Luís Henrique Palácio da Silva

A ÉTICA ECONÔMICA BUDISTA E O ESPÍRITO CAPITALISTA JAPONÊS
Luís Henrique Palácio da Silva

Introdução
O Japão - país esse que será o objeto de nossas colocações no presente projeto de pesquisa - graças a Restauração Meiji do século XIX, passou de um simples complexo de ilhas feudais a um país que rivalizava com grandes potências militares como a China e a Rússia. Para entendermos esse potencial dos japoneses de assimilação, será necessário uma compreensão e explicação histórica que remonta à sua formação ético-cultural a partir das influências budistas.

Em seu livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (2006) o sociólogo alemão Max Weber analisa a religião como uma poderosa orientadora da vida diária e das práticas econômicas dos indivíduos em sociedade, onde Capitalismo e religião se interligam. Weber encontra, em seu livro, uma explicação histórica para o triunfo do Capitalismo: origina-se no protestantismo e seu ascetismo laico.

Nosso objetivo com essa pesquisa –baseada na metodologia weberiana– foi analisar a relação entre a religião budista e a prosperidade econômica do Japão, especialmente em um monge da seita budista Zen do século XVI - Suzuki Shôsan. Iremos buscar aspectos no budismo japonês que, segundo Weber em sua obra Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (2006), estão contidos no Protestantismo e presentes para o sucesso do Capitalismo: A racionalidade (rentabilidade, lucro, vida regrada), o laicismo (desvalorização de todos os meios de salvação, ascetismo laico) e o secularismo (trabalho no mundo profano, predestinação).

A partir de uma profunda análise bibliográfica, embasamos a nossa pesquisa. Uma pesquisa bibliográfica (Gil, 2008) é quando esta é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos – dos quais partiremos. Neste estudo de caso, levantamos algumas questões e análises sobre como uma religião pode influenciar o comportamento econômico de uma sociedade, realizando um estudo como uma pesquisa exploratória (Gil, 2008).

Contexto histórico do Japão e o Budismo
O Budismo japonês está associado a uma grande divisão do Budismo continental chamada Mahayana. (Frédéric, 2008). Mahayana difere da outra divisão budista - o Hinayana - sobre os termos da salvação dos ciclos de renascimentos e morte. No Budismo Mahayana se prega que todos os humanos podem salvar a si mesmo apenas ajudando outras pessoas sem necessitar de ser monge ou viver uma vida ascética. (Akira, 1990). Ambas denominam de veículo os ensinamentos de Budha. Mesmo com tal adesão, o budismo japonês difere muito das seitas budistas do continente asiático pois, quando atinge o território japonês, um ambiente completamente diferente da sua matriz indiana, o budismo se funde com os deuses e elementos autóctones, reavivando e os conservando. (Frédéric, 2008).

O Budismo chega ao Japão, oficialmente, no século VI d.C. Um rei de um dos reinos coreanos (Kudara, ou Paekche) envia a corte dos Yamatos vários livros budistas, sutras em chinês e uma imagem de Buda em bronze. Quase que de imediato, toda corte se converte a nova religião. Imitando a corte, vários clãs japoneses se convertem. (Frédéric, 2008). Entre os anos 593 até 622, reina o famoso príncipe Shotoku que reforma a máquina governamental aos moldes da administração chinesa e adota o Budismo como religião oficial (Yamashiro, 1985).

Laicização e secularização da sociedade japonesa: vida e obra de Suzuki Shôsan
Desde o século XIII, no início dos Shogunatos samurais, já vinha ocorrendo um clima de secularização na sociedade nipônica e que se acentua com a Guerra Civil, no século XV e XVI. Antes disso, a religião - no caso o budismo e o shintoísmo - ditavam os valores e ideias das pessoas. Grandes correntes do Budismo japonês, o Zen e o Amidismo, contemplativo e devocional respectivamente, incentivavam a vida laica e pregavam que esta era tão importante quanto os mosteiros. Na prática, muitos monges saíram dos mosteiros para auxiliar governantes como conselheiros. (Gonçalves, 2007, p.49-50).

Suzuki Shôsan nasceu em 1579, durante o processo de unificação do Japão por Oda Nobunaga e com os portos japoneses abertos ao mundo. Cresceu e foi educado para ser samurai, vida essa que levou por 40 anos ao servir o clã Tokugawa. Em 1648, se muda para Edo, atual Tokyo, e se mantém ali até 1655, quando morre. (Gonçalves, 2007. p. 52-55).

A doutrina de Shôsan é eclética e dialoga com várias seitas do budismo como as mais populares: a seita Zen que pregava um budismo contemplativo e monástico, desprezando o budismo devocional pois argumentava que esta vertente seria um caminho mais fácil para se ter uma vida ligada aos prazeres; e o budismo Amidista que pregava que a salvação poderia vir somente da fé e, por consequência, os monastérios e a contemplação seriam práticas inúteis.

Ao invés de ter uma visão de mundo como verdadeiro e negar as outras visões, como as seitas citadas comumente faziam, Shôsan foge desse sectarismo pregando o Zen aos guerreiros e nobres e, ao mesmo tempo, o Amidismo aos camponeses. Ou seja, utilizava ambas as seitas em suas pregações, sem distinções. Além disso, sua meditação é particular e diferente das outras tradições budistas de sua época. Diferentemente das outras seitas, Shôsan não se concentra nos Patriarcas das escolas budistas, mas sim no própria Sidarta Gautama. (Gonçalves, 2007, p. 58-60). Outro grande avanço de Shôsan é sua relação do mundo laico com a salvação. Outros autores budistas anteriores a ele, oriundos da laicização da sociedade japonesa desde o século XIII, haviam somente demonstrado que não havia contradição da vida laica com a vida religiosa. (Gonçalves, 2007, p. 85)

Contudo, isso não é novo no Budismo, não pelo menos no Budismo indiano. Sidarta Gautama, o Buda, mesmo negando o trabalho produtivo no mundo a Sanga, comunidade budista, ele compara seu trabalho ascético ao trabalho mundano:

“Disse o brâmane: -Vós afirmais que sois cultivador, mas jamais vos vi cultivar a terra. Explicai de que modo vós cultivais, para que eu possa entender. Respondeu o Buda: - A fé é a semente, o ascetismo é a chuva, a Sabedoria é a minha enxada e meu arado. A autocrítica é a haste do arado, a vontade a corda que o amarra, o pensamento é a ponta do arado e a lâmina da enxada. Controlo o corpo e os pensamentos e sou moderado nas refeições. Com a verdade eu corto as plantas daninhas. Com a brandura eu solto os bois do arado. O esforço é o boi atrelado ao arado, que me conduz diretamente a um lugar seguro e tranquilo, sem jamais retroceder. Quem cultiva desta maneira se liberta de todos os sofrimentos.” (Gonçalves, 2007, p. 88).

Como vemos, Buda não negava a vida laica como algo que impedisse o desenvolvimento religioso.  Shôsan, seguindo essa linha de pensamento, vai adiante fazendo da vida laica um caminho espiritual em si. Pregando ao guerreiro, ao artesão, o agricultor e ao comerciante, Shôsan diz que as atividades desses indivíduos são uma verdadeira ascese que conduz à realização espiritual e que eles não precisariam se engajar em exercícios espirituais. A santificação do trabalho é o principal marco do pensamento de Suzuki Shôsan:

"[...]o trabalho agrícola já é a própria Prática Búdica. [...] todas as atividades profissionais são a própria Prática Búdica [...] os homens deverão se realizar como Budas através de suas próprias atividades pelo mundo." (Gonçalves, 2007, p.85).

Outro aspecto referente a vida laica e a realização religiosa em Buda e no budismo indiano, foi que o trabalho sempre foi visto como um complemento da vida ascética e de uma maneira positiva. A própria tradição Mahayana, ao qual o Budismo japonês faz parte, incentiva o trabalho no mundo e o compara à realização búdica. O budismo indiano, encorajava as atividades econômicas, principalmente as de caráter mercantil. Aos leigos era permitido se aplicarem no trabalho para acumularem bens (Gonçalves, 2007, p. 89-90):

“Ó monges, há comerciantes que não se esforçam nem pela manhã, nem pelo meio dia, nem à tarde. Aqueles que assim fazem não obterão novos bens, nem multiplicarão os que já possuem…Há comerciantes que se esforçam pela manhã, pelo meio-dia e pela tarde. Aqueles que assim fazem obterão novos bens e multiplicarão os que já possuem. (Gonçalves,2007, p. 89). ”

Shôsan, como já dito, ultrapassando a própria fala de Buda que o trabalho é um complemento para a vida ascética, diz que o trabalho é a própria ascese.

“A lei búdica e a lei profana são uma só. Buda disse que aquele que mergulhar no mundo profano e domina-lo plenamente realizará a Lei de Buda com total perfeição. Tanto a Lei de Buda como a profana consistem apenas em retificar a vida, praticar a justiça e usar a honestidade. (Gonçalves, 2007, p. 97).”

Em uma fala ao agricultor, em um dos seus livros (Nônin Nichiyo), Shôsan incentiva converter o trabalho duro no aqui e agora numa ascese espiritual:

“É necessário enfrentar a faina penosa no frio e no calor extremo e, com arados, enxadas e foices, enfrentar nossos inimigos, o corpo e a mente, onde crescem as ervas daninhas das paixões. Eles devem ser revolvidos, limpos e cultivados com a máxima atenção e o máximo de cuidado. Quando o homem se distrai, as ervas daninhas das paixões crescem e aumentam. Quando, entregando-se à faina penosa, o homem com ela adestra seu corpo e sua mente, não haverá angústia em seu coração. O agricultor que se entrega a essa Prática Búdica durante as quatro estações do ano não tem precisão de outras práticas...a cada golpe de enxada deverá ele recitar a invocação a Amida. Deverá integrar-se em cada golpe de foice, sem desviar os pensamentos. Desta forma, a roça se converterá na Terra Pura e os cereais, em alimento puro, em um remédio que eliminará todas as paixões daquele que o comer. (Gonçalves,2007, p. 97-98).”

Ao contrário da sociedade de sua época, gerida pelos militares e que veem o trabalho como algo a ser desprezado e classificava algumas profissões como vis, Shôsan mostra a importância de todos eles e critica tal posicionamento social:

“Existem também os benefícios que recebemos dos seres viventes: benefícios recebidos dos agricultores, dos artesãos, dos alfaiates, dos tecelões e dos comerciantes. Devemos saber que todas as atividades se beneficiaram, auxiliando-se mutuamente e por isso não devemos estabelecer discriminações entre as pessoas. Ao tratar com o amo, devemos compreender o coração do amo e tomar consciência da imperfeição de nossos atos. Ao tratar com as pessoas de condição inferior devemos compreender seu coração e perceber o quanto elas sofrem. Lembremo-nos que dia e noite elas enfrentam o calor extremo e frio rigoroso, sem interrupção e sem descanso para suas mentes ou para seus corpos. Os camponeses dia e noite penam mental e fisicamente com sua faina, produzindo cereais para alimentar os habitantes do país. Dizem que cem mãos são necessárias para produzir uma pequena medida de arroz. Devemos ter em mente todo esse sofrimento. Além disso, com seu trabalho uma pessoa alimenta numerosos dependentes. Mal consegue o trabalhador garantir sua sobrevivência, o alimento é pouco e a preocupação é intensa. [...] (Gonçalves, 2007 p. 98-99).”

O discípulo de Shôsan, Echû (1628-?), ao escrever a biografia do mestre, revela seu verdadeiro objetivo:

“A ascese está nas diferentes atividades profissionais do mundo profano. Shôsan, ao esclarecer esse ponto, tinha em vista o benefício geral de todo o mundo profano. Mostrou ele que a essência do Mahayana está na doutrina da inexistência de obstruções separando a Lei de Buda da Lei do mundo profano e que o Ensinamento do Pequeno Veículo (Hinayana) que manda abandonar o mundo profano não passa de um ensinamento provisório. Esse ponto foi minuciosamente esclarecido nos textos sobre os preceitos diários para os diferentes profissionais. Particularmente em nosso país considera-se Verdadeira Lei tudo o que auxilia o desenvolvimento da bravura militar. Shôsan declarou que os ensinamentos que levam ao enfraquecimento da coragem guerreira não pertencem à Verdadeira Doutrina. [...] (Gonçalves,2007 p. 99-100). ”

Com suas críticas, Shôsan não somente defende os trabalhadores braçais como também rebate a crítica e rebaixamento social em que estavam os comerciantes. Estes ocupavam o mais baixo degrau da sociedade por causa da influência confucionista do Japão sob os Tokugawas. A terra e não o trabalho era vista como fonte de riqueza. Contudo, Shôsan os rebate:

“Aquele que se ocupa do comércio deve em primeiro lugar se exercitar no sentido de desenvolver a preocupação de aumentar seus lucros. Essa preocupação nada mais é senão entregar incondicionalmente sua vida ao Caminho Celeste e estudar com afinco o caminho da honestidade. O homem honesto é beneficiado profundamente pelos Devas, consegue a proteção dos Budas e dos Deuses, afasta as calamidades e, de maneira espontânea e natural, aumenta sua felicidade. É amado e respeitado pelas pessoas e, de uma maneira profunda, todas as coisas se realizam conforme suas intenções. (Gonçalves, 2007, p. 110-111).”

Para Shôsan, todo lucro é licito desde que alcançado honestamente. Para Shôsan, a essência da desonestidade está no egoísmo. Assim, no comércio, a honestidade gera felicidade e prosperidade, enquanto a desonestidade atrai infortúnio e desastre. (Gonçalves,2007, p. 112):

“Ser da nobreza ou da plebe, superior ou inferior, rico ou pobre, ter uma vida longa ou breve, são coisas condicionadas pelas vidas passadas. Se de maneira egoísta almejamos conseguir honrarias e riquezas, não obteremos nenhum resultado. Em suma, aumentará a influência das más ações que nos ligará aos planos do mal, estaremos em oposição ao Caminho Celeste e certamente iremos receber a devida sanção. (Gonçalves, 2007, p. 112-113).”

Também há em seu pensamento um certo determinismo: o homem tem sua posição social e profissão como parte da ordem cósmica pré-determinada e tendo de cumprir suas tarefas:

“O Buda Uno do Real e da Iluminação Original se subdivide em centenas de milhões de emanações para beneficiar o mundo...Existem assim, inumeráveis atividades diferentes que beneficiam o mundo, mas todas elas são manifestações da Virtude do Buda Uno. (Gonçalves, 2007, p. 115).”

Por fim, após toda essa explanação, podemos concluir que o pensamento de Shôsan é favorável ao desenvolvimento do Capitalismo pelos motivos de valorizar o lucro e oferecer uma motivação religiosa para busca do mesmo e desencorajar o egoísmo; além de criar um clima favorável ao revestimento do lucro em novos empreendimentos mercantis. (Gonçalves, 2007, p. 127).

Portanto, tentamos verificar os sustentáculos históricos e sociais para o sucesso econômico japonês que não somente se verifica pelos intensos investimentos em educação e infraestrutura, mas também na mentalidade progressista e aberta para a acumulação de capital respaldada na ideologia religiosa. Suzuki Shôsan é a síntese de um contexto espiritual e material, onde encontramos a semente que será plantada e desabrochada em meados do século XIX, quando o país irá se abrir ao exterior e adotar o Capitalismo com muita facilidade.

Conclusão
Acreditamos haver demonstrado que o sucesso e o protagonismo japonês em sua rápida adesão ao capitalismo, ao entrar no quadro de nação imperialista no século XIX, quando se desvestia de centenas de anos de Feudalismo, está ligado à sua tradição milenar budista.

Logo, o Budismo japonês e suas seitas apresentaram uma nova forma complementar de libertação e de vida espiritual: o trabalho. A síntese desse movimento espiritual laico se deu com o monge Suzuki Shôsan, que colocou o trabalho no mesmo nível que a vida ascética. Shôsan argumentava que o trabalhador e o monge realizavam o serviço búdico de devoção em diferentes áreas.

Referências
Luís Henrique Palácio da Silva é graduado em História pela Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE) e Pós-Graduando na mesma universidade no curso de História, Sociedade e Cultura.
[Contato]: luis.henrique.palacio.22@gmail.com

AKIRA, H. A History of Indian Buddhism from Sakyamuni to Early Mahayana. Havaí: Asian Sutudies at Hawaii, n° 36. University of Hawaii Press, 1990. Disponível em:
<http://www.ahandfulofleaves.org/documents/A%20History%20of%20Indian%20Buddhism_From%20Sakyamuni%20to%20Early%20Mahayana_Akira.pdf> Acesso em: 03/03/2016.
FRÉDÉRIC. L. O Japão: dicionário e civilização. São Paulo: Globo, 2008.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
Gonçalves. R. M. A ética budista e o espírito econômico do Japão. São Paulo: Elevação, 2007.
WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2006.
Yamashiro. J. História da cultura japonesa. São Paulo: IBRASA, 1985.

8 comentários:

  1. Boa tarde Luiz,

    Muito interessante sua perspectiva de análise sobre uma vertente religiosa budista que pregava a apologia ao trabalho diário enquanto uma forma de trabalho espiritual. É possível perceber claramente seu embasamento na tese de Max Weber sobre o Protestantismo e o Capitalismo. Gostaria de saber qual foi a abrangência da doutrina propagada por Shôsan no Japão, visto que havia no período estudado outras vertentes sendo ensinadas no Japão.
    E, se na disseminação do budismo nesse país, houveram atritos entre classes diferenciadas adeptas a outras religiões (sei que extrapola sua questão de partida, mas se puder falar um pouco sobre eu agradeço).
    Para finalizar, gostaria de saber quais as fontes os autores consultados em sua pesquisa bibliográfica utilizam para analisar a conversão do Japão ao budismo.

    Cordialmente, agradeço desde já.

    Juliane Roberta Santos Moreira

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    1. Boa noite Juliane. Obrigado por suas colocações.
      Quando o Budismo chegou ao Japão, no século VI d.C., o país estava sempre em disputas entre os clãs em torno do imperador de Yamato na busca do poder. Logo, o Bukkyo se apresenta como uma alternativa para a busca do poder e clãs poderosos como o clã Soga, adotam o budismo, junto com o imperador. Também aparecem os adversários, como o clã Nakatomi. Os Nakatomis faziam parte dos sacerdotes da religião autóctone do Japão que, nessa época, ganha o nome de Shinto. Uma guerra civil surgiu dessa intriga entre clãs budistas e shintoístas com a vitória dos primeiros. Contudo, a população em geral se mantinha alienada da nova religião. O budismo só se tornou mais conhecido com a Constituição dos 17 artigos (Juushichijou no Kemmpou) em 622 d.C.
      Quanto a Shôsan, ele aparece no século XV e XVI, período esse que há uma guerra civil de quase 100 anos no Japão. Após esse período de anarquia, sobressai o Tokugawa Bakufu. Por influência do budismo, a sociedade japonesa já passava por esses processos descritos no texto como laicização e racionalização. Esses fatores estão já incubados no Budismo e germinou por onde passava. Shôsan é a síntese desse pensamento. Como bem dito por você, podemos comparar com o Protestantismo e seu ascetismo laico.
      Sobre as fontes, o livro do Frederic é uma enciclopédia sobre o Japão, uma ótima referência sobre o País do Sol Nascente em vários aspectos deste. E o livro base da minha bibliografia - A ética budista e o espírito econômico do Japão, do Prof° Ricardo Gonçalves - foi retirada direto de autores japoneses, sutras budistas japoneses e sociólogos como Weber e Sombart.
      Esse artigo foi baseado em minha iniciação científica. Sobre a bibliografia, posso manda-la por completo através do meu e-mail.

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  3. Excelente texto, muito legal aprender sobre uma cultura tão diferente da nossa.
    No texto você diz que o budismo chegou oficialmente ao Japão no século VI d.C. Gostaria de saber qual era a religião ou religiões praticadas no Japão antes disso. Sei que não este não é o foco do texto, mas gostaria de saber, se possível, como o budismo japonês, no caso a doutrina ensinada por Suzuki Shôsan, se difere do budismo indiano.
    Desde já agradeço pela atenção.
    Juliana Flávia da Costa.

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    1. Boa noite, Juliana
      Obrigado pelo elogio e pela atenção dispensada.
      Antes da chegada do Budismo ao Japão, a religião pra ticada seria o que chamamos hoje de Shinto (Shintoísmo). O Shinto cultua os kamis(forças da natureza, deuses) e tais kamis se apresentam na natureza como em rios, árvores, animais, etc e não tem textos sagrados. Quando o Budismo chega ao Japão, os deuses mais populares estavam sendo "combatidos" pela elite governante na intenção de impor seus deuses e cultos. Contudo, o Budismo incrivelmente vem e desenterra esses deuses, mesclando-se com o Shinto e os reavivando.
      Quanto ao Budismo japonês, ele difere muito das outras seitas Mahayana do continente asiático por essa mescla com o Shinto e com a sua História singular. Contudo, Shôsan - como descrito no texto - tenta retornar ao Budismo do próprio Sidharta Gautama, inclusive usando sutras com as falar direto do próprio Buddha. Essa prática de Shôsan soa diferente de sua época e do Budismo japonês mais tradicional já que as escolas budistas seguiam os grande patriarcas como Nichiren, Dogen e outros.

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  4. Olá, professor! Parabéns pelo trabalho é um tema muito interessante! Professor, Shôsan defendia o acumulo de bens apenas se fossem conquistados através do trabalho, certo? Havia mais alguma profissão, além dos comerciantes, que na época de Shôsan não era bem vista, mas que para ele fosse possível alcançar a liberdade espiritual através dela?
    Agradeço desde já!

    Mariana Melo Angelino
    mariana.angelino@outlook.com

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    1. Boa Noite, Mariana
      Obrigado pela pergunta e pela leitura.
      Os comerciantes eram mal visto por não exercerem nenhuma atividade produtiva - na visão da sociedade Tokugawa - ao contrário do agricultor e artesão. Acredito que todas as profissões ligadas ao lucro também eram mal vistas e sofriam preconceitos. Uma profissão que até hoje é mal vista no Japão - por influência budista - são os açougueiros e aqueles que lidam com abate de animais.

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  5. Boa noite, Marcos.
    Como respondi na pergunta acima, o Budismo japonês é totalmente mesclado ao Shintoísmo. Somente na Era Meiji que o Shinto foi separado pelos governantes do Budismo e este último proibido como religião estrangeira. Logo, a cultura japonesa está totalmente embasada no Budismo e, como dito no texto, servindo de base para a ética econômica capitalista.
    Quanto a sua segunda questão, não saberia dizer precisamente. Mas seria um ótimo tema a se pesquisar

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