DO EXTREMO ORIENTE AO NOVO MUNDO: CAMINHOS DA INTERCULTURALIDADE NA MISSIONAÇÃO JESUÍTA PORTUGUESA
(SÉC. XVI E XVII)
Fernando Roque Fernandes
O presente texto contém algumas reflexões sobre os fenômenos de expansão marítima iniciados ainda no século XV. Ao contrário do que afirmam alguns estudos, os chineses foram pioneiros na navegação em grande escala. Já os portugueses, empreenderam grandes conquistas. Com o auxílio das caravelas, instrumentos de navegação e especialmente dos missionários, os portugueses estabeleceram colônias e empreenderam missões religiosas. Conforme se verá, China, Japão e Amazônia estiveram entre as principais rotas da expansão marítima portuguesa entre os séculos XVI e XVII. Tais regiões estabeleceram particulares relações, cada uma a seu modo, com os projetos de missionação da Companhia de Jesus no Ultramar.
Considerações Iniciais
Entre os séculos XV e XVII, o mundo se viu transformado por uma expansão marítima europeia que alcançou diferentes partes do globo terrestre. O crescimento significativo das técnicas de navegação, aliados à conhecimentos tecnológicos trazidos do Oriente se conformou por características socioculturais que impactaram a humanidade. Instrumentos como o Astrolábio, originário do mundo árabe, e a Bússola, de origem chinesa, se constituíram como importantes elementos que possibilitaram uma ampliação das conexões marítimas europeias. A presença de tais instrumentos na Europa Moderna nos informa dos indícios interculturais refletidos na articulação da cultura material de diferentes povos e como esta interação influenciou, muitas vezes de modo significativo, os empreendimentos expansionistas daquelas sociedades.
Expansão Marítima Chinesa no Século XV
É bem verdade que, antes mesmo de os europeus se lançarem aos mares, os chineses já desenvolviam uma intensa navegação, inclusive de caráter político e comercial, pelas águas africanas e asiáticas. A China, ainda no século XV, já se constituía como importante nação expansionista naquelas águas. O período denominado de Expansão Chinesa Quinhentista detém implicações históricas particulares no que diz respeito às conjunturas políticas, tecnológicas, econômicas e sociais que possibilitaram àquela nação tal empreendimento.
Zheng He (1371-1433/6), foi o mais conhecido navegador chinês daquele período, sendo considerado por muitos estudiosos do assunto como o maior navegador da história da China. Zheng He teria comandado sete expedições marítimas num período de quase trinta anos (1405-1433). Em expedições compostas por números de marinheiros que chegavam a trinta mil homens, Zheng teria navegado pela costa da Ásia, Oceano Índico e pela Costa Oriental da África. Infelizmente, muitos dos registros sobre tais expedições não estão acessíveis, assim como de muitas outras ocorridas. Daí a dificuldade em desenvolver estudos relacionados ao período que poderíamos denominar de tempo de ouro na história da navegação oriental.
Quando os portugueses chegaram em 1517 e os holandeses em 1601 à China, esta já havia se fechado para a expansão marítima em larga escala. As razões para tal procedimento estariam relacionadas aos constantes ataques de piratas, inclusive japoneses, que saqueavam suas embarcações. Há relatos também de profundas reformas ocorridas durante o Império da Dinastia Ming (1368-1644). Contudo, apesar das mudanças na relação com o mundo externo, o Extremo Oriente não ficaria fora da expansão europeia que se processavam a partir do século XV, empreendida, especialmente, por Portugal e Espanha. Mesmo aparentemente desconectadas, estas diferentes nações estabeleceriam relações por outros caminhos.
Expansão Marítima Europeia
O contexto da expansão marítima europeia, iniciada concomitantemente à retração na navegação marítima chinesa, está relacionado a diferentes fatores ocorridos na Europa: Renascimento Intelectual Italiano, Reformas e Contrarreformas Religiosas, “Descoberta” do Novo Mundo, expansão marítimo-comercial mercantilista, descoberta de novas rotas marítimas para as Índias, dentre outros fatores. No que concerne às reformas e contrarreformas religiosas a expansão e o rápido crescimento do protestantismo se constituíram como elementos radicais na percepção religiosa medieval que se processavam deste o colapso do Império Romano.
Dentre as alternativas encontradas pela Igreja Católica para a manutenção da religiosidade que conformava a sua base, emergiram procedimentos como a Restauração do Tribunal da Inquisição, a criação do Índex de livros proibidos e a criação da Companhia de Jesus. Este último mecanismo demonstrou, ao longo do tempo, ser uma ferramenta indispensável, rapidamente conectada aos interesses colonizadores dos países católicos ibéricos.
A Companhia de Jesus na Expansão Marítima
A chegada dos portugueses no Extremo Oriente concorreu para um processo de evangelização cristã em larga escala. Os desafios demonstraram desde cedo serem dos mais diversos. A Companhia de Jesus se apresentou como a ordem religiosa melhor preparada para desempenhar a função de “converter” novos fiéis à fé Católica.
Bem longe dali, no Novo Mundo, também se processavam grandes empreendimentos coloniais. A cobiça dos impérios católicos fez com que a Igreja dividisse o novo mundo. A Bula Inter Coetera, assinada em 1493, por não promover os anseios portugueses, foi no ano seguinte substituída pelo Tratado de Tordesilhas (1494). O novo mundo, dividido entre Portugal e Espanha refletia a busca material daquelas potências e, por outro lado, os anseios de manutenção da fé religiosa ameaçada pelo protestantismo.
Por várias partes do mundo, os portugueses, religiosamente, representados pela Ordem Jesuíta, mas não somente, empreendiam uma colonização com bases cristãs que, aliava os interesses de salvação aos interesses mercantis, conectando a metrópole e suas colônias por razões comerciais e espirituais. Poderíamos dizer que a salvação de muitas almas submetidas às autoridades coloniais, especialmente na Ásia, África e na América ocorreu numa conjuntura de grandes mudanças no mundo ocidental. Muitos dos novos conversos cristãos foram levadas a crer que a salvação era basicamente sinônimo de trabalho.
Obviamente, que não se pode generalizar tais afirmações, e muito menos reduzir a importância das missões jesuítas, assim como seu significado, à questões unicamente políticas e mesmo econômicas. Há um elemento espiritual que dimensiona o sucesso da Companhia de Jesus por onde quer que empreendesse a missionação. Ressalvadas as características estratégicas da ordem Jesuíta, a apropriação do significado desta instituição religiosa tendia a ser condicionada ao próprio ambiente cultural no qual se inseria. De todo modo, a relação entre salvação e trabalho se projetava como pano de fundo da expansão marítima que se processou no Mundo Moderno.
Jesuítas na China
Conforme aponta Palazzo (2011), os jesuítas iniciaram a missionação na China a partir de Macau. Esta cidade se constituía como entreposto comercial português desde a chegada destes na região, em 1517. A partir de Macau, os jesuítas teriam se constituído como a comunidade religiosa mais influente da região. Ainda para Palazzo (2011), em Macau, “a Companhia de Jesus estabeleceu uma base importante não apenas para a missionação [...] mas para, a partir dela, penetrar no território chinês, no coração do Império, chegando até Beijing”.
Apesar de se constituírem como importantes intelectuais, aliados dos confucionistas e articulados com a população local, os jesuítas alcançaram seus empreendimentos missionários apenas em pequena escala. O lugar que os inacianos passaram a ocupar, após sua inserção no ambiente cultural chinês rendeu-lhes certo prestígio e o reconhecimento de grandes intelectuais. Tendo a catequese como objetivo maior, a grande contribuição dos jesuítas em Macau esteve mesmo relacionada às suas atividades acadêmicas e artísticas.
As pesquisas de fôlego que dizem respeito a este capítulo da história jesuítica ainda são escassas. De todo modo, é possível considerar que, na China, apesar de se constituírem como importantes agentes culturais intermediadores entre os europeus e os chineses e de serem reconhecidos por seus conhecimentos científicos e habilidades artísticas, os inacianos também passaram por profundas influências da cultura chinesa.
Em comparativo com as colônias portuguesas na América, o estabelecimento jesuíta na China foi dimensionado pelo modo de governo daquele lugar. Se na América os portugueses estabeleceram a colonização a partir das relações diversas situadas entre as múltiplas organizações indígenas localizadas no território e que detinham certa autonomia umas das outras, permitindo aos portugueses instaurarem alianças e/ou conflitos em escalas locais e ir conquistando o território, na China, os portugueses, assim como os jesuítas se depararam com um vasto Império, governado por uma forte e consolidada dinastia, especialmente no decorrer dos séculos XVI e XVII.
Jesuítas no Japão
Conforme aponta Hichmeh (2013), os primeiros contatos entre portugueses e japoneses ocorreram, também no século XVI. No entanto, a chegada dos portugueses ocorreu em um contexto de intensos conflitos. Desde fins do século XV, o Japão passava por uma situação de “guerra civil”, iniciada por conta do colapso do poder central, dando vazão ao fortalecimento de poderes locais. À época, a figura do imperador detinha uma representação de caráter simbólico.
A chegada dos portugueses concorreu para acirrar as disputas. Muitos poderes locais, intencionados a acessar as armas de fogo portuguesas, a estes se aliaram para fortalecer seus poderios bélicos. Apesar dos contatos pacíficos iniciais, estes não duraram por muito tempo. Os conflitos foram desencadeados, justamente, pela chegada dos jesuítas ao Japão, em 1549. Conforme aponta Hichmeh (2013), a chegada do padre Francisco Xavier inauguraria o período denominado por Charles Boxer (1951) de “século cristão do Japão”.
Esse período foi marcado por três fases: 1. O sucesso da missionação jesuíta; 2. O fortalecimento da crítica japonesa quanto aos procedimentos concernentes à fé cristã e 3. A perseguição dos jesuítas por conta de suas práticas contraditórias à tradição japonesa.
Procedimentos de reunificação iniciados a partir desse período concorreram para o enfraquecimento do prestígio alcançado pelos jesuítas no primeiro século da presença da ordem no Japão. Apesar das tentativas de manutenção das relações com os portugueses, sem que se incluísse aí o aspecto religioso, e concorrendo para a expulsão dos jesuítas, o governo japonês não empreendeu um processo de perseguição aos inacianos, o que lhes permitiu permanecerem ali oficialmente até 1640, quando um édito imperial proibiu qualquer prática cristã em todo o império japonês.
Com a proibição do culto cristão em terras japonesas e a oficialização do confucionismo como doutrina oficial, os ensinamentos dos inacianos foram gradualmente adquirindo diferentes representações.
Jesuítas na Amazônia Portuguesa
As missões religiosas desempenharam papel importante no processo de cooptação dos índios na Amazônia. O auxílio no processo de expansão territorial, a arregimentação de mão de obra para desempenhar atividades no dia a dia e o processo de estabelecimento das fronteiras coloniais, foram algumas das funções desempenhadas pelas ordens missionárias. Hoornaert (1990) chamaria o período compreendido entre 1607 e 1661 de “o período profético das missões na Amazônia Brasileira”. Para Moreira Neto (1990), o período profético” teria ocorrido entre os anos de 1607 e 1686. O autor observou que os jesuítas foram os pioneiros nas entradas que constituiriam os territórios pertencentes ao Maranhão e Grão-Pará.
A presença dos jesuítas na Amazônia passaria a ser constante a partir de 1637 quando o padre jesuíta Luís Figueira, vindo do Maranhão, chegaria a Belém e daria início ao trabalho missionário, “percorrendo o Tocantins, o Pacajá e o Baixo Xingu” (Moreira Neto, 1990). Foi neste mesmo ano que os dois irmãos leigos espanhóis e padres franciscanos, Brieva e Toledo, chegaram a Belém descendo da cidade de Quito, no Vice-Reino do Peru, pelo rio Napo com apenas seis soldados em uma canoa, seguindo todo o curso do “Rio de las Amazonas” (Rabelo, 2015). A chegada dos franciscanos espanhóis teria estimulado os colonos portugueses a facilitar o assentamento de missionários oriundos de Portugal na Amazônia (Fernandes, 2015).
A partir desses acontecimentos, os colonos passaram a dar maior liberdade aos missionários jesuítas, especialmente no que envolvia o desenvolvimento de suas missões. Aproveitando tal ocasião, os jesuítas logo fundaram casas em São Luís, Belém e Cametá (Moreira Neto, 1990). O crescimento econômico na região e a presença dos portugueses acentuou conflitos que já se processavam antes mesmo da chegada dos europeus. Com a chegada destes, os territórios e suas potencialidades também passaram a ser cobiçadas em perspectivas mercantilistas, o que concorreu para a escravidão dos nativos.
A forma como este processo ocorreu em fins do século XVII demonstra que os jesuítas sempre foram a força responsável por grande parte da missionação na Amazônia, assim como a ordem detentora de maior prestígio político junto à Coroa. É bem verdade que passaram por alguns momentos angustiantes. Foram expulsos da região em 1661 e em 1684, mas retornaram. A partir de 1686, empreenderiam grandes projetos de missionação que só derrocariam com as reformas pombalinas da segunda metade do século XVIII. Mas, apesar dos conflitos políticos, econômicos e religiosos entre colonos portugueses, a presença estrangeira também se constituiu como importante tônica dos embates que envolveram, inclusive, povos indígenas pelas conquistas da Amazônia no século XVII.
Considerações Pontuais
Com base nas informações apresentadas, pode-se considerar que os jesuítas se constituíram como importantes elementos da expansão marítima portuguesa no período moderno, tendo conectado diferentes partes do mundo a partir de seus ideais de missionação. Deve-se também considerar que a expansão marítima portuguesa foi antecedida por um processo expansionista de proporções intercontinentais iniciado anos antes pelos chineses.
Tais processos concorreram para a conexão de diferentes partes do globo entre os séculos XV e XVII da era cristã. Observa-se que apesar de se constituir como elemento importante de conexão, tendo se estabelecido em importantes regiões do Extremo Oriente, as conjunturas nas quais os missionários jesuítas empreenderam a evangelização foram dimensionadas pelas características políticas, econômicas e culturais de povos com os quais estabeleceram contatos.
As diferenças dos resultados alcançados na China, no Japão e na Amazônia Portuguesa, conforme se pôde observar, foram condicionados por características sócio históricas que estavam para além das bases criadas pela Companhia de Jesus. Esbarrando naquilo que poderíamos denominar de barreiras culturais, em alguns empreendimentos, os jesuítas demonstraram a incapacidade de construir um império cristão de proporções globais naquele período.
Referências
Fernando Roque Fernandes é Doutorando em História Social da Amazônia pela Universidade Federal do Pará; Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Formação de Professores e Relações Étnico-Raciais; Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (DS-CAPES).
E-mail: fernando_clio@hotmail.com
BOXER, Charles Ralph. O Império Colonial Português (1414-1825). Lisboa, Edições 70, 1977.
FERNANDES, Fernando Roque. O teatro da guerra: índios principais na conquista do Maranhão (1637-1667). Dissertação defendida no Instituto de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal do Amazonas. Manaus, AM. 2015. Disponível em: http://ppgh.ufam.edu.br/attachments/article/197/Fernando Fernandes_Dissert_2015.pdf Acesso em: 19 ago. 2017.
HICHMEH, Yuri Sócrates Saleh. O Cristianismo no Japão: do proselitismo jesuíta à expulsão da Igreja. Anais do XXVII Simpósio Nacional de História. Conhecimento Histórico e Diálogo Social. Natal, julho 2013. Disponível em: http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364736794_ARQUIVO_OCristianismonoJapaodoProselitismoJesuitaaExpulsaodaIgreja.pdf Acesso em: 15 ago. 2017.
HOORNAERT, Eduardo. O breve período profético das missões na Amazônia Brasileira (1607-1661). In Comissão de Estudos da História da Igreja na América Latina – CEHILA. História da Igreja na Amazônia. ed. Vozes, Rio de Janeiro, 1990.
MOREIRA NETO, Carlos de Araújo. Os principais grupos missionários que atuaram na Amazônia Brasileira entre 1607-1759. In Comissão de Estudos da História da Igreja na América Latina – CEHILA. História da Igreja na Amazônia. ed. Vozes, Rio de Janeiro, 1990.
PALAZZO, Carmen Lícia. Os jesuítas na China: especificidades da missionação chinesa e contraponto com as atividades no Brasil. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História. São Paulo, julho 2011. Disponível em: http://www.snh2011.anpuh.org/ resources/anais/14/1312332954_ARQUIVO_ArquivoalteradoJesuitas.pdf Acesso em: 22 ago. 2017.
PEREIRA, José Manuel Malhão. Aspectos Náuticos das viagens de Zheng He. Trabalho apresentado no VII Colóquio Internacional sobre a China. Instituto de Ciências Sociais e Políticas, 2005. Disponível em: http://chcul.fc.ul.pt/textos/malhao_pereira_2005. pdf Acesso em: 15 ago. 2017.
RABELO, Lucas Montalvão. A Representação do Rio 'das' Amazonas na Cartografia Quinhentista: entre a tradição e a experiência. Dissertação defendida no Instituto de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal do Amazonas. Manaus, AM. 2015. Disponível em: http://ppgh.ufam.edu.br/attachments/ article/197/DISSERTA%C3%87%C3%83O%20-%20LUCAS%20 MONTALVAO%20RABELO %20(1)%20(1).pdf Acesso em: 23 ago. 2017.
ZHENG Yijun, As técnicas de navegação nas armadas de Zheng He e a sua contribuição para a ciência náutica. In Actas do Seminário Ciências Náuticas de Navegação nos Séculos XV e XVI, Instituto Cultural de Macau e Centro de Estudos Marítimos de Macau, 1988. Disponível em: http://slideplayer.com.br/slide/90188/ Acesso em: 20 ago. 2017.
Caríssimo Fernando, parabéns pela escolha do texto e, principalmente por tecê-lo de forma esclarecedora!
ResponderExcluirQuando se trata de culturas diferentes é comum gerar um embate. Você cita a questão da diferença dos resultados entre China, Japão e Amazônia Portuguesa, e eu gostaria de saber se houveram estratégias semelhantes para a missionação jesuíta entre as localidades ou se as barreiras culturais ganharam mais espaço, por isso, naquele período não obtiveram sucessos em suas missões no Oriente?
Grata!
Beatriz da Silva Mello
Caríssima Beatriz Mello,
ExcluirAgradeço pela leitura do texto e pelas questões que pontuas. Fico feliz que o tema tenha lhe chamado a atenção.
Tenho estudado sobre o processo de missionação jesuíta especialmente no que concerne ao período relacionado à colonização do continente americano. As análises sobre como esse processos ocorreram em outras partes do globo terrestre me tem permitido observar que, conforme você aponta muito bem, tais processos foram, e ainda hoje o são, dimensionados por questões culturais outras, especialmente relacionadas aos contatos entre diferentes culturas e mesmo grupos étnicos.
Sobre as estratégias utilizadas pelos missionários, cabe apontar algumas questões:
A primeira delas se dá pelas razões que levaram à criação da própria Ordem Jesuíta. Esta, em certo sentido, teve espaço na sociedade europeia justamente por conta de uma necessidade sentida por alguns fiéis, como no caso de Inácio de Loyola, e da própria Igreja Católica em responder à iminente expansão das ideologias protestantes que provocaram uma significativa mudança no pensamento religioso europeu. Por isso, de acordo com a historiografia que trata da Reforma Protestante, a criação da Companhia de Jesus é considerada como parte das estratégia criadas pela Igreja Católica a partir do fenômeno denominado de Contra Reforma. Deste modo, a criação da Ordem se aliava aos interesses da Igreja em responder à Reforma Protestante.
Outra questão é, justamente, o período de grandes transformações que fazem parte do contexto moderno europeu. Grandes "descobertas" marítimas, criação de rotas marítimo-comerciais alternativas e um novo modelo econômico (Mercantilismo) levaram a criação de novas alternativas para a própria cristandade.
Aliando interesses políticos, religiosos e econômicos países católicos como Portugal e Espanha (grandes Estados Absolutistas Católicos e expansionistas) desenvolveram estratégias particulares que aliavam a expansão geopolítica aos interesses econômicos e religiosos. Conquistar territórios, desenvolver o comércio e monopolizar as rotas marítimas se aliavam à ideia da própria Igreja Católica em construir um Império Cristão no Ultramar.
Para alcançar tais objetivos, a Igreja financiou várias ordens missionários. Franciscanos, Carmelitas, Mercedários, Capuchinhos, dentre outros foram exemplo elucidativo. Os jesuítas se destacaram especialmente pela grande articulação administrativa, estratégia de aliar interesses religiosos à políticos e por se caracterizar como um ordem de caráter secular que se lançava para o mundo ao invés de se separa dele, como faziam àquelas ordens que criavam missões, colégios, mosteiros e conventos com o intuito de dificultar a relação de seus fiéis com o mundo cotidiano.
Este último ponto é fundamentalmente importante para se compreender o certo êxito alcançado pela Ordem Jesuíta. Estes, apesar de objetivarem converter os povos com os quais estabeleceram relações, o tentaram de modo específico à cada situação. E isto dependia mais das culturas nas quais se inseriram do que propriamente à capacidade dos missionários jesuítas em se inserir entre novos povos e incutir a mentalidade católica cristã. Os jesuítas ficaram conhecidos como "verdadeiros soldados de Cristo", especialmente pela habilidade em se adaptar à ambientes hostis e pela filosofia de sua Ordem considerar que lutavam uma guerra onde se caracterizam como parte do Exército de Cristo.
Continua na próxima mensagem...
Fernando Roque Fernandes.
Uma das principais estratégias dos jesuítas consistia em adaptar-se aos costumes desses povos e ir gradualmente convertendo-os á fé cristã. Em alguns lugares, como a América, o discurso cristão alcançou maiores resultados. Em casos como China e Japão, tiveram que dialogar com regimes políticos discordantes que acabavam por dimensionar o modo e a força da atuação dos missionários em seus territórios.
ExcluirApesar do projeto jesuíta de construir um Império Cristão de proporções globais, é mister considerar que, muitas vezes, tal projeto esbarrou e mesmo alcançou diferentes resultados, justamente por contas de barreiras culturais.
Podemos, por fim, considerar que aquilo que podemos denominar em alguns casos como "fracasso" ou "sucesso" da presença jesuíta em várias partes do globo no período moderno, deve ser analisado a partir dos espaços alcançados, e mesmo reservados, aos missionários jesuítas em cada sociedade com a qual mantiveram contato.
Em casos como o do Japão e da China, no despontar dos séculos XVI e XVII, considerando os estudos que constituem as referências bibliográficas deste artigo, as relações que os jesuítas estabeleceram inicialmente por um caráter profundamente religiosos mantiveram-se por muito tempo graças ao caráter também econômicos que estas sociedade mantiveram com Portugal. Dito de outro modo, o sucesso da Companhia de Jesus foi condicionado pelo caráter associativo com as relações econômicas e políticas e pela habilidade de flexibilizar suas estratégias de missionação ao interesses locais. Ainda assim, foram diversas vezes, perseguidos e muitas vezes expulsos, inclusive de Portugal.
A cada uma dessas relações, é preciso desenvolver um estudo aprofundado. Somente assim, será possível evidenciar suas especificidades...
Agradeço pela questão colocada e espero ter respondido minimamente à ela!
Forte abraço!
Fernando Roque Fernandes.
Caro Fernando, também senti falta de uma comparação mais direta entre as estratégias na Ásia e na Amazônia. É possível compará-las, dada a diferença cronológica? Bons estudos! Ass: Rômulo Ehalt
ResponderExcluirCaro Rômulo Ehalt,
ExcluirAgradeço pela leitura do texto e pela questão.
O texto que apresento realmente não foi suficiente para dar conta de questões mais específicas. Os critérios indicados pelo evento para a criação das comunicações estabeleceu limites que só me permitiu indicar o caráter mais geral dessas relações. No entanto, as referências indicadas ao final do texto, e mesmo algumas das comunicações e conferências apresentadas neste Evento, no que, em certo sentido, se inclui a sua, podem nos permitir caracterizar os resultados alcançados pelo projeto jesuíta em diferentes regiões do globo no período moderno.
Sobre a questão que colocas em relação à comparação dos modos pelos quais o Projeto Jesuíta toma forma na Ásia e na Amazônia, considero que seja possível sim estabelecer comparações desde que se considere às diferenças temporais, espaciais, conjunturais e especialmente culturais que caracterizaram cada relação. A partir disso, será possível evitar os anacronismos tão caros às nossas narrativas como historiadores.
Os pontos que evidenciei no artigo devem ser melhor trabalhados considerando cada momento no qual ocorreram. De todo modo, o Projeto Jesuíta de construir um Império Cristão de Proporções Globais deve ser entendido como um projeto à longo prazo. Para o alcance de tal projeto, os jesuítas tiveram que adaptar seus "exercícios espirituais" à cada realidade. E podemos dizer que os jesuítas tiveram muito êxito com essa estratégia: flexibilizavam a missionação pelo fim último da conversão e ampliação da cristandade católica de base jesuítica!
Mesmo as expulsões que sofreram ao longo do Período Moderno devem ser tomadas como uma demonstração de que, de fato, estavam tendo êxito em seus projetos e, muitas vezes, alcançaram grande prestígio nos lugares onde se estabeleceram, transformando-se, muitas vezes, em perigo à manutenção dos poderes locais e Imperiais, como no caso do Japão, e mesmo coloniais e metropolitanos, como no caso da Amazônia.
Espero ter respondido minimamente à sua questão.
Forte abraço"
Fernando Roque Fernandes.
Como você mencionou os jesuítas foram importantes agentes culturais intermediadores entre os europeus e os chineses, sendo reconhecidos por seus conhecimentos científicos e habilidades artísticas. Nesse ponto, gostaria de saber de que forma os inacianos foram influenciados pela cultura chinesa?
ResponderExcluirLucimara Andrade da Silva
Cara Lucimara Andrade da Silva,
ExcluirAgradeço pela leitura do texto.
Alguns estudiosos mais relacionados à temática afirmam que o modo pelo qual os jesuítas tentaram conciliar a filosofia cristã com o confucionismo resultou em grandes polêmicas entre os missionários jesuítas na China e a Igreja e seus principais expoentes na Europa.
Conforme aponta Pallazo (2011), apesar da forma como atuaram a partir de Macau, na China os Jesuítas foram mais reconhecidos como grandes intelectuais do que propriamente como representantes espirituais. Este fenômeno parece resultar justamente da forma como se posicionaram frente aos conhecimentos tradicionais e filosóficos do povo chinês.
Apesar das tentativas de diálogo entre essas filosofias, parece que o Confucionismo era mesmo o principal pensamento intelectual chinês. Deste modo, acredito que um caminho possível seja pensar em que medida o próprio pensamento chinês influenciou os jesuítas que para lá direcionaram sua missionação.
Cabe a observação de que a influência chinesa sobre os jesuítas não inclui a influência sobre o pensamento inaciano, mas sobre muitos daqueles missionários que mantiveram contato direto com a filosofia e o cotidiano chines e suas bases confucionistas.
Deste modo, me parece que a análise dos escritos de missionários como Padres Michele Ruggiere, S. J. (1543-1607), e Matteo Ricci, S. J. (1552-1610) que desempenharam importantes papéis naquele contexto e sua comparação com o pensamento confucionista podem nos permitir evidenciar tais influências. Não conheço muitos estudos relacionados à temática, mas o texto de Leonor Diaz de Seabra, intitulado: Macau e os jesuítas na China (séculos XVI e XVII), acessado a partir do endereço: http://revistas.unisinos.br/index.php/historia/article/view/htu.2011.153.09/609 (Acesso em: 11 out. 2017), pode apresentar indícios iniciais para se pensar essas questões.
Ainda há poucos estudos que se debruçaram sobre a questão que você apresenta. Mas, tal trabalho me parece possível.
Agradeço mais uma vez pela leitura do texto e pela participação com esta questão...
Forte abraço!
Fernando Roque Fernandes.
Fernando Roque os jesuítas no brasil teve grande influencia em grandes áreas tanto educacional, social,enfim em todas as manifestações culturais. Carlos Ryan Silva de Araujo
ResponderExcluirCaro Carlos Ryan Silva de Araujo,
ExcluirConcordo com você!
O caráter evangelizador das Missões Jesuítas no Brasil resultou significativamente no próprio processo de formação da mentalidade brasileira. Inclusive, o Brasil, hoje, é considerado um dos maiores países católicos do Mundo Contemporâneo.
Grande parte disso, se deve ao caráter das missões empreendidas aqui e de suas relações com o Estado e os diferentes grupos étnicos estabelecidos por todo o território das Américas Latina e Central.
Deve-se, no entanto, considerar algumas questões.
A primeira delas é que, conforme dito em outras respostas dadas aos leitores deste artigo, a forma como as missões jesuíticas se desenvolveram em cada região deve ser considerada pelas especificidades não somente da Ordem Jesuíta, mas culturais, sociais e conjunturais dos territórios onde se desenvolveram. Também se deve considerar as relações entre os missionários jesuítas, o Estado e os grupos étnicos com os quais mantiveram contato.
No caso português, diferente de outros Estados Absolutistas Católicos, os Jesuítas estavam submetidos diretamente à autoridade do monarca através do Padroado Régio. Desta forma, os jesuítas, em Portugal, também eram considerados funcionários do Estado e a ele deveriam prestar contas. É por isso que, muitas vezes, a conversão estava diretamente associada com a questão do trabalho. Como diria Patrícia Melo Sampaio (2001), "civilização era quase sinônimo de trabalho" e as missões religiosas deveriam dialogar com essas questões.
Deste modo, no caso Português, para além dos interesses religiosos, os jesuítas, mas não somente, deveriam dialogar com os interesses políticos e econômicos da Coroa.
Uma outra questão que se deve considerar é que o Estado do Maranhão, o qual denominamos neste artigo de "Amazônia Portuguesa" se constituiu como Colônia Portuguesa independente daquela denominada de Estado do Brasil.
A Amazônia Portuguesa detinha uma administração independente com leis próprias e se constituiu por características sócio-culturais, políticas, jurídicas e econômicas próprias.
Deste modo, a missionação nesta região deve ser pensada para além do modo como ela ocorreu no Estado do Brasil. Leis como a de 09 de abril de 1655, o Regimento das Missões de 1686 e o Diretório dos Índios de 1758 são exemplos de legislações criadas para a Colônia chamada de Amazônia Portuguesa e, mesmo tendo sido criadas a partir das influências das legislações relacionadas ao Brasil ou mesmo tendo influenciado àquelas, estas leis foram criadas para dar conta de uma realidade da missionação na Amazônia que era profundamente diversa das missionações ocorridas na Colônia Portuguesa chamada Brasil e mesmo de outras partes do Globo, como na China e Japão.
Tais leis regulavam especificamente o modo como as relações entre Aldeamentos missionários e a administração e catequese da mão de obra indígena deveriam dialogar com os interesses coloniais da Coroa Portuguesa, especialmente no que concerne à administração política e econômica de suas colônias na América.
Nestas duas colônias portuguesas, os jesuítas tiveram momentos de perseguição e mesmo foram expulsos em diferentes momentos. De todo modo, conforme você aponta, os missionários influenciaram significativamente a sociedade brasileira. Apesar de alguns trabalhos analisem esse processo, as diferenças entre a missionação jesuíta no Brasil e na Amazônia Portuguesa precisam ainda de uma análise mais cuidadosa, especialmente de uma análise que evidencie não somente a relação dos jesuítas com o Estado, mas com os próprios indígenas e suas características culturais específicas.
Como disse João Lúcio de Azevedo (1991), "se as relações dos índios com a civilização constituem o elemento essencial da história desta parte da América, a intervenção dos jesuítas foi de tal ordem, que bem pode dizer-se ser a história da Companhia, por si só, uma história completa da colonização".
Espero ter contribuído com suas questões.
Agradeço pela leitura do texto!
Forte abraço!
Fernando Roque Fernandes.
Caro Fernando,
ResponderExcluirNo auge do trabalho missionário dos jesuítas no Japão, calculava-se em 700 mil os seguidores do Catolicismo. Esse número equivale à população atual dos japoneses e seus descendentes no Brasil.
A missão jesuíta começou a ser perseguida ainda em 1587, com expulsão de fiéis e sacerdotes, além de destruição de igrejas. Temos notícia de que em 1597, o General Hideyosshi deu ordem para a crucificação de 26 cristãos.
Em 1612, o Cristianismo é proibido no Japão e, em 1640, o Xogun Iemitsu Tokugawa instituiu a Inquisição e passou a perseguir os cristãos sistematicamente, torturas físicas e psicológicas foram aplicadas, obrigando os cristãos a apostatarem de sua fé. Pelo menos três mil cristãos japoneses foram feitos mártires. A Inquisição termina em 1792 e, finalmente, em 1873, o Cristianismo é reconhecido.
Diante disso, podemos inferir que, muita mais pela feroz oposição político/cultural e menos pela incapacidade dos jesuítas, o projeto de expansão da fé cristão não foi bem sucedido no Japão?
Fonte: Site Cultura Japonesa. Cristianismo no Japão. Disponível em: http://www.culturajaponesa.com.br/index.php/religiao/cristianismo-no-japao/ Acesso em: 10/10/2017.
Paulo Roberto Dias Lopes
Faculdade São Bento – FSB/RJ
Caro Paulo Roberto Dias Lopes,
ResponderExcluirExcelente observação!
Agradeço pelas considerações colocadas.
Concordo com você, os rumos tomados pela missionação jesuíta no Japão deveu-se "muita mais pela feroz oposição político/cultural e menos pela incapacidade dos jesuítas" (Lopes, 2017).
Diante disso e, conforme se pode observar a partir dos estudos que tratam da presença jesuítica no Japão, entre os séculos XVI e XVII, a forma com que muitos padres foram perseguidos e mesmo tiveram suas vidas ceifadas deveu-se mais pelo êxito que alcançaram do que, propriamente, pela rejeição da comunidade japonesa ao Cristianismo Jesuíta.
O artigo de Leonor Diaz de Seabra, intitulado: Macau e os jesuítas na China (séculos XVI e XVII), disponível no endereço: http://revistas.unisinos.br/index.php/historia/article/viewFile/htu.2011.153.09/609 (Acesso em: 11 out. 2017), também nos permite evidenciar as estratégias utilizadas pelos Jesuítas em Macau para alcançar a China e o Japão, assim como o certo êxito que alcançaram nestas regiões.
As cifras demográficas que apresentas atestam o alcance dos jesuítas na sociedade japonesa daquele período.
Por fim, quando menciono a incapacidade da missionação jesuíta, me refiro à materialização do Projeto de construir um Império Cristão de Proporções Globais. Em perspectiva local, regional e mesmo em grandes partes do Império Colonial Português, os jesuítas estiveram muito próximos de monopolizar o poder espiritual e político em determinadas sociedades, transformando-se em grandes ameaças aos poderes instituídos. Disto resultaram grandes perseguições, como as mencionadas por você e expulsões, das quais algumas são mencionadas no artigo.
Agradeço mais uma vez pelas considerações...
Forte abraço!
Fernando Roque Fernandes.
Obrigado por sua esclarecedora resposta.
ExcluirEm tempo: seu trabalho enriquece nosso conhecimento sobres as missões jesuítas.
Abraço,
Paulo
Caro Fernando,
ResponderExcluirA leitura do vosso ensaio me fez lembrar o “fracasso” da missão franciscana e o sucesso da missão jesuítica, no que diz respeito à “cristianização” da etnia Omágua, no contexto das primeiras inserções direcionadas ao projeto de “conquista” espiritual e, por extensão, geopolítica da Amazônia. A partir desses exemplos, parte da historiografia acerca dessa temática, adota a acepção instituição de fronteira como chave de leitura para defender a seguinte tese: ao contrário da missão coordenada por frei Laureano de La Cruz, a missão do padre Samuel Fritz atingiu, até certo pondo, a “colonização do imaginário” dos Omágua. É possível afirmar, com base nos registos produzidos pela ação missionária – tanto dos franciscanos, como dos jesuítas - que as condições materiais, físicas e culturais, pelas quais se encontravam os Omágua, contribuíram com a eficaz inserção dos jesuítas, se considerada as tensões, essencialmente, religiosas entre as crenças indígenas e a missionação franciscana. Nesse sentido, se considerarmos a ação jesuítica no Japão, poderíamos ponderar que, de certa forma, a missionação dos inacianos foi obstada pela barreira da fronteira cultural no que diz respeito à colonização do imaginário dos referidos orientais?
Ass. Arcângelo da Silva Ferreira.
Caro Professor Arcângelo Ferreira,
ResponderExcluirPrimeiramente gostaria de agradecer pela sua leitura do texto. É, e sempre será, uma honra dividir o espaço intelectual com vossa pessoa.
Deixo registrado, aqui, que o que tenho pesquisado durante esses anos deve-se, inicialmente, às suas aulas sobre a Amazônia Colonial!
Neste sentido, sinto-e lisonjeado pelo seu interesse no tema!
Sucesso, meu caro Fernando.
ResponderExcluirArcângelo.
Sobre as demais questões que pontuas, gostaria de tecer algumas considerações voltadas mais para a missionação jesuíta na Amazônia Colonial do que propriamente ao projeto missionário voltado para o Japão.
ExcluirO senhor fez citações que me levaram a refletir sobre, justamente, o caráter particular da missionação nesta região. A discussão que evocas, a qual está mais claramente posta no texto do historiador Auxiliomar Silva Ugarte (2006), intitulado: Alvores da Conquista espiritual do Alto Amazonas (Séculos XVI e XVII), pode nos auxiliar na evidenciação do caráter particular da missionação nestas partes do globo no período moderno. É com base no texto indicado a seguir que tecerei algumas considerações.
UGARTE, Auxiliomar Silva. Alvores da conquista espiritual do alto Amazonas (século XVI-XVII). Rastros da memória: histórias e trajetórias das populações indígenas na Amazônia. Manaus: EDUA, p. 13-47, 2006.
Em primeiro lugar, a presença de diferentes ordens missionárias na Amazônia se dá justamente pelo caráter plural do projeto evangelizador pensado pela Metrópole Portuguesa para suas colônias. A Amazônia, no período colonial se caracterizou pela presença de diversas ordens missionárias, com projetos particulares de missionação.
O "sucesso" e mesmo o "fracasso" dessas ordens, me parece, estiveram relacionados mais ao pluralismo étnico dos diferentes grupos indígenas que habitavam a região do que propriamente ao modelo de evangelização utilizado por essas ordens.
No caso que apontas, o "fracasso" da missão franciscana junto aos Omáguas, de acordo com Ugarte (2006) deveu-se, em certo sentido, à imcapacidade de diálogo com a alteridade. Os franciscanos parecem não ter levado em consideração a diferença de costumes dos Omáguas, o que parece ter levado à rejeição destes missionários por parte daqueles indígenas.
Já os jesuítas, para além da flexibilização característica de sua missionação, tiveram certo "êxito" não somente pela atuação de Samuel Fritz, senão, também, pela experiência anterior dos Omáguas com os franciscanos, lhes permitindo sopesar a diferença de projetos.
Deste modo, a anterior experiencia dos Omáguas junto aos franciscanos permitiu a Fritz certa vantagem, concorrendo para o êxito da sua missionação. Assim, me parece que o processo de "colonização do imaginário" Omágua iniciou-se com a chegada dos franciscanos e se materializou com o êxito da missionação jesuíta.
Podemos, inclusive, considerar que a Amazônia, nos séculos XVI e XVII se constituiu como um ambiente propício à materialização do imaginário europeu, especialmente daquele imaginário relacionado às representações religiosas. No entanto, o próprio imaginário europeu foi influenciado pelas cosmologias indígenas e mesmo as estratégias de missionação, criadas para a Amazônia, foram dimensionadas pelo modo como muitos grupos étnicos indígenas dialogavam com a ideologia cristã e, por extensão com as missionações.
Conforme apontou Michel de Certeau (1990), os povos indígenas se apropriavam do "modo vivendis" cristão e os adaptava, fazendo os funcionar em benefício próprio no seio da colonização. Carvalho Júnior (2005) também apresenta elementos que nos permitem evidenciar os usos que os indígenas faziam do imaginário religioso.
Conforme apontou Francisco Jorge dos Santos (2002), a Amazônia passou por um verdadeiro loteamento missionário. O território foi dividido entre as diferentes ordens que vieram para a região. Poderíamos afirmar que um verdadeiro projeto de colonização do imaginário indígena foi posto em prática nos primeiros anos da colonização. Capuchinhos, Carmelitas, Mercedários, dentre outros desenvolveram projetos particulares.
Os jesuítas se saíram melhor naquilo que poderíamos denominar, entre aspas mesmo, de "a conquista espiritual da Amazônia" ou mesmo de "a conquista do imaginário indígena".
Continua...
Como se sabe, os jesuítas monopolizaram, em diferentes momentos, o controle sobre a mão de obra indígena. "Evangelizar para civilizar", em termos coloniais, poderia ser traduzido como "cooptar para o trabalho". Nas palavras de Patrícia Sampaio (2001) "civilização era quase sinônimo de trabalho" e as missões religiosas deveriam dialogar com essas questões. Os jesuítas se saíram muito bem neste diálogo...
ExcluirA relação entre o projeto jesuíta e o projeto do Estado Português foi bastante íntima e, por vezes, tais projetos se confundiram. Daí o grande sucesso da missionação jesuíta no contexto colonial português na Amazônia.
A questão que apresentas, nos dá indícios dessas relações.
No início da colonização da região amazônica. As ordens missionárias tiveram não somente a função de conquistar espiritualmente a região, mas, atuaram no estabelecimento de aldeamentos missionários que detinha a função de instituições de fronteira.
Deste modo, o projeto de missionação dialogava com os projetos de conquista geopolítica empreendidos pelo Estado nos primeiros anos da conquista.
Deste modo, podemos considerar que, se os missionários enfrentaram verdadeiras barreiras culturais ao estabelecer contato e missionar as populações indígenas, mesmo tendo fracassado em alguns momentos, como no caso da Missão empreendida por Laureano de La cruz, havia interesses outros envolvidos. Tais "fracassos" não eram apenas espirituais, mas, também, políticos.
No diálogo com os interesses do Estado Português, do qual os missionários eram tidos como funcionários, por conta do Sistema do Padroado Régio, o estabelecimento de aldeamentos missionários ampliava as fronteiras espirituais da Igreja Católica e geopolíticas do Império Colonial Português na América.
Assim, os projetos do Estado e da Igreja se materializavam na missionação. Fronteiras políticas eram ampliadas e conquistas espirituais ocorriam a depender do "sucesso" da missionação.
Deste modo, o "fracasso" de missões religiosas portuguesas e espanholas impactaram não somente na conquista espiritual, senão também nos domínios geopolíticos dos Estados Católicos...
No caso japonês, o "fracasso" ou o "sucesso" da missionação dependia da capacidade jesuíta em dialogar com o pensamento confucionista. Também dependia das relações comerciais que os portugueses estabeleciam com as províncias do Japão Feudal.
Naquele período, os jesuítas, assim como os cristãos japoneses foram duramente perseguidos. Jesuítas foram durante muito tempo tolerados por conta de acordos comerciais atraentes para os japoneses (Ver as questões apresentadas por Paulo Roberto Dias Lopes na quarta pergunta desta página).
Neste caso, poderíamos arriscar dizer que a ampliação das fronteiras espirituais do cristianismo no Japão foi dimensionada pelas relações econômicas que o Estado Português pôde estabelecer com aquela sociedade nos séculos XVI e XVII. Mas, ainda há muito o que se estudar sobre a presença jesuíta no Japão.
Neste sentido, poderíamos considerar que as barreiras culturais foram importantes para obstar a conquista espiritual na Amazônia, assim como no Japão. Acrescente-se a isso, questões de cunho filosófico e intelectual com base pensamento confucionista.
Por fim, a relação entre os projetos do Estado e da Igreja acabavam por dimensionar a atuação missionária em cada lugar...
Espero ter respondido minimamente à sua questão!
Forte abraço, Professor Arcângelo!
Fernando Roque Fernandes.
Fernando,
ExcluirObrigado pela resposta. Na direção do que você expõe e, ainda, considerando o caso da etnia Omágua, é "bom pra pensar" (só pra mencionar as proposituras de Claude Lévi-Strauss) acerca da rede de relações que tais etnias estabeleceram com a Igreja católica, não somente no contexto da colonização, mas na conjuntura em que parte da Igreja fez a "opção pelas minorias" sob as influências da Teologia da Libertação, por exemplo, (ver o artigo do professor Benedito do Espírito Santo Pena Maciel "Entre os rios da Memória: história e resistência dos Cambebas na Amazônia brasileira",inscrito na Coletânea Rastro da memória:história e trajetóriase das populações indígenas na Amazônia (SAMPAIO & ERTHAL, 2006). Uma questão para outro Simpósio rsrs. Pra finalizar, outra problemática desafiadora é, de fato, o processo de transculturacão, suas limitações, entre o confucionismo e cristianismo católico. O que me fez pensar na Igreja Messiânica: mistura do cristianismo com a tradição japonesa, instituída no Japão. Tema que futuramente pretendo investigar, caso haja tempo rsrs.
Volto a dizer, sucesso na vossa trajetória. Abraço fraterno,
Arcângelo.
Agradeço pelas considerações, Professor Arcângelo!
ExcluirComo o senhor sabe, existe uma grande dificuldade no desprendimento das amarras desta tradicional narrativa europeia sobre o História do Brasil. Uma história que considere o protagonismo indígena e e os novos posicionamentos da Igreja, na sua opção pelas "minorias" ainda está por alcançar um número significativo de referências...
Vamos que vamos!
Sobre o tempo e os projetos futuros,
Vai dar tudo certo!
Forte abraço!
Fernando Roque Fernandes.
Boa noite!
ResponderExcluirCaro, Fernando. Gostei muito do texto. Minha pergunta é: Os jesuítas tinham o mesmo projeto tanto para os índios como para os japoneses ou chineses? Não foi levado em conta a diferença nas civilizações?
Eliane Brown Rodrigues Adorne
Cara Eliane Brown Rodrigues Adorne,
ExcluirCom certeza...
Diante das questões apresentadas no texto, mas, principalmente pelas perguntas dos leitores, podemos inferir que, de fato, as especificidades da missionação jesuíta foram dimensionadas pelas conjunturas, estruturas políticas, sociais, econômicas e culturais de cada sociedade com as quais mantiveram contato...
Nesse sentido, é politicamente correto chamar de "Projetos Missionários", no plural mesmo.
A atividade jesuíta em diferentes partes do globo foi condicionada pela própria experiência dos missionários em campo e pelas características particulares de cada sociedade. O projeto de base dos jesuítas era constantemente flexibilizado pelas situações sócio-culturais nas quais se inseriram.
Agradeço pela leitura do texto...
Forte abraço!
Fernando Roque Fernandes.
Oi, Fernando!
ResponderExcluirMeu questionamento: Os jesuítas estariam mais interessados em expansão do reino de Portugal? Ou apenas evangelizar? Não tinham interesses reais em tornar todos cristãos?
Júlia Brown Rodrigues Adorne
Cara Júlia Brown Rodrigues Adorne,
ExcluirOs interesses no empreendimento colonial era multifacetários.
Poderíamos dizer que, apesar das diferenças de interesses entre os agentes envolvidos no processo, para que tivesse êxito, tais interesses eram complementares uns dos outros e, muitas vezes, giravam em torno do pensamento religioso. Especialmente se considerarmos o período moderno como um momento de forte presença do pensamento religioso.
Em síntese, a Igreja intencionava engrossar suas fileiras de fiéis; o Estado português queria expandir seus domínios no Ultramar e os missionários acreditavam, inclusive na própria salvação através da conversão e evangelização dos outros. Em certo sentido, para a mentalidade religiosa da época, era possível salvar-se levando os outros à salvação.
Se considerarmos, também, os usos que se poderia fazer do cristianismo, no caso da Amazônia Portuguesa, muitos indígenas se utilizaram do Cristianismo para ampliar seus espaços de liberdade num sistema que lhes estabelecia limites para coexistirem nos espaços em transformação. Estes indígenas faziam usos particulares da religiosidade, diferentes daqueles almejados pelos missionários para suas ovelhas.
Nesse sentido, podemos considerar que o elemento religioso se constituiu como ferramenta que conectava diferentes interesses e mundos. Assim, é míster considerar que a expansão do reino de Portugal, a evangelização e a ampliação do alcance do pensamento cristão católico dialogavam entre si e se constituíam como a base da expansão portuguesa ultramarina.
Agradeço pela questão colocada...
Forte abraço!
Fernando Roque Fernandes.
Caro Fernando,
ResponderExcluirEstou enviando novamente a pergunta pois não tenho certeza se da primeira vez foi enviada. Se estou enviando repetido, por favor ignore.
Alencastro, em seu "O trato dos viventes", fala de um "aprendizado da colonização": a ausência de um plano ou modelo central/padronizado de colonização posto em prática em todas as experiências do Império Português ao redor do globo. Ao contrário, a experiência de colonização teria sido um aprendizado contínuo, de erros, acertos e reparos. Uma experiência prévia sempre era levada em consideração ao se adotar medidas e planejamentos para uma experiência posterior de colonização.
Na sua visão, a empreitada da Companhia de Jesus pode ser caracterizada por uma espécie de "aprendizado da missionação"? As experiências em China, Japão e Brasil teriam sido levadas em conta pelo planejamento central da Companhia antes de por em prática suas ações em territórios distintos ao redor do globo?
Abraço
Rafael Cezar Tavares
Caro Rafael Cezar Tavares,
ExcluirNão somente a missionação era dimensionada pela própria experiência como também se desenvolvia pelo intercâmbio de informações entre missionários de diferentes regiões do globo.
As epístolas jesuíticas levavam e traziam informações e notícias sobre o modo como os missionários empreendiam suas missões e modos de vida e aspectos culturais dos povos com os quais mantinham contato.
No caso português, muitas das leis que regulavam a atividade missionária eram diretamente influenciadas pela experiência nas colônias.
Por exemplo: a lei de 09 de abril de 1655 que regulava a atividade missionária na Amazônia foi desenvolvida com base no parecer dado pelo Padre Jesuíta Antônio Vieira. O Regimento das Missões de 1686 também foi baseado na experiência de Antônio Vieira na Amazônia. Esta Lei regulou a atividade missionária na região por quase 60 anos e deu aos missionários jesuítas o monopólio sobre a administração da mão de obra indígena.
Cartas enviadas por Antônio Vieira à Corte, em Lisboa, em 1654, atestam que a base da lei de 1655 foi especialmente sugerida por este jesuíta. A carta mencionada continha 19 parágrafos sobre o melhor modo de se administrar a mão de obra indígena e grande parte de seu conteúdo foi regulada pela referida lei.
O próprio Antônio Vieira mantinha correspondência com o Bispo do Japão, o padre André Fernandes naquele contexto. Entre os anos de 1652 e 1661, Antônio Vieira manteve correspondência com o Bispo do Japão e com ele trocou informações importantes sobre o cotidiano da missionação.
Inclusive, quando pensei em escrever este texto, a ideia inicial era, justamente, analisar a correspondência entre o Padre Antônio Vieira que estava na Amazônia e o Padre André Fernandes que estava no Japão. Mas, acabei ficando apenas na introdução que resultou neste texto!
Algumas dessas correspondências foram publicadas por Luiz Felipe Baêta Neves (2004), no livro intitulado: Transcendência, poder e cotidiano: as cartas de missionário do padre Antônio Vieira.
Analisar esta documentação nos permite evidenciar o modo de atuação dos jesuítas em diferentes partes do globo e perceber como essas informações foram trocadas de modo a fortalecer as conexões intercontinentais entre estes missionários.
Estas cartas ou epístolas também detinham um cunho exortativo, fazendo com que aqueles missionários percebessem que faziam parte de um projeto muito mais amplo do que as próprias missões que administravam, dando-lhes o sentimento de materialização daquele projeto de criação de um Império Cristão de proporções globais...
Nesse sentido, podemos que considerar que apesar da forma articulação administrativa e dos projetos iniciais dos jesuítas, a experiência destes no próprio cotidiano da missionação foi muito mais enriquecedora e influenciou de modo significativo nos futuros projetos de evangelização. Assim, poderíamos dizer que mais do que fruto de um planejamento central, a atuação jesuíta foi dimensionada pela própria experiência de campo.
Agradeço pelo interesse no tema e pela questão levantada...
Fernando Roque Fernandes.
Caro Fernando,
ResponderExcluirMuito obrigada pelo seu artigo.
Conforme citado os jesuítas representaram uma das tentativas da Igreja Católica de reafirmação da cristandade, junto com os tribunais da Inquisição.
Em suas pesquisas você se deparou com o tema da Inquisição na China, se houve e em que medida?
Outra pergunta, os jesuítas foram expulsos definitivamente da China na segunda metade do século XVIII, como da América Espanhola e portuguesa?
Muito obrigada
Adriana
Cara Adriana Almeida,
ExcluirAgradeço pela leitura do texto.
Infelizmente, não tenho muito conhecimento sobre a Inquisição na China, apesar de ter certa curiosidade sobre o tema. Mesmo com o interesses de muitos estudiosos no assunto, este ainda foi pouco debatido. Estudos mais especializados, sobre a questão, ainda carecem de materialização.
Pode-se dizer que a "Questão dos Ritos" foi um fenômeno que marcou profundamente as relações entre os jesuítas e o Imperador Chinês Kangxi (1654-1722) e concorreu para a expulsão dos cristãos daquele Império, em 1724.
Sobre a expulsão destes, o Padre Artur Wardega, presidente do Instituto Ricci de Macau, concedeu uma entrevista ao Portal "O Clarim" falando sobre o assunto. Vale a pena acessar. O endereço para acesso é:
http://www.oclarim.com.mo/entrevista/padre-artur-wardega-sobre-a-expulsao-dos-jesuitas-em-macau-no-seculo-xviii/ (Acesso em: 13 out. 2017)
Nesta entrevista, Wardega aponta como os jesuítas, mesmo após a perseguição e expulsão, conseguiram permanecer no território, atuando especialmente na área intelectual.
Deste modo, a perseguição aos jesuítas, não somente na China, mas, também, no Japão, devem ser analisadas com maior cuidado, devendo-se considerar, inclusive, as próprias estratégias utilizadas por aqueles missionários para continuarem o trabalho de evangelização naqueles territórios.
Espero ter auxiliado com algumas das questões levantadas.
Agradeço pela sua participação!
Forte abraço!
Fernando Roque Fernandes.
Fernando Roque Fernandes, primeiramente parabéns pelo texto e parabéns pela forma concisa que você expôs as informações dos jesuítas na China, Japão e Amazônia Portuguesa.
ResponderExcluirMinha pergunta para você é a seguinte:
Quais foram as principais dificuldades que você encontrou ao tecer esses paralelos da atuação jesuitisa no globo?
Desde já agradeço pela sua atenção e pelo seu texto.
Daniel Franco de Oliveira
Caro Daniel Franco de Oliveira,
ResponderExcluirAgradeço pela leitura do texto e pela questão levantada.
As principais dificuldades para desenvolver estudos dessa natureza, a meu ver, se dão, especialmente, pela pequena quantidade de trabalhos desenvolvidos sobre a temática.
Outra questão é a própria barreira cultural que dificulta nosso acesso às fontes sobre o período. Esta última dificuldade se dá, especialmente, pela natureza das fontes orientais, o que resulta de verdadeiras barreiras culturais que impõem limites às nossas pesquisas sobre o tema.
Deste modo, reconheço a própria limitação deste texto por conta de sua maior fragilidade. É que grande parte das informações acessadas para escrevê-lo são de origem brasileira ou europeia. Ou seja, apesar da tentativa de se estabelecer uma relação diretamente intercultural, tal análise ainda se vê dimensionada pelo olhar do missionário europeu que relatou tais eventos.
Deste modo, a dificuldade de acesso à uma diversidade maior de fontes nos impede, por exemplo, de evidenciar como as relações entre jesuítas, chineses e japoneses foram pensadas pelos próprios orientais.
Trabalhos dessa natureza poderiam nos permitir entender de modo mais relacional outras perspectivas sobre a atuação jesuíta naquelas regiões.
Mesmo no caso da Amazônia, a ausência de uma cultura escrita por parte das múltiplas populações indígenas que mantiveram contato com os missionários, nos impede de desenvolver uma análise mais profunda sobre a forma como os sujeitos indígenas se apropriaram do imaginário cristão e dele se utilizavam a partir de suas próprias cosmologias.
Um trabalho próximo neste sentido foi desenvolvido por Almir Diniz de Carvalho Júnior (2005), na Tese intitulada: Índios Cristãos: a conversão dos gentios na Amazônia Portuguesa (1653-1759), publicada recentemente pela Editora CRV sob o título: Índios Cristãos: poder, magia e religião na Amazônia Colonial. Vale a pena dar uma olhada neste material.
O texto original da tese pode ser acessado através do endereço:
http://run.edu.ng/media/12303183243198.pdf
(Acesso em: 13 out. 2017).
Espero ter respondido minimamente à sua questão.
Forte Abraço!
Fernando Roque Fernandes.
Caros Leitores,
ResponderExcluirAgradeço a participação de todos através da leitura e apresentações de questões à este texto.
Tenho absoluta certeza de que suas intervenções foram fundamentais, enriquecendo este trabalho com considerações não materializadas na narrativa inicial.
O resultado alcançado até aqui também se deve ao trabalho desempenhado pelos senhores como leitores e arguidores.
Espero poder reencontrá-los em outros eventos eletrônicos e, quem saber, presenciais!
Muito obrigado pela participação!
Forte abraço!
Fernando Roque Fernandes.