Luiz Felipe Urbieta Rego

O TIANZHU SHIYI,OU O VERDADEIRO SIGNIFICADO DO SENHOR DO CÉU:COMENTÁRIOS SOBRE SUA NATUREZA E IMPACTO
Luiz Felipe Urbieta Rego


Livro lançado na China em 1603, o Tianzhu Shiyi foi um marco que cristalizou o modelo de evangelização jesuíta no Sudeste Asiático. Falar desta obra é falar da trajetória da Companhia de Jesus na Ásia. Seu autor Matteo Ricci, foi um dos primeiros cristãos do século XVI a ter permissão para pregar o Cristianismo no Império Ming. E embora a personalidade e trajetória individual de Ricci sejam centrais para explicar as particularidades da missão chinesa, é impossível falar de um jesuíta sem se remeter ao quadro maior e a natureza da organização  a qual ele pertence.

Fundada em 1534 e reconhecida em 1540 a Companhia de Jesus desde sua fundação fez de seu objetivo central a missionação estrangeira. Entretanto, ao contrário das diversas ordens que a precederam a ênfase no estudo das letras, erudição e dos nascentes novos conhecimentos desenvolvidos em luz das redescoberta dos clássicos da Antiguidade fez com seus membros fossem um elemento novo dentro do contexto religioso europeu marcado pelos debates da Reforma Protestante (1517-1648).

Em 1552 Francisco Xavier lançou seu ultimo fôlego na pequena ilha de Shengchuan no litoral da costa chinesa. Com isso ele insuflou toda uma geração de missionários europeus a se aventurar no Império do Meio. Em pouco mais de dois anos (1549-1550) Xavier conseguira estabelecer uma rica comunidade cristã no Japão, composta tanto dos mais humildes camponeses aos mais poderosos senhores feudais. E mesmo com as limitações lingüísticas Xavier rapidamente percebeu que todo referencial para debate religioso dos japoneses tinha como base a autoridade chinesa. Foi da China que viera o Budismo.  E embora ele tenha adquirido características locais próprias, como o zen budismo, os textos sagrados mais antigos eram todos de origem chinesa. Para garantir o sucesso da missão católica no Sudeste Asiático era então vital estabelecer uma forte base na China. E com a fundação do colégio de São Paulo em Macau em 1594 ficou estabelecida uma base fixa para planejar a invasão evangélica ao Império da Dinastia Ming.

A freqüente comparação da Companhia de Jesus como uma companhia militar explica-se devido a origem de seu fundador Inácio de Loyola (1491-1556) .Ele foi um fidalgo espanhol que passou por um experiência de profunda revelação religiosa enquanto se recuperava de um ferimento de batalha. Após um breve retiro na cidade de Manresa ele abdicou das armas e ambições mundanas para fundar uma ordem religiosa que dispusesse a espalhar o Evangelho onde quer que o Papa ordenasse.

A estrutura da Companhia de Jesus teve uma clara inspiração militar em vista na ênfase dada por Loyola e os outros membros fundadores na disciplina e obediência hierárquica. Entretanto, devido a própria natureza itinerante, a manutenção  de práticas por demais rígidas condenaria ao fracasso quaisquer esforços evangélicos em espaços que estivessem fora da esfera de proteção imediata da Coroa Lusa. Portanto, quer estivessem cercados de nativos brasileiros ou mandarins os jesuítas deviam recorrer a sua própria inventividade para superar quaisquer obstáculos que encontrassem. Uma forma de compensar a adversidade externa era a prática da recitação silenciosa dos Exercícios Espirituais, obra escrita por Loyola entre 1522 e 1524 como um manual de meditação para interiorização da fé.

A escrita de cartas era outro elemento central da identidade jesuíta
Elas seguiam um código especifico de composição, orientado nas Constituições da ordem, no qual deveria conter tanto as informações mais acuradas possíveis da situação pelo que passavam os jesuítas, como também uma versão "edificante", escrita tendo em mente divulgar os sucessos e méritos da ordem na Europa. A grande maioria das correspondências era vertida para o português, embora o latim fosse a língua corrente do meio erudito.

É por isso que a versão ocidental do Tianzhu Shiyi foi encontrada em latim e existam diversas variações entre a versão européia e a original chinesa e mesmo diferenças entre versões chinesas manuscritas e impressas. Esse tratado reflete também a especificidade dos jesuítas em sua relação com as letras e correspondências. Pensando no horizonte das grandes navegações  e as constantes intrigas entre as coroas européias pela controle das lucrativas rotas orientais todo o cuidado era pouco e quaisquer deslize ou interpretação errônea dos textos jesuítas poderia colocar em risco toda a missão.

Mesmo com esses cuidados quando a obra chegou ao Ocidente, ela despertou grande polêmica. Vale lembrar que o monopólio da Coroa Portuguesa por volta de 1603 já mostrava sinais de desgaste e Espanha, França e Holanda já buscavam se estabelecer no Sudeste Asiático. E embora teoricamente a lealdade da Companhia de Jesus estivesse sempre com Roma, a sua associação com a Coroa Portuguesa e a sua importância estratégica no tratamento diplomático com as nações estrangeiras orientais tornavam todas as suas ações e publicações alvos de profundo escrutínio dos poderes europeus, eclesiásticos ou não.

Apesar das crescentes tensões na Europa a missão oriental ainda seguia sob a proteção do Padroado Português e qualquer jesuíta que fosse para a Ásia deveria se apresentar ao Rei de Portugal e embarcar em uma nau portuguesa que seguia a Rota das Índias. A missão estava então sujeita ao fluxo das rotas comerciais, mas também as orientações e experiências dos predecessores da Companhia. Antes de morrer Francisco Xavier escreveu uma carta ao Rei de Portugal pedindo não apenas o envio de mais missionários, mas de membros dotados de uma profunda formação intelectual. Eis uma das razões da centralidade de Ricci na missão, pois ele fora um dos membros da ordem que se destacava no estudo das ciências matemáticas e na astronomia, tendo privilegio de ter lições com Kepler e Galileu após seu noviciado em Roma.

Ainda assim ele não estava sozinho e antes de chegar a Macau ele passou um período em Goa lecionando retórica e aprendendo teologia. Enquanto isso seu colega Michele Ruggieri (1543-1607) já se encontrava em Macau e dedicava-se ao aprendizado da língua chinesa segundo a orientação do Superior da Missão no Oriente Alessandro Valignano (1539-1606).

Ruggieri desempenhou um papel tão importante quanto Ricci, pois  foram seus escritos inicias em chinês que serviram de base para Ricci produzir os textos que seriam aclamados pela elite chinesa. Foi Ruggieri que escrevera a primeira versão dos Dez Mandamentos, do Credo e da Ave Maria em chinês. Ele fora auxiliado pelo padre Pedro Gómez (1533-1600) que o ajudou a desenvolver um catecismo para os chineses. Esse catecismo foi o predecessor do Tianzhu Shiyi e fora descartado em 1596 em vista da nova compreensão dos jesuítas do ambiente e da sociedade chinesa.

Instalados na China continental desde 1583 na Província de Guandong, Ricci e seus colegas puderam experimentar a sociedade chinesa e suas sutilezas. Ricci se dedicou avidamente aos estudos dos clássicos confucianos e já em 1593 ele comunicava ao Superior Geral da Companhia, Claudio Acquaviva (1543-1615) a necessidade de traduzir os Clássicos Quatro Livros de Confúcio para o latim. O estudo do Confucionismo foi acompanhado de uma radical mudança de atitude e imagem dos jesuítas. Antes de 1595 os membros da Companhia adotavam as vestimentas dos monges budistas e se apresentavam como membros de uma seita budista do Oeste. Mas ao perceber o desdém das elites intelectuais para com os budistas Ricci e seus sucessores passaram a se vestir e se apresentar como eruditos confucianos.

Saindo de Guandong, a Companhia de Jesus buscou estabelecer bases no interior da China, tendo como objetivo final a capital Beijing. Nesse processo Ricci passou pelas províncias de Nanchang e Nanjing onde construiu uma reputação como erudito de memória prodigiosa. Ele impressionou a elite chinesa com seus conhecimentos matemáticos e astronômicos, mas foi apenas em 1595 com a publicação de um pequeno tratado sobre o tema da amizade que ele demonstrou o seu domínio da escrita chinesa clássica. O Jiaoyou lun, ou Tratado da Amizade, foi uma compilação de cerca de cem citações de pensadores da Antiguidade adaptados para o estilo clássico chinês.

O sucesso dessa obra fez com que Ricci procurasse enfatizar as semelhanças entre os pensamentos ocidental e oriental como base para o proselitismo religioso. Ele também reflete a importância da sinicização para garantir o sucesso da inserção dos jesuítas no meio intelectual. Foi nessa obra que Ricci usa seu nome chinês, Li Madou, e se apresenta como um erudito segundo estilo confuciano clássico. Ricci rapidamente percebeu que o estudo e domínio dos clássicos confucianos era um elemento vital para compreender a complexa burocracia estatal e se inserir no meio intelectual chinês. Se ele conseguisse estabelecer uma ligação entre os textos clássicos confucianos e a presença histórica de um culto chinês ao Deus hebraico na antiguidade, ele estabeleceria uma base sólida para relações e debates com os chineses, que eram extremamente avessos a elementos estrangeiro não sinicizados.

A principal crítica ocidental em relação à obra  era sua proposta  de explicar que uma antiga divindade chinesa, venerada nas Dinastias Zhou, e a própria referencia ao Céu (Tian) em cultos rituais poderiam ser considerados como cultos ao Deus dos cristãos e judeus. Essa interpretação foi resultado dos profundos estudos de  Matteo Ricci sobre os textos confucianos. Confúcio, entretanto, nunca foi um autor especializado na temática religiosa. Mas sua dedicação e respeito aos hábitos e costumes das dinastias ancestrais, tidas como exemplares, o coloca em uma perspectiva  de defesa e resgate dos "bons costumes" e tolerância a qualquer assunto de natureza espiritual. Entretanto, para Confúcio mundano e sobrenatural não deveriam se misturar. Por serem de naturezas intrinsecamente diversas, ao homem deveria apenas se concentrar no cultivo pessoal para garantir uma existência pacifica para si e seus semelhantes. Sua preocupação não era o pós-vida, mas garantir a manutenção de uma sociedade harmônica. E para isso ele defendia que quaisquer rituais que fossem necessários para manter o equilíbrio entre o mundo natural e sobrenatural deveriam ser realizados.

Entretanto, com o advento da expansão do Budismo na China, bem como do Taoísmo, as gerações de filósofos posteriores a Confúcio reinterpretaram seu pensamento à luz do Tao e dos ensinamentos de Sidarta Gautama. A relação entre os mundos espiritual e natural foi altamente problematizada sendo vista como interligados, reflexivos e complementares. Em contraste com a percepção ocidental que, monopolizada pelo Cristianismo, estabeleceu uma visão hierárquica e dogmática, os orientais nunca se preocuparam em impor  um sistema absoluto de relação com o sagrado.Ricci, por sua vez,em sua leitura de Confúcio filtrou os seus  escritos segundo a influência do Escolasticismo, ignorando os debates mais recentes dos textos confucianos. Impressionado com a desenvoltura do seu pensamento, Ricci o considerou um filósofo "natural" colocando ao lado dos grandes pensadores da Grécia Antiga. O sucesso de Ricci entre os chineses se deveu ao fato dele apresentar o Cristianismo como uma doutrina harmônica e complementar ao Confucionismo. Porém ao mesmo tempo Ricci procurava eliminar as influências do Taoísmo e do Budismo

O Tianzhu Shiyi inclusive busca emular um diálogo clássico entre ele (Ricci) e um chinês interessado no Cristianismo.  A escolha desse modelo não foi uma originalidade de Ricci, mas uma retomada da obra original proposta por Ruggieri.

Exceto pela questão do "nome chinês de Deus", o debate desenvolvido na obra é de natureza mais filosófica que religiosa. Embora Ricci ataque com firmeza aspectos da religião budista como a reencarnação, ele se concentra mais em expor para o chinês, em seus termos, as bases do pensamento filosófico ocidental clássico, inclusive citando pensadores romanos como Demócrito.

Não sem motivo os jesuítas contemporâneos tratam esta obra de Ricci como um "diálogo pré-evangélico". A história de Cristo é apresentada de forma bastante resumida e o batismo é apenas mencionado. A idéia do livro é que ele fosse uma ferramenta de introdução ao Cristianismo voltada para elite letrada chinesa. Cada um dos seis capítulos deveria ser apresentado e comentado uma vez em cada dia, ao longo de seis dias seguidos. E ao final desse período, caso se verificasse um legitimo interesse, seriam apresentados os pontos mais profundos e complexos da doutrina cristã.Dentre eles estaria a questão da crucificação de Cristo, algo que não era visto com bons olhos pela elite chinesa, que associava o sofrimento físico como uma punição destinada a plebe ignorante.

O Tianzhu Shiyi tido um grande sucesso evangélico pelo fato de ter sido a sua leitura responsável pela conversão do mandarim Xu Guanqxi, tido como um dos pilares do Catolicismo na China. Ele também entrou na história como a causa do evento que veio a ser conhecido como a Polêmica dos Ritos Chineses. Mesmo com sua morte em 1605, Ricci havia deixado um rico legado e uma comunidade florescente de convertidos. Entretanto, a nova geração de jesuítas entrou em conflito com seus antecessores devido a mudança geopolítica que veio  com a ascensão da França e queda de Portugal em termos de poder e influência. Diante disso, a questão do "nome chinês de Deus" foi utilizada como justificativa para questionar o método acomodativo desenvolvido por Ricci e seus contemporâneos, sendo atacado principalmente por franciscanos e ordens religiosas ligadas a França e Espanha. A tolerância para com o culto aos ancestrais e a Confúcio, tidos para Ricci como práticas de cunho mais patriótico que religioso, assim como a permissividade do termo dos temos Tian como sinônimo de Deus foram as concessões que garantiram um espaço para evangelizar no Império do Meio. E após passar pelo crivo de dois Papas que se mantiveram neutros, a questão do nome chinês de Deus foi tratada como uma heresia pela Propaganda Fide.

Os católicos chineses deveriam destruir seus altares pessoais a Confúcio e aos seus ancestrais e substituir as doações aos templos por esmolas aos pobres. Os termos Tianzhu, Shangdi ou Tian deveriam ser substituídos por Deus. Um enviado papal chegou a ser preso e morreu de inanição em uma prisão em Macau por tentar implementar essas bulas papais. O Imperador Wanli promulgou um édito que expulsava todos os jesuítas que não respeitassem o modelo traçado pelo eminente Li Madou, ou Matteo Ricci, o primeiro ocidental a ter permissão de ser enterrado nos arredores da capital Beijing. A era de ouro do Catolicismo na China chegava ao fim ao mesmo tempo que os movimentos antijesuítas se espalhavam pela Europa, em especial Portugal. A Companhia de Jesus foi suprimida em toda Europa exceto na Rússia dos czares, aonde recebeu proteção especial. Ela só seria restabelecida em 1814. Quanto à polêmica dos Ritos Chineses, em 1938 uma bula papal retificou os julgamentos anteriores, permitindo a manutenção do culto confuciano e do uso do termo nativo Tianzhu.

O Tianzhu Shiyi se estabelece, portanto como um testamento de seu tempo e do esforço de inserção por parte da Companhia de Jesus de um legítimo debate intercultural. Religião e filosofia andam lado a lado nessa obra singular que buscou apresentar os princípios do Cristianismo em um diálogo filosófico que aborda questões profundas como a própria natureza de Deus junto com elementos mais superficiais e práticos da fé católica, como as razões da prática do jejum durante a Quaresma.

Referências
Luiz Felipe Urbieta Rego, Mestre em História pela PUC-RIO.
E-mail: pelifzuilraubiet@gmail.com

BUENO, André. Mas, Confúcio era religioso?
http://sinografia.blogspot.com.br/2012/02/mas-confucio-era.html.  Artigo acessado em 03/09/2017.
REGO, Luiz Felipe Urbieta. A China dos Jesuítas: o Tratado da Amizade de Matteo Ricci e sua contribuição para o diálogo cultural entre Oriente e Ocidente. Dissertação de Mestrado.Rio de Janeiro .PUC-RIO 2012
RICCI, Matteo. On Friendship: one hundred maxims for a Chinese prince. Translated by Timothy Billings. Columbia University Press, 2009.
RICCI, Matteo. The True Meaning of the Lord of Heaven. Instittue of Jesuit Sources. Boston College, 2016.
SPENCE, Jonathan D. O palácio da Memória de Matteo Ricci: a historia  de uma viagem: da Europa da Contra-Reforma a China da dinastia Ming. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
TRIGAULT, Nicolas. China in the Sixteenth Century: The Journals of Mathew Ricci: 1583-1610.Translated from Latin by Louis J. Gallagher. Random House: New York, 1953.


7 comentários:

  1. Luiz,
    obrigado por seu texto.
    Mesmo com a perseguição, continuaram a existir comunidades cristãs até o século 19?
    Existe fonte sobre isso?
    Amadeu Tsai

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    1. Boa noite Amadeu. A questão de "cristãos escondidos" no Sudeste Asiático é um tema riquíssimo e aberto a especulação.Comprovadamente temos o caso dos kakuri kiristan do Japão que não só praticavam secretamente sua fé mesmo com proibição oficial do governo japonês como criaram de fato um Cristianismo distinto da base romana trazida pelos jesuítas. Como meu texto destaca o Imperador Wanli em represália a imposição de Roma sobre polêmica do nome chinês de Deus baniu os jesuitas que não seguissem o modelo acomodativo de Ricci.Posteriormente o Imperador Kangxi baniu oficialmente o Cristianismo na China.Mas se ele e seus sucessores fizeram questão de criar um adendo oficial ao Grande Código Qing (1644-1912) especificando punições para pregadores e convertidos cristãos certamente é um sinal que ainda exisitiam comunidades e adeptos no continente.Durante o século XIX a missão francesa monopolizou a pregação na China.Existiu também o caso da inspiração cristã na Rebelião de Taiping.Você pode saber mais lendo o livro O Filho Chinês de Deus de Jonathan Spence.

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  2. Caro Luiz,
    muito bom seu texto!
    Essas perseguições aos cristãos foram um movimento na época? Observei que havia perseguições semelhantes no Japão.
    grata,
    Maria Mendonça Regina Albuquerque

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    1. Boa noite Maria. A perseguição dos cristãos na China e Japão possuem diferenças e semelhanças bastante próprias.O ponto comum em ambas é questão da influência crescente do Cristianismo como uma ameaça ao status quo da elite governante local. Também vale ressaltar que as elites chinesa e japonesa reagiram distintamente a presença cristã até porque método missionário acomodativo dos jesuítas se adaptou para cada contexto local. No Japão o Cristianismo se espalhou muito rapidamente devido ao certo ineditismo de sua mensagem,sendo praticado tanto pelas camadas mais pobres quanto membros da elite, que muitos dos casos se convertiam por interesses práticos e politicos de poderem se envolver no lucrativo comércio com os portugueses. Na China, devido a experiência do Japão, os jesuítas buscaram concentrar seus esforços proselitistas na elite burocrática e intelectual.O sucesso dos jesuítas em ambos os casos assustaram os elementos mais tradicionalistas da China e Japão que perceberam a ameaça potencial do cristianismo para a soberania de seus países e buscaram então proibir e perseguir os elementos praticantes desta religião estrangeira.

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  3. Boa noite, Luiz.

    Parabéns pelo texto.

    Uma dúvida referente a primeira querela dos ritos chineses, acontecida enquanto Ricci ainda estava vivo. Você escreve que o jesuíta considerava o culto aos ancestrais como um ato mais patriótico do que religioso. Quais as razões para Ricci considerar o culto aos ancestrais como uma ação patriótica e não religiosa?

    Ass

    Renan Morim Pastor

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    1. A própria natureza dos textos clássicos de Confúcio que evitam se aprofundar nos detalhes dos ritos religiosos e seus procedimentos embora reconheça seu valor e necessidade. Parafraseando" Fan Chi perguntou sobre sabedoria. O Mestre disse: "Garante os direitos do povo; respeita espíritos e deuses, mas mantendo-os a distância - isso, na verdade, é sabedoria.Esse trecho é aliás o final do artigo feito pelo nosso querido André Bueno em seu texto "Mas...Confúcio era religioso?" disponivel online. Vale destacar que a "primeira querela de quando Ricci ainda estava vivo" era uma tensão entre as ordens religiosas alinhadas a Espanha, os Dominicanos,Franciscanos e Agostinianos que, vindo das Filipinas, colônia espanhola conquistada à força, defendiam uma proposta de tabula rasa,isto é uma total destruição dos costumes religiosos locais em detrimento do Catolicismo. Os jesuitas debateram abertamente contra o metodo dessas ordens defendendo o acomodacionismo de Ricci e seus contemporaneos. A adoção de uma ênfase no patriotismo também uma interpretação idealizada de Ricci que buscava ler Confúcio como um filósofo da Antiguidade Grega,seguindo a perspectiva escolástica de Tomás de Aquino que destacava o valor do estudo da filosofia clássica,em especial Aristóteles,como meio de estudo da revelação cristã.

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