Isaias Holowate & Naton Joly Botogoske

O POEMA DE PENTAUR: RAMSÉS II E A BATALHA DE KADESH
Isaias Holowate
Naton Joly Botogoske

Nas paredes do templo de Abu Simbel encontra-se uma inscrição ao lado de uma imagem. A imagem retrata um guerreiro em seu carro de guerra esmagando seus inimigos. Cavalo à galope, arco esticado, o guerreiro é representado com tamanho superior a todos. Não se trata de um personagem comum, mas de um ser superior, divinizado, um faraó.  O homem retratado não é ninguém menos que Ramsés II, um dos mais poderosos líderes do Egito antigo, no momento mais dramático de sua carreira: A batalha de Kadesh, travada em 1286 A.C. (Servajean, 2012, p.1).

As inscrições sobre a batalha, gravadas na ala direita da sala hipóstila do templo, constituem o chamado Poema de Pentaur, nome do escriba responsável pela inscrição.

Nas paredes do templo, à primeira vista tem-se a impressão de estar diante de um boletim informativo da campanha militar que culminou na batalha, a qual é ricamente detalhada. Porém, trata de uma ressignificação do confronto, construída em um período historicamente datado e que atende a interesses específicos. O objetivo da produção da representação sobre o confronto é apresentado já no início da inscrição: contar sobre a vitória do Rei Ramsés II sobre Kheta (Hititas) e seus aliados:

“Aqui começa a vitória do Rei Usermare-Setepnere Ramses II, que vive eternamente, que ele conquistou sobre a terra de Kheta e Naharin, Arvad, Pedes, Derden, Mesa, Kelekesh, Carchemish, Kode,  Kadesh, Ekereth, e Mesheneth.”

Entretanto, o documento, embora tenha sido produzido não propriamente com um interesse historiográfico, possui informações sobre um acontecimento histórico e possibilita a compreensão do fato e da reconstrução feita pelo poder egípcio em um processo de produção de representações sobre o fato.

Por conseguinte, nessa análise, utiliza-se do Poema de Pentaur como fonte, sendo, portanto, ele um vestígio do passado. Contudo, para a compreensão dos fatos e da reconstrução dos acontecimentos, a análise historiográfica leva em conta não apenas o documento por si só, mas também a presença de outras fontes sobre o tema e a compreensão do contexto de produção da inscrição, além das modificações históricas ocorridas no ambiente em disputa naquele período. Em consequência disso, o estudo analisa as fontes em relação à historiografia presente sobre a batalha de Kadesh e o poema de Pentaur.

No estudo das relações entre a inscrição e o confronto, chama a atenção as divergências entre ambas e especialmente, a parte final da inscrição em relação aos resultados do confronto. Contada como uma vitória estrondosa de Ramsés II, os fatos que ocorreram em seguida à batalha tornam questionáveis algumas afirmações presentes na inscrição, levando a crer que mais provável que o resultado do confronto fosse um empate.

De fato, essas inscrições obedeciam a uma espécie de modelo de glorificação do faraó, vencedor de seus inimigos, e abençoado pelos deuses, da qual ele também era um, e, portanto, em muito superior às pessoas comuns, como era o caso de seu inimigo “que se atreveu a se colocar contra ele”.

Mesmo assim, a inscrição carrega momentos bem-humanos do faraó, quando abandonado por todos, cercado e com medo, ele teme que Amon tenha o abandonado.

Tal como nota-se no início da inscrição, os relatos do poema de Pentaur buscam contar uma vitória egípcia. Porém, o contexto da guerra torna a designação de uma vitória bem mais imprecisa. Os fatos posteriores a Kadesh apontam que ela não foi uma batalha definitiva. Revoltas na Palestina contra a presença egípcia marca o período imediatamente posterior a batalha e quinze anos depois, a assinatura de um tratado de paz entre os contendores ao qual se soma também um acordo de assistência mútua, apontam para um equilíbrio de poder nas relações entre os dois países no período posterior do confronto (Almeida, 2010).

A descrição egípcia da batalha é rica em detalhes e apresenta descrições que auxiliam na compreensão do desenrolar do combate. O autor, mesmo louvando a vitória incontestável do faraó, aponta para momentos de tensão e perigo na batalha que são essenciais para compreensão do desenrolar do confronto.

O pressuposto teórico que orienta a pesquisa é que a inscrição representa uma realidade ocorrida em um determinado contexto histórico, e, portanto, além de ser uma ressignificação produzida por atores sociais interessados em construi-las, também dialogava com a cultura em que fazia parte. A representação “entendida, deste modo, como relacionamento de uma imagem presente e de um objeto ausente, valendo aquela por este, por lhe estar conforme” (Chartier, 1991, p. 184).

Em concordância a isso, o objetivo do presente ensaio é analisar as relações entre a representação construída no poema de Pentaur e a batalha de Kadesh, buscando compreender a reconstrução acontecimental presente na inscrição.

 As relações políticas hitito-egípcias no início do século XIII A. C.
Em inícios do século XIII A. C., a região Sírio-Palestina era um importante entroncamento comercial por onde passavam alguns dos principais caminhos de comércio do Oriente Próximo. Entre as rotas comerciais mais importantes, a rota Fenícia era a responsável pela importação de cobre do Chipre, essencial para a produção e armamentos, além de madeira do Líbano e vasos gregos e a rota de Punt, de onde eram comprados incenso, ébano, aves, peles e animais selvagens. Além disso, haviam também importantes rotas terrestres, como as de caravanas do Oriente Médio vindos do Afeganistão, que transportavam no lombo de burros o lápis-lazuli para os templos egípcios, e a das riquezas da Arábia carregadas por mercadores. Assim, havia rotas que ligavam desde o atual Afeganistão até Egito, passando por cidades importantes naquele período como Kadesh, Megido e Gaza.

Nesse contexto em que o Egito era uma potência comercial (Murnane, 1990, p.3), Kadesh também era estrategicamente essencial para o controle da Sírio-Palestina, pois era rota de marcha de um exército egípcio em direção ao rio Eufrates e por outro lado, seu controle bloquearia o avanço de qualquer exército que pretendesse aprofundar-se na região mediterrânea.

“Kadesh sempre foi um ponto forte vital, porque situado no extremo norte do vale B'kaa, ele era um ponto que qualquer exército egípcio tinha que atravessar se aproximando do Sul ao longo do vale - A rota óbvia” (Cotterel, 1968, p112).

A política faraônica adotada no início do Novo Império (1570 A.C.) foi a de estabelecimento de um cordão de isolamento contra as ameaças externas. Duzentos anos antes de Kadesh, o faraó Tutmés I (1493 A. C. a 1482 A.C.), proclamara o Rio Eufrates como a fronteira da ocupação egípcia. Já no reinado de Tutmés III (1479 A.C. a 1425 A. C.) as campanhas se intensificam, tendo havido o estabelecimento de uma sólida rede de relações comerciais e de influência diplomática egípcia na área.

Porém, a política da região modificou-se no século XIV com a decadência do Império Mitani, cuja base central ficava no norte do Eufrates e a ascensão do poder dos Hititas, estabelecidos a partir de um centro de poder da Ásia Menor.

O Estado Hitita consistia de uma organização política concentrada nas mãos de um chefe apoiado por pequenos senhores que possuíam em seu controle exércitos que marchavam unidos em caso de guerra e constituíam uma força militar poderosa para ser utilizada em um confronto (Batista e Selvatici, 2016, p. 831).  

Isso contrastava com o poder militar egípcio, que embora houvesse passado por transformações em decorrência da guerra de libertação contra os Hicsos com, por exemplo, o estabelecimento de divisões do exército, compunha, em sua maioria de jovens recrutados em ocasiões de confronto (Arrais, 2011, p. 66).

O Poema de Pentaur e a batalha de Kadesh 
Duas linhas narrativas se entrelaçam na inscrição de Pentaur: Na primeira, o escriba começa fazendo um elogio ao soberano e em seguida inicia história da batalha do faraó contra seus inimigos, contando os feitos da campanha contra os Hititas e seus aliados. Tal como apontado nas primeiras linhas, a campanha é a priori vitoriosa, ao qual o escriba vai explicar como essa vitória se deu. A segunda linha é composta pela fala do próprio Ramsés, que vai descrevendo as dificuldades ao qual vai enfrentando no decorrer da batalha e forma com que vai encontrando resoluções para os mesmos. O faraó vive momentos de terror na batalha, invoca a proteção dos deuses, ironiza a forma com que seus soldados se comportam em combate e aponta a si mesmo como o único vencedor da batalha. (Carreira, 2006, p. 184)

O exército hitita em Kadesh certamente era superior, “uma multidão tão numerosa quanto a areia” de possivelmente 35 mil de infantaria e 2500 carros, contra 20 mil egípcios, divididos em quatro corpos de exército, Amon, Rá, Ptah e Seth, relativo a quatro dos principais deuses do panteão egípcio.

O texto de Pentaur se refere ao exército hitita da seguinte maneira:

“Eis que o miserável chefe vencedor de Kheta estava estacionado no meio da infantaria que estava com ele, e ele não veio para lutar, por medo de sua majestade. Então ele fez para ir o povo da carruagem, uma multidão extremamente numerosa como a areia, sendo três pessoas para cada intervalo. [...] eles tinham feito suas combinações assim: entre cada três jovens era um homem do vencedor (guerreiro) de Kheta, equipado com todas as armas de batalha. Eis que eles os tinham posto em batalha, escondidos a noroeste da cidade de Kadesh.”

Assim, a força principal do exército hitita era composta por carros de combate tripulados por três soldados cada um. Enganado por falsos informantes, o faraó havia conduzido os quatro corpos de seu exército separado até kadesh muito distantes para poderem se apoiar em caso de um ataque rápido e acabou sendo surpreendido pelos carros hititas A parte central da batalha consistiu de uma manobra de movimentação rápida dos carros hititas que atacaram a divisão de Rá pelo flanco dizimando suas forças. Em movimentação seguinte, os carros hititas foram quebrando as divisões egípcias antes que pudessem se colocar me posição de combater.

O relato de Pentaur possui linhas comoventes sobre o momento em que o acampamento estava sendo tomado e o faraó se encontrava cercado pelos carros hititas:

“Sim, e nenhum dos meus príncipes, dos meus principais e dos meus grandes, estava comigo, nenhum capitão, nem um cavaleiro; Pois meus guerreiros e carros me deixaram ao meu destino. Ninguém estava lá para tomar sua parte em luta "

“Não há ninguém ao meu lado, meus guerreiros e carros foram afugentados, abandonaram-me, ninguém ouviu minha voz quando aos covardes eu, seu rei, por socorro, implorei. ”

Desesperado, Ramsés pede ajuda aos deuses, em meio a batalha:

“Pai Amon, onde você está? Será que um pai esquece seu filho? Há algo sem o seu conhecimento que eu fiz?  Dos julgamentos de sua boca quando eu esqueci? Eu transformei-me sua palavra? Desobedeci ou quebrei algum voto? ”

E então, animado com a fúria de Amon, o Rei decide partir para a frente de combate em direção aos seus inimigos, crente na sua vitória.

“Então, tudo isso aconteceu, eu fui mudado em meu coração Como Monthu, Deus da guerra, eu fui feito, Com a mão esquerda joguei o dardo, Com a direita, eu balancei a lâmina, forte como Baal em seu tempo, antes de sua visão. Dois mil e quinhentos pares de cavalos estavam por aí, e eu voei no meio deles, pelos cascos do meu cavalo foram quebrados todos em pedaços no chão. Nenhum levantou a mão na luta, pois a coragem em seus seios tinha mergulhado bastante; E seus membros foram soltos por medo, e eles não podiam atirar o dardo, e eles não tinham nenhum coração para usar a lança; E eu os joguei na água, assim como os crocodilos caíram, então eles afundaram. ”

Os fatos ocorridos na batalha são bem menos heroicos do que o poema de Pentaur leva a crer. No momento crucial da batalha, os soldados hititas, experimentes em combates, deixaram se cair pela possibilidade de saquear o campo, desorganizando-se e atrasando o golpe final que esmagaria o exército egípcio.  Isso impediu a aniquilação do exército egípcio e permitiu a chegada de um pequeno corpo de exército profissional egípcio – os Ne’arin –, que mudou a situação da batalha. Descansados e organizados, eles chegaram em um momento em que ambos os lados estavam em estado de desorganização. A atuação desse corpo de elite permitiu as tropas do faraó contra-atacar as desorganizadas e espalhadas tropas hititas e reassumir o controle do campo. Com as tropas de volta aos seus campos, a batalha estava indecisa. Os egípcios haviam perdido uma grande quantidade de soldados, enquanto as perdas hititas eram inferiores. Poderia haver a possibilidade de um novo combate no dia seguinte, mas isso não ocorreu. O exército egípcio se retirou, clamando a vitória, porém, as rebeliões posteriores na região e o recuo egípcio apontam para pelo menos, um empate na batalha. Tal como aponta Santosuosso:

“Os egípcios não conseguiram garantir uma região mais ao norte como fronteira contra a influência hitita, como pode ser mostrado por campanhas posteriores de Ramsés II, provavelmente durante os anos 5 a 7 de reinado, com prova clara de outra campanha no ano 8 (Breasted 1906, p. 157; Schmidt 1973, p. 30). A revolta da cidade de Askalon contra o controle egípcio provavelmente também ocorreu durante esse período. Os Hititas empurraram os egípcios para o sul depois da batalha de Kadesh e ocuparam temporariamente a região de Tabor, de onde que Ramsés depois os expulsou (Breasted, 1906, p159). No mínimo, o controle hitita de Amurru e Upe parece ter sido restabelecido logo após a Batalha de Kadesh” (Santosuosso, 1996, pp. 443-444).

Considerações Finais
A batalha de Kadesh foi um dos maiores confrontos da História da humanidade, opondo a duas maiores potências de seu tempo. O resultado do confronto não foi positivo para nenhum dos lados, que viram o poder Assírio crescer nas décadas seguintes. Ramsés, ao retornar ao Egito, mandou proclamar a sua vitória, embelezando os templos com reconstruções da batalha.

Porém, segundo Askurgal (2001, p. 90) a própria presença de escritos e imagens nos templos egípcios relativos à batalha apontam para uma necessidade do faraó de reconstrução do fato. Para o pesquisador, a batalha foi um desastre para ambos os lados, mas foi o rei hitita que soube aproveitar da situação.

“[...] foi Muwattali que aproveitou esta situação. Após a batalha, Ramsés recuou; Os hititas apareceram em Damasco e saquearam a área. O estado de Amurru, um vizinho do Egito, novamente tornou-se um satélite dos hititas; Bentesina, o rei desleal de Amurru foi deposto e levado para a terra de Hatti como um prisioneiro. Depois disso, não havia mais menção aos egípcios na Síria (Akurgal, 2001, p. 90).

Kadesh foi um ponto marcante do expansionismo egípcio no Novo Império, freando os avanços de Ramsés II, que posteriormente abandonaria a região da Síria, contentando-se com uma linha de defesas na região e um relacionamento pacífico com o poderio hitita. Anos depois, um tratado de paz e aliança foi assinado entre os dois povos.

O poema de Pentaur ressignificou o combate, dando ao faraó o status de não apenas o que guia seus exércitos para a vitória, mas também como o único vencedor da mesma. A realidade egípcia produzia determinações que atentavam para a necessidade de uma reconstrução de tal forma. O faraó foi glorificado, na inscrição, mas mesmo sendo considerado como “filho de Hórus”, a sua humanidade está muito presente na inscrição, e quando pensada em relação aos fatos de Kadesh, chamam a atenção. Ramsés é enganado, tem medo, chora e se sente abandonado pelos deuses e por seus soldados. O “filho de Hórus” também é humano.

Referências
Isaias Holowate é acadêmico do Mestrado em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Mail: isaiasholowate@gmail.com
Naton Joly Botogoske é acadêmico do bacharelado em Educação Física pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Mail: natonjoly@gmail.com.

ALMEIDA, Júlia Pereira de. O tratado entre Ramsés II e Hattusili III. Lisboa, Centro de História da Universidade de Lisboa, 2010.
AKURGAL, Ekrem The Hattian and Hittite Civilizations, Ankara, Republic of Turkey Ministry of Culture, 2001 ARRAIS, Nely Feitoza. Os feitos militares nas biografias do Reino Novo: Ideologia militarista e identidade social sob a XVIII dinastia do Egito Antigo. Tese de doutorado. Niterói, UFF, 2011.
BATISTA, Leonardo Candido; SELVATICI, Monica. A formação da identidade entre os Hititas. Anais do IX SEPECH.  Londrina: UEL, 2012. CHARTIER, Roger.  O mundo como representação. Estudos Avançados, v.5, n.11, jan/abr. 1991. p. 173-191.
COTTREL, L. The Warrior Pharaohs. London, Evans Brothers, 1968 Egyptian Accounts of the Battle of Kadesh.The Poem of Pentaur. Disponível em:<http://www.reshafim.org.il/ad/egypt/kadeshaccounts.htm#rem10>. Acesso em 20 mai. 2017.
FERGUSON. James. Kinglists and Archives, Epics and Propaganda: Near Eastern Historiography (A Background Briefing). Disponível em:< http://www.international-relations.com/History/Near-East-Archives.pdf>. Acesso em 20 mai. 2017. MURNANE, Williams J. The road to Kadesh: A historical interpretation of the batlle reliefs of king Sety at Karnak. Disponível em:https://oi.uchicago.edu/sites/oi.uchicago.edu/files/uploads/shared/docs/saoc42_2ed.pdf. Acesso em 20 mai. 2017.
SANTOSUOSSO, Antonio “Kadesh Revisited: Reconstructing the Battle Between the Egyptians and the Hittites”. Journal of Military History, v.60 n. 3, Jul 1996.
SERVAJEAN, Frédéric. Quatre études sur la bataille de Qadech. CENiM 6, Montpellier, 2012. Disponível em: http://www.enim-egyptologie.fr/cahiers/6/Servajean_CENIM6.pdf>. Acesso em 29 mai. 2017.


14 comentários:

  1. Olá.
    Tenho algumas questões sobre o texto: uma pergunta mais direta e a outra é para abrir mais espaço para abordarem alguns assuntos, caso queiram.
    Em primeiro lugar, acho o tema bem interessante, sempre gosto de trabalhar com a batalha de Kadesh e a coloco como momento final do período de relações diplomáticas da Era de Amarna (assunto de minha pesquisa). Acredito que existam muitas questões que podem ser trabalhadas sobre a Batalha e suas representações, e este trabalho levanta pontos que podem ser explorados. Exatamente por levantar esses pontos, senti falta de uma abordagem mais extensa sobre alguns aspectos, como, por exemplo, a relação da arte egípcia com a expressão política. Além disso, no tópico das relações entre egípcios e hititas no século XIII, também senti falta de explorar o proposto nesse subtítulo. Vocês comentaram sobre períodos anteriores e, brevemente, sobre a estrutura politica/militar dos egípcio e dos hititas, mas não da relação entre esses povos.
    Claro, não há, num ensaio, o espaço para um debate extenso sobre essas questões. Por isso, gostaria de pedir para que abordassem esses temas agora mais calmamente. Isso, se julgarem pertinente.

    A segunda questão é em relação as fontes. Vocês citam o poema, mas não sei de onde onde é a tradução. É de vocês? Traduziram do original ou de alguma outra língua? qual é a referência dessa tradução? onde a encontro na integra? há versão publicada no original (egípcio)? Há fotos do painel? E para fazer o contraponto do poema, vocês usaram alguma fonte hitita ou só bibliografia?

    É uma questão um pouco longa, mas fiquem a vontade para responderem o que acharem pertinente.

    Priscila Scoville

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    1. Olá Priscila
      Muito obrigado pelo seu comentário e pelas suas considerações.
      Bem, a Batalha de Kadesh constitui um ponto vital tanto para pesquisadores do que poderíamos chamar de uma História Cultural egípcia, quanto dos pesquisadores da história Militar, marcando um período de intensas trocas comerciais, culturais e diplomáticas entre os dois povos, mas também uma época de confrontos bélicos que colocaram em choque a maior máquina militar do Oriente Próximo naquele período contra a maior potência econômica, embora, poucas décadas depois, a ascensão assíria fosse constituir uma ameaça a ambos os contendores.
      Muitos aspectos não puderam fazer parte do curto ensaio, com por exemplo, a vasta correspondência que antecede os confrontos entre ambos os Estados e que fazem parte das correspondências de Amarna, assim como a descrição que é possível fazer do funcionamento do Estado Hitita com base tanto na historiografia quanto nos arquivos de Boğazköy. Aliás, muitas citações aos arquivos hititas precisaram ser cortados da versão final do ensaio, de forma que se optou por associar o documento egípcio “Poema de Pentaur” ao título do trabalho, dando mais ênfase assim, para a reconstrução egípcia da campanha militar.
      As fontes utilizadas são principalmente traduções inglesas de hieroglifos, como é o caso da tradução do poema apontada nas referências do ensaio. A tradução para o português é de nossa autoria, feita especialmente para o evento, de forma a facilitar a leitura do participante que desconhecesse a língua inglesa.
      O contraponto documental é feito pelas traduções hititas e textos historiográficos sobre eles traduzidos para o inglês, as quais, quando citadas, aparecem referenciadas.
      Há diversas questões relacionadas aos textos hieróglifos traduzidos para o inglês, tendo em vista os acordos na reconstrução da linguagem do Egito Antigo, mas isso também preferimos ocultar do ensaio, deixando para pesquisas futuras.
      Abraço
      Isaias

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  2. Jéssica Kotrik Reis Franco10 de outubro de 2017 às 08:49

    Bom dia!

    Gostaria de fazer uma pergunta:

    1) Já ouvi pessoas comentarem, que Faraós não iam a batalhas pois como eram considerados "divinos", deuses terrestres, então estes não participavam dos combates diretos. Eu creio se tratar de um grande equívoco e de uma informação sem fundamento algum. Já tinha ouvi falar da batalha de Kadesh, mas esse ensaio trouxe-me argumentos sólidos contra esse tipo de informação equivocada, ainda mais quando se trabalha com monitorias em um museu egípcio, onde o público muitas vezes está munido de informações baseadas no senso comum. Como viram, essa questão é mais um comentário mesmo, mas se possível, gostaria que comentassem um pouco mais a respeito.

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    1. Olá Jéssica
      A participação “física” do faraó nas batalhas variava de acordo com quem era o Faraó, embora um de seus atributos era ser Hórus, o guerreiro por excelência.
      No caso dos faraós das primeiras dinastias do Novo Império, em muitas expedições, a presença do Faraó era quase que obrigatória, tendo em vista a eminência da ameaça e os interesses colocados em jogo, ao mesmo tempo em que obrigavam o Estado a construir um arcabouço militar mais contundente.
      Porém, nem todos os faraós dessa época eram militaristas. Akenaton, por exemplo, descuidou bastante da questão militar, de forma que o Império hitita no governo de Muwatali conquistou uma Supremacia no Oriente Próximo. Supremacia esta que foi contestada nas expedições comandadas por Seti I e Ramsés II.

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  3. Olá,
    vocês mencionaram que o poema se trata de uma ressignificação da batalha de Kadesh e que atende a interesses específicos. Nesse ponto, gostaria de saber se o poema seria uma propaganda política, visto que o mesmo fortaleceu o papel histórico de Ramsés II, apresentando-o como um herói?
    Luana Aparecida da Silva

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    1. Olá Luana
      O Poema de Pentaur tinha diversos significados, um deles o propagandístico em relação aos seus súditos. O Faraó recua após a batalha, mas o texto divulga uma vitória egípcia. O poema reforça a figura divina do faraó e o fato dele ser superior aos humanos e ao rei hitita. Se pensarmos ele apenas como ferramenta de propaganda, ele era um documento de propagando política e religiosa. Mas há outros pontos, como por exemplo, o fato da inscrição ser uma produção religiosa -aproximava o faraó com os deuses- e artística, por exemplo.
      Abraço
      Isaias

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  4. Olá. Vocês chamaram atenção para a representação mais humana de Ramsés II. Essa humanização do faraó era comum na poesia egípcia? Sendo o faraó visto como um deus o relato da situação de medo não enfraqueceria a imagem do faraó? Além de relatos narrando as vitórias dos faraós havia a posibilidade de relatos mais críticos e que narrassem um eventual fracasso ou havia um controle sobre a produçåo desses relatos?
    Mariana Soares Zuchetti

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    1. Olá Mariana
      A humanização dos sentimentos do líder e a divulgação de seu cotidiano eram coisas raras de se acontecer no reinado de alguns faraós, e até comuns no caso de outros.
      De Akenaton, por exemplo, tem-se bastante documentos sobre o cotidiano dele, sua família, relação com a esposa, com Áton, etc. De outros faraós, como é o caso de Ramsés II, é bem mais incomum. Mas mesmo assim, a partir do esmiuçamento das fontes, é possível compreender alguns aspectos das suas escolhas políticas e das suas relações familiares, por exemplo.
      O que torna o Poema de Pentaur ainda mais interessante é que ele alterna a grandiosidade com a humanidade de Ramsés em um mesmo documento, de forma que mesmo demonstrando medo, ele não deixa de ser o líder do Império Egipcio.
      Abraço
      Isaias

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  5. “Não há ninguém ao meu lado, meus guerreiros e carros foram afugentados, abandonaram-me, ninguém ouviu minha voz quando aos covardes eu, seu rei, por socorro, implorei. ”
    Um faraó nunca ficaria só em batalha. Teria alguma documentação de outros povos sobre essa vitória? Ou só há a versão do vencedor?
    Eliane Brown Rodrigues Adorne

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  6. Olá Eliane
    Ele não estava só.
    Havia uma divisão do exército junto com ele, mesmo estando cercados. Porém, de fato eles estavam desorganizados, assim como os atacantes se desorganizariam na sequência saqueando o campo e dando a possibilidade dos Ne'arin chegarem. Note que essa fala se trata de uma estratégia literária e propagandística que outorga ao faraó a exclusividade da vitória sobre seus inimigos.
    Abraço
    Isaias

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  7. Oi, Isaias!
    Não entendi sobre os hititas.Quem eram realmente?
    Júlia Brown Rodrigues Adorne

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    1. Ola Júlia
      Os Hititas eram um povo indo-europeu constituíram um Estado por volta de 1600 A.C. e que no seu auge ocuparam controlavam desde o leste da Turquia, norte da mesopotâmia chegando até a Palestina. Foram o primeiro povo a manusear o ferro e utilizar como arma de combate, tendo como uma de suas principais forças os carros de combate além de ser deles o primeiro tratado de como cuidar de cavalos. Ao contrário do Egito, que possuía poucas forças militares regularmente treinadas, os hititas possuíam uma aristocracia militar mais organizada, que somadas à sua estrutura de poder dependente de seus chefes militares, tornaram eles uma potência militar – e consequentemente política – temível naquele período. Sua decadência ocorreu por volta do ano 1100 A.C., em virtude tanto de disputas internas quanto por invasões ao qual a região foi alvo.
      Abraço
      Isaias

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  8. Olá.
    Gostei bastante desse tema, pois não tinha conhecimento da poesia egípcia.
    Você disse acima que existem fontes sobre Akenaton. Como encontrar? existem traduções?

    Rafael Egidio Leal e Silva

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