Simone Aparecida Dupla

ENTRE RASTROS: PISTAS SOBRE UMA PRÁTICA RITUAL DO CULTO DA DEUSA INANNA
Simone Aparecida Dupla


O presente ensaio pretende realizar uma breve abordagem de alguns indícios referentes à prática do hierogamos, em que a deusa súmeria Inanna era protagonista, e discutir até que ponto estes podem ser considerados evidências de que tal prática constitui-se como um ritual na Antiga Mesopotâmia, principalmente a partir do período de Ur III (2112-2004).

A ideia do hierogamos tendo Inanna como protagonista parece fato consumado entre os autores clássicos da Antiga Mesopotâmia, tanto que uma das últimas obras de Samuel Noah Kramer leva exatamente o título de O Casamento Sagrado na Antiga Suméria. Nessa obra o autor sustenta que o hierogamos com Inanna foi celebrado por dois mil anos e relaciona essa cerimônia ao desejo de riqueza dos sumérios que tinham que a prosperidade era dádiva dos deuses.

Para pensar se essas relações entre a divindade e o rei, como forma de legitimação de poder ou táticas de sobrevivência do culto, se expressavam em forma de um ritual, cujo ápice era a consumação do casamento, é preciso verificar até que ponto essas fontes poderiam trazer indícios realmente de um ritual, ou seja, em que sentido a documentação sobre Inanna nos leva a crer que haveria tal cerimônia, se pública ou privada e qual seu papel no imaginário religioso mesopotâmico. 

Ainda sobre a obra de Kramer, os dados usados por ele, não são concretos em relação à celebração e o próprio culto à divindade, pois ao colocar a divindade como sendo tardiamente adorada em seu local de culto, o Eanna, e afirmando que esta apenas foi introduzida no local como hierodula do deus do Céu An, ignora ou desconhece as evidências arqueológicas que confirmam o culto a Inanna desde meados do IV milênio antes da nossa era (SZARZYNSKA, 1993).

Embora aponte que a filha de Nanna, o deus Lua, tenha sido uma das principais divindades adoradas nessa região desde o terceiro milênio, diz que há indícios de que o Rito do Matrimônio Sagrado tendo Inanna como protagonista teve lugar, na cidade de Ur, algumas gerações antes que Dumuzi, seu consorte, possivelmente uma divindade da vegetação, entrasse em cena. Essa perspectiva liga a divindade aos monarcas de Ur, principalmente do período de Ur III, mas não abarca períodos anteriores, onde as evidências também se fazem presentes, como por exemplo, aquelas referentes à própria cidade de Uruk e seu complexo templário.

Gonzalo Rubio acredita que o casamento sagrado fazia parte da “celebração do Ano Novo a partir da segunda metade do terceiro milênio para o início do segundo, o rei, representando Dumuzi, teria - ou, mais provavelmente, fingia ter - relações sexuais com uma mulher (talvez uma entu-sacerdotisa) (RUBIO, 2001, p. 268)” que representaria a deusa Inanna. Para o autor, esta cerimônia teria sobrevivido até o primeiro milênio, onde se encontram pistas da celebração em textos que descrevem rituais reais tanto na Assíria quanto na Babilônia, mas tento como protagonistas outras divindades, como é o caso de Nabu e Nanaya (RUBIO, 2001).

Os textos do período de Ur III, da cidade de Lagash, trazem a menção de que sacerdotisas passavam a noite no dormitório da divindade (RUBIO, 2001), denotando uma possível relação entre essas duas personagens. Nas fontes denominadas o Ciclo de Inanna, as referências são mais escancaradas, as relações entre Inanna e Dumuzi são descritas detalhadamente:

“Ele esculpiu meus quadris com suas doces mãos,
O pastor Dumuzi encheu meu colo com creme e leite,
Ele acariciou meus pelos púbicos,
Ele aguou meu útero.
Ele tocou com suas mãos em minha sagrada vulva,
Ele alisou minha nau escura com seu creme,
Ele tocou minha nau estreita com seu leite, 
Ele me acariciou-me no leito.
Então eu acariciei o alto sacerdote no leito,
Eu acariciei o fiel pastor Dumuzi,
Eu acariciei seus quadris, a força do pastoreio da terra,
Eu decretei um doce destino para ele” (KRAMER; WOLKSTEIN, 1998, p. 4). 

O trecho acima aponta para uma troca de carícias entre a divindade e Dumuzi, seu consorte, essas “preliminares” ocorreriam em um período específico, pois parece incorreto afirmar que a sanção do destino real ocorresse cotidianamente e não fosse objeto de uma cerimônia específica. Além disso, o leito preparado requer cuidados para sua confecção, foi erigido especialmente para agradar a divindade e tinha data determinada, deveria ser durante o desaparecimento da lua, ou seja, lua nova, em dia marcado para a inspeção do leito:

“Quando ela faz confortavelmente, quando ela faz confortavelmente, quando ela faz confortavelmente no leito; quando ela faz confortavelmente no leito que alegra o coração, quando ela faz no leito confortável; quando ela faz no leito do doce abraço confortável, quando ela faz confortavelmente no leito; (...) ela cobre o leito para ele ......, cobre o leito para ele; ela cobre o leito para ele ......, cobre o leito para ele; ela chama o rei para seu doce leito, ela chama o amado (...)” ( ETCSL: T.4.08.30).

Ou ainda:

“170-180. (...) para que no dia do desaparecimento da lua os poderes divinos possam ser aperfeiçoados, uma cama é erigida para minha senhora .Espargida é purificada com perfume de cedro e dispostas no leito para minha senhora, e um lençol é alisado em cima (?) do mesmo.
181-186. A fim de encontrar doçura na cama sobre o lençol da alegria, minha senhora banha suas santas coxas. Ela se banha para as coxas do rei; {ela se banha para (...) com a cabeça erguida ela vai para} as coxas de Iddin- Dagan . A Santa Inana esfrega-se com sabão; ela borrifa de óleo e essência de cedro no chão.
187-194. O rei vai para as coxas sagradas com a cabeça erguida (...) Ela vai para as coxas de Iddin- Dagan , ele vai para as coxas de Inana . Com a cabeça erguida Ama-ušumgal-ana deita ao lado dela e {acaricia suas coxas sagradas} (...) (diz:) "ó minhas santas coxas O minha Santa Inana !"}. Depois a senhora fez dele se alegrar com as coxas sagradas sobre a cama, depois de santa Inana fez dele se alegrar com as coxas sagradas na cama, ela relaxa com ele em sua cama (?): Iddin-Dagan , você é realmente meu Amado! "( ETCSL: T. 2.5.3.1).

Percebe-se que o leito desejado pela divindade não era um leito comum, mas o leito real, onde o senhor (rei/Dumuzi) iria fazer amor, um leito de rainha, ou seja, finamente elaborado, com um lençol de linho branco, salpicado de flores que lembram o lápis lazulli. No segundo trecho, o qual traz como avatar de Dumuzi, o rei Iddin-Dagan, é clara a junção carnal e a purificação ritual, o gesto de jogar perfume no chão e ir para “as coxas” apontam tanto a consumação quanto a performance ritual.

Além disso, o texto menciona um lugar especial para onde o rei iria, o Egal-Mah, para “derramar libações, para realizar rituais de purificação, amontoar ofertas de incenso, para queimar zimbro, para ofertar alimentos (ETCSL: T. 2.5.3.1, linhas 195-202)”. Dessa foram, antes da consumação do casamento deveria haver uma purificação e oferta por parte do monarca, não apenas de presentes para a noiva, mas de sacrifícios em sua homenagem.

A cerimônia exigia também um banquete, o qual o rei preparava a frente da divindade, essa celebração deveria demonstrar a abundância do reino:

“Ele organiza um banquete rico para ela. O povo de cabeça negra alinhadas à sua frente. Com instrumentos altos o suficiente para abafar o vento sul-tempestade, com doce sonoridade do instrumento Algar, a glória do palácio, e com harpas, a fonte de alegria para a humanidade, os músicos executam canções que encantam seu coração. O rei vê o que é comido e bebido, Ama-ušumgal-ana vê o que é comido e bebido. O palácio está em clima de festa, o rei está alegre. As pessoas passam o dia em meio a fartura. Ama-ušumgal-ana está em grande alegria. Que seus dias sejam longos no esplêndido trono! Ele orgulhosamente (?) Ocupa o estrado real" ( ETCSL: T. 2.5.3.1).

Dessa forma, o rei oferece um banquete para Inanna, um banquete que era reproduzido em cada lar, possivelmente como sinal de abundância ou desejo desta e também como oferenda. Assim, enchia-se a mesa com queijo, sete tipos de frutas, onde se oferecia os primeiros frutos para a divindade, vertia-se cerveja escura e clara, assavam-se bolos de mel (ETCSL: T. 2.5.3.1). 

Havia o costume de realizar logo pela manhã uma espécie de rito onde se derramava farinha, mel e vinho ao nascer do sol. O deus pessoal dos participantes também a servia com alimentos e bebidas (ETCSL: T. 2.5.3.1, linhas 150-162). A ideia de deus pessoal deve-se ao fato dos mesopotâmicos se ligarem a apenas uma divindade durante toda a vida, mas aceitarem a existência de outros deuses, sendo, portanto, henoteístas. Assim, Inanna teria devotos mesmo entre aqueles cujo deus pessoal não era ela, ou ao menos estes lhe renderiam homenagens nessa festividade juntamente com o restante do panteão.

Também é interessante notar que a divindade embora se prepare para cópula com purificações, era preciso que a terra estivesse purificada para sua descida, o texto aponta que todos (os que estão envolvidos com a cerimônia, fieis que vem de outros lugares e aqueles preparam a festividade) se apressam em deixar tudo purificado e organizado para a chegada da “sagrada Inana”. Assim, nos lugares “puros da planície, em seus lugares acolhedores, os telhados das habitações, nos santuários da humanidade, são oferecidos incensos, como uma floresta de cedros aromáticos são ofertados a ela. Eles purificam a terra para a senhora” (ETCSL: T. 2.5.3.1), e a celebram em canções.

Outro elemento também atestado na documentação é a virilidade do rei:

“12-18. Quando meu doce precioso, meu coração, deitou-se também, beijaram-se com a língua, um de cada vez, então meu irmão dos belos olhos fez cinquenta vezes para ela, exaustivamente esperando por ela, enquanto ela tremia por baixo dele em silêncio, em silêncio para ele. Minha querida preciosa passou o tempo com o meu irmão, colocando as mãos nos quadris dela” (ETCSL, T.4.08.04).

Dessa forma, pode ser dado como certo, que Inanna manteve uma relação carnal com o rei-pastor, cuja execução correta trazia prosperidade ao povo sumério. Mas quando o monarca partia para a terra sem retorno era preciso substituí-lo, encontrar alguém a altura de ser o avatar de Dumuzi, o primeiro amante. Essa preocupação em perpetuar o evento, em repetir periodicamente a cerimônia, podemos chamar de tradição e por estar relacionada à tradição, por manter traços, frases e atitudes da primeira cerimônia, podemos chamar isso de ritual.

Como lembra Verhoeven é “através da ação ritual que as crenças religiosas são comunicadas, negociadas e transmitidas” (VERHOEVEN, 2011, p.117). Dessa forma, é possível afirmar que existia um ritual do casamento sagrado, voltado à crença de que os esponsais com a divindade asseguravam a fertilidade de seres humanos e animais, a prosperidade do povo e a proteção contra catástrofes e guerras.

Se era uma sacerdotisa Entu, ou uma das esposas do rei, a questão parece irrelevante, visto que geralmente as mulheres da corte estavam envolvidas com alguma função clerical. Há dados, por exemplo, acerca de Enheduana, neta de Sargão de Akkad, que comprovam sua atuação como sacerdotisa de Nanna e adoradora de Inanna, a qual recorre quando destituída de seu cargo. Ou mesmo os hinos dedicados a reis, como é o caso de Shulgi, onde, segundo Leick, quem escreveu foi uma de suas esposas (LEICK, 2001).

Ainda sobre o ritual, Leo Openheim, em sua obra “Mesopotâmia: retrato de uma civilização extinta”, acredita que em relação à performance, nessa cultura podemos classificar três tipos de rituais nessa categoria: orações, textos mitológicos e textos rituais (OPPENHEIM, 2003).

Os textos mitológicos, se assim, podemos qualificá-los, visto que esse termo se refere, a mitos e obras literárias, que evocam certa imagem mitológica, dizem respeito, para o autor, às formulações literárias que são obras de poetas sumérios da corte, as quais os escribas paleobabilônicos vieram a imitar posteriormente. Essas obras “contem adaptações feitas para um público relativamente recente, de elementos mitológicos simples, e frequentemente primitivos, pálidos reflexos de histórias que circulavam entre determinados grupos da população mesopotâmica, trazidos de um passado longínquo” (OPPENHEIM, 2003, p. 176).

O terceiro grupo apontado por Oppenheim, diz respeito às numerosas descrições de rituais, que se executava frequentemente nos santuários, por sacerdotes e técnicos do templo. 

“Estes textos descrevem, quase sempre com muitos detalhes, os atos particulares de um determinado ritual, as orações e fórmulas que se deveria recitar (citadas integralmente ou bem por seu incipit), assim como as oferendas e o aparato sacrificial necessários; em resumo, logram transmitir-nos parte das atividades que se desenvolviam no interior de um templo mesopotâmico” (OPPENHEIM, p. 176).

Assim, estes textos trazem de forma detalhada, a performance ritual, como é o caso do festiva de Ano Novo babilônico, que possivelmente tem suas raízes no período pré-sargônico, mas o qual não podemos datar com exatidão, dado a natureza furtuita das fontes, portanto a antiguidade a que remonta tais rituais e festividades só pode ser pressuposta, por meio dos resquícios arqueológicos a que as fontes estão sujeitas.

A literatura mesopotâmica era rica em material de cunho religioso, seus mitos contavam a gesta dos deuses, explicavam a organização do universo e davam sentido ao universo material e espiritual dessa cultura. Nos hinos de louvor que trazem aspectos do ritual do hierogamos, percebemos que a presença de referências a essa festividade é uma recorrente, assim como a ideia de junção carnal entre o rei e a divindade. 

Os monarcas de Ur III quiseram deixar registradas suas relações pessoais com a divindade, entre eles Shulgi e Naram-Sin, mesmos os hinos que dedicados aos reis, mencionam Inanna como esposa e protetora destes, como é o caso do hino dedicado ao Shulgi, onde este diz ser aquele que é destinado ao deleite de Inanna (PEINADO, 1988, p. 163) ou aquele dedicado a Ishbierra, onde este diz que construiu um leito para a divindade: “El construyó para ella um lecho [...] y lo introdujo después en el templo de Inanna [..] [a  derecha] e  izquierda él [tendió] um león” (PEINADO, 1988, p. 169).

Após os monarcas de Ur, aqueles de Isin-Larsa também disseram amantes da divindade, como é o caso de Lipit-Ishtar, cantado como desejado esposo de Inanna, a delícia de seu coração (PEINADO, 1988, p. 181).

“Lipit-Ishtar, el hijo de Enlil, soy yo.
Al palácio real, mi morada, yo entro:
Mi esposa, la sagrada Inanna, 
ha hecho firme el fundamento de mi trono.
a la cama, el lugar de alegría de [su] corazón, [voy hacia ella]:
Para mucho tempo, para siempre me ha abrasado ella. 
!En esse sito querría passar, en jovialidade y alegría de corazón,
los días com la dueña del cielo!” (PEINADO, 1988, p. 185).

Dessa forma, o aparato de imagens e símbolos criados em torno da festividade, bem como as descrições detalhadas da cópula e da relação especial com o rei apontam sempre para a consumação do casamento. Nesse sentido, os ex-votos denominados “amantes abraçados no leito”, que discutiremos em outro momento, parecem vir de encontro a essa relação sexual estabelecida entre o monarca e a divindade. 

Assim, torna-se possível afirmar, que de acordo com as pistas encontradas nas fontes, havia um ritual de hierogamos, onde Inanna foi o objeto principal de culto e cuja magnitude em termos estilísticos e a dimensão de tal festividade contribuiu para perpetuação do culto, ratificou o reinando dos soberanos, além de servir de modelo comportamental reproduzido no cotidiano das pessoas comuns. 

Referências
Simone Aparecida Dupla é doutoranda em História pela UEM, sob orientação da professora Dra. Solange Ramos de Andrade. 
E-mail: cathain_celta@hotmail.com 

LEICK, G.  Sex and eroticism in Mesopotamian literature. New York: Taylor & Francis, 2003.
ETCSL, T.4.08.04. A balbale to Inana (Dumuzid-Inana D). Disponível: 
http://etcsl.orinst.ox.ac.uk/cgi-bin/etcsl.cgi?text=t.4.08.04# 
ETCSL: T. 2.5.3.1. A šir-namursaĝa to Ninsiana for Iddin-Dagan (Iddin-Dagan A). Disponível em:
 http://etcsl.orinst.ox.ac.uk/cgi-bin/etcsl.cgi?text=t.2.5.3.1# 
ETCSL: T.4.08.30A song of Inana and Dumuzid (Dumuzid-Inana D1). Disponível em: 
http://etcsl.orinst.ox.ac.uk/cgi-bin/etcsl.cgi?text=t.4.08.30# 
KRAMER, S.N. El Matrimonio Sagrado en la Antigua Sumer. Barcelona: AUSA, 1999.
OPPENHEIM, A. Leo. La Antigua Mesopotamia: retrato de una civilización extinguida. Madrid: Gredos, 2003.
RUBIO, Gonzalo.  Inanna and Dumuzi: A Sumerian Love Story. Journal of the American Oriental Society, Vol. 121, No. 2 (Apr. - Jun., 2001), pp. 268-274.
SZARZYNSKA, Krystyna. Offerings for the Goddess Inanna in Archaic Uruk. In: Revue d’Assyriologie. Paris: Gabala, 87, 1993.
VERHOEVEN, Marc. The many dimensions of ritual. In: INSOLL, Timothy. The archaeology of ritual and religion. OXFORD: University Press, 2011.

9 comentários:

  1. Adorei a história de Innana, não conhecia. Fiquei curiosa pra saber exatamente de onde estão suas fontes sobre ela e principalmente, se é possível encontrá-las facilmente traduzidas?
    Tayná Gruber

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    1. correção básica: *onde estão.
      Tyná

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    2. Oi Tyná, tudo bem? Trabalho com Inanna desde a graduação. As fontes estão disponíveis no ETCSL (corpo eletrônico de Literatura Sumeriana), da Universidade de Oxford, com transliteração e tradução para o inglês. Além desse arquivo eletrônico, há obras que trazem alguns documentos, como Samuel Noah Kramer,Rafael Jiménez Zamudio e Federico Lara Peinado. Há também fontes iconográficas disponíveis no site do Instituto Oriental da Universidade de Chicago.

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  2. Boa tarde! A relação sexual do monarca com a deusa, se feita corretamente, poderia trazer prosperidade ao povo. Poderíamos dizer que essa relação possui um papel fundamental, além de poder ter uma interpretação alternativa. O monarca, representado por um homem, ainda que tenha subordinadas trabalhando junto a sua corte, precisa de uma mulher para fazer nascer uma prosperidade, ou seja, essa relação geraria um "bebê" que levaria bons frutos ao povo, mas isso só é possível quando se satisfaz a deusa, a mulher! Diferentemente do cristianismo, no qual uma mulher dá a luz sem perder a virgindade a um homem que levaria prosperidade a humanidade, esse homem é filho de Deus. Nesse outro caso, tem-se a necessidade de manter relações com uma mulher para garantir a "iluminação ".
    Arthur D'Elia dos Santos

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    1. Olá Arthur, obrigada por ler meu texto. Veja, sobre suas colocações, não há qualquer indício de que tal prática refente a essa divindade, venha a gerar um "bebê", muito pelo contrário, Inanna nunca aparece como aquela que procria. Nesse contexto, para que haja prosperidade,no sentido que Kramer emprega, deve-se satisfazer sexualmente a divindade, quem decretava um destino favorável,com cheia nos rios, com plantas enchendo os celeiros era a divindade. A deusa era sim, mulher por excelência, mas nem por isso virgem, no nosso sentido moderno ou dependente de um homem, deus ou não. A Mesopotâmia era formada por um leque muito grande de culturas e sistemas simbólicos, as relações entre as divindades (femininas e masculinas) e os seres humanos era algo comum. O caso de Inanna, reflete uma das formas de pensar daquela temporalidade, além disso, sua influência foi além das fronteiras físicas do espaço onde esta imperava. Não creio que ela possa ser encarada de forma simplista, de que seu culto possa ser reduzido a um culto da fertilidade, no sentido empregado por James Frazer. Creio que as relações de poder e religiosidade no culto a Inanna eram complexos e variados, tal qual era a sociedade a qual ela pertencia.
      att

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  3. No ritual oferecido a Deusa Iananna, havia um rei (humano) e uma mulher (humana) como representação carnal da Deusa ou sua própria “reencarnação” ou seria algo mais simbólico, sem a representação carnal da Deusa? No primeiro caso, como se daria a “escolha” dessa mulher e qual seria seu papel depois do fim do ritual?

    Ana Carolina Martinez

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    1. Olá Ana Carolina, obrigada por ler meu texto.
      Durante o período de Ur III,por exemplo, a deusa tinha como receptáculo uma sacerdotisa.Era comum, na Mesopotâmia, que mulheres da elite fizessem parte do corpo clerical, havia diversas funções religiosas executadas por mulheres. Enheduanna, por exemplo, neta de Sargão de Agadé, foi uma sacerdotisa do deus Lua Nanna, mas que tinha uma relação especial com Inanna, implorando que esta intercedesse por ela, quando expulsa do templo. Guendolyn Leick acredita que durante o reinado de Sulgi, segundo rei da dinastia de Ur III, quem compartilhava o lugar de honra no ritual ao lado do rei era uma de suas mulheres. Não encontrei relatos sobre os receptáculos das divindades,nas fontes, os atores principais eram a deusa e seu consorte Dumuzzi, representado pelo monarca. É importante colocar que para aquela cultura, as divindades habitavam os templos, no sentido literal do termo, haviam estátuas ricamente elaboradas e ritualmente inseridas nesses locais.Os deuses eram alimentados, vestidos, assistidos em suas necessidades, podiam viajar e constituir família, tramavam conflitos e negociavam a paz. A ordem social humana era uma "réplica" do mundo divino. Então para aquele momento, não era um ser humano que estava lá, senão a própria divindade, com todo seu esplendor.
      Simone Dupla

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  4. Boa noite, Simone. Parabéns pelo texto. É meu primeiro contato com o tema, que aliás é muito interessante. Você poderia explicar um pouco o que era o denominado " Ciclo de Inanna" ?

    Greyce O. da Cunha.

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  5. Simone, aqui vai outra pergunta!

    A mulher escolhida para representar a deusa durante o ritual, posteriormente continuava como representante ou era uma representação que durava apenas no decorrer do ritual?

    Greyce O. da Cunha.

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