“FILOSÓFICO OU RELIGIOSO”?
REFLEXÕES PARA DESCOLONIZAR OS ESTUDOS EM DAOISMO/TAOÍSMO
Matheus Oliva da Costa
Introdução: Orientalismo, China e religiões
Em um livro que foi referência para o início do movimento intelectual de descolonização ou pós-colonialismo, o Orientalismo, Said (1990) afirmou que o dito “oriente” seria uma invenção artificial do autoproclamado “ocidente”. Partido desta base, Clarke (2000, p. 11, 29, 196) mostrou que, muitas vezes, também o Daoismo/Taoísmo pode ser mais próximo de uma construção mental romantizada pela mentalidade europeia ou norte americana, do que de algo real. Nesse sentido, o presente texto busca apresentar um panorama do desenvolvimento dos Estudos Acadêmicos em Daoismo, com ênfase em sua recente abordagem mais crítica. Essa pesquisa é um recorte de uma pesquisa maior, que teve como fruto a dissertação de mestrado Daoismo Tropical (Costa, 2015).
Acompanhando as críticas desse campo de estudos, e buscando superar preconceitos e desafios, vamos aplicar abordagens teórico-metodológicas descoloniais. Ter uma visão descolonial – ou não orientalista – da tradição daoista significa revelar sua historicidade, pluralidade, e considera-la como agente de sua própria história. Afasto-me, assim, dos dois modelos copiados da visão orientalista europeia em que essa tradição é frequentemente apresentada no mundo lusófono e latino americano: por um lado, uma visão pejorativa orientalista/colonial, por outro, uma visão romantizada que a supervaloriza conforme o próprio interesse enviesado. Importante lembrar que tal dualidade se manifesta, de modo geral, em pesquisas sobre culturas chinesas através de atitudes de sinofilia ou de sinofobia (cf. Martinez-Robles, 2008).
Nosso panorama se limita ao resumo de dois debates importantes para uma compressão atualizada, acadêmica e respeitosa do Daoismo. Primeiro, sobre as formas como essa tradição foi e continua sendo representada por outros grupos. Segundo, a recente virada dos Estudos em Daoismo. No entanto, esclarecimentos devem ser feitos antes. Sendo o Daoismo uma tradição religiosa chinesa, portanto dentro do espectro do estudo das culturas e religiões chinesas, faz-se necessário esclarecer dois temas: China e religião (Poceski, 2013, p. 2-5).
China tal como é conhecida hoje, como nação unificada, é uma construção muito recente, ainda que tenha raízes milenares. Em sua história o que chamamos de China teve e tem muitas variáveis: nem sempre teve o território que tem hoje; têm muitas etnias que a compõem, para além na maioria 汉 Han, chegando a ter sido dominada por algumas delas em alguns períodos; bem como há um contingente considerável de chineses fora da China continental; por fim, há diversas grandes narrativas sobre China. Assim, por China deve ser entendido um sistema cultural complexo que é base para uma civilização e serve de modelo de comportamento dos seus povos.
Religião e religiões são termos muito abalados, enquanto conceitos teóricos, desde as críticas do cientista das religiões Wilfred Smith em 1962, reforçadas pelo antropólogo Talad Asad desde 1991 (King, 1999). A principal critica é a suposta universalidade da religião, vista como tendo fundo o uso político colonial de dominação europeia cristã. Se, por um lado, essa crítica é importante e impactante, por outro lado um estudo sério e acadêmico das religiões não deve perder do seu horizonte o que é seu objeto de estudo, e não deve se furtar de defini-lo (J. Smith, 1998).
Buscando um olhar simultaneamente amplo, criterioso, atualizado e refinado teoricamente, sigo o cientista das religiões Hanegraaff (1999). Ele realiza sua definição de religião em três blocos complementares e interrelacionados: religião é qualquer sistema simbólico que influencie a ação humana por oferecer possibilidades de manter ritualisticamente o contato entre o mundo cotidiano e um quadro metaempírico mais geral de significado. Quando esse sistema simbólico existe como uma instituição, trata-se de uma religião, singular de religiões. Complementa, ainda, que os seres humanos, individualmente, podem manipular os sistemas simbólicos sociais de forma livre, e chama isso de espiritualidade. Para quem estuda a história do Daoismo (cf. primeiro capítulo de Costa, 2015), fica claro que, nessa lógica, essa tradição tem sido expressa, historicamente, tanto na forma de religião, em geral, como uma religião específica, no que concerne às suas ordens/comunidades.
Representações do Daoismo: breve histórico chinês e o impacto orientalista
A noção de que existem pessoas daoistas nasceu como uma representação social externa, feita durante a dinastia 汉 Hàn (206 Antes da Era Comum, AEC até 220 da Era Comum). 程艾兰 Anne Chéng (2008, p. 122) nos informa que a noção de Escola do Dào (道家 Dàojiā) é uma construção póstuma aos textos a que se refere. Trata-se de uma classificação de uma entre as várias formas de pensamento encontradas nos períodos de Primavera e Outono (772-481 AEC) e dos Estados Combatentes (403-256 AEC). Foi construída por dois antigos historiadores chineses: 司马迁 Sīmǎ tán (165–110 AEC) e seu filho 司马谈 Sīmǎ qìān (145-85 AEC), escritor do 史记 Shǐjì, Memórias Históricas. Inicialmente, eles rotularam os escritos 老子 Lǎozi, 庄子 Zhuāngzi e outros como escola 黄老 Huáng Lǎo em referência ao Imperador Amarelo (黄帝 Huángdì) e a Lǎozi. Posteriormente, a nomenclatura Dàojiā foi usada para designar os mesmos textos.
Mais de um século após essa representação oficial, no final do século II, devido a soma de uma série de fatores, surgiram comunidades que tinham como central o princípio do 道 Dào (Tao): literalmente, “Caminho”, mas que é entendido também como “Absoluto”. Essa ideia, manifestada por meio de divindades, teria revelado novos ensinamentos e práticas. Tudo isso foi compilado em textos e motivou a criação de comunidades distintas da população chinesa comum em geral.
Em termos de identidade social, há um termo “de dentro” (daoista) que é usado para explicar o que unia os praticantes sacerdotes e leigos: 修道 xiudào, cultivo do Caminho (Komjathy, 2008). Tais grupos inicialmente tentaram fazer um Estado autônomo baseado em tais fontes, tendo seu líder religioso como líder político, mas acabaram sendo perseguidos ou sendo obrigados a mudar o discurso e ceder ao governo imperial. Isso forçou certas comunidades, como o Caminho da Ortodoxia Unitária (正一道 Zhèngyī dào), também chamado de Caminho do Mestre Celestial (天师道 Tiānshī dào), a se desenvolver mais especificamente como um ensinamento religioso, e não político.
Ao longo da história chinesa houve muita relação dos cultivadores do Caminho ou daoistas com outros grupos e outras formas de ver o mundo, ocorrendo tanto por trocas recíprocas e harmoniosas, como por disputas, depreciações e até perseguições. Sua relação com os budistas, por exemplo, foi fértil para os dois lados, trazendo várias referências mais tarde usadas pelos daoistas (estrutura de textos, de mosteiros, meditação sentada, mantra, mudrā etc.), mas também fez de ambos concorrentes no campo religioso e filosófico chinês. O fato de que daoistas perdiam grande parte das disputas sociais, especialmente as convocadas por governantes acabaram legando, algumas vezes, certa marginalidade ao Daoismo diante da pluralidade cultural chinesa, apesar da sua inegável importância nessa sociedade (Robinet, 1997).
A relação com outro grupo também merece destaque: os儒家 Rújiā (escola dos eruditos ou “confucionistas”). São com estes últimos que a atual representação mais geral do Daoismo tem raízes. Em parte como uma reação ao que foi chamado de neoconfucionismo da dinastia 宋 Sòng (960-1279), movimento que hibridizou o pensamento confuciano com técnicas profiláticas e meditativas do Daoismo e Budismo, houve uma revanche dos letrados oficiais. Chéng (2008, p. 642-665) explica que, desde então, a classe dos eruditos oficiais dos 清 Qīng (1644-1912) tentou rejeitar toda contribuição não confuciana, ou seja, de origem daoista, budista ou influências externas recém-chegadas como o cristianismo europeu; o erudito 颜元 Yán Yuán (1635-1704) chegou mesmo a considerar estas tradições como nocivas para toda a vida social.
Em partes fundamentados pelos relatos e escritos de confucianos mais rígidos dos períodos imperiais, vários missionários cristãos europeus e norte-americanos que chegaram na China a partir do século XVI (como M. Ricci), mas, sobretudo, no século XIX, apresentaram classificações entre o que consideraram “nobre/verdadeiro”, e o que consideraram “inaceitável/falso” no Daoismo. Essas noções foram exportadas à Europa e EUA. O principal alvo de um estranhamento inicial, que se tornou discriminação sistemática, era o aspecto mais mágico, mediúnico e exorcista. Tais elementos do Daoismo praticado pelos sacerdotes e pelo povo foram entendidos como uma degradação da tradição de textos daoistas da Antiguidade chinesa, bem como eram vistos como simples “superstições”. Estes preconceitos são observados nos primeiros autores que abordaram o Daoismo academicamente em línguas latinas desde o século XIX, como J. Legge e J.J.M. de Groot (cf. Clarke, 2000, p. 37-62).
Da mesma forma, tais visões continuam atualmente através de várias opiniões populares, como as observadas por Siegler (2010). Este autor percebeu, entre o que chamou de daoistas estadunidenses (American Daoists), a associação de um “Daoismo filosófico” a algo “puro”, e um “Daoismo religioso” a algo “supersticioso”. Notem como a divisão é pautada por preconceitos culturais com raízes em uma diferença colonial (Mignolo, 2013). Essa diferenciação foi reforçada de forma mais explícita, pelo sinólogo H. Creel em 1956, existindo antes de forma subentendida em diversos textos, tanto de fontes chineses como não chinesas (Clarke, 2000, p. 18).
Importante informar que essa categorização orientalista é, até hoje, muito difundida e aceita com naturalidade, tendo dois aspectos: rejeição – em parte ou total – do Daoismo como algo supersticioso e decadente; e, em outro sentido, nota-se um paradoxo gerado pelos missionários cristãos, como James Legge ou Thomas Merton, que divulgaram o Daoismo como não religioso, ou, pelo menos, sua “essência” como filosófica, no entanto, um dos resultados foi que as culturas da Europa e da América começaram a ver o Daoismo como uma alternativa espiritual/religiosa às suas civilizações (Clarke, 2000).
Duas consequências se relacionam aos dois aspectos mencionados. (1) Devida a essa visão pejorativa, o Daoismo recebeu pouquíssima atenção em estudos acadêmicos, seja em geral, seja especificamente na Ciência das Religiões (Religionswissenschaft). (2) Houve um florescimento de uma perspectiva romantizada, purista, idealizada, textual, e, por isso, orientalista, do Daoismo em ambientes contraculturais europeus e norte americanos. Assim, o Daoismo foi lido nessas regiões do mundo nas lentes de grupos e pensadores esotéricos como a Sociedade Teosófica, R. Guénon e C.G. Jung, sobretudo na chave de leitura de que era uma filosofia perene, uma essência universal e atemporal. Também foi marcado por uma visão protestante cristã, de valorização do individualismo e suposta liberdade dos textos antigos daoistas. Mais tarde, as mesmas visões foram usadas por autores conectados de alguma maneira ao movimento Nova Era (Kirkland, 1997; Clarke, 2000).
O nascimento dos Estudos Acadêmicos em Daoismo a partir do século XX
Toda uma geração de acadêmicos do século XX e XXI, começando na própria China, no Japão, na França e Alemanha, começaram a questionar todas essas representações pejorativas do Daoismo. A busca por compreensões mais profundas, históricas e empíricas fez surgir o moderno campo dos Estudos em Daoismo (cf. Kirkland, Barrett, Kohn, 2000; Barrett, 2005, 2014; Pregadio, 2008; Komjathy, 2008; e Kohn, 2009). Como este não é o objeto específico deste texto, mas apenas um meio de mostrar a quem está lendo como essa nova visão foi construída, será apenas indicado resumidamente os principais nomes, acontecimentos e inovações.
Durante a primeira República chinesa (1911-1949), numa onda de orgulho cultural nacionalista, foi reeditado o Cânon daoista (道藏 Dàozàng). Esse é considerado um marco para o novo olhar que foi posto sobre essa tradição. Dois tipos de abordagens sobre Daoismo são notadas neste primeiro impulso: (1) A maioria, que o viam como uma tradição distorcida, fruto de um entendimento confuciano e vitoriano (ou seja, protestante cristão e imperialista) do Daoismo, e que ignoravam as fontes daoistas escritas; e (2) outros como陳國符 Chén Guófú, na China, Henri Maspero, na França, e Yoshioka Yoshitoyo, no Japão, que aceitaram a importância histórica do Dàozàng como fonte documental.
Por algumas décadas, até os anos 1970, o Japão e a França eram os únicos países que tinham centros de pesquisa em Daoismo e um número significativo de especialistas. Na China pouco foi escrito, pois apesar de ter estudos modernos sobre religiões que remontam também ao século XIX – e, desde a era imperial já havia estudos germinais – sofria às guerras dos séculos XIX e XX, e, sobretudo, pela perseguição às religiões durante a Revolução Cultural (1966-1976), consequentemente, aos seus estudiosos. Assim, só voltaria a ter estudos acadêmicos nessa temática na abertura política de 1978, quando abriu institutos e programas de pós-graduação. Depois dos primeiros escritos de Chén, em 1949, a continuidade de produções se deu mais em Taiwan e Hongkong, e desde os anos 1980 tem florescido estudos, inclusive sobre Daoismo (He, 2011; Yang, Lang, 2011). Isso ocorre também devido a retomada dessa religião na China e Taiwan, que após anos de discriminações estatais, volta a ter sua existência permitida e até incentivada, tendo, pela primeira vez na sua história, associações nacionais unificadas (Wang, 2005)
Houve algumas gerações de especialistas em Daoismo nestes centros, destacando o nome de Ōfuchi Ninji no Japão e Maxime Kaltenmark na França. Durante a época desses autores, as fontes de estudo do Daoismo foram predominantemente textuais e arqueológicas. Os estudantes formados por Kaltenmark nos anos 1960 e 1970 foram proeminentes e fortaleceram o campo de estudo: Anna Seidel, Michel Strickmann, Isabelle Robinet, Catherine Despeux, Farzeen Baldrian-Hussein, e seu sucessor, Kristofer Schipper (Kohn, 2009, p. 219). Este último foi importante não somente nos estudos do Cânon (cf. Schipper, 2004), mas também na pesquisa empírica de tradições vivas do Daoismo, estudadas, sobretudo, em Taiwan, devida a maior liberdade política deste país (cf. Schipper, 1993).
Em culturas de língua inglesa, Edward Schafer (Universidade da Califórnia) é considerado o pai dos estudos daoistas estadunidenses e formou estudantes proeminentes, como Livia Kohn, hoje um dos maiores nomes da temática. E há muitos destacáveis pelos seus estudos: na Inglaterra, Timothy Barrett, sobre a relação entre Daoismo e Budismo na China e com o Shintoísmo no Japão; nos EUA, Stephen Little se destacou pelo estudo das artes daoistas, Michael Saso, sobre o fundador dos Mestres Celestiais, um dos primeiros movimentos daoistas, Russell Kirkland pela releitura da crítica descolonial sobre a tradição daoista, J. Clarke, E. Siegler, e Komjathy sobre a recepção estadunidense ao Daoismo; no Canadá, James Miller chamou atenção pelo estudo da relação entre ecologia e Daoismo. Também em toda Europa e Ásia começaram a ter centros de estudo, obras e estudiosos importantes, como o italiano Fabrizio Pregadio, especialista sobre alquimia daoista, a taiwanesa Susan Huang, especialista em arte visual daoista, e o chinês Yin Zhihua, especialista em turismo em espaços daoistas.
Há algumas observações sobre o recente campo dos Estudos em Daoismo. Assim como a própria religião daoista tem elementos que valorizam e destacam mulheres, o seu campo de estudos acadêmicos também tem muitas, e se destacando pela qualidade. O crescimento do final do XX desse campo de estudos feito por estudiosos não asiáticos teve diferentes interpretações, mas preserva convergências: (1) rejeição de construções orientalistas para o entender o Daoismo; (2) reconhecimento da “chinesidade” dessa tradição, ou conexão histórica com a China por parte do Daoismo, (3) privilegiam os dados fatuais do próprio Daoismo ao invés de opiniões, e (4) conhecem a importância das formas vivas do Daoismo atuais (Kirkland, Barrett e Kohn, 2000, p. xiv).
Discussões conceituais e conclusão: pra descolonizar os estudos sobre Daoismo
Em relação ao impacto das críticas aos primeiros estudos e novas direções da pesquisa científica sobre o Daoismo, uma das construções orientalistas mais impactantes na forma atual de ver o Daoismo é a divisão entre tipos dessa tradição, em especial, como filosófico e religioso (Clarke, 2000). Essa diferenciação é chamada de “dogma sinológico” por Schipper (2004, p. 6), que nos lembra que o próprio Dàozàng trata 道家 Dàojiā e 道教 Dàojiào – traduzidos muitas vezes como “Daoismo filosófico” e “Daoísmo religioso” – como sinônimos e intercambiáveis.
Sinedino (2016) também discute o que chama de uma “dicotomia consagrada” entre dois tipos de Daoismo, mas opta pela tradução de “道家 Dàojiā” como Daoismo “dos mestres”. Tal tradução está mais alinhada a valorização da linhagem e da escola/família de pensamento, tal como ocorreu na história antiga chinesa - e não como “filosófico”, como é normalmente traduzido em línguas neolatinas. E, mesmo utilizando dessa distinção, faz a crítica de que a existência de tal “dicotomia consagrada” seria: (1) uma simplificação dos intelectuais chineses; e (2) uma distinção “arbitrária em parte, refletindo um juízo de valor arraigado na história das ideias chinesas”, herança da desconfiança política para com tradições religiosas pelo sistema imperial de tendência confuciana, que as via como concorrentes da “doutrinação” (jiào教) da população (Sinedino, 2016, p. xxiv).
Porém, ao contrário da visão dualista do dogma sinológico ou dicotomia consagrada, o Daoismo não é visto pela literatura recente especializada nessa tradição como uma filosofia, mas, principalmente, como uma religião ou tradição que engloba várias dimensões. A diferenciação entre um suposto Daoismo filosófico em oposição a um Daoismo religioso constitui-se como uma classificação inadequada e baseada em preconceitos de outros grupos sociais, como confucianos e cristãos (cf. Kirkland, 1997; Clarke, 2000; Schipper, 2004).
Buscando repensar tais dicotomias equivocadas, há o termo Daoismo histórico, enfatizando as expressões histórico-empíricas dessa tradição, ao contrário de uma noção vaga de Daoismo apenas como uma filosofia antiga chinesa. Isso, claro, não exclui o fato de o Daoismo ter sua forma de pensamento (“filosofia”), e ter seus aspectos devocionais e metaempíricos (“religiosos”), somado a muitas outras facetas (artes, lutas, profilaxias etc.). Assim, para se referir ao pensamento criado por essa tradição, é mais adequado falar de filosofia daoista ou filosofia do Daoismo. Isso indica que se trata de expressões de uma tradição maior.
Um dos argumentos centrais em prol dessa nova visão foi escrito por Robinet (1997), que defende o Daoismo como um complexo de tradições cumulativas de fontes heterogêneas sintetizadas num todo coerente. E, desde sua institucionalização no século II até hoje, esse todo coerente tem abarcado cada vez mais elementos. Isso significa que as tradições daoistas integram vários ensinamentos, práticas e culturas materiais que foram desenvolvendo ou pegando emprestado. Desenvolver uma visão mais ampla e histórica dessa tradição é muito importante para superar visões limitantes e descontextualizadas. Assim, novas possibilidades de pesquisas empíricas e documentais sobre os vários Daoismos são favorecidas.
Referências
Matheus Oliva da Costa é cientista das religiões com Licenciatura Plena pela UNIMONTES, mestre e doutorando em Ciência da Religião pela PUC-SP. Bolsista da Capes.
Email: matheusskt@hotmail.com.
BARRETT, Timothy H. Introduction. In: MASPERO, Henri. Taoism and Chinese religion (revised edition). Translate by Frank A. Kierman Jr. Australia, Melbourne: Quirin Press, 2014, pp. xiii-xxxi.
________. Daoism: History of the Study. In: JONES, Lindsay (ed.). Encyclopedia of Religion, 2nd ed. [ebook]. New York, USA: MacMillan Reference, 2005, pp. 2212-2216.
CHENG, Anne. História do pensamento chinês. Tradução Gentil Evelino Titton. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
CLARK, J. J. The Tao of the West: Western transformations of Taoist thought. New York: Routledge, 2000.
COSTA, Matheus Oliva da. Daoismo Tropical: Transplantação do Daoismo ao Brasil através da Sociedade Taoísta do Brasil e da Sociedade Taoísta SP. Mestrado em Ciência da Religião, PUC-SP: São Paulo, 2015.
HANEGRAAFF, Wouter. Defining Religion in Spite of History. In: PLATVOET, J.G. and MOLENDIJK A.L. (eds). The Pragmatics of Defining Religion: Contexts, Concepts & Contests. Leiden: E.J. Brill, 1999, pp. 337-378.
HE, Guang’hu. Thirty Years of Religious Studies in China. YANG, Fenggang; LANG, Graeme (Ed.). Social scientific studies of religion in China: methodology, theories, and findings. Leiden: Brill, 2011, pp. 23-46.
KIRKLAND, Russell. The Taoism of the Western Imagination and the Taoism of China: De-colonializing the Exotic Teachings of the East. Apresentado na Universidade de Tennessee (não publicado), 1997.
KIRKLAND, Russell; BARRETT, T.H.; KOHN, Livia. Introduction. In: KOHN, Livia (ed). Daoism Handbook. Leiden: E. Brill. 2000, pp. xi-xxxviii.
KING, Richard. Orientalism and Religion: Postcolonial Theory, India and the Mystic East. London: Routledge ,1999.
KOHN, Livia. Introducing Daoism. New York: Routledge, 2009.
KOMJATHY, Louis. Introduction. In: KOMJATHY, Louis. Handbooks for Daoist Practice. Hong Kong: Yuen Yuen Institute, 2008, pp. 1-116.
MARTÍNEZ-ROBLES, David. The Western Representation of Modern China: Orientalism, Culturalism and Historiographical Criticism. Digithum, v. 10, 2008, p. 7-16.
MIGNOLO, Walter. Entrevista: Decolonialidade como o caminho para a cooperação. Revista IHU Online, São Leopoldo - RS, ed. 431, ano XIII, 04 nov. 2013, pp. 21-25.
POCESKI, Mario. Introdução às religiões chinesas. Tradução Márcia Epstein. São Paulo: Editora Unesp, 2013.
PREGADIO, Fabrizio. Appendix: Reference Works for Taoist Studies. In: PREGADIO, Fabrizio (ed). The Encyclopedia of Taoism, vol. 2. London and New York: Routledge, 2008, pp. 1311-1331
ROBINET, Isabelle. Taoism: growth of a religion. Translate by Phyllis Brooks. Stanford: Stanford University Press, 1997.
SAID, Edward W. O orientalismo: o oriente como invenção do ocidente. Tradução Tomás Rosa Bueno. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
SCHIPPER, Kristofer. General Introduction. In SCHIPPER, Kristofer e VERELLEN, Franciscus (eds.). The Taoist Canon: a historical companion to the Daozang, vol. 1. Chicago: The University of Chicago Press, 2004, pp. 1-52.
________. The Taoist Body. Translate by Karen C. Duval. Berkeley: University of California Press, 1993.
SIEGLER, Elijah. Back to the Pristine: Identity Formation and Legitimation in Contemporary American Daoism. Nova Religio: The Journal of Alternative and Emergent Religions, v. 14, n. 1, 2010, pp. 45-66.
SMITH, Jonathan Z. Religion, Religions, Religious. In: TAYLOR, Mark (ed.). Critical Terms for Religious Studies. Chicago: University of Chicago Press, 1998, pp. 269-284.
SINEDINO, Giorgio. Introdução: Laozi e a história das ideias na China. In: LAOZI. Dao De Jing: Escritura do Caminho e Escritura da Virtude com os comentários do Senhor às Margens do Rio. Tradução, notas, variantes e seleção de textos por Giorgio Sinedino. São Paulo: Editora Unesp, 2016, pp. XXI-XLVIII.
YANG, Feng’gang; LANG, Graeme. Introduction: The Rising Social Scientific Study of Religion in China. In: YANG, Fenggang; LANG, Graeme (Ed.). Social scientific studies of religion in China: methodology, theories, and findings. Leiden: Brill, 2011, pp. 1-20.
WANG, Yi’e. Taoism in China. Traslate by Shao Da. Beijing: China Intercontinental Press, 2005.
Texto muito bom. Parabéns.
ResponderExcluirGostaria de saber se Daoísmo e Taoísmo são de mesma definição. Podemos dizer que o Daoísmo vem ganhando espaço no mundo Ocidental devido a globalização e a crescente emigração de chineses pelo mundo? O que fascina o Ocidente a conhecer e estudar essa religião/filosofia?
Patricia Iris da Silva Peres
RESPOSTA:
ExcluirCara Patricia Iris da Silva Peres,
Obrigado pelas perguntas.
1. Os termos “Daoismo” e “Taoismo” são sinônimos, e não há um certo ou outro errado. Mas considero o termo Daoismo como mais adequado academicamente, por um lado, e mais respeitoso da língua chinesa, por outro lado, já que está mais próximo da fonética escrita transliterada da língua chinesa (hàn 汉);
2. Sim, a globalização e a emigração de chineses são pontos muito relevantes para entender a atual expansão mundial do Daoismo. Acrescento que a globalização ajuda muito a divulgar essa religião, mas nem sempre como uma religião. Muitas vezes é apresentada somente partes dessa tradição (como livros, exercícios corporais e medicina chinesa) como se somente isso resumisse todo o Daoismo, bem como há o aspecto da localidade ou recepção desses elementos daoistas globalizados, que dependem de muitas variáveis culturais regionais. Sobre a emigração ou diáspora chinesa, é importante ressaltar a agência de chinesas(es) na divulgação e transmissão dessa tradição pelo mundo: no Brasil, por exemplo, antes de taiwaneses iniciados (Liu Bailing e Wu Zhicheng) começarem a ensinar Daoismo a partir da década de 1970, somente poderiam ser encontradas práticas corporais isoladas e medicinas asiáticas com alguns aspectos daoistas e alguns livros, normalmente traduzidos de línguas europeias. Sobre essas questões, ver:
COSTA, Matheus Oliva da. Daoismo e Migração: imigração taiwanesa como início do Daoismo no Brasil. Travessia - Revista do Migrante (São Paulo), n. 77, 2015, pp. 67-80.
MURRAY, Daniel. Daoism in Brazil: The globalization of the Orthodox Unity (Zhengyi) tradition. An essay submitted to the Department of Religious Studies in conformity with the requirements for the degree of Master of Arts. Queen’s University: Kingston, Ontario, Canada, 2010.
3. Particularmente, há alguns anos não trabalho com a noção de “ocidente” ou “oriente”, e acho que estes termos mais atrapalham do que ajudam. Acredito que não é possível falar de forma tão abrangente de culturas e territórios como se fossem blocos unificados. Então vou responder a partir do que acredito ser possível: o que fascina brasileiros(as) a conhecer e estudar o Daoismo? Quanto a estudar, infelizmente devo dizer que brasileiros(as) pouco se interessam academicamente por essa tradição, e, quando interessam, é muito mais por livros antigos (Daodejing ou Zhuangzi) que são historicamente associados e serviram parcialmente de base para a formação dessa religião, mas que são normalmente bem vistos no Brasil quase somente como expressão de pensamento/filosofia – o que considero extremamente limitante do ponto de vista histórico-empírico dessa tradição e mesmo exatamente no que concerne as várias expressões derivadas destes livros. Além desse seleto público que se interessa por aspectos filosóficos dos dois livros indicados, há os simpatizantes do Daoismo ou de alguma parte dessa tradição, e os que se tornam daoistas enquanto praticantes iniciados ou que se sentem pertencentes a essa religião. Sobre estes que se veem como daoistas, o que percebo que os fascina é que o Daoismo apresenta uma alternativa espiritual/religiosa à tradição majoritária brasileira (Catolicismo) que os agrada e sensibiliza, seja por todo o escopo de práticas corporais, mágicas, oraculares e medicinais que os atraiu, seja pela visão moral mais leve e flexível para viver, ou mesmo por questões práticas, como ter se tornado a religião do marido/esposa, parente ou amigo, e não há problemas em acompanhar a pessoa querida em questão.
Como você interpreta a contribuição de Chen Guofu陳國符 para o estudo do cânone daoísta da dinastia Ming em seu Daozang yuanliu kao道藏源流攷? A tarefa de desenvolver "uma visão mais ampla e histórica" certamente precisa levar em consideração a pesquisa de documentos em chinês, inclusive aqueles que não estão no Zhengtong Daozang. Como você vê a importância da pesquisa de documentos daoístas fora do cânone?
ResponderExcluirO Daoísmo em questão se torna desta forma uma grande abrangência de singularidades? (muito bom texto, parabéns)
ResponderExcluirBárbara Rauen Candido Freitas
Cara Bárbara Rauen Candido Freitas,
ExcluirObrigado pela pergunta. Como disse no texto, sigo a ideia de que o Daoismo é um “todo coerente” (Robinet, 1997). Quando dizemos isso, buscamos explicar que uma complexa variedade de expressões (escritas, orais, rituais, mágicas, corporais, de visões de mundo, etc.) foram e são integradas pelas tradições daoistas. Nesse sentido, sim, concordo que o Daoismo seja uma “grande abrangência de singularidades” (diga-se de passagem, uma forma muito bonita e poética de expressar o tema), mas reforço o caráter integrador dessa abrangência. Na minha pesquisa (Costa, 2015), por exemplo, observei os daoistas da Sociedade Taoista do Brasil lidando com elementos provenientes de culturas brasileiras (desde uso de imagens de santa católica, passando por time de futebol, até uso de velas de loja de Umbanda) de maneira que os reestruturaram e ressignificaram tais elementos dentro da lógica da prática e visão de mundo daoista da tradição chinesa que seguem (a tradição Ortodoxa Unitária, Zheng yi 正一).
Que livros você recomendaria para quem deseja ter um melhor conhecimento do Daoísmo do ponto de vista teórico mas também no que se refere a sua história?
ResponderExcluirAs. Rodrigo Conçole Lage
Caro Rodrigo Conçole Lage,
ExcluirObrigado pela pergunta. A resposta depende muito das línguas que você lê. Pensando estritamente em língua portuguesa, espanhola e inglesa (a partir dos dados fornecidos no seu Lattes), segue uma pequena lista de livros e obras acadêmicas afins para começar um estudo, sabendo que há muito mais textos gerais e de temáticas específicas sobre o Daoismo. Faço um pequeno comentário entre parêntese sobre a principal qualidade da obra. Caso interesse, tenho alguns digitalizados, é só pedir no meu email.
BOKENKAMP, Stephen R. DAOISM: an overview. In JONES, Lindsay (ed.). Encyclopedia of Religion 2nd ed. [ebook]. New York, USA: MacMillan Reference, 2005, pp. 2176-2192. (verbete longo dessa enciclopédia que apresenta um panorama histórico do Daoismo de forma sabiamente sintética);
COSTA, Matheus Oliva da. Daoismo Tropical: Transplantação do Daoismo ao Brasil através da Sociedade Taoísta do Brasil e da Sociedade Taoísta SP. Mestrado em Ciência da Religião, PUC-SP: São Paulo, 2015. (disponível online, o primeiro capítulo faz uma problematização, conceituação e resumo histórico do Daoismo a partir de vários autores);
KOHN, Livia. Introducing Daoism. New York: Routledge, 2009. (livro bastante objetivo que apresenta a construção histórica do Daoismo em momentos a partir de blocos temáticos);
KOMJATHY, Louis. Daoism: A Guide for the Perplexed. New York: Bloomsbury Academic, 2014. (outro importante livro panorâmico sobre a história do Daoismo, do ponto de vista crítico e acadêmico, mas considerando que o autor é também um sacerdote que tem conhecimentos profundos do ponto de vista interno da tradição);
MILLER, James. Daoism: A Beginner’s Guide. Oxford: Oneworld, 2008. (recomendo ler a divisão em 4 momentos históricos dos Daoismo, no início do livro)
POCESKI, Mario. Introdução às religiões chinesas. Tradução Márcia Epstein. São Paulo: Editora Unesp, 2013. (especialmente os capítulos 3, 4 e 7, sendo um bom panorama para depois se aprofundar no que desejar);
SCHIPPER, Kristofer. El cuerpo taoísta. Traducción de Joaquín Pérez Arroyo. Barcelona: Paidós, 2003. (original em francês, é um livro fruto de uma extensa pesquisa documental somada a pesquisa de campo com daoistas no final do século XX);
SCHIPPER, Kristofer e VERELLEN, Franciscus (eds.). The Taoist Canon: a historical companion to the Daozang, vol. 1 e 2. Chicago: The University of Chicago Press, 2004. (para conhecer fontes e breves contextualizações sobre elas);
ROBINET, Isabelle. Taoism: growth of a religion. Translate by Phyllis Brooks. Stanford: Stanford University Press, 1997. (original em francês, é uma das obras mais completas e ao mesmo tempo sintéticas da história do Daoismo até o século XIV da era Cristã);
Olá Matheus, seu artigo é muito interessante e esclarecedor!
ResponderExcluirA retomada de elementos do Taoismo pelas práticas novaeristas, bem como, a Sociedade Teosófica, que na verdade busca em muitos momentos trazer uma filosofia e prática espiritual que se oponha à episteme ocidental, não deixou de fazer uma espécie de adaptação. E nesse processo, o que se perdeu dessa religião? Suas simbologias, como o yin-yang ☯ principalmente, têm sido amplamente utilizados e ressignificados popularmente, então podemos dizer que também houve uma desfiguração de suas simbologias e crenças? Seria uma prática também interessada sobretudo por questões de mercado?
Cara Pepita Afiune,
ExcluirObrigado pelas perguntas.
1. Durante o processo em que o Esoterismo europeu e sua continuidade, o que chamamos de Nova Era, começou a buscar e divulgar elementos do Daoismo para um público europeu e americano (de norte à sul), algo que no meu ver ainda ocorre com frequência, realmente muito dessa tradição foi selecionado. Poderíamos falar de uma “afinidade eletiva”, em termos weberianos, que motivou a relação de pessoas participantes de meios esotéricos e novaeristas com o (que pensam ser o) Daoismo. Por exemplo, as fontes de contato foram e continuam sendo basicamente textuais, com poucas exceções: lembro somente de pessoas ligadas ao Palas Athena em São Paulo, que também praticam meditação, para além da leitura de textos daoistas. Por outro lado, é importante lembrar, como mostrei em minha pesquisa (Costa, 2015), que são atores sociais esotéricos e novaeristas que muito ajudaram e continuam ajudando na divulgação mais abrangente de aspectos do Daoismo, ainda que muitas vezes de forma avulsa e descontextualizada. Ver, também, o seguinte texto, no que concerne a recepções anglofonas:
IRWIN, Lee. Daoist Alchemy in the West: The Esoteric Paradigms. Journal Esoterica, Vol. VI, 2004, pp. 31-51. Disponível em http://www.esoteric.msu.edu/VolumeVI/Dao.htm. Acessado em 16/6/2014.
2. Sobre a possibilidade de ter ocorrido “uma desfiguração de suas simbologias e crenças” no processo de popularização de elementos daoistas, como alguns dos seus símbolos, a resposta depende de quem estamos falando. Culturas são feitas por pessoas (atores sociais, como gosto de pensar). O Daoismo, enquanto “entidade”, existe apenas como abstração teórica ou na mente de alguns povos. As várias tradições daoistas estão continuamente em processo de transformação, e posso dizer que lideranças daoistas fora da China tem aproveitado essa popularização de elementos da sua religião prévios a sua presença física para a própria divulgação do Daoismo da forma como pensam ser o “certo”. No caso da Sociedade Taoista do Brasil, o começo de sua divulgação (e que tem fortes ressonâncias até hoje) foi focado na divulgação do que chamaram de “artes daoistas”, sendo que muitas delas já existiam de alguma forma no Brasil, como consulta ao Yijing 易经 (I Ching), Taijiquan 太极拳 (Taichi ch’uan) ou acupuntura. Outro grupo, Liu Bailing (Liu Pai Lin) e seus discípulos, aproveitaram que brasileiros já tinham contato com o Daodejing (Tao te ching) e Yijing para ensinar sobre estes livros, mas com a leitura do que foi colocado como um mestre da tradição (cf. os vários textos do José Bizerril). Já o casal de monges brasileiros Tian Xinshan e Tian Xinjie também ensinam práticas corporais e leitura de textos, adicionando práticas de cura, trajes sacerdotais e altares. Aproveitando esse “capital simbólico” prévio, mesmo que tenha sido divulgado e/ou recebido de forma bastante descontextualizada, ambos os grupos começaram desde o final do século XX a ter seguidores, muitas vezes iniciados que tratam o Daoismo como sua opção espiritual/religiosa.
3. Sobre ser “prática também interessada sobretudo por questões de mercado”, a questão merece uma maior discussão. Resumidamente, observo o Daoismo tendo uma lógica própria pouco mercadológica, apesar de, por motivos sociologicamente explicáveis, seus praticantes serem de classes econômicas médias e suas atividades razoavelmente caras para camadas mais pobres. Por outra visão, é possível notar certo modismo por partes de vários atores sociais não-daoistas que utilizam de elementos daoistas como forma de atrair consumidores, como marcas de roupa que usam o taiji tu (☯). Para mais informações sobre explicações econômicas para religiões, indico essa leitura:
USARSKI, Frank. A mercantilização do Dharma como desafio para a pesquisa sobre o Budismo no Brasil – reflexões sistemáticas. Em: Religião e Consumo: relação e discernimento. VILHENA, Maria Angela e PASSOS, João Décio (orgs). São Paulo: Paulinas, 2012, pp. 165-183.
Matheus, muito obrigada pela resposta!! Vou ler esses textos que você indicou! Me interessa bastante! Abraços
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAcho que você não viu minha pergunta, já que foi a única que ficou sem resposta. Vou perguntar de novo. Como você interpreta a contribuição de Chen Guofu陳國符 para o estudo do cânone daoísta da dinastia Ming em seu Daozang yuanliu kao道藏源流攷? A tarefa de desenvolver "uma visão mais ampla e histórica" certamente precisa levar em consideração a pesquisa de documentos em chinês, inclusive aqueles que não estão no Zhengtong Daozang. Como você vê a importância da pesquisa de documentos daoístas fora do cânone?
ResponderExcluirParabéns pelo seu trabalho e um tema muito interessante. Mas por que muitas as vezes o professor não abordar em sala de esse tema ? Posso abordar esse tema em sala de aula? Que livros você recomendaria para ser trabalhados para os alunos?
ResponderExcluirMatheus, boa tarde!
ResponderExcluirPodes explicar um pouco mais sobre essa diferença entre Daoismo filosófico e religioso? Quais produções acadêmicas você recomendaria para um contato inicial do tema?
Att,
Dionson Ferreira Canova Júnior
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQuais livros você indica para boa abordagem do Daoísmo histórico?
ResponderExcluirQuais livros você indica para boa abordagem do Daoísmo histórico?
ResponderExcluirDouglas Augusto da Silva
Quais livros você indica para boa abordagem do Daoísmo histórico?
ResponderExcluirDouglas Augusto da Silva