:

  1. A maioria das pessoas acredita que a pirataria é mérito dos ingleses, considerando a pesquisa acima podemos considerar os Judeus os primeiros piratas da História ?
    Gizeli Pantoja Soares Lobo.

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  2. Olá Gizeli, obrigado pela pergunta.

    Ao longo de toda a Antiguidade, a presença dos piratas nas águas do Mediterrâneo foi uma constante: aqueus, teucros, filisteus, siculos, sardos, egípcios, dentre outros. Porém, foram os fenícios que rivalizaram com os gregos pelo desenvolvimento das práticas de navegação marítima e comerciais. Há uma anedota em que os fenícios adentram num porto grego e convidam a população para subir a bordo e comerciar. Quando já se reuniram numerosos, outra embarcação fenícia aparelhou e os compradores tornaram-se a carga negociada em outro porto. Embora não fossem os pioneiros, os fenícios estabeleceram inúmeros entrepostos comerciais ao longo da costa do Mediterrâneo e colonizaram o litoral africano ao sul do Marrocos. Com as conquistas territoriais, as rotas fenícias fizeram circular relatos sobre o Oceano Atlântico (além das Colunas de Hércules), a fim de desencorajar os seus rivais. Heródoto declarou que os fenícios difundiram a sua cultura para além do comércio:

    LVIII — Os Fenícios [...] introduziram na Grécia, durante sua permanência nesse país, vários conhecimentos, entre eles os alfabetos que eram, na minha opinião, até então desconhecidos no país. A princípio, os Gregos fizeram uso dos caracteres fenícios, mas, com o correr do tempo, as letras foram-se modificando com a língua e tomaram outra forma. Como os países circunvizinhos fossem, então, ocupados pelos Iônios, estes adotaram os caracteres fenícios, com ligeiras modificações. Achavam justo que lhes dessem o nome de caracteres fenícios, por terem sido introduzidos pelos fenícios da Grécia. [...] (HERÓDOTO).

    Portanto, temos que montar um mosaico com as fontes literárias, arqueológicas e históricas dos primeiros séculos da nossa Era. Os poemas Homéricos fazem inúmeras referências aos escumadores dos mares, originários juntamente com a navegação. Porém, os gregos reconheceram os fenícios como talentosos navegadores. Após a queda das cidades costeiras de Biblos, Ugarit e Sídon da influência hitita e egípcia, os fenícios prosperaram Tiro durante o reinado de Hiram I. O êxito fenício deste período contou com os sucessores de Hiram I e com os seus aliados do reino de Israel.

    Nelson Rocha Neto

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  3. Gustavo Uchôas Guimarães9 de outubro de 2017 às 17:37

    Boa noite. O seu texto, apesar de mencionar personagens bíblicos, não cita nenhum trecho bíblico (aqui falo da Bíblia unicamente como um documento histórico, aliás, um dos principais sobre os antigos hebreus). Seria a Bíblia omissa em relação aos piratas judeus para não expor possíveis crimes cometidos nos mares (o que macularia, de certa forma, o caráter de "povo eleito por Deus") ou apenas por não ser o foco dos relatos bíblicos contar o que os judeus faziam fora do seu território?

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    1. Saudações Gustavo,

      Encontramos algumas referências sobre os marinheiros judeus no Primeiro Livro dos Macabeus e nos escritos do historiador Flávio Josefo. Os Livros dos Macabeus foram escritos no primeiro século a.e.c., como narrativa “oficial” da Dinastia Hasmoneana. Porém foi "maculada", segundo alguns críticos, pela moralidade corrupta e religiosamente decadente. Não almeja o zelo religioso, concentrando-se nos fatos históricos. Apenas Josefo menciona o termo pirata, talvez como uma tentativa de edificar o sentimento de luta e resistência do povo judeu frente aos grupos dominantes, visto que os piratas passaram a ser identificados nas mais diferentes culturas, causando temores pelas lendas difundidas.

      Os livros sagrados talvez não mencionem os crimes cometidos nos mares, pelo fato dos conflitos em sua narrativa, acontecerem na esfera espiritual. Durante a época Homérica, os piratas foram associados à figura de Ares ou Marte, devido às violências que cometiam. Também podiam estar reunidos a Hermes ou Mercúrio, devido ao comércio. Desde a Antiguidade, os bandoleiros (dos mares ou das estradas) eram declarados como demônios capazes de metamorfosear-se em medonhas criaturas. O mar simbolizava a morada dos monstros marinhos que devoravam as embarcações ou reduziam-nas a condição mais precária de sobrevivência, até que as tripulações não se reconhecessem mais como homens.

      Nelson Rocha Neto

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  4. Minha questão é relacionada ao uso do texto de Mircea (reconhecido nazista) Eliade, o trabalho apresenta a questão de ponto claramente econômico e social, sendo que Mircea trata da questão religiosa. Em que momento as teses de Mircea se enquadra na leitura sócio-econômica do trabalho?

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    1. Olá Rodrigo,

      A pirataria caracteriza-se no espaço onde se realiza e as dependências que lhe são peculiares exprimem uma inquietação de transgressão incorpórea que é a revolta. Este caminho está pavimentado pela centelha da violência. No instante em que os indivíduos adentram ao ancoradouro, tomando o madeirame da embarcação, ultrapassam o fragmento temporal que separa a vida em duas. Do mesmo modo, inicia-se uma nova dimensão revogando suas vidas pregressas. O pirata torna-se a revolta, consagrado na desumanidade ao ascender junto ao cais, transpondo-se para o crepúsculo proibido. No limiar da terra para o mar, o pirata profere os seus votos, idealizando uma nova origem com as nuances da mortalha. O caos aquático alimenta os monstros do abismo, que vigiam um “tesouro” submerso. Sabemos que essa essência é metafísica, porém, o metal amarelo ou os butins almejados pelos piratas não estavam muito apartados dos delírios de Eliade.

      Nelson Rocha Neto

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    2. Uma fala bem construída sobre a concepção metafísica da ação. Esclarecedor do motivador.

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  5. Bom dia!
    Bom texto!
    Nelson, você acredita que existe um paralelo entre o movimento dos piratas judeus e o banditismo social que tomou a Judeia no mesmo período?
    Obrigado.

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  6. Salve Bruno,

    Certamente. Flávio Josefo procurava rebater os escritos dos detratores dos judeus (como Ápio e Lisímaco) que os descreviam como um grupo sem raízes, corroído por moléstias, expulsos do Egito e que levavam uma vida de mendicância nos templos.
    Plutarco discorreu sobre a pirataria no período de Mitrídates, em que os romanos disputavam contendas entre si e os cilícios aproveitaram para reivindicar o mar mediterrâneo visto que sua vigilância estava desguarnecida. Neste momento o banditismo ocorreu em larga escala, ameaçando o Estado, pois vários grupos ou etnias que procuravam a sua autonomia diminuíram as suas práticas nas estradas e nas zonas montanhosas, tomando conta do litoral. Assim, transitaram do estereótipo do bandido que vivia no isolamento para a representação da afirmação do indivíduo, significando perigo para a sociedade dominante. Também, as sociedades fora do controle do Estado, rivais políticos, regiões geográficas de difícil acesso, dentre outros, contavam como bandidos. Os muros da cidade não significavam apenas a fronteira que separava o centro urbano dos vilarejos. Estabelecia a defesa contra as turbas oriundas das estradas locais e dos mares.

    Nelson Rocha Neto

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  7. Boa tarde Nelson!
    Realmente é muito curioso o fato de ter existido piratas judeus e achei super interessante esse tema.
    A minha pergunta se refere ao fato de como e em que momento e com quem os hebreus obtiveram o conhecimento de navegação e de construção naval necessários para que atuassem como piratas e serem bem sucedidos? No seu texto aponta a dinastia Hasmoneana segundo COHEN 2010 puderam desfrutar de um porto e Flávio Josefo em sua obra "Antiguidades dos Judeus" tiveram uma transição para a vida marinhereica. Talvez entre o primeiro século. Contudo sabemos que os hebreus tiveram contato com os Fenícios por conta da construção do templo de Salomão e também da época de Davi pois levavam Cedros do Líbano para Israel. também existe um trecho na bíblia que fala que o rei tinha no mar uma frota de Társis com as naus de Hirão rei de Tiro que faziam o comércio de três em três anos com marfim prata ouro pavões e bugios (primeiro livro dos reis 10:22.)
    Muito obrigado abraços
    ass : André Luiz da Silva

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    1. Olá André, agradeço a sua contribuição.

      Parte do seu questionamento está no comentário destinado a Gizeli Pantoja Soares Lobo. O conhecimento das práticas da marinharia ocorreu com o contato com outras sociedades até então desconhecidas. O madeirame das embarcações além de reunir um enorme contingente de marinheiros, condensava as incoerências da vida em sociedade transformando-se em espaços de socialização. Mesmo com essa névoa referente ao passado dos hebreus, é na Antiguidade que encontramos a semente do legado intelectual desenvolvido por judeus e árabes na Península Ibérica que germinaria nos grandes descobrimentos portugueses.

      Nelson Rocha Neto

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    2. Olá Nelson, realmente não tinha atentado ao comentário da Gizeli, mas entendi e obrigado pela resposta! Abraços
      Ass: André Luiz da Silva

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  8. Parabéns pelo texto, uma abordagem instigante a respeito do período! Gostaria de saber do autor se em seu trabalho com as fontes foi verificado a participação efetiva feminina nessas atividades de pirataria, pois se caso positivo abriria um caminho promissor no que diz respeito a participação feminina nas sociedades judaicas e também nas ações de pirataria ao longo da História.

    Davis Alves dos Santos

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    1. Olá Davis, Agradeço a leitura.

      Não encontrei nenhuma reflexão a respeito das relações de gênero para este texto. As ações femininas ao longo da Antiguidade foram talhadas sob os parâmetros da sujeição, quase não há documentação. As que existem descrevem a condição da mulher como um objeto. Porém, não seria exagerado pensar que as mulheres integrassem os bandos ou tivessem alguma participação, pelo menos em tempos de guerra, visto que estavam destinadas à servidão.

      Nelson Rocha Neto

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  9. Olá Nelson! Em seu artigo você discorre que "Os conveses transformaram-se em espaços de socialização para variadas etnias relegadas às margens sociais", falando em números de pessoas, os piratas judeus da antiguidade ao aceitarem as outras etnias, se tornaram a minoria dos piratas?
    HERON LOURENÇO RODRIGUES.

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    1. Olá Heron.

      Provavelmente, se comparados aos povos circundantes. Por exemplo: segundo Flávio Josefo, os Macabeus assalariavam tropas estrangeiras como os pisídios e os cilícios e impunham tributos aos aliados. Também converteram (forçadamente ou não) os povos anexados. Devido ao fato de não serem considerados um povo pelos grupos dominantes, e as constantes contendas ocorridas em várias terras, resultaram numa população que teve continuadamente a sua densidade populacional modificada ao longo dos séculos.

      Nelson Rocha Neto

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  10. Que incrível nunca imaginava que judeus tivessem essa também marca vergonhosa. Minha pergunta é: esses judeus pertenciam a que tribo de Israel? E essa corja de ladrões ficou quanto tempo saqueando quem navegasse pelos mares? Boa noite
    William
    Wilzinho19@gmail.com

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