ÍNDIA, ESPELHO DE NOSSA VOCAÇÃO ESPIRITUAL
Edgard Leite
As sociedades ocidentais, nos últimos séculos, passam por um período de secularização do pensamento, de atitudes e de expectativas.
Alguns efeitos desse movimento são conhecidos.
Por exemplo, o afastamento crescente do sentimento de necessidade de justificação espiritual. A incapacidade de compreender o valor e o significado dos nossos textos sagrados. O distanciamento dos elementos subjetivos que moldam a existência. O desprezo solene pela sabedoria que advém da tradição. O estranhamento diante da ideia de Deus.
A nossa crescente indigência espiritual e existencial está ligada a esse vazio de sentidos maiores, eternos. Tal vazio não pode ser preenchido por nada neste mundo - o qual, sendo absolutamente transitório, é incapaz de preencher algo de forma estável ou duradoura.
Tal descolamento entre tempo e eternidade tem efeitos na forma como vemos a nós mesmos e o mundo.
Grande parte do interesse que os habitantes secularizados da Europa e das Américas têm pela Índia está na persistência, naquela cultura, de elementos que, paradoxalmente, fazemos questão de combater em nossos próprios espaços.
Ali podemos encontrar o império da justificação espiritual. A reverência aos textos sagrados. A percepção de que é a subjetividade do mundo o elemento delineador da objetividade. O respeito por aquilo que a tradição estabeleceu como moral e ético, bem e mal, certo e errado. A onipresença de Deus e do sagrado no mundo.
Não é outra a razão pela qual a descoberta do Bhagavad Gita, pelo pensamento ocidental, tenha coincidido com a crise de nossas crenças metafísicas, cujo caminho foi consolidado pelo Iluminismo.
Há na iniciativa dos fundadores da pioneira Asiatic Society de Bengala, em 1784, especialmente William Jones (1746–1794) e Charles Wilkins (1749-1836) (o autor da primeira tradução do Bhagavad Gita), essa necessidade de resgatar os elementos conceituais, simbólicos e espirituais, que sustentam a grandeza da civilização hindu.
O envolvimento desses europeus no assunto não era meramente político, mas entranhado de um fascínio crescente e envolvente pela grandeza do espírito que estava presente naquela tradição. Fascínio advindo de um sentimento da insuficiência das nossas fontes religiosas e da precariedade política de nossas crenças. O que levou-os a admirar profundamente as narrativas clássicas hindus e seus conteúdos.
Nos século XIX e XX, a pioneira recepção intelectual que o Ocidente deu à obra de Paramahansa Ramakrishna (1836-1866), e à do seu mais avançado discípulo, Swami Vivekananda (1863-1902), deixou patente que a secularização fez estragos significativos nas nossas próprias convicções espirituais, donde nosso ansioso fascínio por outras.
A ideia de que na tradição hindu seria possível encontrar elementos não encontrados na tradição bíblica, emergia do insistente trabalho de desqualificação da nossa própria religião tradicional, pelo Estado secular.
As confissões religiosas diversas, cristãs e judaicas, foram muito feridas por essa secularização estendida, que adentrou dentro da mídia e do sistema educacional público com intensidade, sustentada pelas conquistas científicas e suas ilusões. As principais destas, a de que a morte física seria vencida e a de que o sofrimento humano poderia ser superado através de uma vivência hedonista do mundo.
A jornada mística de Ramakrishna pareceu, a muitos, uma experiência absolutamente singular, incapaz de ser alcançada nas tradições ocidentais, crescentemente racionalistas, críticas da sacralidade textual, seguidoras de um Deus mais temporal que transcendente. Que não parecia dar resposta às tragédias do materialismo.
Alguém poderia apontar, em Santa Tereza de Jesus (1515-1582), ou, em nossa mesma época, São Pio (1887-1968), ou as nossas tradições de exercícios espirituais, ou, no judaísmo, as tradições ligadas à Merkavá, ou às Hekhalot, enigmáticos momentos de experiência do Absoluto. Mesmo em nosso mundo hedonista. Mas as fontes que conduziam à mística, no Ocidente, estavam sufocadas pela densa neblina de uma sociedade na qual, do ponto de vista jurídico e, depois, do ponto de vista existencial, a salvação da Alma tinha menor importância que a conquista de direitos e bens materiais.
Assim não acontecia na Índia. Ali, a presença do divino parecia ser contínua. As pessoas não se curvavam às ilusões da democracia e da ciência, embora por ela, eventualmente, se movessem. Mas entendiam os hindus que o mundo material era ilusório, tudo que aqui se vivia era sopro de vento, e que a Verdade estava além desse mundo. O espírito era mais essencial que o universo visível.
Tal visão da Índia expressava uma demanda oculta, proibida mesmo, algumas vezes, no quadro da sociedade e das instituições ocidentais: a da busca do Espírito, da superioridade do transcendente sobre o imanente, da vivência do divino.
Num mundo ocidental de tantas proibições, no que diz respeito à Fé, crescentes nos últimos dois séculos, de tantas inconsistências morais, de tanta desqualificação das instituições religiosas, violentamente combatidas, a Índia representou um seguro e gratificante escoadouro para ansiedades espirituais reprimidas ou controladas.
Ali, ao contrário daqui, a tradição ainda sustentava a moral. O Deus secularizado não existia: ele era presença espiritual contínua. O descrédito das instituições religiosas e de nossas crenças não era conhecido: os líderes religiosos orgulhavam-se de suas heranças. Sua mensagem, mesmo quando obscura, era sagrada. Os livros antigos eram a palavra de Deus, apenas - o que queria dizer tudo.
A aproximação que fazemos à Índia não deixa de ser, portanto, uma aproximação às nossas próprias demandas, necessidades e espírito sufocados. A Índia é um espelho de nossa vocação espiritual oculta.
Nela está presente aquilo que aqui é crescentemente proibido: a doçura que advêm da vivência do Espírito de Deus, do Absoluto, e da moral que dele emana, e que ilumina os passos de nossas condutas. Que nos coloca diante da Eternidade através do reconhecimento das ilusões do mundo.
Assim, no fluxo continuo de ideias, reflexões e experiências espirituais que nos vêm da Índia, partilhamos o sentimento de pertencer a um universo no qual o visível é apenas uma parte superficial do existente.
Reforçamos, portanto, em nós mesmos, a capacidade de perceber o encantamento do sagrado e o maravilhoso do divino.
Como espelho, por fim, a Índia mostra a nós mesmos a nossa grandeza espiritual. A nossa capacidade de entendimento e percepção dos movimentos sutis pelos quais o ser pode se aproximar do invisível.
Mas mostra ainda mais: o entendimento com que Charles Wilkins se aproxima do Bhagavad Gita não era inovação, nem reação ao proibido, mas fruto de uma tradição espiritual e intelectual gloriosa, que, mesmo proibida, ou negada, nos capacitou e capacita culturalmente para aproximarmo-nos dos outros buscando e reconhecendo, sempre, o Espírito.
A Índia espelha nossas origens, tradições, heranças, e nos permite reencontrá-las, em outros da cultura, para além das falácias e críticas do Iluminismo. Pois nossa capacidade de nos encontrar no Gita é eco espelhado de Isaias 56:7, profundamente entranhado em nossa percepção do sagrado, mesmo que não o percebamos:
“Também os levarei ao meu santo monte, e os alegrarei na minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar; porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos.”
O encantamento pela Índia é caminho para o coração de uma tradição espiritual milenar, e também, simultaneamente, para nossas próprias fontes espirituais, também milenares, e igualmente profundas.
Olhando a Índia, o fazemos de acordo com a natureza de nossas raízes. Evocamos o espírito messiânico e universalista das fontes bíblicas. Mesmo que a opressão, no nosso mundo presente (ou será que em todos os mundos, inclusive os passados?), não nos permita, com a amplitude necessária, tornar tal espírito força consciente e instância redentora.
Referências
Edgar Leite é Professor da UERJ e da UNIRIO, Diretor do Instituto Realitas, Membro Titular da Academia Brasileira de Filosofia.
A Índia se tornou um espelho religioso para as demais nações a partir do contato dos europeus com o mesmo, o que vi no texto foi que neste país asiático, a religião não é como em outros lugares, mas sim apenas de formas espirituais não sendo necessária uma imposição para tal religião.
ResponderExcluirBruna Liana Teza Canarin
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirBem, Bruna, todas as religiões tem uma dimensão espiritual, fruto de visões e experiências transcendentais fundadoras, e um dimensão humana, social, que relaciona a subjetividade religiosa a práticas e costumes enraizados na tradição.
ExcluirBom dia! Além da espiritualidade podemos dizer que os povos arianos ou indoeuropeus possuem algumas raízes com os indianos num passado remoto?
ResponderExcluirOs linguistas costumam debater muito as relações entre as línguas indo-européias. E, nesse sentido, existem relações e identidades linguísticas entre os os povos que falam idiomas assim aparentados. Se isso tem relação com experiências religiosas ou espirituais ainda é matéria obscura. Ao meu ver, percepções de determinados elementos espirituais são de cunho universal, e não estão ligadas diretamente a este ou aquele grupo linguistico.
ExcluirInteressante salientar que a religiosidade brasileira, sobretudo aquelas religiosidades ligadas ao neoxamanismo, new age, entre outras vertentes, têm reencontrado diversas tradições hindus e ressignificado-as. Esse fato pode estar relacionada com a difusão feita no Ocidente das obras de Bhaktivedanta Swami Prabhupada acerca dos textos sagrados hindus. Vale lembrar ainda o encontro das práticas neoayahuasqueiras que tem dialogado com diversos segmentos espirituais do oriente. Pode-se considerar um campo de estudo vasto para salutar pesquisa e produção de referencial teórico.
ResponderExcluirFrancisco Wilton de Oliveira Pereira
Sim, Francisco. As ações de Bhaktivedanta Swami Prabhupada são muito importantes nesse sentido, embora elas já tenham se desenvolvido num terreno fértil, estabelecido desde o final do século XIX, a partir das missões de pensadores indianos no Ocidente, como me referi. Mas continuo achando que essa fertilidade está ligada à necessidade espiritual das sociedades ocidentais e ao combate que foi estabelecido contra a espiritualidade judaica e cristã a partir da instalação dos Estados seculares. Nesse sentido, a busca de alternativas favoreceu o encontro com a Índia.
ExcluirMuito interessante seu texto. A espiritualidade vinda do oriente tem sido requisitada/buscada no ocidente? Devido à falta de apoio espiritual de religiões cristãs ou judaicas? Ou seja, há uma busca maior pela espiritualidade oriental aqui no ocidente? E no caso do Brasil, podemos ver isso hoje ou a busca se foca em religiões pentecostais/evangélicas? Gostaria de saber se o sr. pesquisou esse 'paralelo' oriente e ocidente. Muito obrigada e gostei muito de seu texto.
ResponderExcluirPaola Rezende Schettert
Paola, a secularização da sociedade ocidental foi acompanhada de um ataque às nossas raízes espirituais. Nem todas as diferentes vertentes reagiram da mesma forma a esses ataques. Algumas se afastaram do Espírito, outras não (e foram e são muito atacadas por isso). Nesse sentido, apesar do encantamento com a Índia e da liberdade que possamos ter em vivenciar sua religiosidade, ainda temos fortes vínculos com nossas origens e fontes e a redescoberta de nossa tradição espiritual é sempre impressionante e maravilhosa, para muitas pessoas. E sim, venho pesquisando o processo de secularização na Índia, também.
ExcluirOlá. Gostei do seu texto. Seguem 4 questões que sua leitura me deixou. Grata por responder.
ResponderExcluirVocê afirmou: "Tal descolamento entre tempo e eternidade tem efeitos na forma como vemos a nós mesmos e o mundo.", sugerindo que o sentimento de vazio no Ocidente é causado por esse deslocamento e dele também vem a ênfase no mundo transitório material. Pergunto: a eternidade no pensamento indiano é pensada como tempo infinito ou como ausência de tempo?
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Também gostaria de pontuar que, toda essa ênfase no mundo transitório e visível é um esforço de pensar a mudança (desde Platão com o Parricídio) e posteriormente a matéria sem subjugá-la ao espírito e cair na desvalorização desta vida que temos e que de fato tem uma realidade. Como o pensamento indiano, nessa ênfase no eterno, pensa o dinamismo do Ser e a própria realidade material? Qual a diferença entre esse pensamento e o oferecida por nossa tradição cristã? Esse conceito de alma pode ser aplicado à tradição hindu?
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Vc disse "o visível é apenas uma parte superficial do existente".
A sociedade grega é vista como uma sociedade visual e essa herança no ocidente é consenso. Porém, é possível esclarecer melhor esse conceito de "existência" na tradição hindu?
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Tenho encontrado muita dificuldade com referências acadêmicas sobre o pensamento indiano e o conhecimento védico, algo que seja um olhar do oriente a salvo da visão ocidental. Você comenta isso, que lemos a Índia de acordo com a natureza das nossas raízes. Poderias compartilhar qual suas fontes para ver na Índia da maneira que retratas, de afirmar que nela ainda sobrevive uma tradição? Fora as mais conhecidas aqui, que o próprio site informa. Mas penso que para afirmar que na Índia se mantém esse pensamento e que sua natureza é diversa do ocidente, para além do diagnóstico da crise no ocidente é preciso conhecer o pensamento oriental hindu de dentro, com fontes nativas. Podes me ajudar com isso?
Alina Silva Sousa de Miranda
Pergunto: a eternidade no pensamento indiano é pensada como tempo infinito ou como ausência de tempo?
ExcluirO pensamento filosófico indiano (não-muçulmano) apresenta muitas diferentes percepções sobre a natureza da relação entre o tempo e a eternidade. Recomendo o livro antigo, mas sempre útil, de Surendranath Dasgupta, A History of Indian Philosophy. Neste livro, Dasgupta faz um resumo de diferentes sistemas filosóficos indianos, inclusive do Vedanta e do Budismo. Como você verá, as nossas tradições, tanto judaicas quanto cristãs, são muito mais amarradas em certos elementos de doutrina do que os sistemas religiosos hindus, que tendem a um pluralismo conceitual.
Com relação à concepção de alma, existem aspectos bem obscuros no nosso próprio entendimento do assunto, que na literatura bíblica suscita algumas respostas e que em outros textos da tradição judaica e cristã precisaram ser especificados, muitas vezes de forma dogmática, algumas vezes através da exposição de sutilezas. Como a realidade e presença das almas dos mortos na Cabalá, por exemplo. No caso da índia, há muita diferença entre a tradição védica e a tradição budista, uma afirmando a eternidade de atman e outra a sua transitoriedade. Portanto, as mesmas dúvidas que aqui existem sobre o assunto, lá também ocorrem.
A questão da existência da matéria é um dos temas centrais do pensamento filosófico hindu. Recomendo ainda a indicação acima. E, é claro, a mais recente Encyclopedia of Indian Philosophies. Ponho-me à disposição para maiores esclarecimentos.
Se lermos o bagavagita, a biblia, os sagrados de buda como também o tao the king ou outros escristos sobre tao, perbemos coisas similares, pontos convergentes porem outros divengentes. Será que nos seculos anteriores a cristo ou ate alguns seculos depois essas religios se influenciaram uma a outra?
ResponderExcluirAnderson, essa é uma pergunta muito relevante. Tanto os profetas judeus quanto Buddha sustentaram a existência de realidades que podiam ser universalmente percebidas. Por exemplo, a unicidade de Deus, no primeiro caso, o sofrimento humano, no segundo. Embora as religiões de fato se influenciem umas às outras, parece também que não devamos descartar a ideia de que existam substratos universais em certas percepções da realidade da transcendência.
ExcluirJá li alguns trechos do bagavagita e também comentários sobre os ensinamentos de Prabhupada, onde o mesmo comenta que a doutrina na qual ele aconselha e a defende segue os textos sagrados dos Vedas. Onde esses textos dão ensinamentos sobre a melhor maneira de pensar e conviver na sociedade.Para tanto, gostaria de saber se esses ensinamentos são partes semelhantes de outras doutrinas como judaísmo e cristianismo na qual se pensarmos em um contexto espiritual ambas podem se fundir no mesmo pensamento doutrinário.
ResponderExcluirValéria, nas tradições védicas há uma extensa literatura normativa, com características semelhantes àquelas da nossa tradição. Todas condenam o roubo, por exemplo, todas aconselham o respeito aos pais. No entanto, existem diferenças na prática moral que estão ligadas a variáveis da existência e do pensamento humano. Os filósofos da "filosofia perene" acreditavam que em última instância todas as religiões se dirigiam ao mesmo Deus, mas se distinguiam em sua prática. Não sei se todas as religiões tem o mesmo foco, mas de qualquer forma, as doutrinas são diferentes porque assinalam diferentes caminhos para a transcendência. A fusão no mesmo pensamento doutrinário é fenômeno apocalíptico de grandes dimensões, mas não histórico ou social. E significa, na prática, a transcendência de todas as doutrinas, como fica claro na tradição dos profetas.
ExcluirBom dia! De que forma a cultura hedonista desprezada pelos hindus contribuiu para um prejuízo da cultura Ocidental?
ResponderExcluirArthur, parece-me claro que tudo aquilo que afasta o homem do espírito levando-o a acreditar que só o concreto faz sentido, diminui, em muito, a capacidade criadora dos seres humanos e os conduz a uma existência desvinculada do mistério que é a existência do próprio mundo. Todos os eventos humanos, se vividos sem mistério, sem enigma, não incorporam em si o extraordinário. E, como escreveu Heráclito, "a morada do homem é o extraordinário". Leva-se, portanto, a um empobrecimento da cultura.
ExcluirBom dia! De que forma a cultura hedonista desprezada pelos hindus contribuiu para um prejuízo da cultura Ocidental?
ResponderExcluirArthur D'Elia dos Santos
Lindo texto. Nos traz uma reflexão de como a Índia ainda consegue manter suas tradições e crenças religiosas .Nos mostra que eles não cogitam a não existência do ser sagrado.O fato de que aqui o ocidente estamos sempre em dilema entre um ser maior espiritualmente e a ciência!
ResponderExcluirNivia Jane Faria Libe
Sim, Nívia. Estamos nesse dilema nos últimos dois séculos. Pode ser um dilema transitório, em termos históricos. E, alias, nem todos estamos envolvidos em tal dilema. Nunca deixamos de perceber que a ciência não resolve, de fato, os enigmas do espírito.
ExcluirO judaísmo sitado no texto de Edgard Leite, se voltarmos às suas origens ele é considerado a primeira religião monoteísta a surgir na história. Segundo a tradição dos judeus, Deus fez um acordo com os hebreus, fazendo com que eles se tornassem o povo escolhido e prometendo-lhes a terra prometida. Essa prática religiosa sendo semelhante ao Cristianismo, ou seja ambas cultuam um único Deus supremo e criador.
Atualmente a fé judaica é praticada em várias regiões do mundo, porém é no estado de Israel que se concentra um grande número de praticantes.
Na Índia, a presença do divino parecia ser contínua. Os indianos acreditavam que o espírito era mais importante que o universo em que eles viviam. As pessoas não se curvavam às ilusões da democracia e da ciência, mesmo sabendo que por essas ilusões eles se movem.
Em seu entendimento os hindus acreditavam que o mundo material era um mundo de ilusão, e que a verdade estava além desse mundo. O espírito era mais essencial que o universo visível.
Em nossos dias atuais será que o ser humano dá tanta importancia a sua religiosidade, sendo que ele se depara com tecnologias mais atrativas ?
ANDRELINE CARDOSO PAIVA
Andreline, por mais atrativas que sejam todas as tecnologias, por mais sofisticadas que sejam todas as criações humanas, nenhuma delas permite a superação da morte. Os sistemas religiosos são precisamente construídos em torno do mistério da transitoriedade.
ExcluirO judaísmo sitado no texto de Edgard Leite, se voltarmos às suas origens ele é considerado a primeira religião monoteísta a surgir na história. Segundo a tradição dos judeus, Deus fez um acordo com os hebreus, fazendo com que eles se tornassem o povo escolhido e prometendo-lhes a terra prometida. Essa prática religiosa sendo semelhante ao Cristianismo, ou seja ambas cultuam um único Deus supremo e criador.
ResponderExcluirAtualmente a fé judaica é praticada em várias regiões do mundo, porém é no estado de Israel que se concentra um grande número de praticantes.
Na Índia, a presença do divino parecia ser contínua. Os indianos acreditavam que o espírito era mais importante que o universo em que eles viviam. As pessoas não se curvavam às ilusões da democracia e da ciência, mesmo sabendo que por essas ilusões eles se movem.
Em seu entendimento os hindus acreditavam que o mundo material era um mundo de ilusão, e que a verdade estava além desse mundo. O espírito era mais essencial que o universo visível.
Em nossos dias atuais será que o ser humano dá tanta importancia a sua religiosidade, sendo que ele se depara com tecnologias mais atrativas ?
ANDRELINE CARDOSO PAIVA
Olá, é correto dizer que a cultura hedonista é desprezada pelos hindus?
ResponderExcluirNão. Porque os hindus, assim como os demais seres humanos, são profundamente atraídos pelo que veem e sentem fisicamente. Mesmo que alguns possam dizer que o material seja ilusório, é forte demais para ser simplesmente negado pela consciência. As religiões existem precisamente para orientar os seres humanos na direção de algo maior. Para algo superior. Para o que está além do transitório.
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ResponderExcluirCaro Professor Edgard Leite,
ResponderExcluirMuito obrigada por esse texto engrandecedor. Você acredita que o processo de seculariazação ocidental atingiu todas as esferas sociais, inclusive a maneira como os seres interagem, como entendem a sua subjetividade e a sua entrega ao mundo? Seria o emponderamento da razão uma maneira de enfraquecer ou até mesmo bloquear entendimentos sobre a realidade sutil que ela não alcança? Como nós poderíamos recuperar este caminho de entendimento e relacionamento com a realidade sem perder também os benefícios que o pensamento científico nos trouxe? O seu texto me fez refletir sobre diversas possibilidades que muitas vezes não damos importância, por não estarmos conectados com as energias sutis da vida, presentes na natureza, na espiritualidade (seja ela religiosa ou não) e em diversos lugares que não necessariamente em nossas mentes.
Obrigada mais uma vez por essas palavras que transcendem as linhas deste belo texto e nos fazem refletir sobre as complexidades e sobre as riquezas da existência humana.
Ana Beatriz Pestana Gomes
Bia, o grande desafio da existência sempre será encontrar no particular, o maior; no aparente, o verdadeiro; no transitório, o eterno; na aridez, o amor. O pensamento iluminista, e a potencialização absurda da ciência que ele introduziu, gerou nos homens a falsa ideia de que são senhores de seu destino e de que tudo podem. E que o extraordinário é o acaso, como disse Maquiavel. Esse individualismo extremado no qual tudo depende das ações humanas, apenas, afasta o ser de coisas maiores que o envolvem e determinam os encontros, os desencontros, as felicidades e as tragédias. A questão não está, como você bem diz, em afastar ou negar os benefícios do conhecimento, mas descobrir neles uma essência de mistério e uma dinâmica contínua de desconhecimento, que é, na verdade, a humildade necessária à toda descoberta. Os desafios de hoje são os de outros tempos. Embora nunca tenhamos tido tantos ataques ao Espírito quanto hoje existem. É um grande esforço, hoje, encontrar o essencial. Porque estamos muito bem treinados na aceitação do império das aparências.
ExcluirEm relação a essa busca espiritual dos indianos, por um acaso eles usam qual livro sagrado para justificar sua fé?
ResponderExcluirBoa tarde. Em resposta a sua pergunta acredito a base principal no qual os indianos usam para justificar a sua fé está relacionado aos livros sagrados de nome Vedas.
ExcluirNo caso dos Hindus, a literatura védica, não apenas os Vedas, mas uma série de livros que deles emanaram, como o Bhagavad Gita, servem de referência textual significativa. No caso dos budistas, há também muitos textos relevantes. Entre eles o Canône Pali, que registra muitos diálogos de Buddha.
ExcluirParabéns pelo texto professor! Pois ele nos traz uma reflexão que vai além das críticas iluministas tão bruscamente apropriadas nos âmbitos acadêmicos, que, em alguns casos, taxam os religiosos como envoltos num véu que os obscurece da luz da racionalidade, pensamento este muito perigoso. Logo, pois, se constrói uma imagem depreciativa da religião, analisando-a sob um viés materialista reducionista, deixando de fora muitas complexidades de internalização individual do sagrado. Interessante as conexões de elementos encontrados no Gita com Isaías 56 acerca da percepção do sagrado, mesmo sem o conhecimento da divindade. De que maneira os Indus percebem a revelação do divino em seus textos sagrados?
ResponderExcluirRamonn Gonçalves de Moura
Ramonn, a imagem depreciativa da religião é derivada - entre outras coisas - de uma ideia falsa, a de que a objetividade é superior à subjetividade, quando, na verdade, é do subjetivo que surgem as ideias. E se organiza o mundo da objetividade. Tudo que orienta nossa vida, os sentimentos, os valores, os conceitos, não emergem dessa realidade, mas do espírito. Quando resgatamos a conexão entre nossos sentimentos e a transcendência, a religião funciona e se estrutura como elemento de realização existencial.
ExcluirComo disse em outras respostas, os hindus não tem apenas uma percepção do divino mas uma múltipla percepção. Coisa que nós também temos, aliás. Basta ver como Deus aparece aos diferentes profetas, a cada um com uma mensagem particular, com um aspecto diferente da relação entre o ser a transcendência. Recomendo as leituras que citei em outras respostas.
Caro Professor Edgard Leite, nos últimos tempos, por várias vezes me pego pensando no quanto a humanidade vem tentando fazer um movimento, de certa forma, regresso.
ResponderExcluirDigo regresso não no sentido pejorativo de ir contra a ciência, a democracia, as conquistas em geral, mas no sentido de voltar às origens das peculiaridades humanas, do que é realmente ser humano. Podemos perceber que esse retorno se apresenta na alimentação, na busca pela saúde física e mental e em especial na busca pela religiosidade, sendo que essa última, percebemos que se tornou nosso “ponto fraco”, cujo enfraquecimento levou e leva a humanidade a guerras, a massacres, à mais degradante das situações a que podemos atingir, isto é, à fome.
Vejo que a busca pela cultura e pela espiritualidade indianas seja quase que um pedido de socorro, um último suspiro, uma volta à verdadeira razão e racionalidade.
Percebemos que a religiosidade, a purificação, a aproximação com o Divino e com a verdadeira eternidade, enfim, como o senhor mesmo diz em seu texto “a onipresença de Deus e o sagrado do mundo” essas são, resumidamente, a finalidade para que estamos nessa existência.
Seu texto me fez mergulhar ainda mais nessa reflexão e perceber que, da mesma forma que o caminho para nos distanciarmos do sagrado e da nossa real essência humana, foi longo, também o será o retorno às nossas origens, às nossas subjetividades.
Fico então com o seguinte questionamento, que gostaria de aqui externar: será possível, tendo nós chegado ao ponto em que chegamos de desmoralização e desamor conosco mesmos, fazermos o caminho inverso e atingirmos a libertação e a profunda humanização, tão cara em que vive a sociedade indiana?
Meire Ellen Gonzaga
Será possível, tendo nós chegado ao ponto em que chegamos de desmoralização e desamor conosco mesmos, fazermos o caminho inverso e atingirmos a libertação e a profunda humanização, tão cara em que vive a sociedade indiana?
ExcluirSim, Meire. Porque o mundo dessas aparências transitórias no qual estamos inseridos não nos oferece a completude que buscamos. Estando inseridos dentro dele, apenas nele, só podemos encontrar dor e sofrimento, e morte. Porque tudo nele é morte, é claro. A busca de uma inteligência maior, que é eterna ,e se reproduz de forma contínua em todos os momentos e eventos, nos aproxima de uma essência maior e de libertação do mundo. Não há como ser um humano e não perceber que a grandeza da existência está na sua fonte eterna. Logo, sempre há possibilidade de retornar ao essencial. Ao humano. E ao amor.
Boa Tarde
ResponderExcluirNo seu texto reforça-se que para os indianos é muito importante a presença espiritual mas eles também reverenciam a imagem representativa de seus Deuses como por exemplo a deusa Chiva, ou seja eles crêem na representação de seus deuses e não somente acreditam e reverenciam a presença espiritual dos mesmos?
ass: Eliane Luczkiewicz da Silva.
Eliane, uma vez, na Índia, conversando sobre esse assunto, um brâmane fez questão de me dizer que Deus é apenas um. Embora diferentes sejam suas representações, que atestam visualmente as suas diferenças, e na verdade infinitas, potências e realidades. Também nas nossas tradições ocidentais damos a Deus vários nomes ou epítetos, dependendo à qual potência nos referimos. Assim, creio que estamos diante de um fenômeno análogo, embora, no caso da Índia, com particularidades culturais e históricas específicas.
ExcluirPrezado Prof. Edgard, boa tarde!
ResponderExcluirDe fato, a Índia é surpreendente. Não obstante o longo período colonial Britânico, essa região conseguiu manter suas tradições, preservando o culto à diversas religiões e com seus milhares de deuses.
Contudo, minha dúvida é se essa ligação com o sagrado não estaria relacionada com a profunda pobreza em que ainda vive a maior parte de sua população, menos suscetível aos “encantos” ou “fantasias” ocidentais? E se a globalização não levará a destruição lenta e gradual dessa cultura?
Grato professor.
Marcelo Vieira Pérez
Marcelo, não acredito que a religião tenha a ver com pobreza, mas com necessidades espirituais humanas, sobre as quais escrevi um pouco em outras respostas. Mas se o processo de globalização pode introduzir novos elementos de reflexão nas culturas, não creio que seja suficiente para destruir essas ansiedades espirituais. Tais ansiedades espirituais, embora possam ser esquecidas num mundo onde todas os bens são permanentemente repostos, gerando uma ilusão de impermanência, continuarão a existir, já que a morte continuará apontando a verdade maior da existência.
ExcluirEm se tratando de religiosidade ou mais especificamente em espiritualidade, seria equivocado afirmar que o plano material se tornou de maneira geral mais importante que o espiritual? Gostaria de alguns exemplos se a resposta for sim.
ResponderExcluirGigliele Pereira fontes
Gigliele, o plano material sempre é, em alguma dimensão, mais importante que o espiritual, por isso existem as religiões, que procuram exatamente relativizar essa importância, explicando-a.
ExcluirA globalização seria um risco a espiritualidade? Nesse caso não me limito a questionar apenas a indiana mas se todas as outras que podem ou estão sujeitas a esse processo mundial.
ResponderExcluirGigliele Pereira fontes
Creio já ter respondido essa pergunta acima, para Marcelo Perez.
ExcluirEsse texto é muito interessante.Vem mostrando valores espirituais trazendo reflexões de experiencias espirituais tenta mostra a nossa verdadeira grandeza espiritual sendo uma especie de espelho para o mundo.Layana Márcia Carvalho pereira
ResponderExcluirO texto fala que a India vem mostrando para todo o mundo nossas origens , tradições , heranças nos permitindo o encontro de outras culturas sendo o espelho para tradições espiritual milenar sendo exemplo para nossas próprias fontes espirituais. Por que a Índia é considerado o espelho da vocação espiritual oculto? Layana Márcia Carvalho Pereira
ResponderExcluirCreio ter tentado responder essa pergunta no artigo:
Excluir"Nela está presente aquilo que aqui é crescentemente proibido: a doçura que advêm da vivência do Espírito de Deus, do Absoluto, e da moral que dele emana, e que ilumina os passos de nossas condutas. Que nos coloca diante da Eternidade através do reconhecimento das ilusões do mundo."
Prezado professor, como já comentei anteriormente, o texto é bastante interessante e nos leva a uma reflexão profunda sobre a realidade da humanidade atualmente. Entretanto, outra questão que me vem à mente é como uma sociedade tão espiritualizada e ligada às questões morais pode conviver com tanto contraste social, como é o caso da Índia, de suas castas e da grande pobreza em que vive grande parte da população? Sei que muito da realidade indiana é baseada na cultura de seu povo, em suas crenças e tradições, mas não há como negar que existe uma grande injustiça social nessa sociedade. Assim sendo, eu gostaria de saber também, como a religiosidade lida, nesse caso, com essas questões sociais?
ResponderExcluirMeire Ellen Gonzaga
Podemos notar no texto uma constante crítica aos valores iluministas que descredibilizam as crenças religiosas, a existência de um mundo imaterial e as respostas que a fé propõe e acabam por estabelecer uma lacuna antes preenchida pelos valores religiosos. Diante dessa influência iluminista presente até hoje, como a India ainda consegue manter firme suas tradições e sua religiosidade?
ResponderExcluirAss: Waldiney da Silva Marinho
A crença no valor da tradição.
ExcluirBoa noite mestre Edgard,
ResponderExcluirExcelente texto sobre a espiritualidade do hinduísmo e, suas percepções, exemplo da presença do divino e influências em seus saberes sob nosso comportamento e cosmovisão judaica/cristã.
Pergunto se existem similaridades entre judeus e hindus em suas crenças e espiritualidades.
Considerando que essas religiões (Hinduísmo e Judaísmo) tiveram mesmo origem geográfica, pode ser vislumbradas algumas influências em suas aparente similaridades, tais como Trimurti e Trindade?
O que une e distingui os deuses da Trimurti?
Paulo Malta de Albuquerque Maranhão Junior
Aluno de História - Uerj
Leitor@
Judaísmo e Hinduísmo não tiveram as mesmas origens geográficas. Um é de Israel, outro da Índia.
ExcluirMuito bacana seu texto, o assunto sobre espiritualidade vem sendo pauta de estudos nas universidades, a religião indiana as vezes é mal vista gostaria de saber o por que , e como durante a história a religião se manteve
ResponderExcluirTexto muito bacana sobre espiritualidade e hinduísmo , parabéns, como ainda hoje o hinduísmo influência , a vida dos indianos até que ponto?
ResponderExcluirGabriele menegildo francisco
Prof. Edgard, é sempre maravilhoso e inspirador ler seus textos meu eterno professor e orientador dos tempos de UERJ e UNIRIO. Ainda tenho seu livro sobre a Índia que serviu de base para minhas próprias escritas e me fez buscar o Bahgavad Gita para acolher uma espiritualidade bem diferente daquela cristão na qual eu havia sido formada. Como vê, no mundo contemporâneo, o respeito à pluralidade religiosa diante do crescimento de atos de intolerância? Grande abraço. Muitíssimo grata por essa leitura que nos proporciona.
ResponderExcluirQuerida Janaína, muito obrigado. Infelizmente a intolerância entre pessoas não é fenômeno atual nem se restringe a questões religiosas, mas atravessa todo comportamento humano.
ExcluirSilas Roberto pergunta: Na tua opinião professor qual é diferença entre a concepção do sagrado das religiões da índia e da visão do sagrado na sociedade ocidental?
ResponderExcluirPrezado professor, o texto nos mostra que houve uma diminuição do espiritual e das religiões no ocidente com o iluminismo. É possível afirmar que a fugacidade e temporalidade das relações da vida contemporânea também tendem a contribuir para essa atenuação da espiritualidade?
ResponderExcluirAssinado: Maria Artenisia da Costa Lima
Professor,
ResponderExcluircomo o hinduísmo surgiu antes do cristianismo, a santíssima trindade pode ter sido "copiada" pelos cristãos através dos três deuses do hindu ?
Parabéns pelo artigo.
Eu acredito sim que as religiões foram copiadas do hinduísmo, mas quanto a santíssima trindade eu creio que foi um ato exclusivo dos cristãos em particular da religião a qual escolheram começar como um diferencial.
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ExcluirNão acredito que tenha sido copiada de algum lugar. Acho que a percepcão da Trindade foi uma Revelação.
ExcluirMuito interessante essa questão do hinduísmo. Podemos encontrar pontos de conexão com a espiritualidade Hindu com a espiritualidade ocidental (como, por exemplo, o espiritismo de Kardec)?
ResponderExcluirRafael Egidio Leal e Silva
IFPR Umuarama
Não há em Teilhard de Chardin, padre inaciano uma referência boa ao tema, e que poderia exemplificar como apesar da proximidade, continuamos distantes?
ResponderExcluirNa índia a estrutura social é completamente ligada a religião, isso seria a razão para o hinduísmo não ser afetado pela secularização ?
ResponderExcluirOlá professor!
ResponderExcluirBoa tarde!
Em primeiro lugar gostaria de lhe parabenizar pelo excelente texto. Gostaria de tirar uma dúvida em relação ao Hinduísmo, é visto que aqueles que seguem o Hinduísmo devem respeitar as coisas antigas e a tradição. Outro fator importante é persistir no sistema das castas. O nascimento de uma pessoa dentro de uma casta é resultado do karma produzido em vidas passadas. Com relação à isso, a minha pergunta/dúvida é: como se da essa questão do sistema de castas e a espiritualidade?
Taciane Lílian Pereira da Silva
Caro professor Edgard Leite, parabéns pelo ótimo texto! Nele, o senhor considera que o Ocidente passa por um período de secularização do pensamento, de atitudes e de expectativas. Isso tem gerado um “vazio de sentimentos maiores, eternos” na sociedade ocidental. A transcendência, a subjetividade e a tradição, que são marcas da cultura da Índia e fazem a população do país buscar a eternidade espiritual, são sobrepostas no Ocidente pelo imanente, pela objetividade e pela inovação. No mundo ocidental, a busca pelo divino tem sido substituída pelo culto ao material. As instituições religiosas e seus princípios morais, que pregam a solidariedade, a igualdade e a caridade, são combatidos por muitos empresários, tecnocratas e ativistas, que defendem o liberalismo, o individualismo, os bens materiais e o lucro. Atualmente, percebemos que a sociedade brasileira, sobretudo a classe política brasileira, também tem, preocupantemente, passado por um esvaziamento de sentimentos, o abandono da moral. Isso tem direcionado políticos a atender interesses individuais e obter bens materiais, em detrimento de um sentido maior (a coletividade). Diante do exposto, é possível afirmar que um dos aspectos causadores da atual crise política brasileira é o fato de políticos terem se afastado da transcendência, da subjetividade e da tradição? Países como a Índia, cuja cultura é baseada nesses três itens, estariam mais protegidos de crises políticas relacionadas à corrupção?
ResponderExcluirMiller José Vargas Gonzaga
A corrupção não é suprimida pela Fé. Porque quem crê é, fundamentalmente, um ser humano. Mas a crença em princípios morais absolutos certamente diz a alguém que os atos são bons ou maus. Você pode praticá-los, mas tem a dimensão do erro. A índia nesse caso não é menos corrupta que o Brasil, mas talvez os políticos tenham mais sentimentos de culpa. Talvez, porque pode ser que também não acreditem em nada a não ser em seus próprios interesses.
ExcluirPrezado professor Edgard Leite, saúdo o senhor, mais uma vez, pelo ótimo texto. Nele, o senhor considera que a Fé enfrenta muitas proibições no mundo ocidental. A chamada Emenda Johnson seria uma delas. Essa norma foi criada nos Estados Unidos, em 1954, e estabelece que igrejas e outras organizações sem fins lucrativos - que são isentas do pagamento de impostos - não devem participar, direta ou indiretamente, ou de interferir em qualquer campanha política em favor ou em oposição a qualquer candidato para cargos públicos eletivos. Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que pretende por fim a Emenda Johnson. Considerando que a sociedade ocidental está se distanciando da busca pelo divino, como pode ser explicada a declaração do presidente dos Estados Unidos? Ao declarar o fim dessa norma, Trump estaria reaproximando os Estados Unidos de sua vocação espiritual, por meio da concessão de maior espaço para instituições religiosas dentro da política?
ResponderExcluirMiller José Vargas Gonzaga
Quando as sociedades se perdem no mundo da transitoriedade, é natural que busquem algo além desse universo de erros e sofrimentos. É normal haver avivamentos religiosos nos períodos de crise de sentidos, isto é, quando nos dedicamos a um mundo de aparências que tem muitos sentidos- e nenhum. Na transcendência se encontra um sentido maior, que é misterioso, ético e moral.
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