O IMPERIALISMO JAPONÊS NA ÁSIA: DA ERA MEIJI À SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Emiliano Unzer Macedo
A essência Yamato não é uma planta amansada e afetuosa, mas selvagem - no sentido de seu crescimento natural; é indígena ao solo; suas qualidades acidentais podem ocasionalmente ser compartilhadas com as flores de outras terras, mas na sua essência continua a ser a fonte original e espontânea do nosso clima. Mas a natividade não é a sua única reivindicação de nossa afeição. O refinamento e a graça de sua beleza atraem nosso sentido estético como nenhuma outra flor. (...) Quando o delicioso perfume da sakura [cerejeira em flor, Prunus serrulata] desperta o ar da manhã, enquanto o sol em seu curso levanta-se para iluminar primeiro as ilhas do Extremo Oriente, poucas sensações são mais serenamente estimulantes que inalar, por assim dizer, o próprio sopro de um lindo dia. Inazô Nitobe (1862 – 1933), Bushido, the Soul of Japan. An Exposition of the Japanese Thought. p. 109-111 (tradução nossa).
Política externa japonesa no período Meiji (1868 – 1912)
A política japonesa no período Meiji guardou em si um aspecto imperial, pois buscou legitimar-se pelos meios políticos e militares no poder, a buscar novos espaços de influência, como os japoneses tinham observado com relação aos impérios coloniais europeus no mundo em fins do século 19. Foi nesse sentido que Aritomo Yamagata (1838 – 1922), primeiro-ministro entre 1889 e 1891, recém chegado da Europa, formulou uma política de construir uma poderosa marinha imperial japonesa, tal qual uma nação insular como a Grã-Bretanha. Em 1876, Yamagata argumentou que uma invasão da península coreana deveria ser parte de um plano de controlar a região antes que alguma outra nação ocidental o fizesse, pondo em perigo todas as ilhas japonesas.
Como consequência, o Japão impôs o Tratado de Kanghwa em 1876 sobre a Coreia, quase idêntico ao que o Comodoro Perry impôs ao Japão no Tratado de Kanagawa vinte anos antes. Assim, durante a década de 1880, o Japão mandou emissários ao Coreia para aconselhar e supervisionar a modernização de seu sistema educacional, economia e estrutura política, assim como os europeus o fizeram sobre o Japão após 1854.
O Tratado de Kanghwa imposto sobre a Coreia, agravou ainda mais a situação dos japoneses aos olhos coreanos e muitos residentes chineses na península. Rebeliões começaram a ser frequentes entre os coreanos descontentes e, em 1894, um levante popular generalizado, a Rebelião Tonghak, foi inspirado por movimentos religiosos, sentimentos xenofóbicos e anti-japoneses. Os chineses, por sua vez, a partir de Pequim da Dinastia Qing, enxergaram na rebelião uma oportunidade de intervir e defender a península dos japoneses. O que resultou numa guerra sino-japonesa nos anos seguintes.
Decorrente das vitórias sobre os chineses, os japoneses reivindicaram a ilha de Taiwan (Formosa), a pequena mas estrategicamente valiosa península de Liaodong e uma vultuosa indenização da China. Nesses termos foi assinado o Tratado de Shimonoseki de 1895.
A ocupação da península de Liaodong causou furor e indignação nos gabinetes da Rússia, França e Alemanha, pois enxergaram nisso uma intromissão inesperada na China, e os três países intervieram conjuntamente para a retirada japonesa na península, o que provocou um amplo ressentimento no Japão, que consideraram-se injustiçados no processo de partilha imperial da China em decadência. Muitos no Japão enxergaram nisso um exemplo de racismo e impedimento das potências ocidentais em tornar o Japão uma potência hegemônica na Ásia.
Apesar disso, houve uma notável conquista no plano diplomático-militar dos japoneses, ao assinarem o Acordo Naval Anglo-Japonês de 1902. Acordo em que os britânicos, reconhecendo a ajuda dos japoneses sobre os revoltosos chineses na Rebelião Boxer (1899 – 1901), e com o fato de que foram os japoneses os vitoriosos sobre a península coreana, decidiram também confirmar a presença naval japonesa no Oceano Pacífico e Leste Asiático. O acordo previa uma aliança e ajuda naval em caso de futuras agressões a qualquer das partes. Foi o primeiro acordo diplomático entre uma potência ocidental e outra não-ocidental na história moderna.
Com os russos, os japoneses tentaram negociar com eles, propondo o reconhecimento russo dos japoneses na Coreia e, em contrapartida, o governo japonês reconheceria a presença dos russos na região nordeste da China, a Manchúria. Proposta formulada por Hirobumi Itô (1841 - 1909), proeminente político e estadista à época, que ficou conhecida como Mankan kôkan (“troca da Manchúria pela Coreia”). A proposta, contudo, foi rejeitada em Moscou. Em Tóquio, a rejeição russa foi interpretada como demonstração da hostilidade russa, agravando as relações entre os dois países.
Pouco tempo depois, em março de 1904, os japoneses mandaram uma frota naval à península de Liaodong e atacaram os navios russos em Port Arthur. Os conflitos entre os dois países se estenderam por mais alguns meses, no que foi a Guerra Russo-Japonesa de 1904 e 1905. O desfecho dos conflitos adveio com o envio de reforços navais russos do Mar Báltico que demorou meses a circunavegar a África pelo Cabo da Boa Esperança e chegar a Port Arthur em maio de 1905. Na batalha de Tsushima, os japoneses sob o comando do Almirante Togo (1848 - 1934) foram surpreendentes e ágeis na conquista naval (fig. 1). O almirante Heihachirô Togo, que formou-se na Real Academia Naval na Grã-Bretanha, foi apelidado como o “Nelson do Leste”, e foi presenteado pelas autoridades britânicas com uma pequena mecha de cabelo do Almirante Nelson. Foi a primeira vez em que uma nação não-ocidental, não-europeia, ganhou uma guerra sobre outra potência europeia da época. O Japão tinha demonstrado convincentemente sua reivindicação de ser uma potência mundial. Pelos termos do Tratado de Porstmouth, os russos deveriam ser retirar de Port Arthur e Liaodong e reconhecimento russo dos interesses japoneses na parte meridional das ilhas Sacalina, e da Coreia – que seria plenamente anexada pelo Japão em 1910.
Figura 1 – A Batalha de Tsushima, 1905. Fonte: https://tinyurl.com/ybqzbah2
Mapa do Japão e Ásia oriental à época da Guerra Russo-Japonesa, 1904-5. Fonte: https://tinyurl.com/yao3xfqh
Política no período Taishô (1912 – 1926)
À época da morte do imperador Meiji em 1912, o Japão já tinha se consolidado numa nação próspera, unificada e respeitada no plano internacional. As transformações da modernidade ocidental trouxeram novos valores e influências na sociedade, e na política surgiram vários partidos de cunho constitucional, democrático, nacionalista, monarquista e comunista. O Japão refletia e absorvia os ventos das mudanças nas primeiras décadas do século 20.
A democracia vicejou depois das reformas políticas feitas durante o período Meiji. Nos anos do imperador Taishô, que sucedeu Meiji em 1912, o Japão conheceu um período de relativa calmaria e prosperidade (fig. 2). Foram nesses anos, até 1926, que floresceram críticas e propostas sociais e políticas novas ao sistema japonês, tal como a proposta de unir a forma monárquica no parlamentarismo como sugeriu o constitucionalista Tatsukichi Minobe (1873 – 1948). Na esfera externa, o diplomata Inazô Nitobe (1862 – 1933), que chegou a ocupar o cargo de subsecretário geral da Liga das Nações e diretor do Comitê Internacional de Cooperação Intelectual (precursora da UNESCO), propôs uma nova ordem mundial a respeitar mais a diversidade racial e cultural.
Figura 2 – O imperador Taishô. Fonte: https://tinyurl.com/ydxdzs2l
A prosperidade que o Japão atravessou no período Taishô fora em grande parte em decorrência da demanda externa, além do mercado doméstico. Na Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918), a produção industrial japonesa quintuplicou principalmente no setor têxtil, um dos primeiros setores mecanizados nos anos Meiji. Ademais, foi significativa a participação do Japão na Guerra, atendendo aos pedidos de seu aliado, a Grã-Bretanha a combater e ocupar as bases alemãs em Shandong e Tsingtao, na China, além das Ilhas Marshall no Pacífico. A ofensiva foi aproveitada para que as tropas imperiais japonesas se assegurassem na região nordeste da China, na Manchúria, ao norte do rio Yalu da península coreana. E, assim feito, passou o Japão a exigir maiores concessões territoriais e econômicas sobre o débil regime republicano chinês da época, nas chamadas "Vinte e Uma Demandas", em 1915.
A participação ao lado dos aliados na Primeira Guerra Mundial, além da ativa participação contra os bolchevistas na costa asiática da Rússia entre 1917 a 1922, fez com que o Japão fosse convidado como membro dos Quatro Grandes, vencedores da guerra (Grã-Bretanha, França, EUA e Itália), que se reuniram em várias sessões em Versalhes em 1919 a definir a nova ordem internacional. Esse reconhecimento, contudo, foi limitado pois não foram atendidas as demandas da delegação japonesa sobre uma cláusula de igualdade e não discriminação racial. A resistência maior adveio da delegação britânica, que temia pelo futuro de seu Império, algo que foi atendido na votação com a delegação americana. Esse ato desagradou em muito Tóquio que passou a enxergar no ato uma traição concertada dos ocidentais tal como o que ocorreu na intervenção conjunta sobre Liaodong após a Guerra Sino-Japonesa em 1895.
O quadro foi ainda mais agravado com a renovação, em novos termos, do Acordo Naval assinado em Washington em 1921-1922 (fig. 3). Em que foi definida uma proporção do poderio naval, em termos de tonelagem, entre os EUA, Grã-Bretanha e Japão na proporção 5:5:3. Ou seja, coube aos japoneses menor presença naval no Pacífico e Leste Asiático frente aos dois países anglófonos. A última gota adveio com a aprovação nos EUA de uma lei racial de imigração que proibia a entrada de japoneses e outros asiáticos no solo americano.
Figura 3 – A Conferência de Washington de 1921-1922. Fonte: https://tinyurl.com/y7odwobg
O Império do Sol Nascente: O Imperialismo Japonês na Ásia (1926 – 1945)
Após a Crise da Bolsa de Nova Iorque de 1929, boa parte da economia capitalista global entrou em recessão. A Ásia não ficaria indiferente. Os reflexos políticos foram a ascensão de partidos políticos mais centralizados e dirigistas. No Japão, surpreendentemente, os efeitos da crise foram mitigados, mas o cenário democrático e parlamentar, sustentado desde 1868, sucumbiu diante de um avanço de um regime ultranacionalista e militarista.
A indústria japonesa recuperou-se devido à forte desvalorização do iene, que tornou os produtos japoneses mais competitivos globalmente, a uma diminuição da taxa básica de juros e a um incremento dos gastos do governo em obras públicas. Como efeito, as exportações japonesas duplicaram entre 1930 e 1936 [Macedo, 2017, p. 145]. Mas o efeito global da crise foi a maior proteção dos mercados nacionais, o que ameaçou as exportações japonesas e incentivou a percepção necessária da nação assegurar um espaço a ser controlado com recursos energéticos e minerais para o seu autossustento. Nessa visão, a rica região mineral chinesa da Manchúria foi considerada vital para a sobrevivência econômica japonesa.
O argumento econômico para a autossuficiência fora reforçado com as lições estratégicas militares decorrentes da Primeira Guerra Mundial, que parecia apontar um futuro cada vez mais protecionista e competitivo na ordem internacional. Para tanto, era necessário, em caso extremo, um plano nacional visando à guerra total, concretizado no Estado de Defesa Nacional. Esse plano vislumbrou aumento significativo em gastos militares e industriais para assegurar a defesa dos interesses nacionais. Em 1934, o Japão rompeu os acordos com Londres e Washington, que limitavam sua frota naval desde os acordos de 1921-1922, e, em 1937, iniciou a construção dos que seriam os maiores navios de guerra da época, os da classe Yamato (fig. 4).
Figura 4 – Navio japonês da classe Yamato. Fonte: https://tinyurl.com/ychbrfpk
Ideologicamente, o Estado japonês iniciou uma intensa campanha de valorização da figura imperial nas escolas do país. O Estado seria organizado com base na religião xintoísta, enfatizando o mito da descendência divina imperial dos Yamatos da deusa solar Amaterasu. Essa ideia era conjugada com uma missão divina de expansão japonesa para ilhas e regiões vizinhas na Ásia. Essa política ideológica atingiu seu ápice no final da década de 1930, quando mais de duas milhões de cópias dos Princípios Cardinais da Política Nacional foram publicadas e incluídas como leitura obrigatória nas escolas japonesas [Kitagawa, 1990, p. 246-247]. Esse senso de unicidade (conforme a citação inicial deste artigo de Inazô Nitobe) fora explorado com o intenso uso da mídia de massa propagando a idealização dos valores tradicionais japoneses – chamado de kokutai (国体) – contra as nefastas influências estrangeiras ocidentais do individualismo, ganância e desarmonia.
Em 1930, o primeiro-ministro Hamaguchi fora assassinado pelas suas iniciativas pacifistas de limitação dos gastos militares de acordo com os ditames da Liga das Nações no qual o país era membro fundador. No ano seguinte os esforços do governo civil em pôr fim à ocupação da Manchúria provaram ser impopulares, a ponto de derrubar a própria administração nacional. Em 15 de maio de 1932, um grupo de oficiais militares invadiu o gabinete do então primeiro-ministro Inukai Tsuyoshi e o matou.
A onda de assassinatos e desobediência militar atingiu o clímax em 26 de fevereiro de 1936, quando a Primeira Divisão do Exército, em Tóquio, amotinou-se. Os rebeldes ocuparam vários prédios governamentais da capital e assassinaram o ex-primeiro-ministro Saito, o Ministro das Finanças Takahashi e o Inspetor-Geral de Educação Militar Watanabe nas suas residências. O primeiro-ministro incumbente Okada por pouco escapou dos amotinados.
A partir desse ponto, o governo civil já se encontrava bastante debilitado e intimidado pelos atos organizados dos militares. Em 1940, não houve maioria partidária para garantir governabilidade no parlamento japonês, prenunciando a paralisação democrática do governo frente a um setor militar cada vez mais presente e atuante no país.
No aspecto externo do Japão, na Manchúria, os japoneses consideraram-se como mantenedores da ordem e harmonia popular frente a poderosos líderes chineses locais, os chamados “senhores da guerra”. Argumentava-se haver uma natural afinidade cultural e histórica entre os povos do Leste Asiático, professando a ideia de uma “coprosperidade” entre todos. Como exemplo, a criação da Associação Concórdia na Manchúria (no Estado de Manchukuo, entidade criada pelos japoneses) foi intencionada para garantir a coordenação dos nativos locais com a devida supervisão japonesa, com base em princípios de harmonia confucionista. Nesse argumento, uma ampla frente pan-asiática era visada [Mimura, 2011, p. 58]. Mas, com o tempo, tais ideais na prática não esconderam a pretensa superioridade racial nipônica com relação aos manchurianos e chineses.
Mesmo a despeito de enorme investimento na indústria, o Estado de Manchukuo resultou em deficits para o orçamento japonês. A estratégia de se integrar uma região asiática para tornar o Japão autossuficiente falhou. Na verdade, após as invasões ao território chinês a partir de 1937, a economia nipônica entrou para uma fase emergencial, de modo a atender os esforços de guerra em frentes cada vez mais ampliadas na Ásia. E, ironicamente, ficou cada vez mais dependente dos recursos importados do mercado dos EUA e do exterior.
Internacionalmente, o Japão assinou em 1936 um pacto anti-Comintern com a Alemanha de Hitler e formalizou aliança com os países do Eixo, a Alemanha e Itália, em 1940. Decidiu, após fracassos militares em 1939 em Nomonhan, na Mongólia, assinar um pacto de não agressão com Stalin, da União Soviética, que foi respeitado quase até o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945 [Jansen, 2002, p. 627].
O Japão almejava, ao assinar aliança com os países do Eixo, fazer com que outros países relutassem em intervir contra eles na Ásia e, primordialmente, cortassem a linha de assistência e fornecimento para a China. Com isso em vista, em julho de 1941, o avanço nipônico aproveitou-se da ocupação nazista na França e ocupou toda a Indochina Francesa, focalizando a região costeira do Vietnã. A França foi incapaz de resistir e passou a colaborar com as forças invasoras. Por sua vez, a Grã-Bretanha, os Estados Unidos e a Holanda passaram a boicotar economicamente o Japão, notavelmente na venda de metais e petróleo, algo com efeito devastador para a economia nipônica. Em 1940, 80% do fornecimento petrolífero da nação asiática provinham da economia norte-americana [Record, 2009, p. 8]. A alternativa ao fornecimento americano se daria pela ocupação da ilha de Java, atual Indonésia, à época parte das Índias Holandesas.
A decisão de declarar guerra aos EUA, a partir de 1941, parece não fazer sentido, portanto. Mas, no referido ano, as reservas petrolíferas japonesas estavam consideravelmente baixas para a mobilidade de sua frota naval e aérea no Pacífico e de suas forças terrestres no Leste Asiático. Se almejasse alguma vitória duradoura na região, o governo japonês teria que agir rápido para ocupar e fortalecer suas posições de defesa antes da chegada das forças norte-americanas vindas do leste do Pacífico. Uma decisão imperial foi tomada em 5 de novembro de 1941: ir para a guerra caso não houvesse nenhum acordo com as lideranças em Washington. Em dezembro, a Marinha Imperial Japonesa decidiu mobilizar sua frota visando paralisar as forças dos Estados Unidos num ato de inesperada ofensiva à sua frota do Pacífico com base no Havaí. Em 7 de dezembro atacaram Pearl Harbor (fig. 5).
Figura 5 – Ataque japonês a Pearl Harbor, Havaí, 7 de dezembro de 1941. Fonte: https://tinyurl.com/y9r6y7dx
O ataque produziu estupor e inicial paralisação do Alto Comando em Washington. Um ataque simultâneo à Malaia Britânica (atual península continental da Malásia), passando pelo território neutro da Tailândia, também foi empreendido com sucesso, provocando confusão e consternação entre os aliados antifascistas na Segunda Guerra Mundial. A Hong Kong britânica caiu no dia de Natal de 1941 e, no dia seguinte, Manila, capital das Filipinas controladas pelos EUA, foi declarada cidade aberta para não sofrer maiores danos das tropas japonesas. De Malaia, os japoneses prosseguiram despercebidos no seu avanço terrestre rumo à maior base naval britânica na Ásia, Cingapura. A cidade britânica caiu nas mãos japonesas em 8 de fevereiro de 1942. Em 9 de março, o maior prêmio visado, a ilha holandesa de Java, com seus ricos recursos de petróleo, borracha e estanho, se rendeu. Em maio, os últimos redutos dos EUA nas Filipinas, na ilha de Corregedor, foram submetidos. Rumores de que haveria uma massiva invasão na Índia Britânica e o norte australiano começaram a circular.
Mapa do Império Japonês em 1942. Fonte: https://tinyurl.com/3xboowy
O Japão precisava apenas de mais algumas vitórias para garantir sua linha de defesa diante de uma eventual contraofensiva dos aliados dos EUA. Essas últimas vitórias, no entanto, não chegaram a tempo. Todos os porta-aviões norte-americanos escaparam ilesos do ataque em Pearl Harbor. Em 8 de maio de 1942, uma força tarefa dos EUA interceptou uma força invasora japonesa que se dirigia a Port Moresby, na ilha da Nova Guiné. Na batalha subsequente do Mar de Coral, entre a Austrália e a Papua Nova Guiné, os japoneses foram forçados a cancelar sua invasão. Em junho, os japoneses conseguiram invadir as ilhas Aleutas, no Alasca, território estadunidense. Mas foi um ato muito mais de distração dentro do plano maior de desarticular a força naval dos EUA no Pacífico.
Graças aos esforços de inteligência militar com a quebra do código japonês, a frota dos EUA conseguiu sua primeira significativa vitória nas ilhas Midway, no Pacífico, em 4 de junho de 1942. A partir de então, o Império Japonês foi se revelando uma colcha de retalhos. Submarinos norte-americanos penetraram as águas japonesas com facilidade e iniciaram uma campanha de afundamento no fornecimento de petróleo javanês. Como resultado, a indústria japonesa começou a paralisar suas atividades, incapaz de fornecer peças de reposição e munição à campanha de guerra.
A contraofensiva terrestre começou na ilha de Guadalcanal, nas ilhas Salomão, em agosto de 1942, expulsando as forças japonesas em fevereiro do ano seguinte. A partir dali, as forças japonesas começaram a entrar numa tendência de retração contra as forças terrestres dos Aliados comandadas pelo General Douglas MacArthur (1880-1964) (fig. 6) vindos do sul, a partir da Papua Nova Guiné, retomando as Filipinas, atravessando as ilhas do Pacífico das Marianas até Okinawa, na região meridional do Japão.
Figura 6 – General Douglas MacArthur. Fonte: https://tinyurl.com/k3l58vm
Diante da inquestionável superioridade industrial dos EUA, os japoneses empreenderam sua maior batalha naval no Golfo de Leyte, nas Filipinas, onde, em outubro de 1944, foram decisivamente derrotados pelos Aliados na Segunda Guerra Mundial. Em desespero, os japoneses passaram com maior frequência a táticas suicidas, na ofensiva aérea de kamikazes (“vento divino” em japonês), frente aos navios aliados. Em novembro de 1944, os bombardeios aéreos contra cidades japonesas começaram com o uso dos aviões de longo alcance, os B-29, com base nas Ilhas Marianas. Ao todo, estimadas 66 cidades foram incendiadas entre muitas construções tradicionais japonesas de madeira. Somente a cidade imperial de Quioto foi poupada, pelo seu inegável símbolo histórico. Pouco depois, o espaço aéreo japonês fora dominado. Mas a rendição incondicional exigida pelo Comando Aliado, decidido na Conferência de Casablanca em 1943, permanecia inaceitável pelas autoridades japonesas. Algumas lideranças japonesas apostavam ainda no espírito resiliente do povo e na sua suprema lealdade ao Imperador Hirohito, designado como Showa.
Mapa das ofensivas americanas contra o Japão, 1942-45. Fonte: https://tinyurl.com/yakewht5
Diante da intransigência japonesa com o aval do imperador, os Aliados prosseguiram numa nova ofensiva para forçar a rendição da ilha asiática. Em 6 de agosto de 1945, uma nova arma de destruição, a bomba atômica, foi lançada sobre a cidade de Hiroshima. Dois dias depois, a União Soviética decidiu romper sua neutralidade e passou a avançar sobre a Manchúria. No dia 9 de agosto, uma segunda bomba atômica fora lançada por aviões norte-americanos na cidade de Nagasaki (fig. 7). Até o dia 10, o governo japonês ainda não tinha se pronunciado claramente sobre a sua decisão de rendição, pois permaneciam irredutíveis no quesito preservação da família imperial no país. A resposta dos EUA, aprovada pelo governo britânico e soviético, foi de concordância com esses termos, para garantir a permanência da família imperial japonesa, porém “submetidos ao Comandante do Conselho Supremo das Forças Aliadas” [Macedo, 2017, p. 156], isto é, ao General Douglas MacArthur.
Figura 7 – O bombardeio atômico de Nagasaki, 9 de agosto de 1945. Fonte: https://tinyurl.com/ybyuk3hd
A decisão foi um choque para muitos militares japoneses. Depois de considerável debate, o Imperador Showa, Hirohito, decidiu em pessoa se render em 14 de agosto. Gravou uma transmissão em áudio para a população japonesa e, uma noite antes da transmissão da mensagem, um grupo de oficiais militares tentou destruir a gravação. O grupo falhou e, em 15 de agosto de 1945, o povo japonês, atônito, ouviu a voz do imperador pela primeira vez na sua linguagem formal palaciana, eufemisticamente evitando a humilhante palavra “rendição”, expressando os últimos eventos da guerra como “não favoráveis ao Japão” e clamando ao povo que, no futuro, “suportasse o insuportável” [Dower, 1999, p. 33-39]. O Japão em sua longa história nunca fora derrotado de maneira tão fulminante, e talvez essa tenha sido a sua tragédia, de não saber a hora da rendição.
Ao final da Segunda Guerra Mundial, assinados os termos a bordo do navio norte-americano USS Missouri em 2 de setembro de 1945, o Japão saiu arruinado, sofrendo estimados dois milhões e 700 mil mortos. Poucos poderiam supor que, nas décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial, o Japão e o Leste Asiático reemergiriam como uma das zonas mais dinâmicas do planeta em termos econômicos.
Referências
Emiliano Unzer Macedo é Prof. Dr. de História da Ásia e História do Japão da UFES
Mail: prof_emil@hotmail.com
DOWER, J. W. Embracing Defeat: Japan in the Wake of World War II. Nova Iorque, EUA: W. H. Norton, 1999. p. 33-39.
JANSEN, Marius B. The Making of Modern Japan. Cambridge, Massachusetts, EUA: Cambridge Univ. Press. p. 627.
KITAGAWA, Joseph Mitsuo. Religion in Japanese History. Nova Iorque, EUA: Columbia Univ. Press, 1990. p. 246-247.
MACEDO, Emiliano Unzer. História do Japão: uma introdução. San Bernadino, Califórnia, EUA: Amazon Independent, 2017. p. 145, 156.
MIMURA, Janis. Planning for Empire: Reform Bureaucrats and the Japanese Wartime State. Ithaca, Nova Iorque, EUA: Cornell Univ. Press, 2011. p. 58.
NITOBE, Inazô. Bushido, the Soul of Japan. An Exposition of the Japanese Thought. Philadelphia, Pensilvânia, EUA: Leeds & Biddle Co., 1900. p. 109-111
RECORD, Jeffrey. Japan’s Decision for War in 1941: some enduring lessons. Carlisle, Pensilvânia, EUA: Strategic Studies Institute, 2009. p. 8.
Bom dia! O imperialismo japones foi marcante no Pacifico. A pergunta é a seguinte: como os japoneses se desenvol eram militarmente ou seja de onde eles assimilaram a tecnologia militar?
ResponderExcluirSobre o ataque a Pearl Harbour. O que levou os japoneses a atacaram essa base norte-americana? A ambição imperialista pois eles acreditavam ser superiores aos americanos ou foram incentivados a fazerem isso, pelos próprios americanos, a fim de provocarem a guerra é assim os EUA entrarem na guerra?
ResponderExcluirBenedito, vamos às perguntas:
ResponderExcluirO militarismo japonês e a tecnologia foram produtos de décadas de políticas e investimentos do governo, desde a Reforma Meiji e os avanços expansionistas desde 1895. Em 1905, já tinham uma clara vantagem sobre a China que tinham vencido em guerra e sobre a Rússia após Tsushima.
Os acordos navais com os inglese em 1902 somente deu sinal de que seriam toleramos sua presença estratégica no Pacífico.
A partir de 1929, com a crise da Bolsa de Nova york, o mercado japonês entra em recessão, e começam a desenhar uma política mais protecionista e militarista nos anos 1930. É isso incluía maior projeção sobre China e depois colônias europeias na Ásia. As ilhas do Pacífico estavam na estratégia para resguardar essas novas dominações que se fizeram rapidamente em 1941-42. O ataque ao Havaí, em Pearl Harbour, deve ser considerada nessa luz. A afastar a presença amaericana vindos do leste, o que provocou a entrada deles na guerra. Foi, pois, com intenção clara a estratégia japonesa em atacar a base americana, de surpresa e sem avisos diplomáticos.
Os japoneses tinham uma ideologia ensinada nS escolas e academias desde fins do século 19, de que eram únicos e, pelo xintoismo, nação que tinha como regentes imperiais uma família de ancestralidade divina.
O primeiro ministro japonês, Aritomo Yamagata recebeu alguma influencia de fora do japão para formular essa politica de construção da marinha imperial japonesa.
ResponderExcluirCaro Adriano,
ExcluirCreio que os militaristas japoneses já vinham há algum tempo desde as últimas décadas da Era Meiji em definir o Japão em termos de "nação rica, nação forte", ou seja, a conjugar a industrialização nos moldes ocidentais a se valer em termos de soberania a proteger seus mares e arredores. Tinham aprendido, e Yamagata tinham crescido nesse ambiente, de que assim como a Marinha Imperial Britânica demonstrava suas vantagens nos mares do mundo, o Japão deveria buscar o mesmo, ou similar.
Mesmo porque o Japão, assim como a Gra-Bretanha, eram países insulares. Então, em suma, acabou sendo um pouco dos dois: uma constatação nacionalista e também a entrar no jogo imperialista que estava ficando evidente em fins do século 19.
Maiores detalhes você pode ler no meu livro, "História do Japão", disponível para venda na internet.
Atenciosamente,
Emiliano.
De que maneira o Japão se diferencia dos países ocidentais, durante esse período, em suas políticas imperialistas?
ResponderExcluirVitor Moises Nascimento Therezo
Caro Vitor,
ExcluirCreio que o imperialismo japonês nasceu de uma percepção única e decorrente de séculos de seclusão do país desde início do século 17 na Era Tokugawa. A partir de meados do século 19, o Japão, ainda sob o xogunato Tokugawa, já vinha sendo pressionado em abrir seus portos e contatos com estrangeiros, de russo a britânicos, de franceses a americanos. Isso tudo mudou em 1857, com as demandas oficias do Comodoro Perry atendendo ao governo dos EUA.
Bom, houve também algo bem nítido e evidente alguns anos antes de Perry no Japão. A Guerra do Opio e o tratado de Nanquim, em 1842, expôs a atuação imperialista ocidental sobre a China. E isso foi observado com cuidado pelos japoneses.
Reagindo a isso, os japoneses procederam em planejar uma politica nacional de industrializaao e militarizacao, a fim de conter maiores ambicoes estrangeiras sobre as ilhas japoneses e arredores. Para tanto, criou-se uma geracao de pensadores e militares com um pensamento estritamente nacionalista e a resguardar as ilhas mais próximas ao sul, Ryukyu, e ao norte, Hokkaido e Sacalinas.
Depois das invasões sobre os chineses, que os japoneses sabiam estarem em situação debilitada, em 1895 sobre Taiwan, e depois sobre a Coreia em 1905 e sobre os russos pelo controle da Manchuria e Port Arthur, os japoneses conseguiram acordo naval com o Imperio Britanico, que deu aval a sua industria naval pelo Pacifico.
Isso foi o inicio do que depois iria se agravar com as crises da década de 1920, principalmente após a crise da Bolsa de 1929, acirrando ainda mais os animos militaristas e ultra nacionalistas do Japao.
O que pode caracterizar o imperialismo japones, portanto, é sua construção ideologico propria, de que pertencem a uma nacao unica e descendente de um certo espirito dos Yamatos, e a refletir, igualmente, o clima de crescente tensao e disputa no Leste Asiatico. Em cima dos escombros da China imperial e da atuacao dos ocidentais de forma imperial na Asia na segunda metade do século 19.
Caso queira, há maiores detalhes no meu livro, "História do Japão: uma introdução", disponível na internet.
Atenciosamente,
Emiliano.
Com a rendição japonesa tivemos o fim da II guerra Mundial, quais foram as maiores consequências para o Japão e os países desta região?
ResponderExcluirCaro Marcelo,
ExcluirCreio que a maior consequencia com a rendição japonesa foi a projecao do poderio dos EUA no leste asiatico e Pacifico. Os outros países, muitas ex-colonias europeias passaram por um periodo de contestacao negociada (India) ou de luta (Malasia, Indonesia, Vietnã). Nesse sentido, o fim da 2a. Guerra Mundial foi fundamental para uma nova insercao e quadro do leste e sudeste asiatico.
Os atuais confrontos políticos entre Coréia do Norte e Japão retomam antigos conflitos, mais especificamente a invasão japonesa à Península da Coreia?
ResponderExcluirIgor Moacir Caetano Mendes
Qual a responsabilidade do Imperador Showa, Hirohito, no imperialismo japonês?
ResponderExcluirIgor Moacir Caetano Mendes
Caro Igor,
ExcluirVou aqui tentar responder as suas duas indagaçoes.
Certamente nao poderemos entender a Coreia no seculo 20 sem as invasoes japonesas que se manifestaram desde 1905 e até pouco antes, quando o Imperio Japones se projetava sobre a fragilidade da China da Dinastia Qing e contra as pretensões russas na Manchuria e peninsula de Liaodong em fins do seculo 19 e inicio do 20.
Os coreanos se sentiram duramente reprimidos com a presença japonesa desde 1905. E fez com que gerações de coreanos considerassem os japoneses como imperialistas, ainda mais com o programa deles de ensino compulsõrio da lingua japonesa nas escolas coreanas.
Essa atitude agravou-se ainda mais na Segunda Guerra, pois o Japao enxergava a peninsula coreana como uma plataforma de base para avançar sobre o norte da China e Manchuria. Ademais, a proximidade da Coreia com o sul do Japao, Kyushu, era vista como uma "adaga voltada ao coração do Japão", nas palavras de um estrategista japones em fins do seculo 19.
Mas os eventos da Segunda Guerra, nos anos finais, provocou a retraçao subita do Japao na Coreia, depois da capitulacao aos EUA. E assim Stalin procedeu em pilhar as bases industriais japonesas na Manchuria e depois deu sinal verde a Kim Il-Song e seus soldados veteranos de guerra a ocupar toda a peninsula coreana. E assim, como reacao, os americanos situados no Japao sob General MacArthur, em 1950, decidem contra atacar e empurram essas forças de Kim Il-Song para o rio Yalu. O que provocou a ira de Mao Tse-Tung na China recentemente comunista desde 1949.
Ao final de tudo, houve anos de impasse até o cessar-fogo em 1953, ao longo do paralelo 38 norte. E o regime norte-coreano entrou num longo periodo de seclusao num regime de culto de personalidade inspirados em Stalin. Os descendentes de Kim Il-Song até hoje estão no poder no norte coreano.
O papel do imperador japones Showa, Hirohito, foi controverso e isso ainda é tabu no Japao. Mas, certamente, ele estava ciente das operações e decisões do Alto Comando Militar Japones na Segunda Guerra Mundial. Além disso, seus familiares estavam diretamente envolvidos em massacres como o que ocorreu na Manchuria, Coreia e Nanquim. Tanto que, após muitas ponderações, os americanos quando ocuparam o Japao a partir de 1945, pensaram em como julgar e quem como os responsáveis pelas ofensivas japonesas na guerra. Muitos queriam a execução do imperador, mas sabiam que, com isso, iriam provocar uma crise sem igual no futuro do Japao. E assim, visando ter um aliado futuro e bastiao anti-comunista na regiao, decidiram manter a familia imperial, embora sem suas prerrogativas divinas como tinham antes de 1945.
Quais condições levaram o Japão do Xogunato Tokugawa para o desenvolvimento econômico da Era Meiji? Qual reflexo desse desenvolvimento para a produção de uma política nacional e imperialista?
ResponderExcluirIgor Moacir Caetano Mendes
Caro Igor,
ExcluirPara manter na tematica do texto, terei que responde-lo brevemente, pois foge um pouco do proposto.
A Era Meiji foi um periodo de intensa renovacao e debate no Japao. E assim houve tambem na China, ainda mais depois de terem sido humilhados na Primeira e Segunda Guerras do Opio em meados do seculo 19.
Mas no Japao, houve consideravel coesao e claro planejamento estrategico de nacao. Uma delas, a a atender os interesses de comerciantes do Japao meridional e aliados, era desenvolver a economia e industria japonesa. E isso sem perder as caracteristicas e cultura japonesa. Tanto que buscaram o jovem imperador Yamato, Mutsuhito, o Meiji, para o poder. Foi, em suma, a partir de 1868, um periodo de conservadorismo mas ao memsmo tempo, renovacao.
Estou sendo bem sucinto aqui, pois é bem mais complexo que isso. Mas a partir desses planos de desenvolvimento, houve incentivos do Estado para a industria, entre elas a de seda, e de base como a metalurgica e naval.
E isso depois frutificou em alavancar a producao industrial japonesa, a ponto deles terem em fins do século 19, uma massiva producao propria de rifles e navios (como a do grupo Mitsubishi).
Beneficiaram-se também de certo desinteresse dos ocidentais sobre as ilhas japonesas, visto que concentraram-se mais sobre a China que estava em escombros no final do seculo 19.
A partir de 1902, com um acordo naval com os britanicos, foi dado aval para o Japao ter uma presença estrategica maior no leste asiatico. E assim, encorajados, foram para cima da Coreia, Taiwan e outras ilhas, e a partir de 1905, lutaram contra os russos e ganharam na batalha de Tsushima.
O imperialismo japones, pois, foi fruto dessas conjunturas e politicas nacionalistas desde a ascensao de Meiji. Ideologicamente, ensinaram para todos na sociedade de que "uma nação próspera deve ser uma nação forte", conjungando a industria e riqueza do pais com um aspecto militar e estrategico.
Quais foram os ganhos para o Japão tendo a península coreana como colônia desde 1910 até 1945?
ResponderExcluirRafaela Schuindt Santos
Cara Rafaela,
ExcluirDesde Hideyoshi e a Guerra Imjin no século 16, o interesse japones, por vezes, mirava na parte continental asiatica mais proxima de suas ilhas, a Coreia. Em Pusan, já havia comunidades de japoneses significativos para tratar dos intermitentes interesses comerciais e outros.
Bom, para ser breve, a partir de 1905, o interesse japones incrementou-se a ponto de executarem um plano de ocupação e expulsão de estrangeiros da Coreia, que incluia os chineses que sempre considerou a peninsula como vassalos do Imperio do Meio.
Em 1910, passaram efetivamente a controlar o poder e a reestrurar a Coreia de acordo com seus interesses. E viram que a proximidade dos russos a partir do norte poderia ameaçar seriamente, pela proximidade, as ilhas japonesas, principalmente as mais meridionais.
Nesse sentido, os japoneses consideraram vitais os interesses seus sobre a Coreia, visando garantir a propria sobrevivencia das ilhas japonesas. Tanto que foi um dos primeiros vetores ofensivos da expansao japonesa foi sobre a peninsula depois de terem avançado sobre as ilhas Ryukyu, Okinawa, Taiwan.
Após 1945, com a capitulacao japonesa, a Coreia entra numa esfera incerta de poder na regiao. Que provoca o avanço de comunistas coreanos a partir do norte e a contra-ofensiva liderada pelos americanos (sob a égide das Nações Unidas) a partir do sul, resultando na longo Guerra da Coreia (1950-1953), com reflexos inconclusivos até hoje.
O Japão foi o grande imperialista da Ásia, tanto em relação à China e às Coréias (ou Coréia, quando ainda era uma), mas qual foi a era, ou império específico, já que variava de imperador, que mais sofreu com as nações que imperava? E por quê?
ResponderExcluirAnna Victoria de Souza Lage
annavicslage@hotmail.com
Cara Anna,
ExcluirCreio que o período de maior expansão imperialista japonesa se deu depois da morte do imperador Meiji, Mutsuhito, em 1912. A partir de então, seu filho, o Imperador Taishô, governará por um perído de incertezas até 1926 e será sucedido por Showa, Hirohito. Foi durante esse último período imperial, desde 1926 até as conclusões diplomáticas com os EUA em 1945, que o Japão manifestará seus maiores avanços sobre a China, Indochina Francesa, Tailandia (Sião), Malaia Britânica (parte da Malásia atual), Cingapura, e Índias Holandesas (Indonésia), além da Birmânia (Mianmar) chegando a ameaçar o extremo leste da Índia Britânica, e presença e ocupação de algumas ilhas do Pacifico, e Filipinas, entre outros.
Bom, creio que foi nesse período que houve maior sofrimento das populações envolvidas com essas ocupações. A mais notória delas, foi a ocupação e massacre sobre a população de Nanquim (Nanjim)em 1937-38, com estimados 300 mil mortos, ou a Marcha Forçada de Bataan nas Filipinas em 1942, com milhares de prisioneiros de guerra mortos.
Acredito que a brutalidade desses atos fazem parte da impetuosidade da guerra, e não acredito de que os japoneses foram piores ou melhores. Faz parte da guerra. Claro, as acusações do lado dos opositores, como os britanicos na captura e rendicao de Cingapura ou Birmania, foi bem clara e estridente. Mas certamente, o massacre de populações japonesas na Batalha de Okinawa ou depois das duas bombas atomicas sobre Hiroshima e Nagasaki foram igualmente infames. Dificil comparar a uma brutalidade com outra.
Os japoneses foram envolvidos numa longa politica de Estado e de avanços militares sobre toda a região do leste e sudeste asiático. Muitos desses eram ultra nacionalistas convictos de que o Japão deveria ser o líder da Asia, e de que o Japao era uma nacao especial e única, como pregava o xintoismo mais extremado. Mas outros, muitos soldados, eram pessoas simples e jovens, do campo, que foram empurrados para a linha ofensiva, sem terem consciencia clara do que estava se desdobrando no teatro de guerra. Mas creio que isso seja também comum em outros episodios de guerra, como o do Vietnã na segunda metade do seculo 20.
Muito obrigada! Acho a história oriental maravilhosa (o pouco que conheço), já que não temos muito contato, infelizmente. Parabéns!
ExcluirEmiliano,
ResponderExcluirExcelente texto, conseguiu condensar em poucas páginas uma trajetória longa e complexa. Gostaria de saber porque não incluiu Okinawa/ilhas Ryukyu nessa trajetória. Assim como a Coreia ou Taiwan, foi um território incorporado pelo império japonês ao tentar seguir o modelo de soberania westfaliana, absoluta, reconhecido no Ocidente. Também foi objeto de disputa com a China. E, a julgar pela controvérsia das bases militares dos Estados Unidos, ainda hoje é discutível se Okinawa é de fato percebida como parte do Japão ou em certa medida uma colônia.
Enfim: em sua opinião, Okinawa foi parte desse processo de imperialismo japonês ou é um caso à parte?
Caro Emannuel,
ExcluirFico muito lisonjeado pelo elogio. Seu texto foi iluminador e lúcido, apontando com sensibilidade os casos de hibridismos nos contatos entre japoneses e estrangeiros. Merece todo o meu louvor e reconhecimento. Parabenizo-o desde já.
Sobre meu texto, tive que condensar muito em pouco espaço pelas exigencias do evento e página, mas busco escrever mais a respeito em livros, como a que publiquei recentemente "História do Japão: uma introdução".
De fato, deixei de lado o avanço japones sobre Ryukyu e Okinanwa, visto que esse se deu em contexto anterior, quando uma clã de Satsuma já tinha reinvidicado suserania sobre essas ilhas desde o seculo 17. Curiosamente, essas ilhas deixaram em aberto sua vassalagem com respeito ao Império Chines. Mas, você tem toda razão, foi um episódio inicial marcante do imperialismo japones anterior ao século 19.
E me vem à mente como Hideyoshi tentou planejar uma ampla invasao sobre a Coreia em fins do seculo 16, na Guerra Imjin. E depois também me assola como foi o avanço sobre os povos ainus nas ilhas japonesas em séculos anteriores. E por assim vai.
Okinawa, hoje, como você muito bem apontou, creio que seja um grande petardo no Japão, que remete à questão mal resolvida de identidade japones na região das ilhas meridionais. E agravou-se ainda mais com a posse dos EUA para sua base militar após 1945.
Então temos ingredientes explosivos reunidos: Okinawa faz parte historicamente do Japão ou é um caso singular? E quanto à presença militar dos EUA, como situá-la? As críticas estão bem evidentes entre os okinawanos, que criticam o desrespeito à sua vontade e soberania, que parece que Tóquio não leva em grande estima. Houve acusações de abusos e violência de alguns soldados da base contra okinawanos. Assim como de evidência de que herbicidas e tóxicos poderiam contaminar as águas da ilha.
Enfim, as questões estão em aberto. E parece que nesse quesito, a vontade dos EUA prevalece sobre o governo de Tóquio. E a vontade daqueles críticos contra a presença americana em Okinawa estão ainda do lado menor, sem prevalecer a ponto de provocar uma mudança no status. Soma-se a isso, a percepção propria de okinawanos, que alimentam um sotaque e dialeto próprio como os de Ryukyu, contra os japoneses.
Acredito que, em suma, Okinawa e Ryukyu, foram sim parte incipiente do imperialismo japonês, pois o processo ganhou folego desde inicio da Era Tokugawa. E agora, com o tempo, cristalizou-se na japonização maior dos ilhéus, que, como se não bastasse, ainda tem que ter em suas ilhas uma base militar dos EUA conforme foi determinado após 1945.
Atenciosamente,
Emiliano.
É possível dizer construção de uma "identidade japonesa", isto é, atrelada a ideia de uma nação forte e unida, cujo imperador descende da deusa Amaterasu (ou seja, a construção de um "mito japonês") teve um papel importante nessa rendição tardia do Japão?
ResponderExcluirLudmila da Silva Pires
Cara Ludmila,
ExcluirSim, acho que a ideologia de uma "nação forte e rica" conjugava-se com a unicidade da naçao japonesa cujo fundamento era a acensdencia divina da familia imperial japonesa.
Muitos acreditaram na condição única dos japoneses no esforço de guerra, o que somente fez com que fosse impensavel a rendição para considerados estrangeiros retratados como monstros. A Batalha de Okinawa retratou muito bem isso, muitos civis se recusaram a se renderem, se esconderam ou até mesmo, em desespero, se mataram.
Aos americanos, depois de Okinawa e Iwo Jima, viram que era apenas questão de tempo a ocupação do Japão, pois ja tinham dominio pleno dos mares e ares do Japao. E sabiam que muitos iriam até o extremo e lutar contra os estrangeiros a defender a ideia ensinada a eles desde os primeiros anos na escola, de que os japoneses eram únicos e diferentes de outros povos. Assim, os americanos, depois de meses de bombardeio incendiário de grande cidades, com milhares de mortos e feridos, passaram a alimentar o uso de bombas atomicas a fazer com que o Alto Comando japones se rendesse mais rapidamente, evitando uma série longa de batalhas por anos a fio.
Qual seria o ganho para o Japão do Estado de Manchukuo e quais foram os motivos que resultaram em déficits para o orçamento japonês?
ResponderExcluirAlexandre Lacerda Caiafa Soares
Caro Alexandre,
ExcluirA Manchuria era considerada como o interior (hinterlandia) mais imediata ao norte da peninsula coreana. E, além do mais, oferecia amplas terras para plantio e minas de ferro e carvão para o crescimento industrial (e militar) dos japoneses.
Nesse sentido, conservando seus olhos na Coreia ocupada, e contra as pretensões russas e chinesas, os japoneses passaram a ocupar a Manchuria sobre os escombros da China em crise desde 1911. Após um suposto incidente na capital da região, Mukden, em 1931, o exército imperial japones (Exercito de Guangdong) passou a estabelecer um estado submisso e controlado por eles, e proclamam o último descendente da dinastia Qing, Pu Yi, sendo eles descendente dos manchus, como o imperador de Manchukuo até fins da Segunda Guerra Mundial.
O empreendimento industrial e de ocupação foi massivo, e a remessa dos produtos para a industria japonesa e para o palco de guerra foi dificílima. As linhas de suprimento e de transporte começaram a ser cada vez mais frágeis, pois o Japão avançou muito rápido sobre um território muito vasto, ocupando toda a costa chinesa e até mesmo o curso médio do rio Yang-Tsé, sobre as ilhas chinesas, Taiwan, depois sobre a Indochina Francesa, mais ao sul, Malaia Britanica, Filipinas, Tailandia, Birmania e Indonesia (Indias Holandesas).
Para garantir o transporte e suprimento, os japoneses dependiam de recursos energeticos como petroleo (que vinha em grande parte dos EUA, que ja estavam aprovando embargos contra o Japao antes de Pearl Harbor em 1941). Assim, a sua estrutura industrial começou a apresentar problemas de fornecimento e suprimento.
A economia japonesa, a partir de 1941-42 comecou a entrar inclusive em racionamento, até eles concretizaram o pleno dominio das ilhas holandesas (Indonesia) que tinham fontes de petroleo e borracha. Além do estanho da Malaia. Mas nunca chegaram a tirar proveito disso, pois a contra ofensiva americana a partir de fins de 1941 foi rápida e cortou a linha de suprimento do sul para as ilhas japonesas mais ao norte.
Além da Coréia e China, o exército japonês ocupou as Filipinas, Tailândia, Laos, Camboja, Vietnã, Myanmar, Indonésia, Malásia, entre outros territórios. Essas ocupações se refletiram na posterior imagem negativa que as nações asiáticas possuem sobre o Japão, e essas memórias ainda influenciam nas relações exteriores japonesas com a região. Como o Japão trabalha para melhorar essa imagem perante esses países?
ResponderExcluirAlexandre Lacerda Caiafa Soares
Caro Alexandre,
ExcluirCertamente influenciou a percepção dessas nações sobre o governo japones e envolvidos na época da guerra. Em especial os coreanos, que tiveram incontáveis mulheres como escravas sexuais (as chamadas mulheres de conforto) para servir aos militares japoneses, ou o Massacre de Nanquim em 1937-38 sobre centenas de milhares de civis chineses.
Até hoje, o governo japones não apresentou nenhum reconhecimento OFICIAL desses atos de guerra. O que é considerado como insulto aos governos em Seul e Pequim, para ficar apenas nesses dois casos.
Para agravar ainda mais, por vezes, alguns membros do governo japones prestam homenagem aos militares japoneses envolvidos em controversias na Coreia e China, quando visitam o templo de Yasukuni, erguido em homenagem aos espiritos (kami) de soldados japoneses mortos em guerras.
O Japao tenta melhorar sua imagem ao financiar, generosamente, por exemplo, projetos conjuntos culturais, de restauração histórica, ajuda humanitária em toda a Asia e além. Uma espécie de "diplomacia do iene", com base na riqueza e prosperidade da economia japonesa. Mas os aspectos históricos cruciais ainda não foram abertamente encarados pelo governo em Toquio. E isso ainda causa constrangimento em sociedades que sofreram com as ocupações japonesas.
Boa noite! Venho estudando há alguns meses essa ascensão e queda bruscas do imperialismo japonês, cujo auge se deu durante a Segunda Guerra Mundial. Mas a dúvida que fica é: o Japão se "atrasou" em sua tentativa de se tornar uma potência imperialista, quando comparado à trajetória dos Estados europeus, há muito detentores de colônias e projetores de influência político, econômico e cultural mundiais?
ResponderExcluirRayanne Gabrielle.
Cara Rayanne,
ExcluirNão sei se o Japão se atrasou, pois o Japão até a ascensão de Meiji, em 1868, consolidou-se na Era dos Tokugawas, desde inicio do seculo 17, a maior seclusao e isolamento visando maior coesao e segurança do reino japones.
A mudança adveio com os acontecimentos dos ocidentais sobre a China a partir de 1842, após a Guerra do Opio, e como o Imperio do Meio fora humilhado e derrotado. O que despertou a atenção dos japoneses sobre o iminente futuro da nação. Após a abertura forçada de 1853, o Japão passou por um período de intensa mudança e debate, sobre como apontar para um novo caminho de industrialização, modernização, reforma e mudança de poder.
Somente após isso, passaram a reivindicar e ocupar as ilhas mais próximas ao sul, como Ryukyu, depois Taiwan (contra os chineses) e depois sobre a Coreia, Manchuria e assim em diante a partir da década de 1930.
Em suma, acho que o Japão reformou-se diante das mudanças desde 1853, ou mesmo depois de Meiji no Trono do Crisantemo em 1868. E observou de perto como os ocidentais tinham se comportado sobre as colonias no sudeste asiatico e China. E passaram a agir de maneira semelhante. Após 1905, com a ocupação da Coreia e vitória sobre os russos, os japoneses começaram a elaborar um plano mais ousado de expansão imperial sobre a China e leste asiático nas décadas posteriores.
Excelente artigo, no entanto, gostaria de sanar uma dúvida. Por que uso da nomenclatura não-ocidental ao invés da oriental?
ResponderExcluirCaro Silvio,
ResponderExcluirA vitória dos japoneses sobre os russos, após Tsushima em 1905, foi a primeira grande vitória militar com amplas repercussões politicas e estrategicas, desde Temujin Khan no século 13. E usei tal termo, não-ocidental, para ressaltar que não foi de uma nação considerada como parte do Ocidente (e disso alimenta-se um outro grande debate). Quis, nesse intento, sublinhar a excepcionalidade do fato e apontar para o resto do mundo não parte do Ocidente.
Sua questão me fez refletir sobre outros pontos interessantes. Primeiro, o que seria ocidental? Segundo, o que seria os não-ocidentais, categoria negativa e portanto com teor de exclusão e, se levado adiante, até discriminatório e orientalista demais. E penso, por exemplo, em outras batalhas significativas de povos "não considerados ocidentais" (como dói o martelo de aviso do orientalismo de Said sobre mim) como o foi a batalha e vitória em Adowa dos etíopes sobre os italianos em 1896. E por assim, vai. Em suma, importante sua observação e fica aqui uma espécie de "mea culpa" de minha parte.
Caro Silvio,
ResponderExcluirA vitória dos japoneses sobre os russos, após Tsushima em 1905, foi a primeira grande vitória militar com amplas repercussões politicas e estrategicas, desde Temujin Khan no século 13. E usei tal termo, não-ocidental, para ressaltar que não foi de uma nação considerada como parte do Ocidente (e disso alimenta-se um outro grande debate). Quis, nesse intento, sublinhar a excepcionalidade do fato e apontar para o resto do mundo não parte do Ocidente.
Sua questão me fez refletir sobre outros pontos interessantes. Primeiro, o que seria ocidental? Segundo, o que seria os não-ocidentais, categoria negativa e portanto com teor de exclusão e, se levado adiante, até discriminatório e orientalista demais. E penso, por exemplo, em outras batalhas significativas de povos "não considerados ocidentais" (como dói o martelo de aviso do orientalismo de Said sobre mim) como o foi a batalha e vitória em Adowa dos etíopes sobre os italianos em 1896. E por assim, vai. Em suma, importante sua observação e fica aqui uma espécie de "mea culpa" de minha parte.
Meio que "off topic".
ResponderExcluirPeço parcimônia e paciência a todos, pois tenho muito a responder em pouco tempo disponível. Estou fazendo meu melhor possível em tentar esclarecer e debater assunto tão amplos.
Caso queiram, há mais livros a respeito do Japão. Escrevi um livro chamado "História do Japão: uma introdução", disponível pela internet, impresso e digital. E o excelente livro em português de Portugal de Kenneth Henshall, "História do Japão". Para aqueles interessados em aprofundar, recomendaria a coleção, em inglês, "Cambridge History of Japan", vários volumes. E o imperdível livro de Marius Jansen, "The Making of Modern Japan".
Ola, professor Emiliano Unzer. Parabéns pelo texto e trabalho.
ResponderExcluirQuais foram os principais fatores que possibilitaram a formulação da política Imperialista proposta por Aritomo Yamagata?
Talvez não esteja no propósito dos seus estudos, mas Como a historiografia japoneses descreve ou interpreta esse período, de forma idealista, crítica, "romântica"?
Ola, professor Emiliano Unzer. Parabéns pelo texto e trabalho.
ExcluirQuais foram os principais fatores que possibilitaram a formulação da política Imperialista proposta por Aritomo Yamagata?
Talvez não esteja no propósito dos seus estudos, mas Como a historiografia japoneses descreve ou interpreta esse período, de forma idealista, crítica, "romântica"?
Ass. Thayllon Monteiro Veloso
Caro Thayllon,
ResponderExcluirYamagata, entre outros políticos, militares e empresários do final do século 19, fizeram parte de uma geração de japoneses que consideraram a importância do Japão em buscar uma inserção própria no leste asiático. A reagir diante das agressões aprensentadas por paises ocidentais em fins do século 19 sobre a China, Indochina e outros lugares. Assim, perceberam como o Japão foi forçado a abrir seus portos em 1853, e derrubaram um regime anterior visando reformular a política e desenvolvimento do país na Era Meiji em diante.
Quanto à historiografia japonesa atual com relação a esse período de mudanças, creio que ainda há muito a ser pesquisado e debatido. Somente com relação ao papel do imperador (tennô) Hirohito, de partes da sociedade, de militares e da ideologia xintoísta, além do crimes de guerra, os japoneses ainda evitam encarar esses assuntos.
O texto se refere à chegada de forças norte americanas no pacífico como um pretenso motivo para o ataque (que seria preventivo) japonês a Pearl Harbor; daí pode-se concluir que os EUA atacariam o Japão primeiro? Existe alguma evidência histórica disto?
ResponderExcluirMarcelo Dario Bezerra
Caro Marcelo,
ResponderExcluirAcredito que a ofensiva japonesa precedeu ao dos EUA no Pacifico, e não o contrário. Tanto que ainda há vivo debate sobre os motivos dos japoneses em terem tomado tal decisão e de forma nada protocolar em não apresentar nenhum aviso por meio diplomático. Acredito, assim como K. Henshall escreveu que os japoneses pensaram que teriam que atacar primeiro a maior base naval americana no Pacífico para ganhar terreno na área do Pacífico e talvez depois poder melhor barganhar com uma nação que ainda não tinah entrado na guerra. O que de fato determinou su eu destino, pois a entrada dos EUA solapou toda a rede de suprimentos e contatos que os japonese tinham estendido pelo leste e sudeste asiático até 1942.
Obrigado Emiliano! Acredito que só pelo fato de nunca ter perdido uma guerra fez o japão incorrer em um erro tão drástico como foi o de entrar em guerra com os EUA ( embora muitos historiadores considerem que tecnicamente os EUA já estivessem envolvidos no conflito devido à sua ajuda bélica aos países envolvidos no teatro de operações europeu. Obrigado pelo texto e pelo empenho em responder a grande quantidade de questões. Abraço...
ResponderExcluirCaminhamos juntos na reflexão e debate acadêmico. Abraços.
ResponderExcluirCaminhamos juntos na reflexão e debate acadêmico. Abraços.
ResponderExcluirEm 1876, o progresso do Japão deu frutos precoces, fazendo com que o mesmo forçasse a vizinha Coréia assinar um Tratado de Amizade. Em 1895 promovendo uma guerra rápida tomando posse dos territórios de Taiwan conseguindo transferir o “reino ermita” da Coreia para a esfera de influência de Tóquio.
ResponderExcluirDurante a década de 1880, os emissários enviados pelo Japão á Coréia, quais foram as possíveis dificuldades enfrentadas por eles para conseguirem efetuar a supervisão que lhes foi ordenada?
ANDRELINE CARDOSO PAIVA
Cara Adreline,
ExcluirSem dúvida houve grandes manifestações de resistência pelo reino coreana após a presença japonesa. Desde a anexação do reino em 1910, o reino sob Gojong começou a se sentir cada vez mais controlado pela política japonesa, a proibir manifestações e a promover a lingua e cultura japonesa. Em maio de 1919, e também outra dez anos depois, houve milhões de coreanos que foram às ruas para tentar manter a soberania do reino da dinastia Joseon. No mesmo ano, o rei Gojong havia morrido, e os japoneses colocaram alguém mais alinhado aos seus interesses no trono coreano.
Alguns coreanos mais resistentes fugiram ao interior e para a Manchuria e China, onde buscaram apoio de governos anti-japoneses e comunistas, um deles se chamava Kim Il-Song, que depois irá tentar tomar toda a península coreana após a derrota japonesa em 1945. Kim será o pai da atual Coreia do Norte.
Caro Emiliano,
ResponderExcluirSua presença nos debates engrandece esse evento!
Te agradeço de coração por estar conosco, e peço que deixe aqui os links para seus livros...São materiais muito bacanas, que tenho certeza, vão ajudar bastante a que os leitores se orientem em Japão, Índia e Ásia.
grande abraço!
André Bueno =)
Eu que agradeço, André, pela oportunidade única.
ExcluirSegue onde ae possa ter acesso a meus livros a quem interessar:
- História do Japão: uma introdução
https://www.amazon.com/História-Japão-Uma-introdução-Portuguese/dp/1521298130
- História da Índia: uma narrativa desde o Vale do Indo a Chandrayaan-1:
https://www.amazon.com/História-Índia-narrativa-Chandrayaan-1-Portuguese/dp/152128847X
- Historia da Ásia: uma introdução à sua história moderna e contemporânea:
https://www.saraiva.com.br/historia-da-asia-uma-introducao-a-sua-historia-moderna-e-contemporanea-9343289.html
Todos esses são facilmente encontrados pela rede, basta buscar no google.
São livros introdutórios, mas necessários, creio, para todos aqueles interessados em um primeiro contato na área.
Emiliano.
Aproveito o ensejo para divulgar o projeto em que estou trabalhando agora, História do Tibete. Com previsão de lançamento do livro para início do ano que vem.
ResponderExcluirBoa noite Emiliano.
ResponderExcluirComo participante nesse simpósio e interessado na cultura japonesa, não posso de ficar sem saber sobre tal questionamento: Como o Budismo - uma religião "estrangeira" - foi vista nesse Japão xenófobo e ultra nacionalista do final do século XIX e início do século XX? E como o Cristianismo e os cristãos ocidentais que viviam no Japão após a abertura do país em 1853 eram tratados por essa sociedade?
Luís Henrique Palácio da Silva.
Caro Luis Henrique,
ExcluirO Japão desde a Era Edo (ou dos Tokugawas) viveu um delicado clima de tensão entre uma religião oficial que legitimava a figura do tennô (imperador) em cima do xintoísmo, e, por outro lado, das várias escolas e mosteiros budistas algumas com amplo alcance popular e centros de resistência ao governo. O cristianismo havia feito sua presença desde meados do século 16, com a chegada de portugueses (e da destacada atuação de Francisco Xavier) e outros europeus nas regiões meridionais japonesas.
Mas desde as perseguições contra esses (europeus e convertidos) em 1597 em Nagasaki, e do massacre de Shimabara em 1637-38, essa fé oficialmente foi banida e sobreviveu escondida (como entre os "cristãos escondidos", "kakure kirishitan") e mesmo sincretizada, como a adoração da Virgem Maria como a "Maria Kannon" ou em forma da entidade budista Avalokiteshvara
(recomendo, para tanto, em inglês, artigo de Maria-Reis Habito, entre outros: http://ecommons.udayton.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1469&context=marian_studies)
O budismo, após a adoção de uma rigorosa politica de Estado na Era Edo, teve somente um sopro de vida com a escola Ôbaku-shu, da seita Zen. Com as mudanças da Era Meiji, após 1868, o budismo foi duramente perseguido, pois o novo Estado queria quebrar a histórica ligação que as instituições budistas tinham com algumas famílias dos daimiôs da era anterior. Visando, assim, fortalecer o novo governo sob a ideologia xintoísta. O xintoísmo, posteriormente, na fase imperialista do Japão, servirá para fundamentar a unicidade do país frente aos outros povos e nações, na ideia da excepcionalidade, "nihonjiron".
O cristianismo, a partir da abertura de 1853, ganhou novo fôlego no Japão, com a chegada e presença de estrangeiros. Após 1871, a liberdade de culto foi introduzida no país. E foi uma surpresa o padre francês, Bernard Petitjean, tem constatado que ainda havia uma comunidade remanescente de cristãos japoneses sobreviventes que conseguiram ainda rezar algumas linhas em latim!
Sobre os casos de hibridismos e contatos férteis entre as culturas e estrangeiros no Japão em meados do século 19, recomendo o interessantíssimo artigo neste simpósio de Emannuel Reichert:
IMPERIALISMO, CONTATO, HIBRIDISMO: A VIDA NOS PORTOS ABERTOS JAPONESES NA ERA DA EXTRATERRITORIALIDADE (1859-1899).
Olá Emiliano. Excelente texto, inclusive como ponto de partida para discussão em sala de aula. Gostaria de lhe solicitar seus comentários ou indicações bibliográficas, acerca das tentativas estadunidenses de colonização sobre o Japão, no processo que se insere a Revolução Meiji. Obrigado!
ResponderExcluirCaro Maicon,
ExcluirAs solicitações de abertura e comércio dos EUA sobre as ilhas japonesas remetem a décadas antes de meados do século 19. Foram vários os náufragos, aventureiros, baleeiros e comerciantes que vinham do Pacífico, Alasca, que tinham chegado à alguma ilha japonesa e não tiveram nenhuma ajuda e apoio, conforme os costumes e leis marítimos ditavam entre os ocidentais durante os séculos 18 e 19.
O governo dos EUA, em particular, miravam o acesso ao mercado chinês, e isso já tinha se manifestado com relação à abertura dos portos e acesso ao Império Chinês após a conclusão da Primeira Guerra do Opio e assinatura do Tratado de Nanquim em 1842. Almejaram uma base de apoio para acesso à China, e o Japão poderia fornecer-lhes isso.
Para tanto, mandaram uma frota, a caminho da China, para a baía de Edo (hoje Tóquio) sob o comando do Comodoro Perry, que fez suas primeiras demandas em 1853, e voltou para negociar em posição de força ano seguinte.
Os EUA, ao final de tudo, como sabemos, obtiveram, juntamente com outras nações pela claúsula da nação mais favorecida, acesso a alguns portos e cidades japonesas. E estabeleceram um representante diplomático dos EUA no a Japão, Townsend Harris, que tratou de acordos posteriores com as autoridades japonesas, que resultou em abertura de alguns portos entre eles o de Kanagawa e o direito de extraterritorialidade. O que gerou grande desgaste e resistência na sociedade japonesa.
Os livros a ler sobre o assunto que indico (que me vêm à mente agora):
JANSEN, Marius (Org.). The Emergence of Meiji Japan.
KORNICKI, Peter (Org.) "Meiji Japan: political, economic and social history 1868-1912."
E o volume 5 da série "Cambridge History of Japan" que trata especificamente somente o Japão no século 19 e do Japão Meiji e fim dos Tokugawas antes.
Olá
ResponderExcluirObrigada por proporcionar um texto tão enriquecedor e importante!
Tenho uma amiga de Myanmar e uma vez conversamos sobre colonização, e ela me soltou a seguinte frase: "Em Myanmar, se tivéssemos escolhas de uma possível colonização atual, nós sem duvidas preferimos ser colonizados pela Inglaterra do que pelo Japão"
Em vista disso, qual seria as principais características que tornam o Japão ser reconhecido tão violentamente por povos colonizados se comparados aos europeus colonizadores?
Camila Regina de Oliveira
Cara Camila,
ExcluirTemos que ter muito cuidado ao lidarmos com os projetos colonizadores de determinados povos sobre outros. Os britânicos tinham provocado milhões de mortos na região oriental da Índia, em Bengala, ao longo do século 19, ao propor mudança de plantio em cima dos indianos. E alimentaram três grandes guerras sobre os birmaneses (como se referiam aos habitantes da Birmânia, hoje Mianmar) ao longo do século 19. Derrubaram e humilharam a monarquia birmanesa e desarticularam a aliança multi étnica do país, ora apoiando e convertendo os povos karens e os shins.
E certamente os japoneses, no avanço durante a Segunda Guerra Mundial a partir do reino do Sião (hoje Tailândia) a leste da Birmânia, foram implacáveis para tentar ganhar uma presença no sudoeste chinês e leste indiano. De tal maneira que houve o emprego forçado de trabalho de prisioneiros britânicos e seus aliados nas selvas birmanesas, largamente retratado e debatido na imprensa britânica e mundial hoje.
Creio que as caracteristicas de tal tratamento passam pelas próprias condições da guerra. Os japoneses buscaram impetuosamente cortar os acesso dos britânicos via Bengala e leste indiano com os anti-japoneses aliados no sudoeste chinês (pela infame Estrada da Birmânia). E chegaram a negociar um exército nacional birmanês que queria a autonomia frente aos britânicos imperialistas com a figura de Augn San (condiderado o pai da nação independente do Mianmar e da atual líder Aung San Suu Ki).
As condições da guerra são brutais a todos os envolvidos, e, de fato, há evidências de que tropas imperiais japonesas fizeram brutal uso da mão-de-obra dos prisioneiros de guerra no avanço asiático na Birmânia, assim como massacres de civis como a que ocorreu na cidade de Nanquim (Nanjing) em 1937-38, com estimados 300 mil mortos. Mas é complicado avaliar a brutalidade de alguns sobre outros, sendo que a morte de civis japoneses na Batalha de Okinawa, nas bombas incendiárias sobre cidades japonesas com os bombardeios B-29 dos EUA e de duas bombas atômicas, é igualmente assustador. Em suma, em guerra, os padrões da moralidade e civilização caem por água abaixo para todos os envolvidos. Não quero minimizar a responsabilidade de nenhuma parte, muito menos a dos japoneses, mas é bem difícil mensurar isso em condições de guerra.
Como o Japão conseguiu sair tão derrotado da II Guerra Mundial em em seguida se tornar uma potencia econômica? Como foi a política de propaganda do Japão no pós-guerra?
ResponderExcluirLayana Márcia Carvalho Pereira
Cara Layana,
ExcluirO Japão saiu devastado da Segunda Guerra, e foi com grande preocupação que o governo dos EUA tentou, via emprestimos e acordos de maior acesso ao seu mercado, buscar reerguer um futuro aliado no leste asiático.
Para tanto, o General MacArthur, que tinha comandado a vitória e ocupação dos EUA sobre o Japão, buscou desenhar uma nova carta constitucional e uma nova estrutura politica no Japão após a guerra. E, nesse intento, fez tudo que pôde para manter a integridade da família imperial, apesar de ter-lhes tirado a condição divina, e deu a soberania popular como a suprema no país.
Os anos iniciais após a derrota viram o crime e o mercado negro florescer no Japão, então foi preciso montar uma nova estrutura policial, politica e identificar as formas sociais japonesas. Fizeram vários estudos e livros a respeito, como o clássico controverso "O Crisantemo e a Espada" de Ruth Benedict, entre outros. E almejaram as autoridades americanas calar as forças sindicais e comunistas no Japão, razão pela qual muitos setores no Japão que tinham se manifestado contra a imposição dos EUA, nesses anos iniciais, foram logo suprimidos politicamente ou mesmo presos. Era, pois, impensável, aos olhos dos EUA em questão, alentar qualquer força social e politica anti-americana que pudesse flertar com os soviéticos. Ainda mais depois de 1949, com a ascensão de Mao na China (e isso ter muito pouco com Stalin, mas isso é outro assunto).
A Guerra da Coreia (1950-53) trouxe um grande alento à indústria japonesa, pela enorme demanda de produtos. E o acesso amplo ao mercado dos EUA também produziu frutos no espetacular soerguimento da economia japonesa. Muito desse desempenho veio de uma geração de politicos e empresários japoneses que buscaram articular com grandes grupos empresariais ("keiretsu") a montagem de uma grande infra-estrutura no país, desde metalúrgicas e industrias de base, portos, aeroportos. Nesse sentido, ao longo das décadas de 1950 a 1970, o crescimento do Japão foi o mais extraordinário do mundo em desempenho do PIB anual.
Nesse sentido, o Japão tornou-se ao final desse processo, uma das maiores economias do mundo, servindo de bastião anti-comunista no leste asiatico e aliado dos EUA na região. A propaganda japonesa certamente buscou enfatizar a reconstrução da guerra, fortalecimento da economia e controlar as dissidências internas e não envolvimento e formulação de uma politica militarista propria (com o aval de Washington).
Atualmente, temos grande controvérsia de setores da sociedade japonesa em questionar a presença da base militar dos EUA em Okinawa e sobre o infame artigo 9o. da constituição japonesa que impede a criação de Forças Armadas próprias. Esse tema já foi debatido aqui nessa conferência, ver acima.
Boa tarde, Emiliano.
ResponderExcluirO texto foi bastante esclarecedor e conseguiu reunir um amplo contexto que muitas vezes é "esquecido" nos estudos sobre imperialismo ou sobre a Segunda Guerra Mundial. O presente texto vai de encontro, em muitos aspectos, com a minha atual pesquisa de mestrado sobre o Estado xintoísta. Em minhas leituras, encontrei alguns autores (poucos) que relacionavam o processo imperialista japonês com o fenômeno da imigração. Provavelmente a autora que mais desenvolveu essa ideia foi Chiyoko Mita no livro "Bastos: uma comunidade étnica japonesa no Brasil" (1999). Para Mita a imigração japonesa teve inicio por motivos capitalistas, mas foi reinterpretada a partir do imperialismo que o senhor descreveu no presente texto. Exemplo marcante da ligação entre imperialismo e imigração é o caso da Manchúria, que a autora "compara" com o caso de Bastos. Mas, essa é uma abordagem bastante negligenciada nos estudos sobre imigração japonesa, a minha questão é: há um desconhecimento (pela pouca divulgação mesmo entre os especialistas) da relação entre imigração e imperialismo ou essa é uma hipótese duvidosa, isto é, a imigração japonesa (não só para o Brasil) não tem relação direta com o imperialismo?
Leonardo Henrique Luiz.
Caro Leonardo,
ExcluirNão me aprofundei a respeito dessa ligação. Mas houve sim uma politica de incentivo do governo japonês no estabelecimento de cidades e industrias na Manchuria, assim como nas cidades coreanas, confluindo para uma evidente politica de "japonização" da sociedade, educação e cultura. Para desespero dos coreanos e chineses manchurianos.
Com relação à imigração japonesa para outras partes do mundo, como o do Brasil, não tenho nenhuma consideração a fazer com relação ao imperialismo japonês, e isso vou deixar em aberto.
Mas, certamente, o processo de transferência de tropas imperiais japonesas sobre a Manchúria, o envolvimento de tantos investimentos empresariais e urbanos (Mukden, capital da Manchuria, era considerada como um exemplo da organização japonesa em solo anterior chinês), teve respaldo de uma politica de imigração de familiares para as regiões ocupadas.
E a própria ideologia que deu fundamento ao expansionismo japonês pela Ásia, num primeiro momento, tentou passar a imagem de fraternidade e respeito em termos até confucianos entre os povos asiáticos, na campanha da Grande Esfera de Co-Prosperidade Asiática ("Dai Tōa Kyōeiken"). Pelas Filipinas, Tailândia, Cingapura, Malásia e Indonésia ocupadas foram distribuídos panfletos, filmes e propagandas visando retratar os japoneses como irmãos zelosos a suplantar os antigos imperialistas europeus.
Para esses fatos, os livros que tenho a indicar a ler:
RHODES, Anthony. "Propaganda: The art of persuasion: World War II", no capitulo dedicado aos japoneses na guerra.
BASKETT, Michael. "The Attractive Empire: Transnational Japanese Film Culture in Imperial Japan".
É impressionante como em 1940, o fato do governo civil se encontrar fragilizado, contribuiu para o fortalecimento dos militares, que conseguiram organizar atos e demonstrar força, intimidando o governo civil. A falta de apoio partidário no parlamento japonês também ajudou no cenário de interrupção democrática, enquanto o setor militar estava cada vez mais consistente.
ResponderExcluirLayana Márcia Carvalho Pereira
Cara Layana,
ExcluirCertamente, as condições politicas e sociais do Japão desde o período Taishô e durante as décadas de 1920 e 1930, durante o período Showa, foram conturbados e frágeis diante do avanço no campo politico de militaristas. A tal ponto que a própria politica do Japão se torna cada vez mais militarizada, como os assuntos estrangeiros, e a oposição civil moderada cada vez mais minoritária e intimidada (lembrando que as leis aprovadas contra qualquer dissidência contra o Estado Japonês era duríssima e opositores e políticos foram perseguidos e mesmo assassinados).
Caríssimos,
ResponderExcluirHoje pela noite terei uma longa jornada de viagem terrestre e, espero que meu destino tenha um acesso confiável e duradouro de internet. Caso eu não tenha, ficarei devendo a partir daqui para as estimulantes dúvidas e comentários de todos vocês.
Antes, queria deixar meus agradecimentos a todos vocês, participantes e debatedores nesse tão importante e inovador simpósio. Caso tenham interesse, tenho alguns livros que escrevi e estão indicados nessa conferência, basta subir a tela um pouco mais acima.
Emiliano Unzer Macedo
qual o era o principal objetivo do expansionismo japonês sabendo que não ficou restrito somente no plano econômico?
ResponderExcluirJefferson santos
Caro Jefferson,
ExcluirAcredito que parte da resposta você encontrará na que foi enviada a Vitor Therezo e Igor Mendes acima nessa conferência.
Professor Emiliano Unzer Macedo, antes de mais nada o parabenizo pela apresentação de vossa pesquisa. Minha dúvida a cerca das questões imperialistas do Japão se foca mais na questão do emprego das tropas, tenho consciência de que o alto comando japonês chegou a permitir o uso de unidades estrangeiras nas fileiras militares se não me falha a memória a guarnição de Tarawa - Ilhas Gilbert contava com tropas coreanas, o que gostaria de saber se possível com qual frequência o emprego de "soldados não-japoneses" ocorria e qual era o tratamento dado pelos comandantes e oficiais nipônicos a estas tropas?
ResponderExcluirApós a imposição do Tratado de Kanghwa em 1876 sobre a Coreia, o Japão dominou aquela região até sua rendição em 1945? Se assim foi, havia um ganho econômico significativo para o Japão aquela ocupação?
ResponderExcluirCorrigindo a segunda pergunta: "Se assim foi, havia um ganho econômico significativo para o Japão manter aquela ocupação?"
ExcluirCaro Luiz,
ExcluirJá houve uma tentativa de invasão japonesa liderada por Hideyoshi na chamada Guerra Imjin entre 1592 a 1598, pela ambição de controlar o fluxo comercial e a proteger a cominidade japonesa prinicpalmente na cidade coreana de Pusan.
Nos próximos séculos sempre houve a preocupação da proximidade da península coreana com as regiões meridionais japonese em Kyushu e outras ilhas pelo estreito de Tsushima. Se houvesse alguma ameaça a invadir o Japão, certamente seria por essa proximidade.
Com a ascensão de nacionalistas da Era Meiji, o debate veio à tona novamente. Pensadores como Saigô Takamori, defenderam a imediata anexação da Coreia, como uma espécie de punição por eles, alegadamente, não reconheceram a divindade do Imperador Meiji (punição referida como “seikanron”, 征韓論). Agravava-se aos olhos desses o fato do reino Joseon da Coreia ainda se declarar como tributário do Império da China. E havia ainda a ideia do que fazer com tantos samurais ociosos e destituídos de sua condição após a Reforma Meiji a partir de 1868 em diante.
Houve, pois, mais a percepção estratégica de invasão à Coreia. Entendendo que já em fins do século 19, à Russia vinha crescendo pela extensão siberiana para exigir uma saída plena ao mar pela península de Liaodong e Coreia ao sul do rio Yalu. Os europeus também tinham demonstrado claramente suas intenções sobre o Império do Meio após as humilhantes exigências no Tratado de Nanquim em 1842.
Em suma, acredito que foi muito mais uma manifestação de ultra nacionalismo do Japão Meiji diante do avanço imperialista no Leste Asiático.
Para maior leitura sobre o imperialismo e invasão japonesa sobre a Coreia na época referida, recomendo o brilhante livro de Peter Duus:
DUSS, Peter. The Abacus and the Sword: The Japanese Penetration of Korea, 1895-1910.
Obrigado!
ExcluirEsqueci de assinar a pergunta!
Luiz Cassio Castro Cardoso
Prezado Emiliano, excelente texto! O Japão, em pouco tempo, deixou de ser uma nação subjugada por potências estrangeiras para, ele mesma, passar a ser opressora na região asiática. Minha pergunta segue na linha do colega Jefferson Santos. Essa reviravolta, na sua opinião, graças as modernizações na era Meiji, foi mais influenciada por uma necessidade econômica ou um desejo de expansão territorial com intuito de formar um grande Império japonês?
ResponderExcluirAtt. Cleber Mattos.
Caro Cleber,
ExcluirAcredito que parte da resposta você encontrará na que foi enviada a Vitor Therezo e Igor Mendes acima.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBoa noite,
ResponderExcluirGostaria de fazer uma pergunta mais didática. Quero saber como é feita, no Japão, a abordagem desse imperialismo. Sabemos que, depois do século XIX, é comum que países enalteçam sua história das mais diversas formas. No entanto, exemplos como Estados Unidos e Reino Unido são ocidentais e me falta alguma referência no Oriente sobre esse aspecto.
É interessante pensar sobre esse assunto principalmente no sentido de como abordá-lo em sala de aula, tanto no ensino médio quanto na universidade. Compreender como cidadãos veem sua própria história também nos ajuda a entender suas ações e seus movimentos políticos.
Atenciosamente,
André Luis Ferreira da Rosa Júnior
Caro André,
ExcluirAcho que em grande parte a historiografia japonesa no ensino aos alunos buscam mais a descrição dos fatos e ainda é evitado o papel da responsabilidade da família imperial e do imperador Hirohito (Showa) sobre a politica na guerra.
Há uma grande reverência às vítimas da guerra, mas como agressores ainda falta maior debate e esclarecimento para maior parte da população japonesa. Gerando um desgaste com relação à Coreia, China e outros países invadidos.
Sobre a percepção de alunos pelo mundo e Japão de como foi ensinado os bombardeios atômicos no Japão ma guerra, ver o interessante artigo do Washington Post:
https://www.washingtonpost.com/news/worldviews/wp/2015/08/06/how-the-hiroshima-bombing-is-taught-around-the-world/?utm_term=.d89296f04a94
Presados participantes, é um prazer ter acesso a um conteúdo tão enriquecedor ao qual o caro Emiliano nos propõe.
ResponderExcluirMeus questionamentos giram em torno da ideia de organização protecionista e militarista, surgida justamente com a onda imperialista no Japão. Os desdobramentos que se seguem, tendo um forte apelo ideológico de reforço junto a população de uma lógica nacionalista, parecem passar uma noção ocidental de agregar certos valores sociais às mais variadas camadas afim de justificar a atitude de uma minoria que lidera em um determinado momento. Se essa impressão é correta, toda essa empreitada imperial japonesa era um reflexo de convicçoes internas de uma sociedade em transformação rumo ao desenvolvimento capitalista com multiplos setores da sociedade envolvidos nessa lógia de expansão ou esse desenrolar se formatou esclusimente nos setores militares como uma doutrina nacional que poderia ser evitada ou postergada ?
Elias Da Costa Cardoso
A história oriental me fascina, embora possa reconhecer que sei muito pouco sobre o assunto. O texto trazido pelo palestrante me fez refletir sobre várias questões e saber de muitas coisas novas. Antes da pergunta gostaria de parabenizá-lo e como educadora sempre tento trazer para meus alunos a cultura oriental, porém não como gostaria. Qual fator que diferencia o Japão de outras nações ocidentais imperialistas? Gratas e parabéns pela contribuição. Joice de Souza Avelina Costa.
ResponderExcluirCara Joice,
ExcluirVeja resposta dada a Vitor Therezo acima, acredito que apontei algumas características singulares do imperialismo japonês. Grato pelo elogio.
Bom dia professor.O senhor diz que "Todos os porta-aviões norte-americanos escaparam ilesos do ataque em Pearl Harbor".Entretanto,estudamos e muitos livros didáticos dizem que os japoneses lançaram um ataque surpresa contra Pearl Harbor, que dizimou a frota americana no Oceano Pacífico e forçou os Estados Unidos a entrar na Segunda Guerra Mundial.os livros se equivocam ao dizer isso?E se eles fazem, o fazem por qual motivo - falta de informação ou mero oportunismo ?
ResponderExcluirParabéns pelo artigo professor!!
Caro Fabiano,
ExcluirO ataque surpresa realizado em dezembro de 1941, sob o nome de Operação Z, acabou não atingindo os 6 porta aviões americanos por um erro de cálculo dos japoneses. A frota atingida maior fora quatro navios de guerra (battleships) afindados e quatro danificados (atingindos todos dessa classe no Havai) e mais de 150 aviões estacionados. Talvez por isso alguns textos referem-se a frota de avioes ou de navios de guerra. Mas com a disponibilidade de porta aviões e um sem número de avioes e navios em outros portos americanos, os EUA puderem rapidamente reagir ao ataque no Pacífico.
Caso tenha interesse recomendo o excelente livro de Craig Nelson, “Pearl Harbor: From Infamy to Greatness”.
Como foi o processo de desenvolvimento militar do Japão?
ResponderExcluirJulia Piovesan Pereira
Cara Julia,
ExcluirVeja a resposta dada a Vitor Therezo acima, creio que esclareçerá sua dúvida.
Professor Emiliano, boa tarde. Nos dias de hoje é possível falar em imperialismo japonês na Ásia?
ResponderExcluirAss. Nathálya Ferreira Raseira
Cara Nathalya,
ResponderExcluirO conceito de imperialismo sempre foi polivalente. Mas nos moldes como o foi no fim do século 19 e meados do seguinte, hoje está mudado no Japão. Lidam mais com os feitos do passado com relação aos seus países asiáticos.
Hoje o Japão se posiciona de maneira pacifista e negociador. Contribui generosamente em organismos internacionais e financia incontáveis projetos de desenvolvimento e fomento pelo mundo. Sua economia projeta o país para isso. E tornou-se vetorial em áreas de pesquisa e tecnologia. Foi uma aposta investida e demorada, mas colheu os frutos depois de décadas após a derrota em 1945.
Obrigada professor!
ResponderExcluirOlá Emiliano!!!
ResponderExcluirSeu trabalho me instigou bastante. O Japão desenvolveu sua política externa e interna de maneira bastante significativa na Ásia. Como a Segunda Guerra Mundial contribuiu, apesar da tragédia em Hiroshima e Nagasaki, para o desenvolvimento atual do Japão no setor econômico e tecnológico? Como a China pode ser uma ameaça na economia japonesa?
Julio Junior Moresco