Jana S. Rošker

FILOSOFIA CHINESA - FATO OU FICÇÃO?
Jana S. Rošker

A filosofia chinesa representa um enigma para a maioria dos intelectuais ocidentais. A principal dificuldade é a incapacidade de responder à questão fundamental do que deve ser considerada como uma filosofia. Este dilema, que será descrito mais detalhadamente abaixo, poderia ser evitado usando outro termo, referindo-se ao pensamento tradicional chinês, por exemplo, mas o significado e as conotações tornam-se muito amplas. Tal termo guarda-chuva poderia referir-se ao conteúdo literário, sociológico, médico, espiritual e mesmo artístico de toda a herança intelectual chinesa.

Mas por que o termo ‘filosofia chinesa’ é tão problemático em primeiro lugar? Quando os sinólogos se referem à filosofia chinesa, eles invariavelmente enfrentam a adequação do termo. Nos casos mais simples, os sinólogos se inclinam pela necessidade de explicar as características específicas do pensamento tradicional chinês - por exemplo, suas raízes epistemológicas e sua metodologia - aos filósofos formados no pensamento ocidental e colegas de outras disciplinas das humanidades. A questão interdisciplinar da definição é pré-condicionada pela aparente necessidade de esclarecer certos conceitos e categorias que constituem a raiz de todas as tradições do Leste Asiático.

Em geral, os estudiosos formados na filosofia ocidental têm acesso limitado ao conhecimento das teorias gerais e dos aspectos filosóficos originais do pensamento chinês. Muitas características do discurso chinês clássico atingem a maioria deles de maneira obscura e não-sistemática e, portanto, ressentem-se de confiabilidade teórica. Devido a essa consideração, devemos primeiro responder a questão básica - se é possível colocar os principais discursos do pensamento tradicional chinês na categoria geral de filosofia. Esta questão parece mais crucial do que nunca, pois os esforços para obter uma compreensão transcultural da realidade tornaram-se essenciais em nosso mundo interligado e globalizado. Parece claro que, qualquer tentativa de obter uma visão de outros modos de compreensão sem considerar sua perspectiva filosófica, seria arrogante e ingênua.

Em seu artigo intitulado “Não há necessidade de Zhongguo zhexue ser Filosofia”, Ouyang Min argumenta, como outros estudiosos têm feito, de que a filosofia é uma prática cultural ocidental e, portanto, não pode ser aplicada ao pensamento tradicional chinês, exceto em um sentido analógico ou metafórico. Assim, ele propõe a substituição do termo ‘filosofia chinesa’ por Sinosofia (Ouyang 2012: 199). No entanto, o significado original da palavra, um composto das antigas palavras gregas para China e sabedoria, nada mais é que a tradução de uma expressão Ocidental em grego antigo para ‘sabedoria chinesa’. Mas as tradições filosóficas e abstratas do pensamento chinês vão muito além de um discurso sobre sabedoria e, portanto, não podem ser reduzidas a isso.

Não é nossa intenção reinterpretar a tradição chinesa no contexto dos conceitos ocidentais, porque a filosofia, como disciplina acadêmica, surgiu da necessidade humana essencial de filosofar sobre a realidade. Essa necessidade - ou característica do pensamento e sentimento humanos - é universal, semelhante, por exemplo, à habilidade humana de gerar linguagem. Embora a capacidade ou o potencial de criar linguagem - e, portanto, a comunicação lingüística - seja universal, cada linguagem é individual, e as estruturas gramaticais pelas quais são definidas são culturalmente condicionadas. Assim, a expressão ‘filosofia chinesa’ não se refere a uma dimensão geográfica deste termo universal, mas sim é uma expressão da condicionalidade cultural que define uma certa forma de filosofar, ou um certo sistema de pensamento filosófico, com uma estrutura paradigmática típica. Como Carine Defoort explica (2001: 394), estamos perfeitamente acostumados a usar os termos filosofia continental ou anglo-saxônica para denotar diferentes tipos ou gêneros dentro da tradição filosófica. O problema com o termo filosofia chinesa é mais fundamental.

O argumento mais simples e mais comum contra a noção de "filosofia chinesa" baseia-se no pressuposto de que a filosofia como tal designa um sistema de pensamento, que surgiu exclusivamente dentro da chamada tradição européia. Neste contexto, a filosofia é definida como uma disciplina teórica baseada nas premissas e métodos específicos e únicos das humanidades ocidentais. De acordo com essa suposição, qualquer sistema de pensamento emergente de uma tradição diferente é, por definição, irracional ou pelo menos não científico. Logo, uma vez que tais sistemas de pensamento não podem ser vistos como uma disciplina verdadeiramente acadêmica, e, por definição, não podem conter teorias acadêmicas abstratas, também não podem ser consideradas como filosofia. Jacques Derrida visitou a China em 2001 e expressou a ideia de que, embora não exista uma dificuldade particular em relação ao pensamento chinês, à história chinesa, à ciência chinesa, etc., há um problema referente à filosofia chinesa, a saber, pensamento e cultura chinesas que emergiram antes da introdução do modelo europeu. A filosofia, em essência, é mais do que apenas pensamento, argumentou. Está ligada a uma história específica, com um tipo de linguagem. Foi inventada na Grécia antiga e sofreu transformações através da tradução latina, e depois na tradução alemã e assim por diante. É, em outras palavras, essencialmente européia. Ele conclui que, embora possa haver vários tipos de pensamento e conhecimento de igual integridade além da cultura da Europa Ocidental, não é razoável se referir a eles como filosofia (ver Jing, Haifeng 2005: 60-61).

De acordo com a conclusão de Derrida, podemos dizer que a China possui escolas de pensamento, mas não filosofia no sentido estrito da palavra. Assim, várias formas de ideologia e discursos intelectuais de todas as civilizações do mundo podem ser consideradas como pensamento, mas apenas o pensamento ocidental é a filosofia. Assim, “a civilização chinesa, a civilização indiana e a civilização ocidental caracterizam ‘o pensamento’, por assim dizer, mas apenas o pensamento ocidental assumiu a forma de "filosofia" e, portanto, é chamada de "filosofia."” (Zhang, Zhiwei 2006: 40).

Dois séculos antes, Hegel explicou a questão em maiores detalhes. Ele também manteve a idéia de que a filosofia genuína se originou na Grécia antiga. Em sua opinião, o pensamento das "pessoas do Oriente" ainda estava permeado pela substância única holística. Por isso, as escolas de pensamento orientais não tinham senso de individualidade e, portanto, ainda não tinham alcançado a consciência espiritual e a autoconsciência. Em sua opinião, o que as pessoas geralmente chamam de filosofia chinesa não é filosofia de todos, mas uma espécie de pregação moral. De fato, Hegel disse sobre as obras de Confúcio que, dada a sua reputação, teria sido melhor que nunca tivessem sido totalmente traduzidas1”(Hegel, 1969: 142). Hegel pensou assim em Confúcio como um antigo mestre, que divulgou uma coleção de pensamentos sobre a moral sem criar uma filosofia real, implicando que sua obra não tinha dimensão transcendental. Essa (in)compreensão superficial dos textos chineses antigos continua a dominar a teoria ocidental, não apenas no que diz respeito a Confúcio, mas em termos do confucionismo em geral e, de fato, sobre o pensamento tradicional chinês.

Derrida, no entanto, não pretendia diminuir o valor do pensamento chinês. Ele também era crítico com a filosofia ocidental, que, a seu ver, era demasiado logocêntrica. Eventualmente, a conclusão importante que nós tiramos é que tanto Hegel como Derrida decidiram que a China não tinha filosofia própria. No entanto, ao considerar tais alegações, devemos estar conscientes de que se referem à aceitabilidade do conceito e ao próprio termo. Além disso, eles abrangem uma série de outras questões, tais como posição, avaliação, métodos de pesquisa e até mesmo a legitimidade e a competência de fazer essas perguntas. Essas questões continuam a perturbar os estudiosos chineses e sinólogos ocidentais que investigam a filosofia chinesa porque, como mencionado acima, as categorias filosóficas, os sistemas conceituais e as estruturas de conhecimento sobre as quais esses julgamentos se baseiam derivam das normas ocidentais. Em outras palavras, embora seja compreensível que os ocidentais olhem o pensamento chinês em termos de suas próprias normas e padrões, explicar e classificar as tradições intelectuais chinesas exclusivamente (ou mesmo predominantemente) de acordo com critérios ocidentais não é o melhor método para alcançar a compreensão filosófica intercultural.

Em termos metodológicos, o argumento segundo o qual a filosofia é uma questão exclusivamente européia é eurocêntrico por excelência. Seria necessário analisar essas questões através da lente da crítica pós-colonial sobre as abordagens orientalistas das heranças intelectuais e culturais.

“Em circunstâncias normais, dizer que a China não tem filosofia seria o mesmo que dizer que o Ocidente não tem confucionismo, taoísmo, ou nenhuma das quatro grandes invenções, e não seria motivo de alarme. O problema é que os caminhos da modernização e da globalização percorridos pelo mundo como um todo foram abertos pelo Ocidente, e os padrões de avaliação também foram estabelecidos pelo Ocidente. Contra tal quadro, dizer que a China não tem filosofia, em grande medida, é considerado como um insulto, pois sugere que a civilização da China antiga nunca alcançou níveis teóricos ou ideacionais relativamente altos, apesar do seu esplendor e magnitude. Confrontados com tal situação, dificilmente podemos afirmar com equanimidade que é apenas uma questão acadêmica. No entanto, a questão de saber se a China tem uma filosofia, em uma análise final, constitui uma questão de ideologia e, de modo algum, uma questão acadêmica. Portanto, devemos lidar com a questão por uma orientação acadêmica” (Zhang, Zhiwei 2006: 40).

A dimensão eurocêntrica do argumento contra a existência da filosofia chinesa é clara desde o início, especificamente quando consideramos a etimologia da palavra ‘filosofia’. Filosofia significa amor à sabedoria. Aqueles que tomam a posição eurocêntrica levam a sério que Sócrates, Platão e Aristóteles adoravam sabedoria mais do que Laozi, Zhuangzi ou Wang Shouren?

Em um nível mais complexo, a afirmação de que a palavra ‘filosofia’ na tradição européia significa um tipo especial de amor à sabedoria é verdadeira. Na tradição européia, refere-se ao tipo de sabedoria que trata de questões de metafísica, ontologia, fenomenologia, epistemologia e lógica. Nenhuma dessas disciplinas foi desenvolvida na China tradicional.2 Neste contexto, portanto, devemos considerar uma abordagem mais diferenciada, e convergir para a eventual conclusão de que o argumento eurocêntrico carece de fundamentos racionais: primeiro, porque a filosofia chinesa não é uma filosofia no sentido tradicional europeu, mas sim um discurso filosófico totalmente diferente, derivado de metodologia diferente e com diferentes preocupações teóricas; E segundo, porque o pensamento tradicional chinês também desenvolveu uma série de formas e ramos de indagação filosófica que se diferenciam dos que se desenvolveram nos discursos europeus clássicos.

Poder-se-ia argumentar que a filosofia europeia tradicional não é uma filosofia completa, pois não desenvolveu nenhuma das categorias e métodos filosóficos significativos que formam os principais paradigmas do discurso teórico tradicional chinês: por exemplo, o método do pensamento correlativo, categorias binárias, o paradigma da transcendência imanente e a visão do mundo único. Nós poderíamos fazer a alegação de que a filosofia ocidental é subdesenvolvida e carece de abordagens importantes para uma compreensão coerente da realidade, porque não desenvolveu disciplinas que correspondem a 玄學 [xuanxue3] e 名學 [mingxue4], ou para os ramos filosofia 窮理格物 [qiongli gewu5], 心性 [xinxing6], e 理氣 [Liqi7].

Se quisermos ser ainda mais provocadores, poderíamos inverter o argumento e alegar que o seu oposto é verdadeiro: o pensamento europeu não pode ser considerado uma verdadeira filosofia porque, se a filosofia é o amor da sabedoria, a filosofia como uma rígida disciplina científica, com um aparelho categórico e terminológico tecnicamente delimitado (precisamente o discurso que, na Europa e em todo o mundo, é considerado filosofia em um sentido essencial rigoroso) não pode ser considerado como filosofia. Na melhor das hipóteses, ele pode ser considerado philosophology, ou seja, ensinar, pesquisar e escrever sobre o amor à sabedoria.

Em seu famoso artigo “Existe algo tal como filosofia chinesa?", Carine Defoort assume uma posição que não está fundamentada em uma negação absoluta, nem em uma afirmação absoluta da questão. Neste contexto, a tradição dos mestres chineses 子 [zi] é comparável à tradição filosófica Ocidental mais ampla (não só a sua variante moderna) a um tal grau que “permite-nos” defini-la como ‘filosofia’. Seus discursos abrem questões de profunda preocupação humana, e provam suas ideias através de argumentos racionais (Defoort 2001: 403). A complexidade e a riqueza de ambos os sistemas conceituais, e as formas como os próprios sistemas são apoiados através da persuasão, aos apelos à autoridade, aos padrões de argumentos e integração estética fornecem, portanto, um forte argumento para considerar até mesmo o pensamento chinês mais antigo como uma filosofia. Diminuir a riqueza e a profundidade do pensamento chinês para uma versão fraca das concepções filosóficas ocidentais, ou mesmo descartá-las porque seus resultados são diferentes, torna-se uma perda nos métodos diante de possíveis novos pressupostos culturais, e uma perda de acesso aos conceitos, recursos e ideias criadas e desenvolvidas na tradição chinesa (Creller 2014: 196). Esses recursos poderiam ser úteis para muitos propósitos, por exemplo, resolver dificuldades filosóficas duradouras na tradição ocidental, ou simplesmente estimular a imaginação necessária para qualquer investigação filosófica genuína. Por outro lado, esta posição enfatiza o fato de que os temas e as formas de raciocínio chinesas são, às vezes, "tão fundamentalmente diferentes das suas contrapartes ocidentais, que oferecem uma oportunidade única de questionar, de maneira crítica e filosófica, a noção predominante da própria "filosofia" (Defoort 2001: 403).

Reconhecer a compreensão, análise e transmissão da realidade, baseada em contextos sociopolíticos diversamente estruturados como um postulado categórico e essencial oferece perspectivas de enriquecimento. Assim, ao invés de permanecermos dentro das restrições estritas dos padrões e problemas discursivos ocidentais, devemos tentar aproximar a tradição chinesa da perspectiva da linguagem e da escrita à qual ela pertence. Se seguirmos as leis inerentes aos seus conceitos específicos, percebemos uma imagem diferente, mais autóctone e menos "exótica" dessa tradição. Mas como podemos superar o abismo entre diferentes culturas, se já não possuímos um horizonte de expressão e imaginação geralmente válido e comumente compartilhado? Certamente, não tentando pensar como os chineses, no sentido de usar uma lógica diferente. Em vez disso, como proposto por Chad Hansen e Heiner Roetz, devemos nos esforçar para estabelecer uma metodologia de pesquisa intercultural de acordo com os princípios do chamado humanismo hermenêutico. O humanismo é a chave da filosofia chinesa: os seres humanos permanecem na vanguarda da filosofia chinesa, a sociedade humana ocupa sua atenção através dos tempos.

Durante séculos, a filosofia chinesa, semelhante a outras filosofias em todo o mundo, tem sido a força motriz para a criação de idéias e para formação do conhecimento que constitui e desenvolve a compreensão humana, atiça a curiosidade humana e inspira a criatividade humana. Portanto, a aceitação de que a teoria ocidental do conhecimento não constitui o único discurso epistemológico universalmente válido - algo que foi aceito pela maioria dos teóricos ocidentais há menos de um século - está gradualmente se tornando um fato geralmente reconhecido entre a maioria das culturas contemporâneas e comunidades intelectuais. Fica claro que a epistemologia ocidental representa apenas uma, das muitas formas diferentes de modelos sociais historicamente transmitidos, para a percepção e interpretação da realidade. Portanto, os polilogos entre diferentes formas de criatividade intelectual não são apenas possíveis, mas sensatos. Se considerarmos o valor e o significado de diferentes sistemas, dentro do quadro dos desenvolvimentos globais contemporâneos, devemos considerar o papel que as reinterpretações modernas e adequadas da filosofia clássica chinesa desempenharão neste processo vivo.

Referências
CRELLER, Aaron. 2014. Making Space for Knowing: A Capacious Alternative to Propositional Knowledge. Ph.D Dissertation. Honolulu: University of Hawai’i at Manoa.
DEFOORT, Carine. 2001. “Is There such a Thing as Chinese Philosophy? Arguments of an Implicit Debate”. Philosophy East and West. 51(3): 393-413.
HANSEN, Chad. Language and Logic in Ancient China. Ann Arbour: University of Michigan, 1983.
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Vorlesungenüber die Geschichte der Philosophie. Frankfurt/Main: Suhrkamp, 1969.
JING, Haifeng 2005. “From ‘Philosophy’ to ‘Chinese Philosophy’: Preliminary Thoughts in a Postcolonial Linguistic Context”. Contemporary Chinese Thought, 37(1): 60-72.
ROETZ, Heiner. 2008: Confucianism between Tradition and Modernity, Religion, and Secularization: Questions to TuWeiming. Dao - Journal for Comparative Philosophy. 2008/7:367 – 380
ZHANG, Zhiwei 2006. “‘Chinese Philosophy’ or ‘Chinese Thought’?”, Contemporary Chinese Thought, 37(2): 38-54.

Notas
1. Devido à falta de conhecimento dos problemas e diferenças nos quadros e traduções discursivas (ver as secções 11.3, 1.2 e 1.3 deste livro), muitas das antigas traduções ocidentais de obras filosóficas chinesas podem ser questionáveis em termos de transmissão autêntica e precisa de Paradigmas, categorias e conceitos. Assim, esta conclusão pode ter alguma validade, embora não pelas razões que Hegel cita.
2. Esses paradigmas não estavam plenamente – de uma maneira claramente distinguível e inequivocamente definível - desenvolvidos na Europa antes do Iluminismo.
3. 玄學 Metafísica chinesa (lit.: ‘o ensino do obscuro’)
4. 名學 Lógica chinesa semântica (lit.: ‘o ensino de nomes’)
5. 窮理格物 (um ramo medieval de) Epistemologia Chinesa (lit.: ‘investigação exaustiva de objetos’)
6. 心性 Filosofia moral do coração-mente e natureza interna
7. 理氣 Ontologia, com base na interação entre estrutura correlativa dinâmica e criatividade vital


44 comentários:

  1. A meu ver a questão é mais de cunho nomenclatório em que é colocado em xeque a superioridade Ocidental em relação à Oriental. No entanto, concordo com a autora que a Filosofia Chinesa é mais uma dentre tantas formas de pensar.
    Sílvio Cesar Masquietto

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  2. Texto excelente e muito bem escrito. Parabéns.
    A minha pergunta se refere a como a filosofia chinesa "enxerga" a filosofia ocidental? A filosofia chinesa usa a filosofia grega, por exemplo, em algum tipo de discussão? Os chineses questionam a veracidade da filosofia ocidental? Vejo que o Ocidente tem uma preocupação imensa em separar o que é Ocidente do Oriente. Isso também ocorre inversamente? O Oriente costuma separar tudo que é do Ocidente?
    Patricia Iris da Silva Peres

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  3. A filosofia chinesa existe, como em tantas outras culturas; percebemos que, erroneamente, se quer considerar somente filosofia no sentido pleno, a que surgiu na Grécia, com Sócrates, Platão, Aristóteles, etc... O que de fato permanece, aos olhos do restante do mundo, é que a filosofia chinesa não é divulgada, propagandeada, e que a mesma deve sim, ser reconhecida como tal, e que, como filosofia, não é menor que as demais filosofias existentes mundo afora.
    Vania dos Santos Silva

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  4. Acredito que o que temos aqui é uma questão eurocêntrica, definir que a filosofia genuína provém única e exclusivamente do pensamento grego, quando, na verdade, a filosofia é algo universal e existe, acredito eu, em todos os povos. A diferença está mesmo na metodologia e na forma de expressão do conhecimento. É mais um apontamento do que uma questão em si.

    Ass.: Alessandro Henrique da Silva

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  5. Por conta desse pensamento eurocêntrico nas pesquisas filosóficas, você acha que isso interfere na obtenção de tais materiais para pesquisa, ainda hoje na área da filosofia chinesa? (texto muito bom e de importante relevância para meios acadêmicos)
    Bárbara Rauen Candido Freitas

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Texto de muitíssima acuidade conceitual, parabéns. Quais são os diálogos e interseções que um professor pode estabelecer entre a filosofia chinesa e a ocidental, tendo em vista uma abordagem com base nos conhecimentos prévios dos alunos sobre a filosofia ocidental? E em quais momentos da história a filosofia chinesa se fez mais importantes para que possamos estabelecer, em linhas gerais, conexões com a história dos povos chineses?
    Luís Felipe Bezerra Barbosa d'Oliveira

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  8. Podemos então afirmar que filosofia genuina não existe, mas sim diversas variaveis que dependem da sociedade que a produz e como ela se interpreta?

    Leonardo Monteiro Alves

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  9. Nao seria a logica uma forma unica e racional de se chegar a algum resultado? Fico sem ententer o porque da logica oriental ser diferente da ocidental, os orientais tem uma maneira de raciocinar diferente? Se tem ,em que consiste esse raciocinio?

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  10. Texto muito bem escrito.Percebi que esse embate é apenas uma questão de nomenclatura,sabemos que a filosofia oriental não e proclamada ,ou seja, discutida academicamente,entretanto sabemos que os saberes da China são tão importantes quanto aos da Grécia antiga que é a filosofia que nos norteia. A questão é: porque essa filosofia oriental não é explanada em nossa vida académica?
    Reginita Cezar dos Santos de Jesus

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  11. Existia cientificidade ou método nos pensadores chineses antes do contato com os ocidentais?
    Matheus Araújo dos Santos Silva

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  12. O ensaio problematiza os processos de transculturação acerca da filosofia. Arrisco em dizer, com Jana S. Rosker, que as teorias pós-colonialistas representam chaves de leituras para a reflexão acerca de históricos posicionamentos eurocêntricos e logocêntricos relacionados a determinados julgamentos, quase sempre ideológicos, sobre a peculiaridade do pensar oriental. A filosofia oriental, portanto, é fato, mesmo que por alguns séculos o Ocidente a tenha classificado como ficção. Nessa medida, transculturação é conceito fecundo, inclusive, para se pensar, reescrever e ensinar a história do pensamento oriental por outros ângulos. Considerando, desta feita, a disjunção, a alteridade, mas, essencialmente, os entrelaçamentos e contribuições entre as formas, oriental e ocidental, de perceber o sentimento do mundo.

    Ass.: Arcângelo da Silva Ferreira

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  13. Observamos na leitura do texto uma visibilidade acentuada à Filosofia Oriental em detrimento à Filosofia Ocidental, e isso parte inclusive de alguns pensadores e escritores. Notamos que isso também é presente no próprio sistema de ensino brasileiro, diante disso, quais estratégias e métodos podem ser usados por educadores para que, ainda que a longo prazo, se possa mudar essa realidade?

    Ass: Waldiney da Silva Marinho

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  14. Texto muito bom e de fácil compreensão. contundo, em sua opinião, porque esses assuntos são pouco abordados dentro da sala de aula? Como trabalhar a filosofia oriental nas escolas com as poucas informações dadas pelo material didático e pouco enfatizada pelo currículo?

    Larissa Santos da Silva

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    Respostas
    1. Acredito que não seja uma dificuldade apenas da filosofia oriental(obviamente). No geral, outros assuntos como metafísica indígena também não é trabalho em sala de aula e muito menos a forma de ver o mundo segundo esses povos. A forma de entender e ver o mundo de acordo com esses povos poderia trabalhar e dar uma ótima interdisciplinaridade, contribuindo com uma visão mais plural e uma busca pelo entendimento das pessoas. Minha pergunta é mais no viés do: "Qual a razão de subestimar e infantilizar as visões de mundo dessas populações"? É somente uma questão de hegemonia eurocêntrica ou trabalhar essas questões foge os modos de como concebemos os métodos científicos ?

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  15. Repostas da Prof. Jana Rosker [dia 9/10]
    (As perguntas e respostas foram sumarizadas para serem traduzidas]

    1.Como a filosofia chinesa "vê" a filosofia ocidental?
    Alguns pensamentos da filosofia ocidental vieram para a China pela primeira vez entre os séculos XVII e XVIII, mas se tornaram realmente influentes no século XIX. No início do século 20, a filosofia ocidental já foi considerado um critério principal para interpretar a filosofia chinesa por muitos estudiosos proeminentes chineses (por exemplo, Hu Shi ou Feng Youlan). Somente durante as últimas décadas do século 20, alguns começaram a criticar essa prática, ressaltando que a filosofia chinesa baseia-se em diferentes premissas e paradigmas metodológicos e que, portanto, não pode ser interpretada através da lente de conceitos e categorias filosóficas ocidentais. Atualmente, essa crítica levou a muitos livros e artigos sobre a busca de metodologias autóctones da filosofia chinesa clássica. Mas, para muitos estudiosos chineses, a filosofia ocidental ainda representa o pináculo do pensamento humano. Ainda tem uma posição privilegiada, e isto tem relação com a ainda existente posição política privilegiada (poder) dos países ocidentais.

    2. A filosofia chinesa usa uma filosofia grega, por exemplo, em algum tipo de discussão?
    Sim, os filósofos chineses costumam usar idéias e conceitos tomados da filosofia grega, principalmente na perspectiva comparativa. Em geral, eles sabem muito mais sobre a filosofia ocidental (incluindo a grega), do que os estudiosos ocidentais conhecem a filosofia chinesa.

    3. Os chineses questionam a veracidade da filosofia ocidental?
    Nas últimas décadas, estudiosos e teóricos chineses começaram a investigar criticamente a filosofia ocidental e questionam sua legitimidade em muitos níveis diferentes.

    4. Os chineses também têm algum conceito de "Ocidente"?
    Sim, os chineses também têm um conceito de "Ocidente", que às vezes é problemático devido à sua natureza essencialista. Alguns estudiosos consideram que essa é uma forma de orientalismo invertido.

    Nota de esclarecimento:
    Ao longo de todo o evento, as perguntas são traduzidas e enviadas para a Prof. Rosker, que responde tão logo é possível.
    Agradecemos as suas perguntas, continuem enviando! =)

    Amanhã publicaremos as respostas/perguntas do dia 10.

    Jana Rosker
    trad. André Bueno

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  16. Boa noite, meus parabéns.Como podemos desmistificar a visão eurocentrica da filosofia, tão aceita em nosso cotidiano que advém dos filosóficos aqui consagrados, como; Sócrates, Platão e Aristóteles, e inserir os filósofos chineses?
    Katiane Paula Peixoto.

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  17. O pensamento oriental sofre uma ruptura tão significativa com a religião, como sofre a filosofia ocidental?
    Lucas Vieira dos Santos

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  18. Penso que a raiz do problema não esta especificamente em discutir a etimologia ou surgimento da palavra filosofia, e sim em considerar que cada uma possuí características distintas, visto os povos que as acolheu. E desta forma se lapida a importância para esta área do saber. Por qual razão trazemos sempre a filosofia do ocidente como contradição da do oriente (ou vice-versa)? Como se as duas não pudessem existir sem desconsiderar uma ou outra.
    CARLA CATTELAN

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  19. Boa noite! Sobre a filosofia, existe uma grande dificuldade em se reconhecer o surgimento da filosofia fora da Grécia, ao meu ver, isso pode estar associado à nossa dependência do princípio de identidade; dizemos isso "é ", tales de mileto disse que a água É o princípio de tudo. "A filosofia surgiu na Grécia porque a palavra filosofia surgiu lá, etimologicamente " geralmente essa é a explicação dada. Muito antes de Tales dizer que a água "É", na China, no século 12 antes de Cristo, os chineses já haviam fundamentado sua visão cosmológica e utilizaram um verbo diferente, utilizaram o verbo "estar". Adotando a lógica do Yin e Yang,podemos dizer que antes de surgir a palavra filosofia na Grécia e assumir uma conceituação(filosofia É isso ), na China já se tinha um aparato filosófico e que pensando dentro de uma perspetiva talvez existencialista e independente da etimologia, a filosofia, mesmo sem passar a receber tal nome, já existia, ou seja, ela simplesmente "estava "? Essa escolha pelo "estava ", a fiz pelo fato de ao olhar num dicionário de filosofia, a mesma possui denominações diferentes, então a cada momento determinado da história, ela foi, então tem estado em constante mudançacom relação ao seu nome. Levando também em consideração a atual definição de filosofia(definição de conceitos ), podemos dizer que os chineses no século 12 antes de Cristo já haviam definido os conceitos de origem do universo, conceito de mudança, de mutação?
    Arthur D'Elia dos Santos

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  20. Héverton Montes Fontoura11 de outubro de 2017 às 03:04

    Bom dia, agradeço a oportunidade em participar do evento. Após a leitura me ocorreu um paralelo ao seguinte: Quando tratamos da cosmologia, vários povos pelo mundo desenvolveram a sua forma de interpretação, e a cultura chinesa, podemos dizer que também possui uma cosmologia? Obrigado.
    Héverton Montes Fontoura

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  21. Quando tratamos de cultura alheia(ASIÁTICA) a nossa a recomendação primeira e a premissa maior é tentar derrubar muitas barreiras para compreender e aceitar a filosofia asiática com uma legítima forma de saber, conquanto o caso demonstre o como ainda somos carregados de preconceito para lidar com outras formas de cultura que não sejam a nossa: prática que reproduzimos, inclusive, dentro de nossa própria sociedade com outras classes, e que exige uma intensa atenção de nossa parte.
    Então a pergunta é a seguinte Filosofia, religião ou superstição?
    EVALDO SOUSA PIMENTEL

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  22. Saudações,

    Congratulações pelo texto altamente plausível. Minha interpelação se embasa para pensar principalmente de como a filosofia oriental é interpretada pelos próprios orientais, isto é, qual a cosmovisão que têm a respeito de si próprios no mundo. De forma sintética, é possível saber disso?

    Abraços,

    Rômulo Rossy Leal Carvalho - UFPI

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  23. Jana Rosker
    [Respostas para o dia 10/10 sumarizadas]:

    1. Os chineses têm uma lógica diferente da lógica formal ocidental?
    2. Os chineses conhecem ou possuem sistemas lógicos semelhantes ao ocidental em sua filosofia tradicional?
    1 + 2: A resposta depende de como definimos o raciocínio lógico. Se seguimos a definição restrita, que identifica ou equipara a lógica com os conceitos, categorias e métodos lógicos que foram desenvolvidos no que podemos chamar de tradição aristotélica ou estóica, podemos concluir que na China tradicional e pré-moderna não havia lógica. Mas se a lógica é, em vez disso, entendida como uma forma racional de raciocínio focada em argumentação válida e seus princípios, são possíveis muitas abordagens diferentes. Além disso, como a linguagem humana, as proposições lógicas implicam elementos tanto universais quanto condicionados culturalmente. Embora a capacidade de expressar a realidade percebida por meio de termos e estruturas linguísticas seja uma das características mais básicas e distintivas da humanidade, essa característica comum evoluiu de inúmeras maneiras diferentes em diferentes culturas, com cada linguagem distinta enfatizando diferentes padrões de raciocínio. Na China, o raciocínio lógico estava intimamente ligado à linguagem, especialmente no que diz respeito a questões semânticas, e foi determinado pela sua estreita relação com a ética. No entanto, isso não significa que, nos textos clássicos que não são imediatamente identificáveis ​​com os discursos metafísicos e éticos, não havia também formas de pensamento lógico e metodológico. Embora a filosofia chinesa tenha se desenvolvido em conexão com idéias éticas e conceitos metafísicos, havia uma relação estreita entre o pensamento moral e metafísico, por um lado, e o raciocínio lógico, por outro. O pensamento lógico foi desenvolvido principalmente no âmbito das escolas Moista (Mo jia 墨家) e Nominalista (Ming jia 名家).

    3. Como podemos ensinar filosofia chinesa em universidades e escolas?
    Junto com o curso de filosofia, ou em um curso separado?
    Ambas as formas são possíveis, mas os métodos diferem em cada caso. Penso que é muito difícil entender certos aspectos da filosofia chinesa sem entender os chineses (especialmente os chineses clássicos). Além disso, devido às diferenças nos quadros referenciais e nos paradigmas básicos, às vezes é perigoso explicar a filosofia chinesa à luz dos conceitos ocidentais. Por outro lado, um treinamento em filosofia é certamente útil para entender certas questões complexas levantadas na filosofia chinesa.

    Nota de esclarecimento:
    Ao longo de todo o evento, as perguntas são traduzidas e enviadas para a Prof. Rosker, que responde tão logo é possível.
    Agradecemos as suas perguntas, continuem enviando! =)

    Amanhã publicaremos as respostas/perguntas do dia 11.

    Jana Rosker
    trad. André Bueno

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  24. Cara Jana S. Rošker,
    parabéns pelo belo texto. Seus argumentos serão muito úteis no debate brasileiro sobre filosofia chinesa e filosofias asiaticas em geral. Pergunta: pensando sobre a possível implementação do ensino da filosofia chinesa em cursos de graduação e pós-graduação no Brasil, o que você indica como tematicas de disciplinas para o entendimento intercultural do pensamento formulado na historia chinesa?

    Dear Jana S. Rošker,
    Congratulations on the excellent text. His arguments will be very useful in the Brazilian debate on Chinese philosophy and Asian philosophies in general. One question: What do you indicate as important discipline's subjects (program of studies in courses) for the intercultural understanding of Chinese philosophy?
    (Thinking about the possible implementation of Chinese philosophy teaching in undergraduate and postgraduate courses in Brazil)
    Matheus Oliva da Costa

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  25. Eu gostaria de perguntar de há grande dificuldade em analisar a filosofia chinesa em virtude da língua, como estudante de história eu sei que determinados termos só são entendidos se usados os termos da própria China como feudalismo que, apesar de usado, é reducionista quando comparado a China antes do império, eu gostaria de saber se com a filosofia ocorre o mesmo e o conhecimento da língua interfere tanto ou mais que a grega para se compreender a filosofia?

    Ass: Matheus Sobral Reis Dantas

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  26. Boa noite, Professora Rošker.
    A minha questão seria a seguinte: até que ponto o Marxismo - vertente do partido governante da China - foi a força motriz para uma filosofia laica e crítica não somente da sociedade e história da China, mas também sobre a própria filosofia chinesa.
    Luís Henrique Palácio da Silva

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  27. Repostas da Prof. Jana Rosker
    [As perguntas e respostas foram sumarizadas para serem traduzidas]

    1. Existe uma relação entre filosofias chinesas e religiões chinesas, como ocorreu na filosofia ocidental e no cristianismo?

    Resposta: Ao lidar com o estudo de diversas tradições filosóficas na China, muitas vezes somos confrontados com a questão da sua dimensão religiosa e como isso pode ser comparado com as conotações ocidentais (ou "gerais") do termo. Um exemplo bom e paradigmático disso é o confucionismo. O confucionismo não é uma religião no sentido ocidental, mas um discurso que representa tanto um ensino moral prático quanto a filosofia abstrata da transcendência imanente. Embora as obras de Confúcio sejam geralmente compreendidas e interpretadas no sentido anterior, foram principalmente os filósofos neo-confucionistas das dinastias Song e Ming que desenvolveram seus aspectos filosóficos. De fato, o confucionismo não pode ser entendido como filosofia no sentido ocidental, nem como religião no sentido ocidental. Mas certamente contém elementos de ambos. Pode-se denotar uma religião moral (e ateísta - porque não havia Deus). Neste contexto, o termo "religião" entendido como uma série de comunidades, instituições ou discursos de fé mutuamente separados e autoconscientes é uma invenção intelectual ocidental relativamente recente. No entanto, apenas porque um termo é moderno e ocidental, isso não evita seu valor na comparação intercultural. Além disso, o mesmo vale para o termo "filosofia". Em qualquer caso, aqui podemos ver novamente que, ao lidar com tais questões, devemos estar conscientes do fato de que conceitos e categorias não podem ser simplesmente transferidos de um contexto sócio-cultural para outro.
    Para difundir os ensinamentos confucionistas, os conceitos moral-filosóficos assumiram a função de símbolos apropriados que as pessoas poderiam aplicar em suas vidas através da conduta moral e da ritualidade. O Mandato Celestial (tian ming 天命) poderia assim se tornar parte da vida cotidiana, enquanto graças à sua familiaridade com essa idéia tradicional, as pessoas comuns poderiam tomar consciência da sua unidade com sua dimensão moral e sua relevância para elas em termos de responsabilidade moral . No entanto, o cumprimento de valores internalizados moral-humanísticos ganhou a dimensão de aperfeiçoar a personalidade e aliar os atributos pessoais inatos dos indivíduos (xing 性) com o Mandato Celestial, Confúcio criou um novo conteúdo moral com um significado mais profundo que substituiu a idéia tradicional de "justiça" (yi 義). Este conteúdo, com o qual todos os discursos confucianos foram permeados e que constitui seu núcleo conceitual, foi expresso pela idéia de humanidade ou mutualidade (ren 仁) representando o estado de consciência individual e social completa.
    No entanto, se tomarmos o confucionismo como um todo, a reinterpretação desse ensino como incorporando algo sagrado é certamente adequada. Embora tenha sido descrito como uma religião sem Deus, ou seja, uma religião ateísta (semelhante ao budismo), a validade desta interpretação permanece aberta ao debate.

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  28. Jana Rosker [Continuação]:
    2. No estudo da filosofia chinesa, a língua chinesa antiga representa dificuldades ou distâncias semelhantes às da língua grega e do latim para o estudo das filosofias ocidentais?

    Resposta: O chinês antigo (ou clássico) é o idioma em que todos os importantes discursos filosóficos chineses antigos foram escritos. Sem entender sua forma escrita, é difícil (mas, claro, não é completamente impossível) entender seus conteúdos. No entanto, o conhecimento dos chineses modernos pode ser bastante útil a este respeito, porque existem muitas semelhanças entre o chinês moderno e o chinês clássico (embora sejam, de fato, duas línguas diferentes). A diferença entre eles é aproximadamente a mesma diferença entre o latim e o italiano.

    3.Uma pergunta: o que você indica como disciplinas disciplinas importantes (programa de estudos em cursos) para a compreensão intercultural da filosofia chinesa? (Pensando na possível implementação do ensino da filosofia chinesa em cursos de graduação e pós-graduação no Brasil).

    Resposta: boa pergunta. Em nosso currículo, eu ensino - entre outros temas - Metodologia de Pesquisa Intercultural em Sinologia, o que é certamente útil porque oferece aos alunos uma abordagem básica para entender a filosofia chinesa como um discurso específico, que é diferente dos ocidentais. Escrevi dois livros didáticos para esse assunto (infelizmente apenas em esloveno). Para começar, recomendaria alguns livros e ensaios sobre filosofia intercultural;
    -Gu, Ming Dong. 2013. Sinologism: An Alternative to Orientalism and Postcollonialism. New York: Routledge;
    -Mall, Rahm Adhar. 2000. Intercultural Philosophy. Oxford: Rowman & Littlefield; (I am sending you a part of this book in the attachment)
    -Rosemont, Henry Jr., Ames, Roger T. 2016. Confucian Role Ethics – A Moral Vision for the 21st Century? Taibei: National Taiwan University Press;
    -Zhao, Guoping. 2009. Two Notions of Transcendence: Confucian Man and Modern Subject. Journal of Chinese Philosophy, 36(3): 391-407;
    -Makeham, John (ed.), Learning to Emulate the Wise. The Genesis of Chinese Philosophy as an Academic Discipline in Twentieth-Century China, Hong Kong: The Chinese University Press, 2012.

    A Prof. Rosker deixou gentilmente dois materiais disponíveis para download sobre esse tema.
    Link 1: http://tinyurl.com/yd9h7r9t
    Link 2: http://tinyurl.com/yd8aeqnh

    Nota de esclarecimento:
    Ao longo de todo o evento, as perguntas são traduzidas e enviadas para a Prof. Rosker, que responde tão logo é possível.
    Agradecemos as suas perguntas, continuem enviando! =)

    Amanhã publicaremos a última rodada de respostas/perguntas.
    Jana Rosker
    trad. André Bueno

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  29. Olá Jana. Trata-se de um excelente texto, que de maneira pontual traz discussões bem bacanas, para uso inclusive em sala de aula e na correlação com outras temáticas. Nesse sentido, solicito comentários ou indicações de leitura de como a "filosofia chinesa" foi utilizada no contexto da Segunda Guerra Mundial e até mesmo no pós-guerra. Obrigado!

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    Respostas
    1. Boa Tarde
      Queria parabenizar pelo texto bem escrito, a única coisa que senti falta foi de falar um pouco mais sobre a história chinesa para assim compreender o modo e pensar dos mesmos, neste sentido solicito umas indicações de leitura sobre a cultura e tradição chinesa.
      Obrigada
      ass Eliane Luczkiewicz da silva.

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  30. As filosofias orientais se ocupam com os problemas deste vasto mundo. Tanto Buda como Confúcio se recusaram a responder questionamentos sobre o além, Buda explicou que um médico não tem tempo para participar de discussões metafísicas, já Confúcio esclarece que se não conhecemos a vida, não podemos esperar conhecer a morte, ou seja nosso conhecimento tem que agir enquanto estamos vivos.
    Os filósofos orientais dão fundamental importância ao homem. Algumas filosofias orientais, principalmente no Confucionismo e no Neoconfucionismo, levou-os a acreditar que o Homem é o meio apropriado de estudo, não só dele próprio, mas também do universo.

    ANDRELINE CARDOSO PAIVA

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  31. PROFESSORA JANA. SUA ANÁLISE COM RELAÇÃO A FILOSOFIA CHINESA OU O PENSAMENTO CHINÊS NOS FAZ RELEMBRAR DA EXPERIÊNCIA DE COMPREENDER A HISTÓRIA DESSA NAÇÃO, E NO QUE SE REFERE A FILOSOFIA É UMA DISCUSSÃO AMPLA É QUE PRECISA SER ABORDADA COM MAIS FREQUÊNCIA NO MEIO ACADÊMICO, POIS É FATO QUE GRANDE PARTE DO CONHECIMENTO 'IMPOSTO" É PAUTADO PRINCIPALMENTE EM CONCEITOS FILOSÓFICOS OCIDENTAIS. DESSE MODO GOSTARIA DE SABER SE O OCIDENTE TEM ACEITADO A ENTENDER OU DISCUTIR OS CONCEITOS FILOSÓFICOS DA CHINA? AINDA EXISTE ALGUMAS BARREIRAS COM O PENSAMENTO CHINÊS?

    ELOIS ALEXANDRE DE PAULA

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  32. É possível afirmar que o pilar básico da filosofia é a capacidade de raciocinar a cerca da realidade, e que dessa forma as culturas Ocidental e Oriental produzem a sua própria forma de Filosofia que se diferem?

    Assinado: Maria Artenisia da Costa Lima

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  33. Olá!
    Achei o texto de certa forma provocador, e me lembrei de que nunca ouvi o termo "Filósofo Chinês" mas sim "Pensador Chinês".
    A impressão que eu tive ao ler o texto é que os ocidentais tivessem inventado um "Clube" fechado chamado "Filosofia" e orientais não pudessem ter a mesma carteirinha!

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  34. Olá Jana. Parabéns pelo texto claro, rico e muito bem construído com o qual você nos brinda. Parece que estamos cercado por todas as áreas e lados de um etnocentrismo e eurocentrismo, além de e uma comparação insistente com o que nem sempre deve ser comparado. Eu não perguntaria o que os chineses acha da filosofia ocidental, até porque já foi perguntado, mas até que ponto os chineses estão preocupados em que a filosofia deles seja aceita pelos outros povos? pergunto no sentido de divulgação do conhecimento, creio haver uma diferença entre os que estudam a filosofia chinesa e o que eles dizem da própria filosofia, não?

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  35. Car@s;
    Queremos primeiramente agradecer a todos que participaram e enriqueceram esse debate com suas dúvidas e colocações.
    Dado o grande número de perguntas, como informamos, foi necessário sumarizar as questões e as respostas.
    Algumas colocações mais constantes foram feitas ao longo da semana, e de forma a evitarmos a repetição, convidamos @s Leitor@s a verificar as respostas anteriores.
    Selecionamos aqui dois temas de interesse geral que sintetizam e fecham os questionamentos feito s prof. Jana.
    Mais uma vez, agradecemos à todos. A Prof. Rosker elogiou nosso entusiasmo e participação, o que nos deixa esperançosos de mudar um pouco o panorama dos estudos asiáticos no país.

    Seguem as respostas;

    1. O marxismo pode ser entendido como parte da filosofia chinesa hoje? Será que ele será parte da filosofia chinesa no futuro?
    Resposta: Mesmo que sua constituição declare que a China é um Estado socialista, é difícil pensar sobre isso como uma sociedade marxista ou socialista. No entanto, a teoria socialista e a ideologia continuam a ser um poder resiliente e o marxismo é um assunto de investigação contínua no mundo acadêmico da China e não acho que isso mude no futuro. No entanto, apesar dos vastos esforços acadêmicos para compreender e avaliar o marxismo chinês do século XX, inúmeros problemas sobre os motivos por que o marxismo se transformou em sua forma atual na China moderna continuam abertos. Embora seja difícil avaliar a função real e o impacto das teorias socialistas e marxistas na atual China, sua importância complexa e suas implicações históricas certamente merecerão consideração por razões políticas, tanto teóricas como teóricas. O principal paradigma da pesquisa sobre a filosofia marxista na China contemporânea é a sinificação das teorias marxistas. Tais abordagens e desenvolvimentos teóricos chineses que foram moldados durante a história recente dos discursos teóricos neo-marxistas e pós-marxistas são certamente significativos no nível internacional e global. Na minha opinião, há uma necessidade urgente de reflexões históricas e reinterpretações dessas teorias à luz das preocupações contemporâneas, a fim de aumentar os intercâmbios e as influências mútuas entre as diferentes interpretações do marxismo nas sociedades contemporâneas.
    [continua]

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  36. 2. Como foi o desenvolvimento da filosofia chinesa após a Segunda Guerra Mundial? Existe uma predominância ocidental, ou o pensamento tradicional se desenvolveu?
    Resposta: Para a China, o século 20 foi um período de agitação contínua e mudanças sociais radicais. No final do século XIX, o antigo "Reino do Médio" - apesar das imensas dimensões geopolíticas - encontrava-se nas margens do mundo moderno, como parte da sua periferia semi-colonial. Enquanto a cultura ocidental manifestava-se no seu lado mais violento e agressivo, sob a forma de invasões econômicas e militares, a filosofia ocidental, que entrou na China no trem da capital ocidental e suas tropas, foi vista principalmente como um desafio. Embora o "marxismo-leninismo" sinificado que prevaleceu na China durante a segunda metade do século XX, à medida que a nova ideologia do estado derivava das teorias ocidentais, as funções sociais continuavam a ser reguladas em grande medida pelos conceitos confucionistas tradicionais. Embora o confucionismo tenha perdido seu poder político e fundamentos institucionais ao final do século 20 com a abolição do sistema de exame tradicional, seus princípios morais e éticos ainda eram influentes em amplos círculos da população chinesa.
    Durante a década de 1940, o trabalho teórico foi silenciado pelo cataclismo da guerra, enquanto com a fundação da RPC, uma ideologização sinótica das teorias marxistas prevaleceu necessariamente na chamada "sociedade socialista". O resultado foi que, até a década de 1970, a filosofia foi vista principalmente como uma ferramenta para os fundamentos teóricos das políticas maoístas e como meio para a ideologização em massa da sociedade. A popularização e simplificação desses aspectos do pensamento marxista-leninista e maoísta, que foram considerados funcionais para as tendências políticas atuais, foi uma das principais tarefas da intelectualidade chinesa da época. Este período foi marcado por uma mudança específica no discurso, causada pela politização cada vez mais ampla da vida cotidiana, e a teoria foi cada vez mais substituída por formas de discurso simbólico. O desenvolvimento posterior da teoria prática, no sentido de uma formulação sistemática de conteúdos filosóficos, começou no início dos anos 80. Este período foi marcado por um renascimento do pensamento confucionista e taoísta, por investigações de todas as outras escolas tradicionais de pensamento e com as tentativas de sintetizar a filosofia chinesa e ocidental. Essas abordagens tratam principalmente de estabelecer metodologias comparativas e reviver categorias tradicionais e padrões conceituais. Isso levou ao estabelecimento de novos fundamentos metodológicos do pensamento chinês contemporâneo.
    Na China pós-maoísta, também há tentativas interessantes para sinificar o materialismo dialético. A sinificação dos discursos marxistas aparece principalmente em duas correntes teóricas diferentes: a primeira delas foi determinada principalmente pela dialética, a lógica e as teorias linguísticas modernas, e a segunda pelos aspectos éticos e estéticos da síntese do pensamento marxista e tradicional chinês.

    Jana Rosker
    Trad. André Bueno

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  37. Boa noite não seria o pensamento de Hegel um pouco eurocêntrico? uma vez que não da valoriza a filosofia oriental.Assim como muitos teóricos discriminaram a Africa como continente que contribuiu para o avanço da humanidade.
    Mim refiro a esse trecho;"Dois séculos antes, Hegel explicou a questão em maiores detalhes. Ele também manteve a idéia de que a filosofia genuína se originou na Grécia antiga.'' Com base nesse pensamento podemos afirmar que a filosofia oriental sofreu discriminação?
    Att;Luciana dos Reis de Santana.

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  38. Como o modo de vida, qual a contribuição dessa filosofia para o Ocidente e como podemos identifica-la em nosso país?

    Ass;Luciana dos Reis de Santana

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  39. Olá Jana!

    Geralmente partimos do conceito de filosofia com bases na Grécia Antiga. Conceber respostas a partir desse princípio compromete a filosofia chinesa por levar em consideração outras categorias. Como podemos desmistificar esses conceitos e reconstruir novos argumentos que legitimam a filosofia chinesa na cultura ocidental? Quais os preconceitos colonizadores presentes nos discursos sobre a filosofia chinesa que podem comprometer sua possibilidade humana de "amor pela sabedoria"?

    Julio Junior Moresco

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  40. Olá! Obrigado pelo texto!

    Pensando inclusive no texto "NEO-TRADICIONALISMO, PENSAMENTO E DISCURSO EM XI JINPING", do autor Xulio Ríos, publicado neste simpósio, e o relacionando com este texto, me surgiu a questão no que se refere a relação entre a propagação da filosofia e as políticas governamentais, essa relação é forte?

    Grato desde já pela atenção
    Ass: Pedro Ernesto Miranda Rampazo

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