Ronny Costa Pereira

LITERATURA COMO ABORDAGEM DO PASSADO: DEFESA DA TRADIÇÃO JAPONESA NO ENSAIO EM LOUVOR DA SOMBRA DE JUN’ICHIRŌ TANIZAKI 
Ronny Costa Pereira

Introdução
Foi por longo tempo creditado aos documentos oficiais a monopolização das frestas do passado da qual o historiador poderia deslumbrar e teorizar. Ideia essa derivada das propostas cientificas positivistas do século XIX, em que a História nasce como saber cientifico, e passa a buscar no rigor metodológico e na objetividade, se aproximar da verdade. Dessa forma, na tentativa de uma neutralidade, a interpretação de fontes ou utilização de outras formas de documentos que não fossem os institucionalmente oficiais eram descartadas [BURKE, 2010]. 

Quadro esse que foi superado somente no fim dos anos 20, com a difusão de novas propostas metodológicas e teóricas para historiografia, feita por diversas “escolas” [Annales por exemplo] que foram ganhando espaço e por meio de aprimoramentos e divergências, foram se formando “várias linhas historiográficas” [História social, cultural, econômica, de gênero, etc.] e dentro dessas vertentes, foi se buscando diferentes formas de praticar o oficio do historiador, tentando se distanciar muitas vezes da forma tradicional do século XIX. E uma das formas mais utilizadas para buscar esse distanciamento foi a abordagem e a concepção das fontes, buscando sair do modelo tradicional das fontes oficiais propostas pelos pesquisadores do século XIX [BURKE, 2010], foi sendo considerado um documento não mais o que fica no passado, mas todo produto da sociedade que se formou por meio de relações de força [LE GOFF, 1990]. 

E a literatura foi uma delas, que além de passar a ser considerado um documento valido para os historiadores, é analisado [principalmente a partir da década de 80] por novas perspectivas, com uma maior atenção e problematização para o lugar social do escritor, suas relações sociais, sendo pensados além do romance, e considerados produtos sociais que são evidencias importantes para melhor compreender os pensamentos, ideais e ações do tempo em que foi escrito.

Nesse contexto, entendendo a relevância da literatura para compreensão de concepções sociais, e buscando contribuir para os debates acerca da história japonesa contemporânea, que esse trabalho busca a utilização da literatura como fonte, analisando o ensaio Em louvor da Sombra [In’ei Raisan], do japonês Jun’ichirō Tanizaki, obra não literária mais famosa do autor, que aborda as formas que as novas tecnologias e ideologias ocidentais implantadas no Japão estão levando cada vez mais a escassez a cultura tradicional nipônica . E por meio do auxílio dos estudos historiográficos sobre o período, entender um pouco mais como as relações culturais japonesas foram afetadas no período imperial japonês. 

O autor das sombras
Jun’ichirō Tanizaki nasceu em Tóquio em 24 de julho de 1886 e faleceu em 30 de julho de 1965. Foi estudante de literatura japonesa na Universidade Imperial de Tóquio [entretanto, devido à falta de recursos financeiros se viu obrigado a abandonar o curso], sendo um romancista bastante conceituado no meio literário em seu período. Recebeu o prêmio imperial da literatura em 1949 e foi o primeiro japonês a ser membro honorário da American Academy and Institute of Arts and Letters em 1964. 

Tanizaki fazia parte de uma família de mercadores e durante a sua juventude foi grande admirador das novas influencias absorvidas pelo Japão, do conceito de modernidade e progresso vindas do mundo ocidental, vivendo por um curto período de tempo em uma casa ao estilo ocidental em Yokohama. Fez parte da escola Tanbiha que valorizava escritores ocidentais como Edgar Allan Poe e Charles Baudelaire, que foram suas inspirações literárias ocidentais. Porém, sua predileção pelas tendências estrangeiras, viria a se modificar após o grande terremoto de Kanto em 1923, com sua ida para Quioto e o desenvolvimento de um profundo interesse pela cultura japonesa tradicional [PASTANA, 2016:22].

E é nesse período que Tanizaki modifica seu modo de escrever, ao vivenciar de perto a destruição que o terremoto causou a população japonesa e a arquitetura, o ainda jovem literato vê que as tecnologias ocidentais restauravam rapidamente as construções perdidas e os utensílios em abundância vindos dos mares do Oeste eram tão baratos e eficazes que o retorno ao cotidiano por parte da população foi rapidamente feito. E isso assombrou Tanizaki, pois ele sentiu algo que a maioria dos japoneses atingidos pelo terremoto não sentiram, que essa rápida restruturação teve um preço grande, a cultura japonesa [PASTANA, 2016:23]. As casas passaram a usar madeiras ocidentais ou cimento, aparelhos elétricos instalados em todas casas, tecidos e roupas ocidentais se tornaram padrão no vestuário do japonês urbano, entre outras mudanças.

E sentindo essas mudanças, Tanizaki passou a perceber que isso se dava em todo Japão, para além dos terremotos, e que cada vez mais se tornavam raro se encontrar objetos e hábitos tradicionais japoneses no Japão. É nessa época que ele decide escrever folhetins para demonstrar seu lamento aos costumes que ele via se desvairando, e em 1933 ele escreve seu ensaio Em Louvor das Sombras [In’ei Raisan]. 

As luzes que tudo ofuscam, ou os avanços do imperialismo ocidental 
Em seu ensaio, Tanizaki analisa como a incorporação de costumes e tecnologias vindas do ocidente modificaram a arquitetura da casa nipônica, da arquitetura da cidade e do campo, dos hábitos cotidianos dos japoneses e os prejuízos (na concepção do autor, irreparáveis) que essa influência ocidental gera na cultura japonesa. E o foco de Tanizaki está na dicotomia entre luz e sombra, que para o mesmo, é a representação perfeita do ocidente e oriente, sendo a luz o progresso, a necessidade de embranquecer tudo e todos e as tecnologias elétricas; enquanto as sombras são o mistério, a tradição, a reflexão e a cor da cultura japonesa em si.

É importante contextualizar o período em que o Japão passava durante a época em que Tanizaki sentia essas transformações em seu pais. Desde a abertura dos portos nipônicos em 1968, o Japão, que até então era uma ilha completamente impermeável de influências externas devido as leis isolacionistas do Xogunato do Bakufu, passa a ter relações culturais, políticas e econômicas com os demais países do globo e a modernizar o pais. E esse processo leva a população japonesa a questionamentos dos limites de influência externa que deveria haver no pais, gerando inúmeras revoltas armadas e queima de portos [YAMASHIRO, 1964].

O Japão da era Meiji se vê então em uma situação complicada, pois os avanços da potencias imperialistas ocidentais [Alemanha, Eua, Inglaterra e Rússia] estavam ameaçando a o controle japonês sobre sua região, mas as tecnologias dos mesmos eram fundamentais para o recém-formado Império [MANDEL, 1989]. Dessa maneira, é decidido que a solução nipônica era expandir seus territórios, para se proteger e poder ter finanças suficientes para comprar e criar mais tecnologias.

O Império Japonês se mantém assim até o fim da grande guerra, focalizando as tecnologias ocidentais nos aparatos de guerra, e culturalmente somente nos setores mais abastados da sociedade. Entretanto, a guerra e as anexações da Coreia e China ao Império geraram muitos custos, que levou parte da população japonesa a extrema pobreza, que acarretou na necessidade de o Império exportar e criar diversos produtos em massa para possibilitar a sobrevivência da população, além dos projetos modernizadores nas grandes cidades, que faziam parte da demonstração de potência do Império, como detalha o historiador Yamashiro:

“Com a evolução da nova cultura, os costumes sofreram, naturalmente, sua influência e se modificaram radicalmente. Desapareceu o hábito de trazer catana à cintura, os homens começaram a cortar o cabelo à ocidental, vestiram o traje europeu. Jornais e revistas surgiram, a luz elétrica e lâmpadas a gás passaram a iluminar as ruas das cidades, prédios de estilo ocidental foram erguidos. Até a alimentação sofreu modificação sob o influxo da arte culinária ocidental” [YAMASHIRO, 1964: 153]. 

 Que considera mais fácil a incorporação das tecnologias ocidentais [que já estavam se propagando por todo oriente] do que uma tentativa de desenvolvimento interno da mesma, que seria lento e arriscado. O que é nitidamente um ponto de desencanto em Tanizaki:

“E foi nessa altura que me dei conta: luminárias, aquecedores e aparelhos sanitários são modernidades a cuja adoção não me oponho; mas como foi que nós, os japoneses, não nos empenhamos em aperfeiçoa-los para melhor conformá-los a nossos hábitos, gostos e modo de vida? ” [TANIZAKI, 2007:16].

O desencanto de Tanizaki em relação a incorporação “fácil” japonesa fazem o autor lamentar o como a tradição nipônica não buscou desenvolver a própria ciência ao invés de buscar a ocidental. Que para o mesmo é a diferença que leva o Japão a não valorizar sua própria tradição “...quão diferente seria o aspecto atual da nossa sociedade caso uma cultura cientifica única, diversa do ocidental, houvesse prosperado no oriente. ” [TANIZAKI, 2007:17].

Nesse contexto, em que o Império japonês crescia territorialmente, objetos tradicionais japoneses que remetiam ao período do xogunato não eram bem vistos pelo governo, que aproveitando as necessidades e vontades de modernização, incentivavam a substituição desses objetos e hábitos do cotidiano nipônico. É esse processo que Tanizaki sente ao se mudar para Quioto, e tenta descrever mais tarde no seu ensaio. Ao ponto de nesse mesmo período, suas obras recentes que possuíam esse mesmo teor de apego a tradição são censuradas devido ao foco dado em suas narrativas ao Japão feudal em contraste ao Japão militarizado da época [PASTANA, 2016:23].

E esse projeto por parte do Império Japonês, implanta energia elétrica nas cidades, para facilitar os trabalhos burocráticos do governo, e a vida da população urbana, o que para isso necessitava a substituição de telhados e todo tipo de ornamentos das casas, palácios e templos tradicionais japoneses, para se adequar ao implemento da eletricidade residencial. Que para Tanizaki, representava as luzes do ocidente corroendo a cultura japonesa:

“Hoje em dia, qualquer indivíduo interessado em construir sua própria casa no mais puro estilo arquitetônico japonês procura recorrer a uma serie de estratagemas engenhosas para harmonizar certas instalações como rede elétrica, de água e de luz com a sobriedade dos aposentos japoneses...” [TANIZAKI, 2007:07].

E para o autor, a cultura japonesa não era perdida somente aos estragos e substituição dos objetos tradicionalmente japoneses que não se adequavam aos modos da tecnologia ocidental [que por si só já era um dano gigantesco de acordo com o autor] mas principalmente devido as modificações que isso implicaria nos costumes nipônicos.  Pois o autor considera que a cultura se constrói por meio da interação dos grupos com a natureza e os objetos que eles criam por meio dela. E com a retirada dos objetos tradicionalmente japoneses das casas e ruas japonesas, os hábitos morriam juntos, e os poucos que sobrassem, perderiam seu sentido, se tornando vazios.

Tanizaki entretanto não se contenta em somente lamentar a dominação ocidental e o sumiço da cultura oriental, como um bom literato, o autor deixa explicito que entende a literatura como um espaço em que se “salvaguarda” pensamentos e hábitos no tempo, e sabendo da predominância irrevogável da tecnologia e progresso ocidental, ele busca também em seu ensaio mostrar o outro lado do Japão, as sombras escondias, valorizar a tradição e mostrar sua beleza, “eu mesmo quero chamar de volta, pelo menos ao campo literário, esse mundo de sombras que estamos prestes a perder.” [TANIZAKI, 2007:63], como categoriza o próprio autor.

E essas sombras para Tanizaki são o epicentro da cultura japonesa, é a base para toda tradição, costume, arquitetura e objeto tipicamente japonês. Desde o teatro nó que tem sua beleza localizada na escuridão do ambiente e dos trajes dos atores á até mesmo as comidas japonesas, que servidas em tigelas escuras de madeira a luz de velas, ofuscam o olhar de que se alimenta e impulsiona o olfato.

Dentre os louvores a sombras que Tanizaki faz, o mais representativo para o mesmo está nas próprias construções japonesas, que nas palavras do mesmo:

“...um templo em nosso pais começa a ser construído pela cobertura, ampla e revestida de pesada telha, e na sombra densa limitada pelo beiral recolhemos toda edificação. Externamente, o que mais se destaca nas construções japonesas, sejam templos, palácios ou casas populares, é o telhado...e a espessa sombra reinante sob o beiral. ” [TANIZAKI, 2007:30].

Os telhados japoneses são a representação mais concreta para Tanizaki pois o telhado que tudo protege e escurece, é a cultura japonesa tradicional, que imponente é o que faz o morador se sentir em casa, mas que está sendo substituída por telhados mais baratos, ou por construções de concreto, que habitam mais pessoas em menos espaço. E as sombras desse telhado são para o autor, a chave da mente oriental:

“Creio que nós, os orientais, buscamos satisfação no ambiente que nos cerca, ou seja, tendemos a nos resignar com a situação em que nos encontramos. Não nos queixamos do escuro, mas resignamo-nos com ele como algo inevitável. E se a claridade é deficiente, imergimos na sombra e descobrimos a beleza que lhe é inerente. Mas os ocidentais, progressistas, nunca se cansam de melhorar suas próprias condições. De vela a lampião, de lampião a lampião de gás, de lampião de gás a lâmpada elétrica, buscaram a claridade sem cessar, empenharam-se em eliminar o mais insignificante traço de sombra.” [TANIZAKI, 2007:48].

 O questionamento do autor está na necessidade de se agarrar as tecnologias ocidentais com tamanha voracidade e não buscar desenvolver uma tecnologia que permita o japonês ter conforto sem ter que abdicar de sua cultura; o lamento dele está em saber que isso não é possível devido a incorporação permanente dessa cultura ocidental em seu pais; e a felicidade dele existe em poder escrever sobre as sombras que aliviam seu corpo e mente das luzes ferventes do progresso.

Algumas reflexões finais
Dessa forma, fica claro o incomodo que Tanizaki passa a sentir a partir da década de 20 em seu pais, que passa a retirar de maneira massiva os costumes do Japão feudal para legitimar uma nova ordem imperial. Não é possível afirmar que o autor possuía qualquer concepção de que o Império Japonês ou o Imperialismo ocidental possuíam projetos de modernização tão claros [já que em seu ensaio o mesmo não menciona as posições do império em momento nenhum], mas seu ensaio é uma prova material que o mesmo sentiu as transformações e se incomodou com elas. 

A beleza que Jun’ichirō Tanizaki enxerga nas sombras é a satisfação que o autor sente em poder compreender que mesmo entendendo o fim eminente de aspectos de sua cultura, é essa mesma cultura das sombras que o permitiu descrever de maneira bela e poética os aspectos dessa tradição, e permitir que ela se perpetue, ou ao menos se mantenha eterna nas páginas de seu escrito.


Referências
Ronny Costa Pereira é estudante de graduação em Licenciatura em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana. 
E-Mail: PereiraRonny@outlook.com

BURKE, P. A Escola dos Annales (1929-1989): A Revolução Francesa da Historiografia.  2 ed: São Paulo: UNESP, 2010.
LE GOFF, J. Documento/Monumento, In: História e memória. Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1990, p.462-476.
MANDEL, E. O significado da segunda guerra mundial. São Paulo, Ática, 1989. 
PASTANA, R. D. L. O autor e sua produção literária. In: Da polaridade a dualidade: Um estudo da obra literária Amor insensato de Jun’ichiro Tanizaki. Dissertação de Mestrado. São Paulo, USP, 2016, p.14-30
TANIZAKI, J. Em louvor da sombra. Tradução do japonês: Leiko Gotoda – São Paulo, companhia das letras, 2007.
YAMASHIRO, J. Pequena História do Japão. Editora Herder, São Paulo, 1964.

8 comentários:

  1. Como foi colocado no início do texto, é fundamental que coloquemos a Literatura como documento histórico, e não apenas como mera "ilustração" dos processos.
    O contexto histórico de formação do autor e de suas modificações de pensamento foram extremamente úteis para compreender melhor a obra. É interessante notar que ele passou de um admirador de culturas ocidentais a um pesquisador da cultura japonesa tradicional.
    O texto de Tanizaki é literário, mas de não-ficção, correto? É possível dizermos que, além de ser uma espécie de ensaio reflexivo, ele também faz uma espécie de "micro-história literária"? Guardadas as proporções (e as diferenças, pois sei que a micro-história é um método de análise historiográfica), me parece que ele faz um processo mental parecido ao da micro-história, pois se debruça sobre casos específicos (por exemplo, a modificação da arquitetura tradicional japonesa das casas) para depois mostrar como essas aparentemente pequenas coisas se encaixam num contexto bem mais amplo de História japonesa.
    Além disso, "Em louvor da sombra" parece trazer um debate filosófico clássico: será que uma determinada cultura deve adotar aspectos modernos e tidos como universais (ou de "globalização") ou deve zelar pela manutenção das tradições locais? Qual seria o equilíbrio esperado? É importante adotar técnicas modernas (ciência, tecnologia), mas também é importante manter aspectos culturais? Existe um limite desejável para um ou para outro? Que limite seria este?
    Do ponto de vista de Tanizaki, a dicotomia luz e sombra parece uma simbologia que cai como uma luva para a metáfora que ele quer fazer. A luz ilumina, mas também "invade" sem pedir permissão.
    Natasha Ribeiro Hennemann

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    1. Olá Natasha!
      Sim, nesse sentido considero que o Tanizaki faz essa micro história em selecionar objetos e hábitos do cotidiano japonês e mostrar a relação direta que esses tem com a estrutura política nipônica. Até mesmo para gerar uma identificação com o "japonês comum" que vivia cercado dessa cultura e não percebia nela uma importância política e de identidade.
      Sobre a questão entre modernidade e tradição, considero que no ensaio, Tanizaki colocaria como ideal, se essa luz surgisse da própria sombra, se essa modernidade não tivesse sido imposta pelos estrangeiros e sim pelos japoneses, aspectos tradicionais continuariam a não serem mais possíveis, mas teriam "evoluído" junto as tecnologias, e não desaparecido como ocorreu com o avanço da modernidade ocidental.

      Ronny Costa Pereira

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  2. Como você mencionou, os japoneses possuem um apego pelas sombras, sendo elas o epicentro da cultura japonesa. Já os acidentais buscam em todos os aspectos de suas vidas a luminosidade. Gostaria de saber porque há essa busca incessante para eliminar o mais insignificante traço de sombra?
    Luana Aparecida da Silva

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    1. Olá Luana!
      Acredito que parte dessa obsessão para eliminar toda sombra e manter tudo e todos o mais claro, limpo, liso e branco possível se deve a todo um processo de higienização e eugenia atrelados a ideia de civilização; propagadas pelos países da Europa ocidental. Afetando assim toda a cultura e estrutura dos países colonizados e em conflito com esses países, a exemplo do Japão.

      Ronny Costa Pereira

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  3. Olá! Achei o texto muito interessante! Esse incômodo com o Ocidente se faz presente na maioria dos escritores do Japão moderno como o Natsume Soseki e o Ryuunosuke Akutagawa. Podes me dizer quando essa política de distanciamento dos costumes preservados do Xogunato começou?

    Obrigada!

    Maria Carolina Silva Martins Pereira

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    1. Olá Maria Carolina!
      Essa política de isolamento é uma questão desde o século XV estava sendo discutida no Japão, devido a forte influencia dos europeus e do cristianismo na política e cultura dos Daimyōs. Mas foi com a batalha de Sekigahara que o Xogunato Tokugawa conseguiu eliminar todas famílias rivais e ter controle total sobre todos Daimyōs. E para evitar perder esse poder centralizado ou alianças estrangeiras que enfraquecem seu domínio, se estabelece em 1639 (que dura até 1854) o Sakoku, que é essa política que proíbe a entrada de estrangeiros e a saída de japoneses do império.
      Esses pontos, somados aos fatores geográficos que já constituíram uma cultura japonesa com contatos culturais pontuais, ajudaram ao estabelecimento e continuidade desse isolacionismo.
      Espero ter respondido seu questionamento!

      Ronny Costa Pereira

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  4. Olá, tenho interesse no debate de literatura e gosto muito de Jun'ichiro Tanizaki. Ao ler seu texto fiquei pensando se você vê alguma especificidade no fato de trabalhar com uma obra traduzida, afinal trata-se de um idioma de origem com forma muito diferente do português. Se sim, você poderia comentar os cuidados em analisar uma tradução?

    Att,

    Kelly Y.

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  5. Olá Kelly!
    Trabalhar com literatura traduzida é uma jornada muito perigosa, os monges medievais já colocavam que tradutor é aquele que trai a palavra de origem ao traduzi-la. Se tratando do japonês esse fator se agrava um pouco mais, pois assim como você pontuou, são idiomas com enormes diferenças, principalmente na escrita.
    No caso especifico do Tanizaki, por não saber ler o idioma original, procurei me ater as ideias gerais que o autor buscou expressar na obra, mesmo sabendo que palavras ou frases perdem seu significado com a tradução (ainda mais o japonês, com a utilização dos Kanjis e Hiraganas), tento por enquanto, compreender as ideias gerais que ele tenta passar no seu ensaio; e também identificar as "palavras chaves" que o Tanizaki utiliza (o In'ei que tem um significado muito ligado a sombra das arvores ou telhados para se proteger do sol; ou a utilização do Akari para se referir a luz, que é usado mais associado a luz de lampadas, uma ideia da luz artificial, criada e constantemente modificada)que ajudam bastante na compreensão. Geralmente ler mais de uma versão de tradução também auxilia bastante, mas infelizmente no caso não conseguir nenhuma versão português/espanhol/ingles a tempo para comparar alguns pontos. E por fim, estudos sobre a obra são guias que norteiam o entendimento.
    Esses são alguns pontos que tento ter cuidado analisando obras traduzidas, espero ter respondido sua pergunta.

    Ronny Costa Pereira

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