ESTUDOS SOBRE DAOÍSMO EM PERSPECTIVA HISTÓRICA: HISTORIOGRAFIAS, TEMAS E NOVAS DIREÇÕES
Bony Schachter
Não há estudo bem informado sobre qualquer tema que possa ignorar a historiografia relativa a tal tema, salvo casos de estudos ditos “pioneiros” que, de qualquer maneira, também não surgem “do nada”, mas sim de discussões e contextos pré-existentes. Toda historiografia é informada por convenções culturais e objetivos políticos mais ou menos explícitos. O caso da historiografia do daoísmo não é diferente. O termo “historiografia do daoísmo” não aponta para um campo teórico unificado caracterizado por convenções culturais e interesses políticos idênticos. Na verdade, o que eu chamo de “historiografia do daoísmo” é um conjunto de abordagens acadêmicas sobre o tema “daoísmo”, formado por perspectivas nacionais diversas. Tal conjunto envolve, principalmente, a sinologia européia, a sinologia japonesa e, mais recentemente, a sinologia americana. O interesse pelo tópico por parte de pesquisadores brasileiros é um fenômeno recentíssimo e precisa ser contextualizado. O interesse pelo daoísmo por parte da sinologia japonesa e européia da primeira metade do século XX certamente remete aos interesses coloniais do Japão, França etc., o que não significa que a pesquisa produzida em tal período possa ser ignorada a priori. Muito pelo contrário, a pesquisa produzida no período citado, a despeito de seu contexto político e histórico maiores, representa os fundamentos que irão permitir, da segunda metade do século XX em diante, o surgimento de um campo de pesquisa voltado para a riqueza empírica do daoísmo enquanto fenômeno histórico. Nesta breve contribuição, o meu objetivo não é fornecer um estudo detalhado da história sobre estudos do daoísmo. Tal empreendimento, embora útil, exigiria grande espaço. Na verdade, estudos sobre daoísmo já alcançaram, em termos quantitativos, um patamar que permitiria a escrita de um pequeno manual didático sobre a história de estudos sobre o assunto. A apresentação abaixo menciona alguns poucos autores fundamentais, discutindo problemas metodológicos. Mesmo não refletindo a riqueza dos estudos sobre daoísmo em sua totalidade, a apresentação abaixo se mostrará útil a medida em que permitirá o leitor lusófono entender os pressupostos metodológicos orientado a pesquisa sobre daoísmo em nível internacional.
Granet e sua influência sobre a historiografia daoísta européia e americana
Estudos acadêmicos são sempre um empreendimento coletivo, não individual. Os estudos sobre daoísmo na Europa possuem em Marcel Granet um expoente fundamental. Marcel Granet pode ser visto como o sinólogo francês que dará o tom para os temas da sinologia francesa que, mesmo textual, não apresenta o mesmo teor empírico das sinologias japonesa e chinesa. Quando Granet teceu suas considerações teóricas sobre a religiosidade chinesa, ele não o fez “do nada”, mas sim em um diálogo com seu mestre, ninguém menos que Durkheim, que exerce até hoje grande influência em como se pensa religião e ritual. Como resumido por Ursula Rao:
“Émile Durkheim has firmly established a sociological view of religion. He describes rituals as ‘social facts’ that shape and are shaped through society. At an abstract level all rituals are said to have the same meaning and serve the same function. They are social actions that express and reestablish the collective consciousness of a society that is encoded in its belief system. Through the performance of rituals, the mental and emotional state of individuals is altered in such a way that participants experience themselves as members of a larger social group. Durkheim’s question of what ritual does and how it works in society has set the agenda for a whole range of studies. Yet most of them departed from the idea that religion and ritual are identical with society. Instead ritual appears as a particular type of social activity that needs to be studied in reference to other areas of social interaction”.
“Émile Durkheim estabeleceu firmemente uma visão sociológica da religião. Ele descreve os rituais como "fatos sociais" que se moldam e são moldados pela sociedade. Num nível abstrato, todos os rituais dizem ter o mesmo significado e servir a mesma função. São ações sociais que expressam e restabelecem a consciência coletiva de uma sociedade codificada em seu sistema de crenças. Através da performance dos rituais, o estado mental e emocional dos indivíduos é alterado de tal forma que os participantes se vivenciam como membros de um grupo social maior. A pergunta de Durkheim sobre o ritual e a forma como funciona na sociedade definiu a agenda para toda uma série de estudos. No entanto, a maioria deles partiu da idéia de que a religião e o ritual são idênticos à de sociedade. Em vez disso, o ritual aparece como um tipo particular de atividade social que precisa ser estudada em referência a outras áreas de interação social” [Rao, 2006].
A influência de Durkheim se faz presente inclusive no campo da sinologia. A tradição de estudos europeus sobre daoísmo que se seguiu ao trabalho de Marcel Granet demonstra uma óbvia adaptação a esquemas Durkheimianos. Em La religion des Chinois, Granet identifica dois segmentos culturais como sendo a base da vida religiosa chinesa, sendo tais segmentos vistos na “opposition de la vie urbaine et de la vie rurale” [Granet, 1951, p.10]. De acordo com a análise que Granet faz da vida rural, tanto o ritual quanto o trabalho pertencem à mesma dimensão sociológica. Sendo regulada pelas quarto estações, a vida rural caracteriza-se pela clara separação de papéis masculinos e femininos no que tange ao trabalho: “La distribution alternée du travail accompagnait une forte opposition entre les sexes qui se traduisait encore par l'interdiction de contracter mariage à l'intérieur de la parente” [ibidem, p.12] O matrimônio entre famílias diferentes segue o padrão do trabalho agrícola, “comme les cultures par le croisement des sillons.” Uma vez que a colheita tenha sido feita e os trabalhos de tecitura tenham sido completados, as famílias se encontram em posição de mostrar (étaler) suas riquezas (richesses). O início da primavera marca o período quando “chaque famille voulait étaler sa Fortune.” A vinda da primavera significa que famílias irão se encontrar de modo a realizer “puissantes orgies où s'affirmait à la fois la force du groupement familial et du, groupement politique” [ibidem, p.13]. Encontros orgiásticos estariam no cerne da religiosidade chinesa antiga, sendo pensados por Granet de acordo com a linguagem derivada de Durkheim, especialmente a sua ideia de “efervescência coletiva”, que apresenta uma teoria do ritual de caráter psicologizante [Boudewijnse, 2006]. Granet argumenta, portanto, que a essência da civilização chinesa poderia ser encontrada em celebrações orgiásticas de matrimônio e fertilidade. Ele escreve:
“Les pratiques et les croyances, qui naquirent de cette activité exceptionnelle, [Granet is referring to orgiastic encounters between families] ont commandé le développement de la religion chinoise: cultes publics et cultes familiaux, cultes des ancêtres et cultes agraires, voire même culte du ciel sont sortis de ces fêtes de la fécondité humaine et naturelle où l'esprit domestique se révélait dans toute sa force, tandis que se créait le sens social”.
“As práticas e crenças que nasceram dessa atividade excepcional [Granet está se referindo a encontros orgiásticos entre famílias] levaram ao desenvolvimento da religião chinesa: culto público e culto familiar, cultos ancestrais e cultos agrários, e até adoração do céu, surgiram desses festivais de fecundidade humana e natural em que o espírito doméstico foi revelado em toda a sua força, enquanto o sentido social foi criado”. [ibidem, p.14]
Granet identifica a religião camponesa (la religion paysanne) como o segmento ou camada mais fundamental da vida religiosa chinesa. De acordo com a teoria de Granet, os textos mais antigos da civilização chinesa representariam uma apropriação, por parte da elite letrada, da religião camponesa. A tese de Granet, em termos puramente históricos e empíricos, não é confiável. É importante lembrar, no entanto, que a tese que ele apresenta é sociológica, não histórica. A sua tese sociológica entende que o fundamento da vida religiosa chinesa seria a religião camponesa, ou popular, e que aquilo que se chama por três ensinamentos na verdade seria apenas um campo religioso unificado onde co-habitam diversas práticas, mas não diversos credos.
Estudos acadêmicos europeus e americanos fornecem uma complexa imagem da história do daoísmo que, de um modo ou de outro, remetem para as discussões de Marcel Granet. Por um lado, há o problema da conexão dos rituais daoístas com a assim chamada religião popular, enquanto que por outro lado, há o problema da conexão com o culto estatal. Ambos aspectos – culto popular e culto estatal – são categorias sociológicas que remetem ao trabalho de Granet. O famoso sinólogo contemporâneo Kristofer Schipper argumenta que, desde a dinastia Tang, “the connection of local cults with Taoist ritual implies the upgrading and emancipation of local power structures, and not the downgrading of popularization of Taoism” [Schipper, 1985]. Se para Granet, rituais orgiásticos criaram a civilização chinesa, para sinólogos contemporâneos, rituais continuam a ter um importante papel no estudo da religião daoísta. Para Michel Strickmann, o pai dos estudos daoístas nos EUA, o papel do daoísmo do Mestre Celestial foi o de desmascarar tanto os deuses do estado como os deuses populares, trazendo os chineses ao culto dos verdadeiros deuses. A tese de Strickmann, portanto, remete à dicotomia popular-estatal que, por sua vez, reverbera a presença forte de Granet. Scholars como Florian Reiter e Edward Davis, por exemplo, se preocupam em oferecer uma explicação para o problema da eficácia ritual em seus respectivos trabalhos. Reiter adota uma posição funcionalista e descritiva: rituais daoístas X do período Song são ferramentas usadas como maneira de se alcançar o objetivo Y. [Reiter, 2007] Davis, aluno de Strickmann, recorrendo à dicotomia durkheimiana do indivíduo vs. sociedade, descreve a existência da própria ideia de eficácia ritual em textos rituais da dinastia Song como sinalizando uma sociedade em profunda crise. [Davis, 2001] Em termos de historiografia daoísta europeia e americana, tanto as questões que são colocadas como a maneira como são respondidas remetem a um diálogo com perspectivas sociológicas direta ou indiretamente.
Japão, China e os fundamentos de uma historiografia empiricista
Na primeira metade do século XX, estudiosos tais como Oyanagi Shigeta 小柳司気太 [1930], Fu Qinjia 傅勤家 [1984] and Xu Dishan 許地山 [1999], certamente não incluíram em suas respectivas histórias gerais do daoísmo, por exemplo, nenhuma discussão acerca das dramáticas transformações sofridas pelos ritos daoístas da dinastia Song, incluindo o aparecimento do assim chamado rito do trovão (leifa), mas eles propuseram os rudimentos de uma historiografia daoísta voltada para evidência empírica [Skar, 2008]. De acordo com a narrativa oferecida por Oyanagi, o daoísmo começa no período do Mestre Celestial Zhang Daoling. Fazendo uso de fontes históricas e documentos daoístas, Oyanagi estruturou sua exposição da história do daoísmo de acordo com temas que irão dominar a historiografia sobre a religião nas próximas décadas. Tais temas incluem a aparição de revoltas populares no fim da dinastia Han, a formação do Caminho do Mestre Celestial, a diferença entre o daoísmo dos Mestres Celestiais e o daoísmo alquímico de Ge Hong e seu Baopuzi, as reformas religiosas propostas por Kou Qianzhi etc. Oyanagi descreve a importância de Lin Lingsu na corte do imperador Huizong, da dinastia Song, assim como identifica a formação de três grandes linhagens daoístas, nomeadamente, Zhengyi, Quanzhen, e Zhendadao jiao. Oyanagi de certo modo inaugural um gênero historiográfico baseado na categoria interpretativa “daoísmo” (ou, em japonês, dokyo), entendida como sendo diferente da filosofia antiga de Laozi e Zhuangzi, constituindo-se como uma tradição religiosa indepente e original, não uma mera imitação chinesa do budismo. Mesmo não estando familiarizado com qualquer fonte comprovando esta hipótese, não é impossível que Fu Qinjia e Xu Dishan tenham se inspirado em Oyanagi quando escreveram suas respectivas histórias do daoísmo. Xu Dishan publicou antes de Fu Qinjia, em 1934, o seu História do daoísmo (daojiao shi). Neste trabalho, Xu Dishan faz uso da dicotomia daojia e daojiao, termos que indicariam, respectivamente, daoísmo filosófico e daoísmo religioso. O título do livro promete uma história geral do daoísmo, mas não é isto aquilo que o livro entrega ao leitor. A parte mais extensa do livro é dedicada aquilo que Xu Dishan chama de pré-história do daoísmo (daojiao qianshi), isto é, a história dos vários elementos religiosos e filosóficos que levaram à formação, no fim da dinastia Han, ao surgimento do Caminho do Mestre Celestial, ou daojiao. Fu Qinjia publicou seu livro sobre daoísmo, História do daoísmo chinês (zhongguo daojiao shi) em 1937, organizando a história do daoísmo cronologicamente e tematicamente. O autor discute não apenas o daoísmo chinês, mas também a difusão do daoísmo para a Coréia e o Japão que, historicamente, tiveram contato com aquela religião relativamente cedo. Em termos de estrutura temática, o trabalho de Fu Qinjia é extremamente semelhante ao de Oyanagi.
Embora a história dos estudos acadêmicos sobre daoísmo já atinja um século [Como argumentado por Lü Pengzhi, o estudo inaugural de Edouard Chavannes’ “Le jet des dragons” pode ser visto como um trabalho pioneiro na história dos estudos sobre ritual daoísta. Ver Pengzhi, 2008 e Chavannes, 1919], é apenas depois da Segunda Guerra Mundial que estudos sobre a religião alcançam um patamar de especificidade condizente com a complexidade empírica do fenômeno. Na segunda metade do século XX, i.e., depois da Segunda Guerra Mundial, o campo das pesquisas sobre daoísmo será dominado pela sinologia francesa, japonesa e chinesa. Sinólogos coreanos, mais recentemente, também começam a contribuir para o campo em caráter internacional, já que o tema daoísmo é tão relevante para a história cultural e religiosa da Coréia como ele é para a China e o Japão. No pós-guerra, as mais importantes compilações de história geral do daoísmo serão escritas por autores tais como Akidzuki Kan’ei秋月観映, Kubo Noritada 窪德忠, Ren Jiyu 任繼愈 e Qing Xitai 卿希泰. O trabalho mais relevante de Akidzuki se concentra na linhagem Jingming凈明 [1978], enquanto Kubo escreveu uma história geral do daoísmo que iria se estender para além do período Song [Kubo, 1977]. Os projetos historiográficos de Qing Xitai卿希泰e Ren Jiyu任繼愈refletem uma historiografia oficial marxista que, apesar de seus muitos problemas teóricos, ideológicos e metodológicos, pela primeira vez foi capaz de produzir um esboço da história do daoísmo condizente com a riqueza empírica da religião, caracterizada por um sem fim de linhagens, rituais e práticas de cultivo pessoal e coletivo [Ren, 1990; Qing, 1996].
Conclusão: comparando perspectivas metodológicas
A brevíssima apresentação acima pode ser resumida da seguinte maneira: os estudos sobre daoísmo se dividem, basicamente, em duas vertentes. A primeira vertente é formada por sinólogos europeus e americanos que, mesmo quando desejam seguir uma linha de trabalho filológica e textual, não podem fugir da própria tradição intelectual, marcada pela discussão de elementos teóricos, filosóficos e sociológicos. As principais teses sobre a história do daoísmo desenvolvidas por sinólogos europeus e americanos, por mais que apresentem a si mesmas como estudos textuais, filológicos ou históricos são, na verdade, de um teor teórico e sociológico, dado que focam não no empírico pelo empírico, mas na criação de grandes argumentos que, direta ou indiretamente, remetem aos inícios teóricos e sociologizantes da sinologia tal como postulados por Granet. A segunda vertente é formada por estudos de sinólogos japoneses, chineses e, mais recentemente (a nível internacional), coreanos. Tal vertente se caracteriza por uma grande ênfase na questão empírica, não tendo relação direta ou indireta com os pressupostos teóricos da sinologia sociologizante de Granet. O Japão e a Coréia possuem uma longa história de estudos sobre a China. Naquelas civilizações, verifica-se a adoção de padrões culturais chineses, incluindo-se aí a adoção da religião daoísta, mesmo que não na mesma escala com que o budismo foi adotado. Na verdade, para pesquisadores japoneses, coreanos e sobretudo chineses, pesquisar o daoísmo também é uma questão de redescobrir e reinventar identidades nacionais. Isto, obviamente, não é o caso para sinólogos europeus, que pesquisam daoísmo do ponto de vista do outsider, mesmo quando possuem iniciação como daoístas. Eis aqui uma generalização grosseira, mas não de todo falsa: enquanto a primeira vertente é rica em questões, insights, metodologia e relevância intelectual, muitas vezes é pobre em fontes, ou constitui-se em trabalhos de super-interpretação de fontes. A segunda vertente é rica em fontes, mas tende a ser pobre em termos conceituais. Outra generalização grosseira mas verdadeira: enquanto o sinólogo europeu ou americano lhe perguntaria: qual o seu argumento? Qual a sua questão? O pesquisador chinês ou japonês lhe perguntaria: onde está a sua fonte? Como você pode provar o que está dizendo? O que tudo isto significa para o pesquisador brasileiro ou lusófono interessado na história do daoísmo precisa estar bem informado tanto acerca da sinologia européia e americana quanto acerca dos estudos chineses e japoneses. Tendo conhecimento adequado das ferramentas linguísticas necessárias, o sinólogo lusófono estará em condições de dialogar com seus pares estrangeiros. Levando em consideração que não somos nem europeus, nem americanos, muito menos chineses, nós pesquisadores lusófonos nos encontramos em uma posição de certa liberdade intelectual que nos permitirá repensar paradigmas acadêmicos a partir de uma perspectiva outra que aquela oferecida pela sinologia européia ou por estudos japoneses e chineses.
Referências
Bony Schachter é Dnt. na Fudan University, China.
AKIZUKI Kan’ei 秋月観暎, Chugoku kinsei dokyo no keisei: Jomyodo no kisoteki kenkyu 中國近世道教の形成—浄明道の基礎的研究 Tokyo: Sobunsha, 1978.
AKIZUKI Kan’ei 秋月観暎, Dōkyō-shi道教史 Hirosaki University Repository for Academic Resources, 1987.
BOUDEWIJNSE, Barbara, “Ritual and Psyche”, in Jens Kreinath, Jan Snoek, and Michael Stausberg (eds.), Theorizing Rituals: Issues, Topics, Approaches, Concepts. Leiden: Brill, 2006, pp. 123-142.
CHAVANNES, Edouard. “Le jet des dragons”, Mémoires concernant l’Asie Orientale 3, Paris, 1919.
DAVIS, Edward, Society and the Supernatural in Song China. Honolulu: University of Hawai’i Press, 2001.
FISCHER, Paul. “Authentication Studies (辨偽學) Methodology and the Polymorphous Text Paradigm”, em Early China 32, 2008-2009, pp. 1-43.
FU Qinjia, Zhongguo daojiao shi中國道教史 Shanghai: Shanghai shudian chuban, 1984.
GRANET, Marcel. La religion des Chinois. Paris: Les Presses universitaires de France, 2nd edition, 1951.
KUBO Noritada 窪德忠, Dōkyō-shi 道教史 Tōkyō: Yamakawa shuppansha, 1977.
LÜ Pengzhi, 唐前道教儀式史綱Tangqian daojiao yishi shigang Beijing: Zhonghua Shuju, 2008.
OYANAGI Shigeta 小柳司気太, Dōkyō gaisetsu 道教概說 Shanghai: Shangwu yinshuguan, 1930 [translated by Chen Binhe 陳彬龢, 1930, original edition 1923].
QING Xitai, Zhongguo daojiao shi中國道教史, Chengdu: Sichuan Renmin chubanshe, 1996.
RAO, Ursula. “Ritual in Society”, em Jens Kreinath, Jan Snoek, and Michael Stausberg (eds.), Theorizing Rituals: Issues, Topics, Approaches, Concepts. Leiden: Brill, 2006.
REITER, Florian C., Basic Conditions of Taoist Thunder Magic. Wiesbaden: Otto Harrassowitz GmbH & Co. KG, 2007
REN Jiyu (ed.), Zhongguo daojiao shi中國道教史 Shanghai: Shanghai renmin chubanshe, 1990.
SCHIPPER, Kristofer. “Taoist Ritual and Local Cults of the T’ang Dynasty”, in Michel Strickmann (ed.), Tantric and Taoist Studies in Honour of R. A. Stein, Vol. III, Mélanges Chinois et Bouddhiques, vol. XXII Bruxelles: Institut Belge des Hautes Études Chinoises, 1985.
SKAR, Lowell, “Leifa雷法”, em Fabrizio Pregadio (ed.), The Encyclopedia of Taoism. London: Routledge, 2008, pp. 627-629.
XU Dishan許地山, Daojiao shi道教史 Shanghai: Shanghai guji chubanshe, 1999.
Bom dia! Os povos orientais como os chineses, japoneses e coreanos, apesar de possuírem idiomas diferentes possuem uma mesma raiz Cultural e genealógica? Se Sim, em que período da História eles se desmembraram e formaram culturas distintas?
ResponderExcluirOlá Benedito! Durante muito tempo, japoneses e coreanos viram a civilização chinesa como uma referência cultural, adotando o chinês clássico como língua formal para documentos oficiais, bem como instituições políticas chinesas. Você pode encontrar uma introdução ao assunto, bem como referências bibliográficas em Chinese History: A New Manual, por Endymion Wilkinson.
ExcluirNo contexto da queda da dinastia Han. Gostaria de entender um pouco mais fácil, se e como, o daíoismo contribuiu para a queda da dinastia Han.
ResponderExcluirASS: Adriano da Silva.
Olá Adriano! É importante lembrar que a expressão daoísmo é um conceito acadêmico, não aponta para um grupo histórico que se denominaria como tal durante a dinastia Han. O que se chama hoje por "daoísmo" naquele período, basicamente a linhagem do Mestre Celestial (tianshidao), não foi responsável pela queda da dinastia Han.Você pode encontrar uma discussão detalhada da fundação do daoísmo do Mestre Celestial no fim da dinastia Han em Terry Kleeman, Celestial Masters: History and Ritual in Early Daoist Communities.
ResponderExcluirNa sua opinião, há como mesclar a metodologia dos estudos da sinologia ocidental com a sinologia oriental?
ResponderExcluirAss.: Alessandro Henrique da Silva
Olá Alessandro! A língua usada na pesquisa é muito importante e determina inclusive a direção metodológica da mesma. É difícil escrever um trabalho mais teórico em chinês, por exemplo. Mas como eu digo no texto, creio que há espaço para combinarmos várias metodologias no estudo da religião daoísta.
ExcluirExiste alguma tradução para o português de teorias sobre o do daoísmo? (Pois vejo que você se concentra em referências de outras línguas). E indicaria meios midiáticos de levar eles para a sala de aula: literatura, filmes, animês, algo que possa dinamizar a aula, para assim discutir tanto a questão religioso quanto a histórica? Lembrando que discutimos com pessoas leigas na área e minha ideia é pluralizar o conhecimento de povos relacionando as vivências: eu-outro ao invés de nós-outros.
ResponderExcluirAlexandre Araújo da Silva
Olá Alexandre, infelizmente os trabalhos acadêmicos em português são extremamente raros. Não me vem à mente nenhum material citado por você, mas irei dar uma pesquisada para ver se consigo te dar um retorno mais útil.
ResponderExcluirNa sua opinião podemos dizer que daoísmo uma fonte de existência e da "não-existência", considerando que algumas religiões orientais se referem a isso como o "yin e yang" do universo, "bem" e do "mal"?
ResponderExcluirAss. Marcelo Navarini Schlottfeldt
Olá Marcelo, achei sua pergunta bastante filosófica, mas não entendi o contexto. Você poderia reformulá-la?
ExcluirBasicamente o q quis lhe perguntar tarde é se o daoísmo é base em algumas religiões ocidentais na sua essência?
ExcluirVocê argumenta ainda no começo de seu texto sobre uma historiografia daoista japonesa que certamente remete aos seus interesses coloniais, minha pergunta é se tais entenrecesses fizeram de fato uma diferença tão acentuada da forma como o Japão enxergava o daoismo antes das reformas Meiji, uma vez que o relacionamento do Japão com China anterior das reformas meiji oscilavam de uma amizade, com uma forte influência cultural da China sobre o Japão a um desejo expansionista onde a China era parte de tal ?
ResponderExcluirAss: Matheus Sobral Reis Dantas
Olá Matheus! Antes do período Meiji há evidência para a expansão da religião daoísta para o Japão.O que eu chamo, no texto, de interesses coloniais está relacionado especificamente com o contexto pós-Meiji.
ExcluirUma outra questão que é quase pessoal é que no fim do texto você falou sobre estudantes lusofonos estarem em uma posição de certa liberdade intelectual em relação aos paradigmas empregados academicamente, eu gostaria de perguntar se você não acha que paradigmas europeus principalmente franceses não atrapalham essa posição de liberdade, já que (pelo menos aqui na Paraíba) a metodologia francesa e todos seus paradigmas nos afetam muito em um primeiro momento?
ResponderExcluirAss: Matheus Sobral Reis Dantas
Olá Matheus, não é uma questão pessoal, mas metodológica e histórica. Não acho que paradigmas europeus (ou chineses) atrapalhem, apenas acrescentam à nossa pesquisa pois, querendo ou não, não somous europeus e, mesmo achando que estamos usando paradigmas franceses, não estamos fazendo a mesma coisa que eles estão. Tudo é uma questão de assumir uma perspectiva mais reflexiva em relação à atividade acadêmica.
Excluir"O fundamento da vida religiosa chinesa seria a camponesa ou popular onde permanecem diversas práticas, mas não diversos credos".. Neste sentido esse rito tende a transformar a vida de seus componentes sem atribuições divinas? Como seria a ausência do credo? especifique.
ResponderExcluirAss: Bárbara Cristina Souza da Piedade
Olá Bárbara. Nessa sentença me refiro às teses de Marcel Granet. Como tentei explicar, para Granet a religiosidade chinesa remete não a um credo, mas à própria sacralização da vida social rural. Em relação à parte em que eu me refiro a "diversas práticas, mas não diversos credos" estou, na verdade, mencionando a ideia de Granet de acordo com a qual os três ensinamentos (sanjiao: budismo, daoísmo e confucionismo) seriam na verdade um único "credo" (sem que se entenda tal palavra num contexto cristão), uma vez que os três ensinamentos constituiriam práticas diversas, mas não alinhamentos ideológicos distintos.
ExcluirBoa Noite
ResponderExcluirMinha questão seria mais voltado a grande figura do Daoísmo/Taoísmo - Lao Tse/Laozi e seu Tao Te Ching. Claro que o Tao Te Ching foi escrito e editado em várias épocas. Sobre as citações políticas no Ching, nota-se que foi escrito em tempos de guerras e de trocas de dinastias da China Qin. Muitas passagens denotam um grande conservadorismo e uma relutância ao novo, já que este trouxe. O Príncipe, também, deve manter seu domínio sobre o povo a qualquer custo e não mexer nas estruturas (velhas) que mantém o poder. Poderia comentar mais sobre essa visão que o o Ching é só uma defesa de um sistema econômico/social falido da China da Antiguidade em guerra.
Luís Henrique Palácio da Silva.
Olá Luis! Obrigado pela pergunta. Não acho que seja possível defender a tese que você menciona simplesmente pelo fato de o que chamamos hoje de Daode jing ser uma construção textual que ocorreu paulatinamente na história chinesa. Acho que poderíamos levar em consideração alguns pontos. Primeiro, o que você menciona como "ching", ou jing經 em pinyin, já denota um período bastante tardio na transmissão da história do que hoje em dia se chama por daode jing, já que o termo jing acoplado a nomes de textos clássicos ocorre tardiamente (tardiamente, que eu digo, para a China, remetendo ao período posterior à entrada do budismo em solo chinês).Eu gostaria que você entendesse que o daode jing não é um texto que corresponde ao pensamento de um autor singular, mas um conjunto de textos acoplados que, dependendo da versão, apresenta redação e estrutura diferentes. Para estudar a China do ponto de vista histórico, o mais importante é começar a discussão a partir do problema das edições, não suposições filosóficas ou pseudo-contextualização histórica.
ExcluirConsiderando a análise da religião chinesa feita por Granet, a qual teve importante influência Durkheimiana, é possível associar alguma prática do daoísmo a "fatos sociais" que tenham sido moldados pela sociedade oriental?
ResponderExcluirAss: Luiz Cassio Castro Cardoso
Olá Luiz! Embora a iniciativa do Professor André Bueno de criar um espaço para a discussão da história do Oriente (ou dos Orientes), ainda assim é difícil falar sobre daoísmo de maneira não específica, usando o vocabulário da "sociedade oriental". Mas sim, é possível associar práticas do daoísmo, especialmente práticas que chamamos de rituais, com fatos sociais. O próprio panteão daoísta, bem como as denominações usadas nos graus de ordenação daoísta, também refletem ou fazem uso de hierarquias sociais típicas do sistema burocrático chinês.
ExcluirOlá Luiz! Embora a iniciativa do Professor André Bueno de criar um espaço para a discussão da história do Oriente (ou dos Orientes) seja fundamental, ainda assim é difícil falar sobre daoísmo de maneira não específica, usando o vocabulário da "sociedade oriental". Mas sim, é possível associar práticas do daoísmo, especialmente práticas que chamamos de rituais, com fatos sociais. O próprio panteão daoísta, bem como as denominações usadas nos graus de ordenação daoísta, também refletem ou fazem uso de hierarquias sociais típicas do sistema burocrático chinês.(a resposta saiu incompleta no texto acima, tive que repetir)
ExcluirSobre o Daoísmo, nos dias atuais ainda são praticados esses ritos por toda a China? ou somente pela camada menos desenvolvida do país? ou foi extinguida no fim da dinastia de Han?
ResponderExcluirOlá Géssica. Apesar dos esforços comunistas no sentido de dizimar a religião como um todo (especialmente no período da Revolução Cultural), a tradição daoísta conseguiu sobreviver. Deste modo, sim, os rituais daoístas ainda são praticados atualmente na China continental, que mudou suas políticas em relação à religião no sentido de preservar tradições nativas (mesmo que exercendo controle).
ExcluirBoa noite Bony Schachter, primeiro gostaria de dizer que esse é o meu primeiro contato com esse tema.
ResponderExcluirAo ler seu texto, compreendi que existe uma certa diferença entre a maneira com que os ritos são praticados entre os camponeses em comparação ao culto estatal. Se compreendi corretamente, que diferenças seriam essas? Obrigada.
Fernanda Pereira dos Santos
Olá Fernanda, obrigado pela pergunta! Conforme tentei explicar no texto, a tese de Granet é uma tese sociológica, não histórica. Desta maneira, ela não pode ser lida de maneira literal. O que Granet argumenta é que o rito estatal nada mais é do que a apropriação e a posterior transformação, em textos, do culto agrário, que seria o substrato fundamental da religião chinesa.
ExcluirBoa noite! Quais os principais fundamentos do daoísmo?
ResponderExcluirAtt; Luciana dos Reis de Santana.
Olá Luciana! Obrigado pela pergunta. É difícil generalizar, tratando-se de uma tradição tão longa e diversificada. Precisamos tratar de cada caso especificamente, mas em termos puramente morais e éticos, o daoísmo não destoa da moralidade chinesa mainstream.
ExcluirBoa noite Bony Schachter!
ResponderExcluirDiferentemente de outras tradições religiosas orientais, o Daoísmo é pouco difundido, e sendo sincero, esse foi um dos meus primeiros contato de forma mais significativa. Diante disso, e do exposto sobre as pesquisas acadêmicas realizadas, há perspectivas de algum trabalho dos sinólogos orientais e/ou europeus de terem seus trabalhos traduzidos e publicados no Brasil?
Att,
Dionson Ferreira Canova Júnior
Olá Dionson, bom saber que você teve um primeiro contato com o daoísmo por meio do meu texto. Não acho que haja perspectiva de tradução de trabalhos de sinólogos europeus ou asiáticos. Sinceramente, em termos acadêmicos, tais traduções atrapalham mais do que ajudam, uma vez que os alunos lusófonos, na existência de material traduzido, raramente se esforçariam para aprender os idiomas de sinólogos asiáticos (tais como o japonês e o mandarim). Isto criaria o indesejado resultado de estudantes de China e daoísmo que não sabem nem mesmo ler em chinês. No Brasil, isso é bem possível de acontecer.
ExcluirA carência de fontes por parte dos pesquisadores europeus e americanos, sobre a qual você discorre no último tópico, se dá por dificuldades em tradições de conceitos do daoísmo ou por falta de fontes escritas? Se for por nenhum desses motivos, qual o motivo dessa carência?
ResponderExcluirLucas Vieira dos Santos
substitua ''tradições'' por traduções, não sei editar o comentário.
ExcluirOlá Lucas. Não há carência de fontes escritas. O pesquisador ocidental mediano não lê chinês com a mesma facilidade, acuracidade ou rapidez com que seus colegas chineses são capazes de ler. Em contrapartida, pesquisadores ocidentais tendem a ler as fontes de maneira mais cuidadosa (muitas vezes é preciso traduzi-las, coisa que não se faz em artigos em chinês), contribuindo assim para o aumento da qualidade de seus trabalhos.
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